quinta-feira, agosto 10, 2023

Poesia de aniversariante de hoje...

(imagem daqui)

 

Mãe Pobre

 

Terra Pátria serás nossa,
Mais este sol que te cobre,
Serás nossa,
Mãe pobre de gente pobre.

O vento da nossa fúria
Queime as searas roubadas;
E na noite dos ladrões
Haja frio, morte e espadas.

Terra Pátria serás nossa
Mais os vinhedos e os milhos,
Serás nossa,
Mãe que não esquece os filhos.

Com morte, espadas e frio,
Se a vida te não remir,
Faremos da nossa carne
As searas do porvir.

Terra Pátria serás nossa,
Livre e descoberta enfim,
Serás nossa,
Ou este sangue o teu fim.

E se a loucura da sorte
assim nos quiser perder,
Abre os teus braços de morte
E deixa-nos aquecer.

 

Carlos de Oliveira

Poema adequado à data...

 

(imagem daqui)

 

ARDE UM FULGOR EXTINTO

Arde um fulgor extinto
no longe da tarde agoniada.
Não me pesaria tanto
a caminhada se, em lugar do dia,
no seu extremo achasse a noite.

Exacta e concisa é a claridade.
Não mente à luz o que a noite
ilude. Terrível destino
o de quem é nocturno à luz solar.

Não vos ponha em cuidado,
porém, este meu penar:

são palavras e não sangram.

 

Rui Knopfli

Ian Anderson, líder dos Jethro Tull, comemora hoje 76 anos

   
Ian Scott Anderson (Dunfermline, Escócia, 10 de agosto de 1947) é um cantor, compositor, guitarrista e flautista britânico, mais conhecido por ser o líder da banda de rock and roll Jethro Tull.
   
    
Biografia
Na adolescência, Anderson arranjou emprego como assistente de vendas numa loja de departamentos em Blackpool, e depois numa banca de jornal. Ele declararia mais tarde que foi lendo edições da Melody Maker e da New Musical Express durante os seus intervalos de almoço que lhe rendeu a inspiração de fazer parte de uma banda.
Em 1963, ele formou os The Blades com os seus amigos de escola Barriemore Barlow (bateria), John Evan (teclado), Jeffrey Hammond (baixo) e Michael Stephens (guitarra). Este era um grupo de soul e blues, com Anderson nos vocais e gaita.
Em 1965, a banda passou a chamar-se John Evan Smash, comportando mais integrantes e que se separou após dois anos, época em que Andersou se mudou para Luton. Ali, conheceu o baterista Clive Bunker e o guitarrista e vocalista Mick Abrahams, do grupo de blues McGregor's Engine. Juntamente com Glenn Cornick, baixista que conhecera por intermédio de John Evan, ele formou a primeira encarnação de uma banda que se manteria durante mais de quatro décadas: os Jethro Tull.
Já então Anderson abandonara a sua pretensão de tocar guitarra elétrica, supostamente por sentir que nunca seria "tão bom quanto Eric Clapton". Como relatado pelo próprio na introdução do vídeo Live at the Isle of Wight, ele trocou a sua guitarra por uma flauta, e após algumas semanas de prática concluiu que poderia manejar o instrumento bem, principalmente no rock e nos blues. A sua experiência na guitarra não foi desperdiçada, no entanto, pois ele continuou a tocar viola, utilizando-o como instrumento tanto melódico quanto rítmico. Com o progredir da sua carreira, Anderson foi adicionando saxofone, bandolim, teclados e outros instrumentos ao seu arsenal.
Como flautista, Anderson é autodidata e a sua principal influência foi Roland Kirk.
  
       

 


O primeiro Bragança nasceu há 646 anos

   
D. Afonso de Portugal, depois Afonso I de Bragança (Veiros - Estremoz, 10 de agosto de 1377 - Chaves, 15 de dezembro de 1461) foi o 8º conde de Barcelos, 2º conde de Neiva e o 1º Duque de Bragança. Supõe-se que D. Afonso tenha nascido em Veiros, no Alentejo, como filho natural do futuro rei D. João I de Portugal e de Inês Pires.

«Nas suas cavalarias alentejanas, à volta de alguma montaria aos lobos ou aos castelhanos», se perdera (o futuro rei), em Veiros, pela filha de Berbadão, Inês Pires Esteves, que amara, seduzira, trouxera para o convento de Santos, e de quem houvera um filho, Conde de Barcelos, depois Duque de Bragança, nascido aos 20 anos do pai: foi Afonso I de Bragança ou Afonso de Portugal (nascido em Veiros em 10 de agosto de 1377 e morto em 15 de dezembro de 1461, em Chaves, ali sepultado). Foi feito, em 30 de dezembro de 1442, Duque de Bragança, também 8° Conde de Barcelos e Conde de Ourém.
O primitivo património dos Bragança formou-se com bens e terras com que dotou a filha o condestável Nuno Álvares Pereira (1360-1431), 7° Conde de Barcelos. Foi o fundador da casa de Bragança. O senhorio e o ducado de Bragança solicitou-os ao regente D. Pedro, por ocasião de breve reconciliação entre ambos, que lhos concedeu no ano de 1442. Os descendentes foram Duques de Guimarães em 23 de novembro de 1470 e de Barcelos em 5 de agosto de 1562.
Na armada de Ceuta foi encarregado dos aprestos nas províncias de Estremadura e Entre Douro e Minho e capitão da capitania real. Do regresso de Ceuta, e pelos serviços, recebeu novas mercês de seu pai, João I de Portugal. Durante o reinado de D. Duarte I teve excelentes relações com o meio-irmão, mas não o conseguiu demover da trágica expedição a Tânger.
Depois da morte de Duarte I e durante a regência da sua viúva Leonor de Aragão e Pedro, irmão do falecido rei, não foram boas as relações entre Afonso e Pedro, chegando quase ao campo de batalha em Mesão Frio, nas margens do rio Douro, luta que foi evitada pelo conde de Ourém, filho de Afonso. Em 1442, este obteve do regente o senhorio e ducado de Bragança. Era o terceiro ducado de Portugal (os dois primeiros foram criados por João I para seus dois filhos: o de Coimbra para Pedro e o de Viseu para o Infante D. Henrique)
Depois da batalha de Alfarrobeira (1449), D. Afonso V concedeu ao Duque de Bragança outras importantísssimas mercês, e nove anos depois, quando partiu para África, deixou entregue ao duque o governo do reino na sua ausência.

Casamento e posteridade
Casou em Frielas em 1 de novembro de 1401 com D. Brites ou D. Beatriz Pereira de Alvim (1380-1415) condessa de Barcelos e condessa de Arraiolos, filha única do condestável D. Nuno Álvares Pereira e de Leonor de Alvim, a herdeira da casa mais opulenta do reino.
Casou em 1420 com Constança de Noronha (morta em 1480 e sepultada em Guimarães), chamada a Pia ou a Condessa Santa, filha de Afonso Henriques, conde de Gijón e Noronha, filho do rei Henrique II de Castela.
O seu descendente na sexta geração, D. João II, 8° Duque de Bragança, viria a tornar-se D. João IV de Portugal, o nosso 21° Rei. Recorde-se que este título de Bragança foi criado em 1442 por Afonso V, sobrinho do 1º duque de Bragança.
  
   

Música de aniversariante de hoje...

Antonio Banderas - 63 anos


José Antonio Domínguez Bandera (Málaga, 10 de agosto de 1960) é um ator, produtor, cantor e diretor espanhol de cinema. 
  

Poesia adequada à data...

 

 

Meu Anjo, Escuta

Le mal dont j'ai souffert s'est enfui comme un rêve,
Je n'en puis comparer le lontain souvenir
Qu'à ces brouillards légers que l'aurore soulève
Et qu'avec la rosée on voit s'évanouir.
.............................................MUSSET


Meu anjo, escuta: quando junto à noite
Perpassa a brisa pelo rosto teu,
Como suspiro que um menino exala;
Na voz da brisa quem murmura e fala
Brando queixume, que tão triste cala
No peito teu?
Sou eu, sou eu, sou eu!

Quando tu sentes lutuosa imagem
D'aflito pranto com sombrio véu,
Rasgado o peito por acerbas dores;
Quem murcha as flores
Do brando sonho? — Quem te pinta amores
Dum puro céu?
Sou eu, sou eu, sou eu!

Se alguém te acorda do celeste arroubo,
Na amenidade do silêncio teu,
Quando tua alma noutros mundos erra,
Se alguém descerra
Ao lado teu
Fraco suspiro que no peito encerra;
Sou eu, sou eu, sou eu!

Se alguém se aflige de te ver chorosa,
Se alguém se alegra co'um sorriso teu,
Se alguém suspira de te ver formosa
O mar e a terra a enamorar e o céu;
Se alguém definha
Por amor teu,
Sou eu, sou eu, sou eu!


in Últimos Cantos (1851) - Gonçalves Dias

 

Aleksandr Konstantinovitch Glazunov nasceu há 158 anos

  
Aleksandr Konstantinovitch Glazunov, em russo: Александр Константинович Глазунов, Aleksandr Konstantinovič Glazunov; em francês: Glazounov; em alemão: Glasunow; (São Petersburgo, 10 de agosto de 1865Paris, 21 de março de 1936) foi um professor de música e compositor tardo-romântico russo

 


O Reporter X nasceu há 126 anos

   
Reinaldo Ferreira, mais conhecido pelo pseudónimo de Repórter X, (Lisboa, 10 de agosto de 1897 - Lisboa, 4 de outubro de 1935), foi um repórter, jornalista, dramaturgo e realizador de cinema português. Era pai do poeta Reinaldo Ferreira (filho), que viveu em Moçambique.
Iniciou a sua carreira jornalística aos doze anos de idade e foi, desde os vinte até à sua morte, considerado o maior repórter português. Em 1926, instalou residência permanente no Porto.
Imaginou entrevistas com Mata Hari e Conan Doyle, enviou reportagens da "Rússia dos Sovietes" sem nunca lá ter posto os pés, criou um dos primeiros detetives de gabinete da literatura policial, deu forma a uma galeria interminável de heróis de folhetim, fundou jornais, realizou filmes, previu, ao jeito de Júlio Verne, como seriam Lisboa e o Porto no ano 2000. Reinaldo Ferreira. R de realidade e F de ficção. Nasceu há um século. Os 38 anos da sua breve passagem pelo mundo foram vividos à beira do delírio, com a morfina a ajudar. Um tipógrafo distraído inventou a alcunha que o iria consagrar: Repórter X. 
Luís Miguel Queirós - Jornal PÚBLICO, 10 de agosto de 1997
   

Jorge Amado nasceu há cento e onze anos

 
Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna, 10 de agosto de 1912 - Salvador, 6 de agosto de 2001) foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.
 

Carlos de Oliveira nasceu há cento e dois anos

(imagem daqui)
   

Carlos de Oliveira (Belém do Pará, 10 de agosto de 1921 - Lisboa, 1 de julho de 1981) foi um escritor português.
Nascido no Brasil, filho de imigrantes portugueses, veio aos dois anos para Portugal. A família fixa-se em Cantanhede, mais precisamente na vila de Febres, onde o pai exercia medicina. Em 1933 muda-se para Coimbra, onde permanece durante quinze anos, a fim de prosseguir os estudos. Em 1941 ingressa na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde estabelece amizade com Joaquim Namorado, João Cochofel e Fernando Namora. Em 1947 licencia-se em Ciências Histórico-Filosóficas, instalando-se definitivamente em Lisboa, no ano seguinte. Periodicamente volta a Coimbra e à Gândara. Em 1949 casa-se com Ângela, jovem madeirense que conhecera nos bancos da Faculdade, sua companheira e futura colaboradora permanente.
Data de 1942 o seu primeiro livro de poemas, intitulado "Turismo", com ilustrações de Fernando Namora e integrado na coleção poética de 10 volumes do "Novo Cancioneiro", iniciativa coletiva que, em Coimbra, assinalava o advento do movimento neo-realista. Porém, em 1937, já publicara em conjunto com Fernando Namora e Artur Varela, amigos de juventude, um pequeno livro de contos "Cabeças de Barro". Em 1943 publica o seu primeiro romance, "Casa na Duna", segundo volume da coleção dos Novos Prosadores (1943), editado pela Coimbra Editora. No ano de1944 surge o romance "Alcateia", que viria a ser apreendido pelo regime. No entanto é desse mesmo ano a segunda edição de "Casa na Duna".
Em 1945 publica um novo livro de poesias, "Mãe Pobre". Os anos seguintes serão, para Carlos de Oliveira, bem profícuos quanto à integração e afirmação no grupo que veicula e auspera por um novo humanismo, com a participação nas revistas Seara Nova e Vértice, além da colaboração no livro de Fernando Lopes Graça "Marchas, Danças e Canções", uma antologia de vários poetas, musicadas pelo maestro.
Em 1953 publica "Uma Abelha na Chuva", o seu quarto romance e, unanimemente reconhecido, uma das mais importantes obras da literatura portuguesa do século XX, tendo sido integrado no programa da disciplina de português no ensino secundário.
Em 1957 organiza, com José Gomes Ferreira, os Contos Tradicionais Portugueses, alguns deles posteriormente adaptados ao cinema por João César Monteiro.
Em 1968 publica dois novos livros de poesia, "Sobre o Lado Esquerdo" e "Micropaisagem", e colabora com Fernando Lopes na adaptação de "Uma Abelha na Chuva". Em 1971 sai "O Aprendiz de Feiticeiro", coletânea de crónicas e artigos, e "Entre Duas Memórias", livro de poemas, que lhe vale o Prémio da Casa da Imprensa.
Em 1976 reúne toda a sua poesia em dois volumes, sob o título de "Trabalho Poético", juntando aos seus poemas anteriores, os inéditos reunidos em "Pastoral", publicado autonomamente no ano seguinte.
O seu último romance, "Finisterra", sai em 1978, tendo como fundo a paisagem gandaresa. A obra proporciona-lhe o Prémio Cidade de Lisboa, no ano seguinte.
Morre na sua casa em Lisboa, com 60 anos incompletos.
   

  

Acusam-me de Mágoa e Desalento

Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.

 

in Mãe Pobre - Carlos de Oliveira

Eugene Odum morreu há vinte e um anos...

   
Foi pioneiro nos trabalhos sobre a ecologia e na disseminação da consciência social sobre os ecossistemas.
Filho do sociólogo Howard W. Odum. Uma de suas principais obras é o clássico Fundamentos da Ecologia (1953).
 
  

Rui Knopfli nasceu há noventa e um anos

(imagem daqui)
     
Rui Manuel Correia Knopfli (Inhambane, Moçambique, 10 de agosto de 1932 - Lisboa, 25 de dezembro de 1997) foi um poeta, jornalista e crítico literário e de cinema.
Fez os seus estudos na África do Sul e iniciou uma carreira muito activa na então cidade de Lourenço Marques (actual Maputo).
Publicou a sua obra muitas vezes marcada pela vivência tropical africana em Moçambique. Integrou o grupo de intelectuais locais. Conviveu com muitos dos artistas, críticos literários e outros da capital moçambicana, como Eugénio Lisboa, Carlos Adrião Rodrigues, Craveirinha, António Quadros (pintor), etc. Como fotógrafo publicou um livro sobre a Ilha de Moçambique (A Ilha de Próspero, 1972). Com António Quadros (pintor) fundou Os Cadernos de Caliban. Deixou Moçambique em 1975. A nacionalidade portuguesa não impediu que a sua alma fosse assumidamente africana. Mas a sua desilusão pelos acontecimentos políticos estão expressos na sua poesia publicada após a saída da sua terra. Tem colaboração dispersa por vários jornais e revistas e publicou alguns livros. Desempenhou funções de adido cultural na Embaixada Portuguesa em Londres.
      
  
    
Velho Colono
    
Sentado no banco cinzento
entre as alamedas sombreadas do parque.
Ali sentado só, àquela hora da tardinha,
ele e o tempo. O passado certamente,
que o futuro causa arrepios de inquietação.
Pois se tem o ar de ser já tão curto,
o futuro. Sós, ele e o passado,
os dois ali sentados no banco de cimento.

Há pássaros chilreando no arvoredo,
certamente. E, nas sombras mais densas
e frescas, namorados que se beijam
e se acariciam febrilmente. E crianças
rolando na relva e rindo tontamente.

Em redor há todo o mundo e a vida.
Ali está ele, ele e o passado,
sentados os dois no banco de frio cimento.
Ele a sombra e a névoa do olhar.
Ele, a bronquite e o latejar cansado
das artérias. Em volta os beijos húmidos,
as frescas gargalhadas, tintas de Outono
próximo na folhagem e o tempo.

O tempo que cada qual, a seu modo,
vai aproveitando.

 

Rui Knopfli

Né Ladeiras nasceu há 64 anos

     
Né Ladeiras, é o nome artístico da cantora portuguesa Maria de Nazaré de Azevedo Sobral Ladeiras (Porto, 10 de agosto de 1959).
Nasceu numa família com grandes afinidades com a música. A mãe cantava em programas de rádio, o pai tocava viola e o avô materno tocava guitarra portuguesa, braguesa, cavaquinho e instrumentos de percussão. Com 6 anos participa no Festival dos Pequenos Cantores da Figueira da Foz. Durante a sua adolescência integra vários projetos musicais, entre os quais um duo acústico formado com uma amiga da escola.
A sua carreira musical começou realmente com a fundação, em 1974, com diversos amigos, da Brigada Victor Jara, projeto no qual tocavam sobretudo música latino-americana tendo participado em diversas campanhas de animação cultural do MFA (Movimento de Forças Armadas) e de trabalho voluntário. O interesse do grupo pela música tradicional portuguesa só se manifesta nos últimos meses de 1976, após realizarem diversos espetáculos pelo país e aí "descobrirem" as potencialidades e qualidade da nossa tradição musical.
Em 1977, na sequência de uma atuação na FIL (Feira Internacional de Lisboa), mantêm contactos com a editora Mundo Novo (associada à editorial Caminho), para a qual gravam, durante dois dias, o álbum Eito Fora, que é editado nesse mesmo ano. Né Ladeiras interpreta, neste disco, um dos temas mais conhecidos, Marião com base num tradicional de Trás-os-Montes.
No ano seguinte, Né Ladeiras participa ainda nas gravações do segundo álbum da Brigada Victor Jara intitulado Tamborileiro. Em 1979, após se separar da Brigada, Né Ladeiras junta-se ao agrupamento Trovante, ainda antes de este alcançar sucesso, com o qual grava o single Toca a Reunir.
Na altura da gravidez do seu primeiro filho, Né Ladeiras fica em casa e é nessa altura que é convidada pelos Trovante que já andavam há muito tempo à procura de uma voz feminina. Fizeram alguns espetáculos e toda a preparação de Baile do Bosque. Quase todas as músicas da maqueta apresentada às editoras eram cantadas por Né Ladeiras.
Entre 1980 e 1982, integra um dos projetos mais inovadores da música portuguesa, a Banda do Casaco, fundada em 1973 por Nuno Rodrigues e António Pinho (ex- Filarmónica Fraude). Né Ladeiras participa na gravação dos álbuns No Jardim da Celeste (em 1981) e Também Eu (em 1982) que incluíam alguns dos maiores sucessos do grupo, como sejam Natação Obrigatória e Salvé Maravilha.
O primeiro trabalho a solo de Né Ladeiras, Alhur, é editado em 1982 pela Valentim de Carvalho. O disco, um EP (ou máxi-single) composto por quatro temas da autoria de Miguel Esteves Cardoso (letras) e Né Ladeiras (músicas), regista a participação de Ricardo Camacho na produção e dos Heróis do Mar como músicos de estúdio. Alhur é um disco que fala de águas, desde as águas régias do pensamento às águas salgadas dos oceanos e das lágrimas.
Né Ladeiras retribuiu, nesse mesmo ano, a colaboração com os Heróis do Mar, participando no maxi-single de Amor, que se tornou um grande êxito comercial.
Colabora com Miguel Esteves Cardoso num duplo álbum intitulado Hotel Amen que não chega a ser gravado.
Em 1984 é editado pela Valentim de Carvalho o álbum, Sonho Azul, com produção de Pedro Ayres Magalhães (membro dos Heróis do Mar e futuro mentor dos Madredeus e Resistência), que também assina as letras e partilha, com Né Ladeiras, a composição das músicas. O disco é dedicado a todas as pessoas que fizeram do cinzento um "Sonho azul" e ao filho Miguel. Dos oito temas, os que obtém maior notoriedade são: Sonho Azul, Em Coimbra Serei Tua e Tu e Eu.
Participa no Festival RTP da Canção de 1986 com Dessas Juras que se Fazem, um inédito de Carlos Tê e Rui Veloso.
Em 1988 integra o projeto Ana E Suas Irmãs, idealizado por Nuno Rodrigues - seu colega na Banda do Casaco e então diretor da editora Transmédia. O grupo concorre ao Festival RTP da Canção de 1988 com o tema Nono Andar, sendo apresentado como um conjunto mistério. No entanto, Né Ladeiras não participa no certame, colaborando apenas na edição em single.
Em 1989 lança um álbum dedicado à atriz sueca Greta Garbo, Corsária, fruto de um projeto de pesquisa, o que, aliás, é bem característico do trabalho a solo de Né Ladeiras. A produção e arranjos estiveram a cargo de Luís Cília. As músicas são compostas por si, sendo as letras da autoria de Alma Om. O disco não obtém uma grande divulgação, principalmente porque a editora abre falência pouco tempo após a edição do disco.
Colabora igualmente com a rádio, outra das suas paixões, em rádios de Coimbra, Antena 1 e TSF. E, posteriormente, em resultado de algum desencantamento com a música, retira-se da atividade musical.
Em 1993 participa nas gravações de Matar Saudades, tema bónus incluído na edição em CD do disco Banda do Casaco com Ti Chitas.
Entre janeiro de 1993 e outubro de 1994, Né Ladeiras grava, com produção de Luís Pedro Fonseca, o seu terceiro álbum, Traz-os-Montes, uma produção da Almalusa com edição da EMI-Valentim de Carvalho, que resulta de dois anos de pesquisa de material relacionado com a música e a cultura tradicionais transmontanas (onde veio a descobrir raízes na família), nomeadamente as recolhas efetuadas por Michel Giacometti e por Jorge e Margot Dias. O disco recebeu o Prémio José Afonso.
A qualidade de temas como Çarandilheira e Beijai o Menino fazem deste disco, que é a revisitação de temas tradicionais transmontanos interpretados em mirandês, a sua obra-prima e um dos melhores discos de sempre da música portuguesa.
No Natal de 1995 é editado o disco Espanta Espíritos, disco de natal idealizado e produzido por Manuel Faria (seu colega nos tempos dos Trovante), no qual participam diversos artistas, entre os quais se destaca Né Ladeiras que interpreta o tema "Estrela do Mar" com letra de João Monge e música de João Gil.
Em 1996 participa na compilação A Cantar com Xabarin, Vol. III e IV, proposta pelo programa da TV Galiza, com o tema Viva a Música! composto por Né Ladeiras e Bruno Candeias, no qual participam, nos coros, os seus filhos Eduardo e João.
O álbum Todo Este Céu, editado em (1997), é inteiramente dedicado às canções de Fausto, compositor popular português.
No álbum-compilação A Voz e a Guitarra faz incluir o tema As Asas do brasileiro Chico César e uma nova versão de La Molinera que conta com a participação do guitarrista Pedro Jóia.
Durante a Expo '98 partilha Afinidades com Chico César numa iniciativa que "desafia cantoras nacionais a conceberem um espetáculo para o qual convidam um ou uma vocalista que seja para elas uma referência." Os dois intérpretes participam igualmente no programa Atlântico da RTP/TV Cultura.
Em 1999 inicia no Castelo de Montemor-o-Velho as gravações de um disco de cantares religiosos e pagãos com a produção de Hector Zazou. Nele participam músicos portuguesas como os Gaiteiros de Lisboa, Pedro Oliveira, João Nuno Represas, passando por um grupo de adufeiras do Paul e ainda a colaboração, em algumas faixas, de Brendan Perry, Ryuichi Sakamoto e John Cale. Por divergências de reportório com o mítico produtor, Né Ladeiras decide não continuar com as gravações e dá por finda a sua realização. Meses mais tarde outros nomes são indicados para a produção do disco Tim Whelan e Hamilton Lee dos Transglobal Underground e novos arranjos são elaborados pelos músicos britânicos. Apesar dos esforços da cantora e dos novos produtores o álbum não chega a ser gravado.
Colabora no disco Sexto Sentido que marcou o regresso da Sétima Legião. Em 2000 é editada a coletânea Cantigas de Amigos com produção de João Balão e Moz Carrapa.
Anamar, Né Ladeiras e Pilar Homem de Melo juntaram-se em concerto, por iniciativa de Tiago Torres da Silva, em dois concertos realizados no mês de novembro de 2000.
O álbum Da Minha Voz, de (2001), têm várias músicas do brasileiro Chico César e teve lançamento no Brasil em espetáculos realizados em São Paulo, com a orquestra do Teatro Municipal de São Paulo e com o grupo Mawaca. A imprensa brasileira teceu críticas positivas e elogiou, sobretudo, a voz grave e segura de Né Ladeiras. O disco conta com a participação de Ney Matogrosso, curiosamente cantando sozinho o tema "Sereia".
Ao mesmo tempo foi delineando outros projetos: um disco inspirado nas pinturas de Frida Kahlo e um outro disco de homenagem à escritora Isabelle Eberhardt (escritora convertida ao Islão, autora de "Escritos no Deserto") contando, para isso, com as letras de Tiago Torres da Silva.
É editada uma compilação com os discos Alhur e Sonho Azul.
Em abril de 2010 iniciou a gravação de um novo disco com composições suas e letras de Tiago Torres da Silva na alcaidaria do castelo de Torres Novas. Conta com as participações de Vasco Ribeiro Casais (Dazkarieh), Nuno Patrício (Blasted Mechanism), Francesco Valente (Terrakota), Corvos, Lara Li e Mísia.
Em 2016 lançou o CD "Outras vidas", dedicado a várias mulheres que marcaram a sua vivência e a sua carreira como Avita, Greta Garbo, Frida Khalo, Madre Teresa, Isabelle Eberhardt ou Violeta Parra. A música é da própria e as letras têm assinatura de Tiago Torres da Silva tendo produção de Amadeu Magalhães.
  
Discos e prémios

A discografia de Né Ladeiras é composta por álbuns a solo, álbuns de bandas de que fez parte, participações especiais em discos de outros artistas e compilações, entre eles:

 Álbuns

   
Compilações 
 Participações Especiais
  • 1985 - José Afonso - Tema Benditos do disco Galinhas do Mato
  • 1981 - Heróis do Mar - Amor (EP)
  • 1999 - Sétima Legião - A Volta ao Mundo (CD, Sexto Sentido)
  • 1996 - UHF - Amor Perdi (no álbum 69 Stereo, 1996)
  • 2000 - Mawaca - Reis; Alvíssaras, CD astrolabio . tucupira . com . brasil
  • 2010 - Corvos, com os temas No Canto do Olho e Depois do Mar Sem Fim, no CD Medo
  • 2010 - Tema Malhão do Vento, do CD Dentro da Matriz dos OMIRI
  • Tema Ayask ou Os Guerreiros da Utopia, do CD do grupo Nação Vira Lata
   
Prémios
  • Foi nomeada para vários Prémios BLITZ:
    • 1994: nomeação para melhor voz feminina, artista do ano e melhor álbum por Traz os Montes
    • 1997: nomeação para melhor voz feminina
  • Em 2020, a rubrica 101 canções que marcaram Portugal da Revista Blitz colocou a canção Sonho Azul em 22º lugar
  • Os Melhores Discos da Música Portuguesa
     

 

Waldemar Bastos morreu há três anos...

(imagem daqui)
    
Waldemar dos Santos Alonso de Almeida Bastos, conhecido como Waldemar Bastos (M'Banza Kongo, 4 de janeiro de 1954Lisboa, 10 de agosto de 2020), foi um músico e cantor angolano que combinava afropop, fado e influências brasileiras
  
Biografia
Começou a cantar numa idade muito precoce, utilizando instrumentos de seu pai. Após a independência de Angola, em 1975, representou Angola por várias vezes, viajando pela Polónia, Checoslováquia, Cuba e União Soviética, no entanto, concluiu, com relutância, que devido à instabilidade política, não havia um clima propício para que os músicos se pudessem desenvolver e crescer e, após uma visita a Portugal em 1982, decidiu não regressar.
Bastos considerava a sua música como reflexo da própria vida e suas experiências, composta para elogiar a identidade nacional. Os seus temas fazem um apelo à fraternidade universal. Ao longo dos seus 40 anos de carreira em 2008 foi distinguido com um Diploma de Membro Fundador, de 25 anos, da União dos Artistas e Compositores e um Prémio , em 1999, pela World Music. O jornal New York Times considerou, em 1999, o seu disco Black Light uma das melhores obras da época.
Morreu no dia 10 de agosto de 2020, em Lisboa, aos 66 anos, vítima de um cancro.
   

 


O poeta Gonçalves Dias nasceu há dois séculos!

  
Antônio Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823, no sítio Boa Vista, em terras de Jatobá (a 14 léguas de Caxias). Morreu aos 41 anos em um naufrágio do navio Ville Bologna, próximo do baixo de Atins, na baía de Cumã, município de Guimarães. Advogado de formação, é mais conhecido como poeta e etnógrafo, sendo relevante também para o teatro brasileiro, tendo escrito quatro peças. Teve também atuação importante como jornalista.
Era filho de uma união não oficializada entre um comerciante português com uma mestiça, e estudou inicialmente por um ano com o professor José Joaquim de Abreu, quando começou a trabalhar como caixeiro e a tratar da escrituração da loja de seu pai, que veio a falecer em 1837.
Iniciou os seus estudos de latim, francês e filosofia em 1835 quando foi matriculado numa escola particular.
Foi estudar na Europa, em Portugal, onde, em 1838 terminou os estudos secundários e ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (1840), retornando em 1845, após bacharelar-se. Mas antes de retornar, ainda em Coimbra, participou dos grupos medievalistas da Gazeta Literária e de O Trovador, compartilhando das ideias românticas de Almeida Garrett, Alexandre Herculano e António Feliciano de Castilho. Por se achar tanto tempo fora de sua pátria inspira-se para escrever a Canção do Exílio e parte dos poemas de "Primeiros cantos" e "Segundos cantos"; o drama Patkull; e "Beatriz de Cenci", depois rejeitado por sua condição de texto "imoral" pelo Conservatório Dramático do Brasil. Foi ainda neste período que escreveu fragmentos do romance biográfico "Memórias de Agapito Goiaba", destruído depois pelo próprio poeta, por conter alusões a pessoas ainda vivas.
No ano seguinte ao seu retorno conheceu aquela que seria a sua grande musa inspiradora: Ana Amélia Ferreira Vale. Várias de suas peças românticas, inclusive “Ainda uma vez — Adeus” foram escritas para ela. Nesse mesmo ano ele viajou para o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, onde trabalhou como professor de História e Latim do Colégio Pedro II, além de ter atuado como jornalista, contribuindo para diversos periódicos: Jornal do Commercio, Gazeta Oficial, Correio da Tarde e Sentinela da Monarquia, publicando crónicas, folhetins teatrais e crítica literária.
Em 1849 fundou com Manuel de Araújo Porto-Alegre e Joaquim Manuel de Macedo a revista Guanabara, que divulgava o movimento romântico da época. Em 1851 voltou a São Luís do Maranhão, a pedido do governo para estudar o problema da instrução pública naquele estado.
Gonçalves Dias pediu Ana Amélia em casamento em 1852, mas a família dela, em virtude da ascendência mestiça do escritor, refutou veementemente o pedido. No mesmo ano retornou ao Rio de Janeiro, onde casou-se com Olímpia da Costa. Logo depois foi nomeado oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Passou os quatro anos seguintes na Europa realizando pesquisas em prol da educação nacional. Voltando ao Brasil foi convidado a participar da Comissão Científica de Exploração, pela qual viajou por quase todo o norte do país.
Voltou à Europa em 1862 para um tratamento de saúde. Não obtendo resultados retornou ao Brasil, em 1864, no navio Ville de Boulogne, que naufragou na costa brasileira; salvaram-se todos, exceto o poeta, que foi esquecido, agonizando no seu leito, e afogou-se. O acidente ocorreu nos Baixos de Atins, perto de Tutóia, no Maranhão.
A sua obra enquadra-se no romantismo, pois, à semelhança do que fizeram os seus correlegionários europeus, procurou formar um sentimento nacionalista ao incorporar assuntos, povos e paisagens brasileiras na literatura nacional. Ao lado de José de Alencar, desenvolveu o indianismo. Pela sua importância na história da literatura brasileira, podemos dizer que Gonçalves Dias incorporou uma ideia de Brasil na literatura nacional.
  
 
 
Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
 Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
 Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu´inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
 
 

Gonçalves Dias

quarta-feira, agosto 09, 2023

O arqueólogo Francisco Martins Sarmento morreu há 124 anos...

     
Francisco Martins de Gouveia Morais Sarmento (Guimarães, 9 de março de 1833 - Guimarães, 9 de agosto de 1899) foi um notável arqueólogo e escritor português.
Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, dedicou-se com grande paixão ao estudo da arqueologia. Fez a exploração intensa e metódica da citânia de Briteiros e Sabroso, perto de Guimarães (1874-1879), junto à Casa da Ponte, onde morou.
Cultivou também a poesia e colaborou em revistas e jornais científicos. Encontra-se colaboração da sua autoria na revista O Pantheon (1880 - 1881) e no semanário Branco e Negro (1896 - 1898).
Entre as suas obras contam-se: Os Argonautas; Ora Marítima; Lusitanos, Lígures e Celtas.
No museu da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, conserva-se uma grande parte dos objetos arqueológicos por si encontrados.
   

Vesti La Giubba...

Saudades da poesia de Cesariny...

(imagem daqui)

 

Faz-me o favor

 

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

 

Mário Cesariny