Era filho de uma união, não oficializada, entre um comerciante
português e uma mestiça (
o que muito o orgulhava de ter o sangue das três raças formadoras do povo brasileiro: branca, indígena e negra),
e estudou inicialmente por um ano com o professor José Joaquim de
Abreu, quando começou a trabalhar como caixeiro e a tratar da
escrituração da loja de seu pai, que veio a falecer em
1837.
Foi estudar na
Europa, em
Portugal, onde em
1838 terminou os estudos secundários e ingressou na
Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra (
1840), retornando em
1845, após se licenciar. Mas antes de retornar, ainda em
Coimbra, participou dos grupos medievalistas da
Gazeta Literária e de
O Trovador, compartilhando das ideias românticas de
Almeida Garrett,
Alexandre Herculano e
António Feliciano de Castilho. Por se achar tanto tempo fora da sua pátria, inspira-se para escrever a
Canção do Exílio
e parte dos poemas de "Primeiros cantos" e "Segundos cantos"; o drama
Patkull e "Beatriz de Cenci", depois rejeitado, por sua condição de
texto "imoral" pelo Conservatório Dramático do Brasil. Foi ainda neste
período que escreveu fragmentos do romance biográfico "Memórias de
Agapito Goiaba", destruído depois, pelo próprio poeta, por conter alusões
a pessoas ainda vivas.
No ano seguinte ao seu retorno conheceu aquela que seria a sua grande
musa inspiradora: Ana Amélia Ferreira Vale. Várias de suas peças
românticas, inclusive “
Ainda uma vez - Adeus”
foram escritas para ela. Nesse mesmo ano ele viajou para o Rio de
Janeiro, então capital do Brasil, onde trabalhou como professor de
história e
latim do
Colégio Pedro II, além de ter atuado como jornalista, contribuindo para diversos periódicos:
Jornal do Commercio, Gazeta Oficial, Correio da Tarde e Sentinela da Monarquia, publicando crónicas, folhetins teatrais e crítica literária.
Gonçalves Dias pediu Ana Amélia em casamento em
1852,
mas a família dela, em virtude da ascendência mestiça do escritor,
refutou veementemente o pedido. No mesmo ano retornou ao Rio de Janeiro,
onde casou-se com Olímpia da Costa. Logo depois foi nomeado oficial da
Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Passou os quatro anos seguintes
na Europa realizando pesquisas em prol da educação nacional. Voltando
ao Brasil, foi convidado a participar na Comissão Científica de
Exploração, o que o obrigou a viajou por quase todo o norte do país.
Voltou à Europa em
1862, para um tratamento de saúde. Não obtendo resultados, retornou ao Brasil em
1864 no navio
Ville de Boulogne,
que naufragou na costa brasileira; salvaram-se todos, exceto o poeta,
que foi esquecido, agonizando, no seu leito, e se afogou. O acidente
ocorreu nos Baixos de Atins, perto de
Tutóia, no
Maranhão.
A sua obra enquadra-se no
Romantismo,
pois, a semelhança do que fizeram os seus correligionários europeus,
procurou formar um sentimento nacionalista ao incorporar assuntos, povos
e paisagens brasileiras na literatura nacional. Ao lado de José de
Alencar, desenvolveu o
Indianismo. Pela sua importância na história da literatura brasileira, podemos dizer que Gonçalves Dias incorporou uma ideia de
Brasil à literatura nacional.
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu´inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias