Resignação dos ministros democratas em fevereiro de 1948
O
Golpe de Estado da Checoslováquia de 1948, muitas vezes, simplesmente
Golpe Checo ou
Golpe de Praga (em
checo:
Únor 1948, em
eslovaco:
Február 1948, ambas significando "Fevereiro de 1948"; na historiografia
comunista conhecido como
"Fevereiro Vitorioso", em checo:
Vítězný únor, em eslovaco:
Víťazný február), foi um evento em que o
Partido Comunista da Checoslováquia (KSČ), com o apoio
soviético, assumiu o controle incontestável do governo da
Checoslováquia, inaugurando mais de quatro décadas de
ditadura sob seu comando.
Antecedentes
No final da
Segunda Guerra Mundial,
o KSČ estava numa posição favorável. A sua poderosa influência sobre a
política da Checoslováquia desde 1920, a sua identificação com a
União Soviética,
potência libertadora do país, e a sua determinação para se tornar a principal
força política do país, sem alarmar o Ocidente (uma estratégia seguido
também pelos partidos comunistas em
Itália e
França) articulado com a oposição ao domínio nazi, produziu um aumento na adesão de 40.000 em 1945 para 1,35 milhões em 1948.
O líder do partido,
Klement Gottwald, disse em 1945 que "apesar da situação favorável, a próxima meta não é a
sovietização ou o
socialismo,
mas sim a realização de uma realmente completa revolução nacional
democrática", ligando assim o seu partido com a tradição democrática da
Checoslováquia (ele mesmo alegou ser um discípulo de
Tomáš Masaryk) e do
nacionalismo checo, capitalizando intensos sentimentos populares antigermânicos. Durante o período inicial do
pós-guerra,
trabalhando com os outros partidos em uma coligação chamada de
Frente
Nacional, manteve a aparência de estar disposto a trabalhar dentro do
sistema democrático.
Assim, na eleição de 1946, o KSČ obteve 38% dos votos. Este foi o
melhor desempenho de um partido comunista europeu numa
eleição livre, e
foi muito mais do que os 22% recebidos pelos
comunistas húngaros no ano seguinte, na
única outra eleição livre do pós-guerra na área de influência soviética. O presidente
Edvard Benes convidou Gottwald para ser o primeiro-ministro.
Embora o governo ainda tivesse uma maioria não comunista (nove
comunistas e 17 não comunistas), o KSČ tinha o controle da
polícia e das forças armadas, logo passando a dominar outros
ministérios-chave (como os de propaganda, educação, assistência social e
agricultura) e o serviço civil.
No entanto, no verão de 1947, o KSČ havia alienado muitos dos
potenciais eleitores: as atividades do Ministério do Interior e da
polícia eram demasiadamente ofensivas, segundo muitos cidadãos;
agricultores opunham-se a falar de
coletivização,
e alguns trabalhadores estavam irritados com as demandas dos comunistas
para que aumentassem a produção sem receber salários mais altos. A
expectativa geral era de que os comunistas fossem derrotados nas
eleições de maio de 1948. Em setembro daquele ano, na primeira reunião do
Cominform,
Andrei Jdanov observou que a vitória soviética tinha ajudado a alcançar "a vitória completa da
classe trabalhadora sobre a
burguesia em todos os países do
leste europeu, exceto na Checoslováquia, onde o resultado continuava indeciso ".
O representante da Checoslováquia na reunião,
Rudolf Slánský, voltou a
Praga
com um plano para a tomada final do poder. Slánský afirmava que, "assim
como no campo internacional temos ido para a ofensiva, na frente
doméstica devemos ir também".
O golpe
Durante
o inverno de 1947-1948, tanto no gabinete como no parlamento, a tensão
entre comunistas e seus adversários levavam a um acirramento dos
conflitos.
No início de fevereiro de 1948, o ministro comunista do interior,
Václav Nosek, estendeu os seus poderes ilegalmente, na tentativa de
expurgar elementos remanescentes não comunistas da Força Nacional de
Polícia. O aparelho de segurança e a polícia estavam sendo transformados
em instrumentos do KSČ, pondo em risco as liberdades básicas cívicas.
A crise começou a
21 de fevereiro de 1948, quando o Ministro do Interior
escolheu oito novos Comissários em
Praga,
todos comunistas, o que demonstrava o controle do partido comunista
sobre o governo da Checoslováquia e, em especial, sobre as forças de
segurança do Estado. Isso provocou protestos, seguidos pela renúncia dos
ministros democratas. Os renunciantes pensavam que assim provocariam uma
crise política, levando a eleições gerais antecipadas, quando então
derrotariam o Partido Comunista.
No entanto, havia uma atmosfera de tensão crescente e enormes
manifestações lideradas pelos comunistas ocorrendo em todo o país,
enquanto o presidente Edvard Benes procurava manter-se neutro, temendo
que o fomento do KSČ causasse uma insurreição que, por fim, desse ao
Exército Vermelho um pretexto para invadir o país e restaurar a ordem.
No entanto, os membros que se demitiram foram substituídos por membros do Partido Comunista, e, com o apoio de
Estaline, o líder comunista da Checoslováquia,
Klement Gottwald, marcou uma
greve geral para 24 de fevereiro, criando assim uma série de comités de ação,
apoiadas pelas milícias dos trabalhadores, que impediram qualquer
resistência por parte das forças democráticas.
Enquanto isso, os ministros comunistas se mobilizavam. Para ajudá-los, o embaixador soviético,
Valerian Zorin, chegou a Praga para organizar um
golpe. Milícias armadas tomaram Praga; manifestações comunistas foram montadas, um manifestação estudantil
anticomunista
foi interrompida. Os ministérios comandados por não comunistas foram ocupados; funcionários eram demitidos, e os ministros impedidos de
entrar em seus próprios gabinetes. O exército ficou confinado aos quartéis e não interferiu.
Num discurso perante 100.000 simpatizantes, o líder Gottwald
ameaçou com uma greve geral, a não ser que o presidente Benes
concordasse em formar um novo governo dominado pelos comunistas. O
embaixador soviético ofereceu os serviços do Exército Vermelho, cujas
tropas estavam preparadas nas fronteiras do país. Mas Gottwald recusou a
oferta, acreditando que a ameaça de violência, combinada com uma forte
pressão política, seria o suficiente para forçar Benes a ceder. Após o
golpe, Gottwald diria: "[Benes] sabe o que é a força, e isso o levará a
avaliar essa [situação] de forma realista".
Em
25 de fevereiro de
1948, após duas semanas de intensa pressão da
União Soviética o Presidente da República da
Checoslováquia,
Edvard Benes,
cedeu todo o poder a Klement Gottwald e a Rudolf Slánský, aceitando a
renúncia dos ministros não comunistas e nomeando um novo governo, sob a
liderança de Gottwald e dominado por comunistas e
social-democratas pró-Moscovo. O único ministério controlado por um não comunista era o das Relações Exteriores, que foi entregue a
Jan Masaryk - encontrado
morto duas semanas depois.
Após o golpe, os comunistas moveram-se rapidamente para consolidar o seu
poder: milhares de não simpatizantes foram demitidos, centenas foram
presos e milhares de pessoas fugiram do país.
Nas eleições de 30 de maio, os eleitores foram presenteados com uma
única lista - a da Frente Nacional - , que oficialmente ganhou 89,2% dos
votos. Na lista da Frente Nacional, os comunistas e os
social-democratas (que logo se fundiram) tinham maioria absoluta. Mas
praticamente todos os partidos não comunistas que haviam participado da
eleição de 1946 também ficaram representados na lista da Frente Nacional
e, assim, receberam alguns assentos parlamentares. No entanto, àquela
altura, todos se haviam convertido em fiéis parceiros dos comunistas. A
Frente Nacional foi transformada numa ampla organização patriótica
dominada pelos comunistas, e a nenhum outro grupo político foi permitido
existir.
Consumido por estes eventos, Benes renunciou em 2 de junho e foi sucedido por Gottwald, 12 dias depois, falecendo em setembro do mesmo ano.
Impacto
A Checoslováquia permaneceu como uma
ditadura comunista até à
Revolução de Veludo de 1989.
O golpe tornou-se sinónimo da
Guerra Fria. A perda da última democracia remanescente na
Europa do Leste
causou um choque profundo no Ocidente. Pela segunda vez em uma década,
via-se a independência e a democracia da Checoslováquia serem apagadas
por uma ditadura
totalitária.
A URSS parecia ter concluído a formação de um bloco monolítico soviético e concluído a divisão da Europa.
O impacto foi igualmente profundo, tanto na
Europa Ocidental como nos
Estados Unidos, e ajudou a unificar os países ocidentais contra o
bloco comunista.
Deu também um ar de presciência aos governos francês e italiano, que,
no ano anterior, haviam forçado a saída dos partidos comunistas dos seus
governos.
O golpe checo constituiu uma ruptura definitiva nas relações entre as
duas superpotências, com o Ocidente agora sinalizando a sua determinação
de se comprometer numa de auto-defesa coletiva.
No
Ocidente,
o golpe de Praga teve um grande impacto porque a Checoslováquia era,
geográfica, histórica e politicamente o país mais ocidental da
Europa Central e
Oriental.