O Curso de Geologia de 85/90 da Universidade de Coimbra escolheu o nome de Geopedrados quando participou na Queima das Fitas.
Ficou a designação, ficaram muitas pessoas com e sobre a capa intemporal deste nome, agora com oportunidade de partilhar as suas ideias, informações e materiais sobre Geologia, Paleontologia, Mineralogia, Vulcanologia/Sismologia, Ambiente, Energia, Biologia, Astronomia, Ensino, Fotografia, Humor, Música, Cultura, Coimbra e AAC, para fins de ensino e educação.
Teólogo
e professor universitário, José Tolentino de Mendonça é também
considerado uma das vozes mais originais da literatura portuguesa
contemporânea e reconhecido como um eminente intelectual católico. A sua
obra inclui poesia, ensaios e peças de teatro assinados como José Tolentino Mendonça.
A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos
Durmo no mar, durmo ao lado do meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração
in A Que Distância Deixaste o Coração (1998) - José Tolentino Mendonça
Filho de Romano Carlos de Oliveira (Funchal, Monte,
batizado a 26 de novembro de 1895) e de Maria Ester dos Anjos Luís
Bernardes (c. 1900 - 1938), tinha duas irmãs, Maria Regina e Maria
Elora. Herberto Hélder nasceu no n.º 284 da Rua da Carreira, numa casa que pertencia à família do cientista e naturalista madeirense Adolfo César de Noronha.
Casou duas vezes: com Maria Ludovina Dourado Pimentel (de quem
teve uma filha, Gisela Ester Pimentel de Oliveira, por casamento Lopes da
Conceição) e com Olga da Conceição Ferreira Lima.
Foi pai do jornalista Daniel Oliveira, nascido da relação que teve com Isabel Figueiredo.
É considerado um dos mais originais poetas da língua portuguesa. Era uma figura misantropa,
e em torno de si pairava uma atmosfera algo misteriosa, uma vez que
recusava a receber prémios e se negava a dar entrevistas. Em 1994 foi o vencedor do Prémio Pessoa, que recusou.
A sua escrita começou por se situar no âmbito de um surrealismo tardio. Em 1964 organizou com António Aragão o "1.º caderno antológico de Poesia Experimental" (Cadernos de Hoje, MONDAR editores), marco histórico da poesia portuguesa (ver: Poesia Experimental Portuguesa).
Escreveu entretanto "Os Passos em Volta", um livro que, através de
vários contos, sugere as viagens deambulatórias de uma personagem por
entre cidades e quotidianos, colocando ao mesmo tempo incertezas acerca
da identidade própria de cada ser humano; "Photomaton e Vox", por sua vez, é uma coletânea de ensaios e textos e também de vários poemas. "Poesia Toda" é o título de uma antologia pessoal dos seus livros de poesia que tem sido depurada ao longo dos anos. Na edição de 2004
foram retiradas da recolha suas traduções. Alguns dos seus livros
desapareceram das mais recentes edições da Poesia Toda, rebatizada
Ofício Cantante, nomeadamente Vocação Animal e Cobra.
A crítica literária aproxima sua linguagem poética do universo da alquimia, da mística, da mitologiaedipiana e da imagem da Mãe.
Faleceu a 23 de março de 2015, vítima de ataque cardíaco, aos 84 anos, na sua casa, em Cascais.
Menos de dois meses após a sua morte, em maio de 2015, foi publicado o
último livro de originais do poeta, "Poemas canhotos", que tinha
terminado pouco antes de morrer.
Quem deita sal na carne crua deixa
a lua entrar pela oficina e encher o barro forte:
vasos redondos, os quadris
das fêmeas - e logo o meu dedo se poe a luzir
ao fôlego da boca: onde
o gargalo se estrangula e entre as coxas a fenda
é uma queimadura
vizinha
do coração - toda a minha mão se assusta,
transmuda,
se torna transparente e viva, por essa força que a traga
até dentro,
onde o sangue mulheril queimado
a arrasta pelos rins e aloja, brilhando
como um coração,
na garganta - o sal que se deita cresce sempre
ao enredo dos planetas: com unhas
frias e nuas
retrato as lunações, talho a carne límpida
- porque eu sou o teu nome quando
te chamas a toda a altura
dos espelhos e até ao fundo, se teus dedos abertos tocam
a estrela
como uma pedra fechada no seu jardim selvagem
entre a água: tu tocas
onde te toco, e os remoinhos da luz e do sal se tocam
na carne profunda: como em toda a olaria o movimento
toca a argila e a torna
atenta
à translação da casa pela paisagem rodando sobre si
mesma - a teia sensível,
que se fabrica no mundo entre a mão no sal
e a potência
múltipla de que esta escrita é a simetria,
une
tudo boca a boca: o verbo que estás a ser cada
tua morte
ao que ouço, quando a luz se empina e a noite inteira
se despenha
para dentro do dia: ou a mão que lanço sobre
esse cabelo animal
que respira no sono, que transpira
como barro ou madeira ou carne salgada
exposta
a toda a largura da lua: o que é grave, amargo, sangrento.
Lá vai Serpa, lá vai Moura
Ai, as Pias ficam no meio
Lá vai Serpa, lá vai Moura
Ai, as Pias ficam no meio
Quem vier à minha terra
Ai, não tem de que ter receio
Quem vier á minha terra
Ai, não tem de que ter receio
Teus olhos, linda morena,
Ai, Fazem-me a alma sombria
Teus olhos, linda morena,
Ai, Fazem-me a alma sombria
Quero-te mais, ó morena
Ai, Do que à luz de cada dia.
Quero-te mais, ó morena
Ai, Do que à luz de cada dia.
Edmundo Alberto Bettencourt (Funchal, 7 de agosto de 1899 - Lisboa, 1 de fevereiro de 1973)
foi um cantor e poeta português notavelmente conhecido por interpretar o Fado e a
Canção de Coimbra e pelo seu papel determinante na introdução de temas
populares neste género musical. Notabilizou-se pela composição musical
"Saudades de Coimbra" a qual é ainda hoje uma referência da música
portuguesa universitária.
Edmundo era neto de Júlio César de Bettencourt, Morgado da Calheta. Caso o morgadio não tivesse sido extinto, Edmundo teria sido o Morgado.
Frequentou a Faculdade de Direito de Coimbra, foi funcionário público, até ser despedido, por o seu nome figurar entre os milhares de signatários das listas do MUD,
desenvolvendo, então, a atividade de delegado de propaganda médica.
Integrou o grupo fundador de Presença, cujo título sugerira, e em cujas
edições publica O Momento e a Legenda. Dissocia-se do grupo presencista em 1930, subscrevendo com Miguel Torga e Branquinho da Fonseca
uma carta de dissensão, onde é acusado o risco em que a revista
incorria de enquadrar o "artista em fórmulas rígidas", esquecendo o
princípio de "ampla liberdade de criação" defendido nos primeiros
tempos" (cf. "O Modernismo em Portugal", entrevista de João de Brito
Câmara a Edmundo de Bettencourt, reproduzida em A Phala, n.° 70, maio de 1999, p. 114). A redação de Poemas Surdos, entre 1934 e 40, alguns dos quais publicados na revista lisboeta Momento, permite antedatar o surto do surrealismo
em Portugal, enquanto adesão a um "sistema de pensamento, no que ele
tem de fuga à chamada realidade, repúdio dos valores duma civilização e
esperança de ação num domínio onde por tradição ela é quase sempre
negada", embora não seja possível esclarecer com
especificidade qual foi o conhecimento que Bettencourt teve da lição
surrealista francesa.
Frequentou os cafés Royal e Gelo, onde se reuniu a segunda geração surrealista, vindo a publicar seis inéditos no n.° 3 da revista Pirâmide
(1959-1960), em cujas páginas, entre 59 e 60, foram dadas à luz
algumas das produções do grupo do Gelo. Publicou ainda esparsamente
outros poemas em Momento, Vértice, Búzio. Depois de um silêncio, que
deve ser compreendido não como desistência "mas sim [como] uma peculiar
forma de revolta que o poeta defende carinhosamente", colige toda a sua
produção, permitindo a edição, em 1963, dos Poemas de Edmundo de
Bettencourt, prefaciados por Herberto Helder, poeta que, pela primeira
vez, faz justiça à originalidade do autor de Poemas Surdos,
considerando-o "uma das pouquíssimas vozes modernas entre o milagre do
Orpheu e o breve momento surrealista português" (HELDER, Herberto -
"Relance sobre a Poesia de Edmundo de Bettencourt", prefácio a Poemas de
Edmundo de Bettencourt, Lisboa, Portugália, 1963, p. XXXII). Com
efeito, o versilibrismo, o imagismo e certa atmosfera onírica e irreal
conferem à sua poesia um lugar de destaque no segundo modernismo,
estabelecendo, simultaneamente, a ponte com o vanguardismo de Orpheu e
com tendências surrealistas e imagistas verificadas em gerações
posteriores à Presença.
Certo passado audaz sempre revive, apenas, sob um céu menos escuro. Quem vive para o futuro, já o vive! Futuro! Quando te posso ver, por ti, plena aurora, condena-te a presença: és este agora que possuo como a abelha suga a rosa… e sem que o resto me importe. Mas ante sou depois, ver-te ou pensar-te é ver uma nebulosa – é como pensar na morte.
As ilhas do arquipélago da Madeira já seriam conhecidas antes da chegada dos europeus no século XIV, a crer em referências presentes em obras e cartas geográficas como o "Libro del Conoscimiento" (1348-1349), de autoria de um frade mendicante espanhol, no qual as ilhas são referidas pelo nome de "Leiname", "Diserta" e "Puerto Santo".
Eram ilhas desabitadas que, pela sua localização - próximo da costa
africana - revestiam-se de grande importância estratégica; e, pelo seu
clima, ofereciam fortes potencialidades económicas, nomeadamente no
tocante à exploração agrícola.
Foi uma das mais populares vedetas da rádio, do teatro e da televisão portuguesas, desde os anos quarenta até à sua morte em 1980. A ele se devem êxitos como Noites da Madeira, Bailinho da Madeira ou A Mula da Cooperativa. E nada faria prever que este jovem madeirense, que sonhava ser barbeiro e fora alfaiate, viria a ser um dos mais populares artistas portugueses.
Maximiano de Sousa, de todos conhecido como Max, era madeirense, nascido no Funchal em 1918.
Foi aí que iniciou a sua carreira artística. Sonhara ser barbeiro e
violinista, tinha ouvido para a música mas pouca paciência para
aprender o solfejo, e acabou por aprender o ofício de alfaiate. Contudo, o bichinho da música que sempre tivera tornou-se numa carreira em 1936, quando começa a actuar no bar de um hotel do Funchal: cantor à noite, alfaiate de dia.
Em 1942, é um dos fundadores - como cantor e baterista - do Conjunto de Toni Amaral, que se torna numa sensação nas noites madeirenses e que, em 1946, vem conquistar Lisboa.
O trabalho é muito e o conjunto assenta arraiais no night-club Nina,
interpretando os ritmos do momento - boleros, slows, fados-canções. E é
o "Fado Mayerúe" de Armandinho e Linhares Barbosa, mais conhecido
como "Não Digas Mal Dela", que populariza a voz de Max e leva à sua
saída do Conjunto de Toni Amaral, iniciando finalmente a carreira a solo que desejava em 1948.
Agora actuando sozinho, Max dispara para o estrelato através da rádio e das suas presenças no Passatempo APA do Rádio Clube Português, em parceria com Humberto Madeira. Em 1949, assina contrato com a Valentim de Carvalho e grava o seu primeiro disco: um 78 rotações com "Noites da Madeira" e "Bailinho da Madeira".
É o primeiro de uma longa lista de sucessos como A Mula da Cooperativa, Porto Santo, 31 ou Sinal da Cruz. Em entrevista ao jornal Se7e, em 1978, referia que eram os discos que lhe davam mais dinheiro, pois "os direitos de autor estavam sempre a pingar".
Depois da rádio, Max conquista o teatro, participando a convite de Eugénio Salvador na revista Saias Curtas, em 1952. Será apenas a primeira de uma longa série de revistas que confirmarão também os seus dotes de actor e humorista.
Em 1957,
parte para os EUA para uma digressão de cinco anos interrompida por uma
súbita doença de coração ao fim de dois. Viajará em seguida por Angola, Moçambique, África do Sul, Brasil e Argentina.
Regressado a Portugal,
embora continue a ser um dos artistas mais queridos do público,
encontrará alguma dificuldade de trabalho, sobrevivendo à conta dos
discos que continuava a gravar. Um dos seus maiores êxitos surgirá aliás
neste período, "Pomba Branca". Faleceu em 1980.
Em 1991 foi inaugurado um busto em sua homenagem, da autoria da escultora Luíza Clode, junto ao Largo do Corpo Santo.
Pequenos, peludos e voadores: os morcegos caçam pragas agrícolas na Madeira
Morcego-arborícola-da-madeira, uma subespécie endémica da ilha
Ricardo Rocha
Estudo de cientistas portugueses conclui que 40% da dieta das três espécies destes mamíferos da ilha da Madeira é composta por insetos prejudiciais para a agricultura.
Na ilha da Madeira, há três espécies de morcegos que se alimentam de insetos. E uma equipa de cientistas portugueses investigou a dieta destes pequenos mamíferos voadores, recorrendo a uma avançada técnica genética, e concluiu que pelo menos 40% dos insetos que fazem parte da sua dieta são pragas agrícolas ou florestais, ou até vetores para a transmissão de doenças aos seres humanos.
A maior componente da dieta das três espécies de morcegos nativas da Madeira é composta por borboletas noturnas. Mas, embora a contribuição dos morcegos não seja muito conhecida, dão uma enorme ajuda aos agricultores, e ao controlo de outros insetos prejudiciais para a saúde humana. “Não estávamos à espera de que uma percentagem tão grande de presas correspondesse a pragas agrícolas ou florestais, prováveis, ou confirmadas”, disse Angelina Gonçalves, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e do laboratório associado CIBIO - Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, citada num comunicado de imprensa.
“As presas dos morcegos alimentam-se de um vasto leque de espécies, incluindo muitas de elevado interesse económico, como a bananeira, a estrelícia, e a cana-de-açúcar”, explicou ao Azul Ricardo Rocha, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, coordenador do trabalho publicado na semana passada na revista científica Journal of Mammology. Uma delas é a traça-da-bananeira (Opogona sacchari), que não só afecta as plantações de bananeiras, como também várias espécies ornamentais, como a famosa flor da Madeira, a estrelícia.
Mas quem são os morcegos madeirenses? “O morcego-da-madeira (Pipistrellus maderensis) habita apenas na Macaronésia, nos arquipélagos da Madeira, Canárias e provavelmente Açores”, explicou ao Azul Ricardo Rocha, “explorador” da National Geographic.
O morcego-arborícola-da-madeira (Nyctalus leisleri verrucosus) é uma subespécie endémica da Madeira. “Isto quer dizer que, apesar de a espécie ter uma distribuição mais ampla, as populações na Madeira são suficientemente diferentes para terem uma classificação própria”, indicou Ricardo Rocha.
Morcego-orelhudo-cinzento: existe em toda a Europa ocidental, mas é o menos abundante na Madeira
Por fim, o morcego-orelhudo-cinzento (Plecotus austriacus), que tem uma distribuição muito mais alargada, pois existe em grande parte da Europa Ocidental, é o menos abundante na Madeira.
Código de barras genético
Como é que os cientistas analisaram a dieta destes voadores noturnos? Começaram por ter de apanhar um número significativo de morcegos das três espécies, usando redes colocadas em vários locais no Parque Ecológico do Funchal. “Foram muitas noites de trabalho árduo, mas com muito esforço conseguimos capturar mais de cem morcegos, o que nos permitiu examinar as diferenças alimentares entre as várias espécies”, adiantou Angelina Gonçalves, que é a primeira autora do estudo publicado na revista científica Journal of Mammology.
O método tradicional para perceber de que se alimenta um animal é analisar as suas fezes, quer por observação direta, quer ao microscópio, procurando vestígios daquilo de que se alimentou. “Mas como a maior parte dos morcegos caça no ar à noite e mastiga os fragmentos maiores das suas presas, estes métodos não são particularmente eficazes para analisar a sua dieta”, escrevem os investigadores no artigo.
Decidiram, portanto, usar uma técnica desenvolvida nos primeiros anos do século XXI, o código de barras de ADN. “Esta técnica tem vindo a ser cada vez mais usada em estudos de dieta”, comentou Ricardo Rocha, que dá uma explicação simples do que se trata: “De forma muito resumida, identificam-se segmentos de ADN que permitem diagnosticar determinados grupos taxonómicos – atuam como uma espécie de código de barras. Com isso, conseguimos perceber que presas foram consumidas pelos morcegos com uma resolução muito maior do que conseguíamos no passado.
“Este estudo foi um dos primeiros a usar este método do código de barras genético para avaliar a dieta de morcegos que vivem em ilhas, salientam os autores do artigo. Assim, avança em muito o conhecimento relativo à ecologia trófica [de alimentação] e serviços de supressão de pragas prestados por estes mamíferos ainda mal conhecidos”, escrevem no artigo científico.
Discretos e pouco estudados Porque são os morcegos mal conhecidos? Responde Ricardo Rocha: “No geral, os morcegos são pouco estudados. Tendem a ser espécies pequenas, noturnas, e bastante discretas.” No caso de espécies insulares, que vivem em ilhas, essa falta de estudos é particularmente aguda, salienta.
“Este não é o padrão exclusivo dos morcegos. É um padrão geral dos vertebrados em ilhas. Salvo raras exceções, como por exemplo os tentilhões das Galápagos [aves], ou algumas aves marinhas, as espécies insulares tendem a ser particularmente pouco estudadas, se compararmos com as as espécies continentais”, explica Ricardo Rocha.
Os demais mamíferos da Madeira não são nativos. Alguns, como os gatos, são predadores de morcegos e outras espécies nativas, o que pode afetar eventuais serviços de ecossistema – como o potencial controlo de pragas, associado ao consumo de insetos nefastos à agricultura
Ribeira de Santa Luzia transbordando para a Rua 5 de outubro
O temporal na ilha da Madeira em 2010 foi uma sequência de acontecimentos iniciados por forte precipitação durante a madrugada do dia 20 de fevereiro, seguida por uma subida do nível do mar. Estes acontecimentos provocaram inundações e derrocadas ao longo das encostas da ilha, em especial na parte sul.
Causas
Na origem do fenómeno esteve um sistema frontal de forte atividade associado a uma depressão que se deslocou a partir dos Açores, segundo o Instituto de Meteorologia. O choque da massa de ar polar com a tropical deu origem a uma superfície frontal, que aliada à elevada temperatura da água do oceano acelerou a condensação,
causando uma precipitação extremamente elevada num curto espaço de
tempo. A orografia da ilha contribuiu para aumentar os efeitos da
catástrofe. É possível que, aliado a valores de precipitação recorde,
erros de planeamento urbanístico, tais como o estreitamento de leitos
das ribeiras e a construção legal ou ilegal dentro ou muito próximo dos
cursos de água, bem como falta de limpeza e acumulação de lixo nos
leitos de ribeiras de menor dimensão tenham tornado a situação ainda
mais grave.
Efeitos
A parte baixa da cidade do Funchal foi inundada e a circulação viária foi impedida por pedras e troncos de árvore arrastados pelas ribeiras de São João, Santa Luzia e João Gomes. Na freguesia do Monte,
a capela de Nossa Senhora da Conceição, ao Largo das Babosas, foi
levada pela força das águas, junto com algumas das residências vizinhas.
Alguns populares conseguiram salvar a imagem da virgem e vários
ornamentos.
Atualmente foram confirmados cerca de 47 mortos, 600 desalojados e 250 feridos. O Curral das Freiras esteve acessível, embora com acesso condicionado. A freguesia da Serra de Água, a montante da Ribeira Brava,
esteve completamente inacessível. Eram evidentes os sinais de
destruição provocados pelas enxurradas, com as zonas altas do concelho
do Funchal e, também, no concelho da Ribeira Brava a serem as mais afetadas.
A quantidade de água que caiu no dia 20 de fevereiro de 2010 sobre a Ilha da Madeira, em particular no Pico do Areeiro,
foi o valor mais alto jamais registado em Portugal. Neste cume, o
segundo mais alto da ilha, foram registados 185 litros por metro
quadrado, sendo que os valores mais altos registados em Portugal até à
altura não chegavam aos 120. O Funchal, com uma média anual de 750 l/m²
registou em poucas horas 114 l/m² de precipitação.
Deposição dos inertes trazidos pela aluvião junto do cais do Funchal
Salvamento, limpeza e apoio às vítimas
O elevado número de vítimas transformou este evento na pior catástrofe da história da Madeira em mais de dois séculos. O governo nacional ponderou decretar estado de emergência. O governo autónomo da região, coordenou os salvamentos e a limpeza e deu abrigo às centenas de desalojados.
Rui Pereira, ministro da Administração Interna
de Portugal, enviou à Região equipas de socorro no dia 21, que
incluíam 4 militares da equipa cinotécnica de busca e Salvamento do
Grupo Intervenção Cinotécnico da GNR. Sendo a única equipa cinotécnica
em Portugal com larga experiência em cenários de catástrofe quer a
nível nacional e internacional para resgate de possíveis sobreviventes
nos escombros, assim como seis mergulhadores da Força Especial de
Bombeiros, para ajudar na busca de cadáveres perdidos no mar, e cinco
médicos do Instituto de Medicina Legal, para auxiliar nas autópsias.
Destacado foi também um pelotão do Corpo de Intervenção da PSP que
auxiliou em buscas e salvamento, bem como na salvaguarda e vigilância de
pessoas e bens na abaixa funchalense. Enviou também pontes militares e
um corpo de 15 elementos das Forças Armadas Portuguesas, para
restabelecer as comunicações viárias nos locais afetados. A fragata Corte-Real chegou à ilha da Madeira com meios humanos e materiais para auxiliarem nas buscas.
O primeiro-ministro português, José Sócrates, deslocou-se na noite de dia 20 ao Funchal, numa visita de solidariedade. O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, expressou igualmente as suas condolências, visitando a Região no dia 24 de fevereiro de 2010.
O governo português declarou a observância de três dias de luto nacional.
Edmundo Alberto Bettencourt (Funchal, 7 de agosto de 1899 - Lisboa, 1 de fevereiro de 1973)
foi um cantor e poeta português notavelmente conhecido por interpretar o Fado e a
Canção de Coimbra e pelo seu papel determinante na introdução de temas
populares neste género musical. Notabilizou-se pela composição musical
"Saudades de Coimbra" a qual é ainda hoje uma referência da música
portuguesa universitária.
Edmundo era neto de Júlio César de Bettencourt, Morgado da Calheta. Caso os morgadios não tivessem sido extintos, Edmundo teria sido o Morgado.
Frequentou a Faculdade de Direito de Coimbra, foi funcionário público, até ser despedido, por o seu nome figurar entre os milhares de signatários das listas do MUD,
desenvolvendo, então, a atividade de delegado de propaganda médica.
Integrou o grupo fundador de Presença, cujo título sugerira, e em cujas
edições publica O Momento e a Legenda. Dissocia-se do grupo presencista em 1930, subscrevendo com Miguel Torga e Branquinho da Fonseca
uma carta de dissensão, onde é acusado o risco em que a revista
incorria de enquadrar o "artista em fórmulas rígidas", esquecendo o
princípio de "ampla liberdade de criação" defendido nos primeiros
tempos" (cf. "O Modernismo em Portugal", entrevista de João de Brito
Câmara a Edmundo de Bettencourt, reproduzida in A Phala, n.° 70, maio de 1999, p. 114). A redação de Poemas Surdos, entre 1934 e 40, alguns dos quais publicados na revista lisboeta Momento, permite antedatar o surto do surrealismo
em Portugal, enquanto adesão a um "sistema de pensamento, no que ele
tem de fuga à chamada realidade, repúdio dos valores duma civilização e
esperança de ação num domínio onde por tradição ela é quase sempre
negada", embora não seja possível esclarecer com
especificidade qual foi o conhecimento que Bettencourt teve da lição
surrealista francesa.
Frequentou os cafés Royal e Gelo, onde se reuniu a segunda geração surrealista, vindo a publicar seis inéditos no n.° 3 da revista Pirâmide
(1959-1960), em cujas páginas, entre 59 e 60, foram dadas à luz
algumas das produções do grupo do Gelo. Publicou ainda esparsamente
outros poemas em Momento, Vértice, Búzio. Depois de um silêncio, que
deve ser compreendido não como desistência "mas sim [como] uma peculiar
forma de revolta que o poeta defende carinhosamente", colige toda a sua
produção, permitindo a edição, em 1963, dos Poemas de Edmundo de
Bettencourt, prefaciados por Herberto Helder, poeta que, pela primeira
vez, faz justiça à originalidade do autor de Poemas Surdos,
considerando-o "uma das pouquíssimas vozes modernas entre o milagre do
Orpheu e o breve momento surrealista português" (HELDER, Herberto -
"Relance sobre a Poesia de Edmundo de Bettencourt", prefácio a Poemas de
Edmundo de Bettencourt, Lisboa, Portugália, 1963, p. XXXII). Com
efeito, o versilibrismo, o imagismo e certa atmosfera onírica e irreal
conferem à sua poesia um lugar de destaque no segundo modernismo,
estabelecendo, simultaneamente, a ponte com o vanguardismo de Orpheu e
com tendências surrealistas e imagistas verificadas em gerações
posteriores à Presença.
Escritor modernista norte-americano, John Roderigo Dos Passos nasceu em 1896, em Chicago.
Oriundo de uma família de origem portuguesa, era fruto de uma relação
ilegítima entre o seu pai, o advogado John Randolph Dos Passos, e Lucy
Sprigg.
Estudou na Choate School (atualmente Choate Rosemary Hall) em Wallingford, Connecticut
em 1907, tendo viajado posteriormente com um professor particular numa
viagem de 6 meses pela França, Inglaterra, Itália, Grécia e Médio
Oriente para estudar arte clássica, arquitetura e literatura.
Licenciou-se em Harvard em 1916,
partindo depois para Espanha para estudar arte e arquitetura. Em 1917
voluntariou-se para se juntar às tropas americanas durante a Primeira Guerra Mundial, ao lado dos amigos E. E. Cummings e Robert Hillyer, como condutor de ambulâncias. Regressando aos Estados Unidos, publicou a sua primeira obra, One Man's Initiation, em 1919.
Com Manhattan Transfer (1925), romance que retrata em episódios a vida na cidade de Nova Iorque, obteve o reconhecimento da crítica. Publicou ainda a trilogia U.S.A., incluindo The 42nd Parallel (1930), 1919 (1932) e The Big Money (1936).
John Dos Passos e Hemingway
tornaram-se amigos em Paris em 1923 (tendo-se conhecido brevemente
quando conduziram ambulâncias em Itália em junho de 1918). Tinham muitos
amigos em comum, tendo Dos Passos casado com uma paixoneta de escola
secundária de Hemingway, Katy Smith. Em maio de 1937, em Espanha,
zangaram-se devido a desentendimentos políticos: Hemingway era um
apoiante da causa anti-fascista espanhola, enquanto Dos Passos tinha-se
tornado desconfiado do comunismo e com a esquerda em geral.
No domínio da poesia, publicou, entre outras obras, A Pushcard at The Curb (1922). Também cultivou a narrativa de viagens, como, por exemplo, em Orient Express (1927).
Nota-se neste autor uma evolução temática e filosófica, que começa por
ser de carácter social, cheia de esperança, e passa por um ceticismo
político, terminando nos últimos anos num conservadorismo ultradireitista.
Dos Passos trabalhou como correspondente durante a Segunda Guerra Mundial.
Escreveu na revista Life em 7 de janeiro de 1946 citando que
"o estupro brutal e álcool é o salário de um soldado", sobre os estupros
e atrocidades cometidos pelos aliados na Alemanha pós guerra - o
exército de assassinos e estupradores."
Morreu em 1970, aos 74 anos, estando enterrado no Yeocomico Episcopal Churchyard, Kinsale, Westmoreland County, Virgínia.
I In the dark the river spins, Laughs and ripples never ceasing, Swells to gurgle under arches, Swishes past the hows of barges. In its haste to swirl away From the stone walls of the city That has lamps that weight the eddies Down with snaky silver glitter. As it flies it calls me with it Through the meadows to the sea.
I close the door on it, draw the bolts, Climb the stairs to my silent room; But through the window that swings open Comes again its shuttle-song, Spinning love and night and madness, Madness of the spring at sea.
II The streets are full of lilacs. Lilacs in boys' buttonholes, Lilacs at women's waists; Arms full of lilacs, people trail behind them through the moist night Long swirls of fragrance. Fragrance of gardens, Fragrance of hedgerows where they have wandered All the May day, Where the lovers have held each other's hands And lavished vermilion kisses Under the portent of the swaying plumes Of the funereal lilacs.
The streets are full of lilacs That trail long swirls and eddies of fragrance, Arabesques of fragrance, Like the arabesques that form and fade, In the fleeting ripples of the jade-green river.
Teólogo
e professor universitário, José Tolentino de Mendonça é também
considerado uma das vozes mais originais da literatura portuguesa
contemporânea e reconhecido como um eminente intelectual católico. A sua
obra inclui poesia, ensaios e peças de teatro assinados como José Tolentino Mendonça.
A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos
Durmo no mar, durmo ao lado do meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração
in A Que Distância Deixaste o Coração (1998) - José Tolentino Mendonça
Filho de Romano Carlos de Oliveira (Funchal, Monte,
batizado a 26 de novembro de 1895) e de Maria Ester dos Anjos Luís
Bernardes (c. 1900 - 1938), tinha duas irmãs, Maria Regina e Maria
Elora. Herberto Hélder nasceu no n.º284 da Rua da Carreira, numa casa que pertencia à família do cientista e naturalista madeirense Adolfo César de Noronha.
Casou duas vezes: com Maria Ludovina Dourado Pimentel (de quem
teve uma filha, Gisela Ester Pimentel de Oliveira, por casamento Lopes da
Conceição) e com Olga da Conceição Ferreira Lima.
Foi pai do jornalista Daniel Oliveira, nascido da relação que teve com Isabel Figueiredo.
É considerado um dos mais originais poetas da língua portuguesa. Era uma figura misantropa, e em torno de si pairava uma atmosfera algo misteriosa, uma vez que recusava a receber prémios e se negava a dar entrevistas. Em 1994 foi o vencedor do Prémio Pessoa, que recusou.
A sua escrita começou por se situar no âmbito de um surrealismo tardio. Em 1964 organizou com António Aragão o "1.º caderno antológico de Poesia Experimental" (Cadernos de Hoje, MONDAR editores), marco histórico da poesia portuguesa (ver: Poesia Experimental Portuguesa).
Escreveu entretanto "Os Passos em Volta", um livro que, através de
vários contos, sugere as viagens deambulatórias de uma personagem por
entre cidades e quotidianos, colocando ao mesmo tempo incertezas acerca
da identidade própria de cada ser humano; "Photomaton e Vox", por sua vez, é uma coletânea de ensaios e textos e também de vários poemas. "Poesia Toda" é o título de uma antologia pessoal dos seus livros de poesia que tem sido depurada ao longo dos anos. Na edição de 2004
foram retiradas da recolha suas traduções. Alguns dos seus livros
desapareceram das mais recentes edições da Poesia Toda, rebatizada
Ofício Cantante, nomeadamente Vocação Animal e Cobra.
A crítica literária aproxima sua linguagem poética do universo da alquimia, da mística, da mitologiaedipiana e da imagem da Mãe.
Faleceu a 23 de março de 2015, vítima de ataque cardíaco, aos 84 anos, na sua casa, em Cascais.
Menos de dois meses após a sua morte, em maio de 2015, foi publicado o
último livro de originais do poeta, "Poemas canhotos", que tinha
terminado pouco antes de morrer.
Quem deita sal na carne crua deixa
a lua entrar pela oficina e encher o barro forte:
vasos redondos, os quadris
das fêmeas - e logo o meu dedo se poe a luzir
ao fôlego da boca: onde
o gargalo se estrangula e entre as coxas a fenda
é uma queimadura
vizinha
do coração - toda a minha mão se assusta,
transmuda,
se torna transparente e viva, por essa força que a traga
até dentro,
onde o sangue mulheril queimado
a arrasta pelos rins e aloja, brilhando
como um coração,
na garganta - o sal que se deita cresce sempre
ao enredo dos planetas: com unhas
frias e nuas
retrato as lunações, talho a carne límpida
- porque eu sou o teu nome quando
te chamas a toda a altura
dos espelhos e até ao fundo, se teus dedos abertos tocam
a estrela
como uma pedra fechada no seu jardim selvagem
entre a água: tu tocas
onde te toco, e os remoinhos da luz e do sal se tocam
na carne profunda: como em toda a olaria o movimento
toca a argila e a torna
atenta
à translação da casa pela paisagem rodando sobre si
mesma - a teia sensível,
que se fabrica no mundo entre a mão no sal
e a potência
múltipla de que esta escrita é a simetria,
une
tudo boca a boca: o verbo que estás a ser cada
tua morte
ao que ouço, quando a luz se empina e a noite inteira
se despenha
para dentro do dia: ou a mão que lanço sobre
esse cabelo animal
que respira no sono, que transpira
como barro ou madeira ou carne salgada
exposta
a toda a largura da lua: o que é grave, amargo, sangrento.