Tendo, em conjunturas diversas, tido o apoio dos governos dos
Estados Unidos da América, da
República Popular da China, do regime do
apartheid da
África do Sul, de
Israel, de vários líderes africanos (
Félix Houphouët-Boigny da
Costa do Marfim,
Mobutu Sese Seko do
Zaire, do rei
Hassan II de
Marrocos e
Kenneth Kaunda da
Zâmbia) e
mercenários de
Portugal,
Israel,
África do Sul e
França, Savimbi passou grande parte de sua vida a lutar primeiro contra a ocupação colonial portuguesa e, depois da
independência de Angola, contra o governo angolano que era apoiado, em termos militares e outros, pela então
União Soviética, por
Cuba e pela
Nicarágua sandinista.
Nascimento e estudos
Savimbi nasceu a 3 de agosto de 1934, em Munhango, uma pequena localidade na província
Moxico, de pais originários de Chilesso, na província
Bié, pertencentes ao grupo Bieno da etnia
Ovimbundu. O pai de Savimbi era funcionário do
Caminho de Ferro de Benguela e também pastor da
Igreja Evangélica Congregacional em Angola
(IECA). Jonas Savimbi passou a sua juventude em Chilesso, onde
frequentou o ensino primário e parte do ensino secundário em escolas da
IECA. Como naquele tempo os diplomas das escolas protestantes não eram
reconhecidos, repetiu a parte secundária no
Huambo, numa escola católica mantida pela ordem dos
Maristas. A seguir ganhou uma bolsa de estudos providenciada pela IECA nos
Estados Unidos da América para concluir o ensino secundário e estudar medicina em
Portugal.
Em Lisboa concluiu de facto o ensino secundário, com a exceção da
matéria "Organização Política Nacional", obrigatória durante o
salazarismo,
não chegando por isso a iniciar os estudos universitários. Entretanto
tinha tomado contacto com um grupo de estudantes angolanos que, em
Lisboa, propagavam em segredo a descolonização e discutiam a fundação de
uma organização de luta anticolonial. Perante a ameaça de uma
repressão por parte da
PIDE, a polícia política do regime, Jonas Savimbi refugiou-se na
Suíça,
valendo-se de contactos obtidos por intermédio da IECA que, inclusive,
lhe conseguiu uma segunda bolsa. Como a Suíça reconheceu os seus
estudos secundários como completos, iniciou os estudos em ciências
sociais e políticas, em
Lausana e
Genebra, obtendo provavelmente um diploma nestas matérias. Savimbi aproveitou a sua estadia na Suíça para aperfeiçoar o seu domínio do
inglês e do
francês, línguas que chegou a falar fluentemente.
Trajectória política
Posicionamento na guerra anticolonial
No início dos
anos 1960, Savimbi saiu da Suíça para juntar-se à
Guerra de Independência de Angola, entretanto iniciada pela
UPA (posteriormente
FNLA) e pelo
MPLA. Tentando primeiro, sem sucesso, obter uma posição de liderança no MPLA, ingressou a seguir na FNLA que operava a partir de
Kinshasa e onde passou a fazer parte da direção. Como a FNLA beneficiava na altura do apoio da
China,
Savimbi teve naquele país uma formação militar adaptada a condições de
guerrilha. Logo a seguir saiu da FNLA para formar o seu próprio
movimento, a
UNITA. Este teve desde o início como principal base social os
Ovimbundu, a etnia de origem de Savimbi, e a mais numerosa de Angola, em contraste com a FNLA, enraizada entre os
Bakongo, e o MPLA cuja base original eram os
Ambundu bem como boa parte dos "mestiços" e uma minoria da população portuguesa local, oposta ao regime colonial.
A UNITA desenvolveu entre 1966 e 1974 ações relativamente limitadas no
Leste de Angola, mas em contrapartida conseguiu uma significativa
penetração política clandestina entre os ovimbundu, contando para o
efeito com o apoio de boa parte dos catequistas da IECA.
Papel no processo de descolonização
Na sequência da
Revolução dos Cravos que derrubou a ditadura de
Salazar, Portugal anunciou, em
abril de
1974,
a sua intenção de abdicar das suas colónias. Em Angola, os três
movimentos anticoloniais iniciaram de imediato entre eles uma luta pela
conquista do poder. Embora a UNITA fosse à partida o movimento mais
fraco, Jonas Savimbi decidiu lançar-se na corrida, confiando na sua base
social e nos seus apoios externos.
Numa fase inicial, as forças da FNLA e da UNITA, apoiadas principalmente pelo
Zaire e pela
África do Sul,
obtiveram uma clara vantagem sobre o MPLA que teve apenas um certo
apoio da parte de militares portugueses "reconvertidos". A situação
mudou radicalmente quando Cuba decidiu intervir militarmente a favor do
MPLA, com o suporte logístico da União Soviética. Na data marcada para a
independência, a
11 de novembro de
1975, o MPLA dominava a capital e a parte setentrional de Angola, declarou a independência em
Luanda sendo imediatamente reconhecido a nível internacional.
Face a esta constelação, Jonas Savimbi fez uma aliança com a FNLA;
juntos, os dois movimentos declararam, na mesma data, a independência de
Angola no
Huambo
e formaram um governo alternativo com sede nesta cidade. Porém, as
forças conjuntas do MPLA e de Cuba conquistaram rapidamente a parte
maior da metade austral de Angola. O governo FNLA/UNITA, que não havia
sido reconhecido por nenhum país, dissolveu-se rapidamente. A FNLA
retirou-se por completo do território angolano e desistiu de qualquer
oposição armada contra o MPLA. Em contrapartida, Jonas Savimbi decidiu
não abandonar a luta e, a partir de bases no Leste e Sudeste de Angola,
começou de imediato uma guerra de guerrilha contra do governo do MPLA -
desencadeando assim uma
guerra civil que só terminaria com a sua morte.
Protagonista da Guerra Civil
Em
1992,
aquando das primeiras eleições em Angola, Savimbi participou sendo o
seu partido, a UNITA, derrotado nas eleições legislativas. Ao não
aceitar o resultado das mesmas, optou novamente pelo caminho da
guerra,
perpetuando a guerra civil. Quanto à eleição presidencial, a segunda
volta não se realizou devido ao recomeço do conflito armado.
Em
1994, a UNITA assinou os acordos de paz de
Lusaca,
depois de meses de negociações, e aceitou desmobilizar as suas forças,
com o objetivo de conseguir a reconciliação nacional. O processo de
paz prolongou-se durante quatro anos, marcado por acusações e
adiamentos. Nesse período, muitos membros da UNITA deslocaram-se para
Luanda e integraram o
Governo de Unidade Nacional, no entanto dissidências internas separaram o braço armado do braço político surgindo dessa forma a
UNITA renovada, onde Jonas Savimbi não se sentia representado, rompendo com os acordos de paz e retornando, novamente, ao caminho da guerra.
Morreu a
22 de fevereiro de
2002, perto de Lucusse na província do Moxico, após uma longa perseguição efetuada pelas Forças Armadas Angolanas.
NOTA: a morte de Savimbi acabou com a Guerra Civil Angolana (e com alguns
proveitos para um partido político português há bastante tempo no poder...) mas gerou um
monopólio do MPLA, com as consequências financeiras para a
nomenklatura desse
partido por nós, infelizmente, cada vez mais bem conhecidas...
E, já agora, foi
vergonhosa a exibição de Savimbi, como
troféu de caça, já depois de morto...