Mostrar mensagens com a etiqueta Guerra Civil de Angola. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Guerra Civil de Angola. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, setembro 10, 2024

Agostinho Neto morreu há quarenta e cinco anos...

     
António Agostinho Neto (Catete, Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 - Moscovo, 10 de setembro de 1979) foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, que, em 1975, se tornou o primeiro presidente de Angola, até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o "Prémio Lenine da Paz". Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela PIDE, a polícia política do regime salazarista então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma atividade literária, escrevendo nomeadamente poesia.
Agostinho Neto dirigiu a partir de Argel e de Brazzaville as atividades políticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independência de Angola, entre 1961 e 1974, e durante o processo de descolonização, 1974/75, que opôs o MPLA aos dois outros movimentos nacionalistas, a FNLA e a UNITA Tendo o MPLA saído deste último processo como vencedor, declarou a independência do país em 11 de novembro de 1975, assumindo as funções de Presidente da República, mantendo as de Presidente do MPLA, e estabelecendo um regime mono-partidário, inspirado no modelo então praticado nos países do leste europeu.
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderança de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no início dos anos 70, de duas tendências opostas à direção do movimento, a "Revolta Ativa" constituída no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divisões foram superadas num intrincado processo de discussão e negociação que terminou com a reafirmação da autoridade de Agostinho Neto. Já depois da independência, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderança e a linha ideológica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como fracionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens.
Agostinho Neto, que era casado com a portuguesa Eugénia Neto, morreu num hospital em Moscovo no decorrer de complicações ocorridas durante uma operação a um cancro hepático de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substituído na presidência do país e do MPLA por José Eduardo dos Santos, presidente de Angola durante cerca de 38 anos.
   

 

 

Velho negro

 

Vendido
e transportado nas galeras
vergastado pelos homens
linchado nas grandes cidades
esbulhado até ao último tostão
humilhado até ao pó
sempre sempre vencido

É forçado a obedecer
a Deus e aos homens
perdeu-se

Perdeu a pátria
e a noção de ser

Reduzido a farrapo
macaquearam seus gestos e a sua alma
diferente

Velho farrapo
negro
perdido no tempo
e dividido no espaço!

Ao passar de tanga
com o espírito bem escondido
no silêncio das frases côncanas
murmuram eles:
pobre negro!

E os poetas dizem que são seus irmãos.
 
 
Agostinho Neto

quinta-feira, fevereiro 22, 2024

Jonas Savimbi, o líder histórico da UNITA, foi assassinado há vinte e dois anos...

    
Jonas Malheiro Savimbi (Munhango, Moxico, 3 de agosto de 1934 - Lucusse, Moxico, 22 de fevereiro de 2002) foi um político e guerrilheiro angolano e líder da UNITA durante mais de trinta anos.
Tendo, em conjunturas diversas, tido o apoio dos governos dos Estados Unidos da América, da República Popular da China, do regime do apartheid da África do Sul, de Israel, de vários líderes africanos (Félix Houphouët-Boigny da Costa do Marfim, Mobutu Sese Seko do Zaire, do rei Hassan II de Marrocos e Kenneth Kaunda da Zâmbia) e mercenários de Portugal, Israel, África do Sul e França, Savimbi passou grande parte de sua vida a lutar primeiro contra a ocupação colonial portuguesa e, depois da independência de Angola, contra o governo angolano que era apoiado, em termos militares e outros, pela então União Soviética, por Cuba e pela Nicarágua sandinista.
   
Nascimento e estudos
Savimbi nasceu a 3 de agosto de 1934, em Munhango, uma pequena localidade na província Moxico, de pais originários de Chilesso, na província Bié, pertencentes ao grupo Bieno da etnia Ovimbundu. O pai de Savimbi era funcionário do Caminho de Ferro de Benguela e também pastor da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA). Jonas Savimbi passou a sua juventude em Chilesso, onde frequentou o ensino primário e parte do ensino secundário em escolas da IECA. Como naquele tempo os diplomas das escolas protestantes não eram reconhecidos, repetiu a parte secundária no Huambo, numa escola católica mantida pela ordem dos Maristas. A seguir ganhou uma bolsa de estudos providenciada pela IECA nos Estados Unidos da América para concluir o ensino secundário e estudar medicina em Portugal. Em Lisboa concluiu de facto o ensino secundário, com a exceção da matéria "Organização Política Nacional", obrigatória durante o salazarismo, não chegando por isso a iniciar os estudos universitários. Entretanto tinha tomado contacto com um grupo de estudantes angolanos que, em Lisboa, propagavam em segredo a descolonização e discutiam a fundação de uma organização de luta anticolonial. Perante a ameaça de uma repressão por parte da PIDE, a polícia política do regime, Jonas Savimbi refugiou-se na Suíça, valendo-se de contactos obtidos por intermédio da IECA que, inclusive, lhe conseguiu uma segunda bolsa. Como a Suíça reconheceu os seus estudos secundários como completos, iniciou os estudos em ciências sociais e políticas, em Lausana e Genebra, obtendo provavelmente um diploma nestas matérias. Savimbi aproveitou a sua estadia na Suíça para aperfeiçoar o seu domínio do inglês e do francês, línguas que chegou a falar fluentemente.
    
Trajectória política
Posicionamento na guerra anticolonial
No início dos anos 1960, Savimbi saiu da Suíça para juntar-se à Guerra de Independência de Angola, entretanto iniciada pela UPA (posteriormente FNLA) e pelo MPLA. Tentando primeiro, sem sucesso, obter uma posição de liderança no MPLA, ingressou a seguir na FNLA que operava a partir de Kinshasa e onde passou a fazer parte da direção. Como a FNLA beneficiava na altura do apoio da China, Savimbi teve naquele país uma formação militar adaptada a condições de guerrilha. Logo a seguir saiu da FNLA para formar o seu próprio movimento, a UNITA. Este teve desde o início como principal base social os Ovimbundu, a etnia de origem de Savimbi, e a mais numerosa de Angola, em contraste com a FNLA, enraizada entre os Bakongo, e o MPLA cuja base original eram os Ambundu bem como boa parte dos "mestiços" e uma minoria da população portuguesa local, oposta ao regime colonial.
A UNITA desenvolveu entre 1966 e 1974 ações relativamente limitadas no Leste de Angola, mas em contrapartida conseguiu uma significativa penetração política clandestina entre os ovimbundu, contando para o efeito com o apoio de boa parte dos catequistas da IECA.
    
Papel no processo de descolonização
Na sequência da Revolução dos Cravos que derrubou a ditadura de Salazar, Portugal anunciou, em abril de 1974, a sua intenção de abdicar das suas colónias. Em Angola, os três movimentos anticoloniais iniciaram de imediato entre eles uma luta pela conquista do poder. Embora a UNITA fosse à partida o movimento mais fraco, Jonas Savimbi decidiu lançar-se na corrida, confiando na sua base social e nos seus apoios externos.
Numa fase inicial, as forças da FNLA e da UNITA, apoiadas principalmente pelo Zaire e pela África do Sul, obtiveram uma clara vantagem sobre o MPLA que teve apenas um certo apoio da parte de militares portugueses "reconvertidos". A situação mudou radicalmente quando Cuba decidiu intervir militarmente a favor do MPLA, com o suporte logístico da União Soviética. Na data marcada para a independência, a 11 de novembro de 1975, o MPLA dominava a capital e a parte setentrional de Angola, declarou a independência em Luanda sendo imediatamente reconhecido a nível internacional.
Face a esta constelação, Jonas Savimbi fez uma aliança com a FNLA; juntos, os dois movimentos declararam, na mesma data, a independência de Angola no Huambo e formaram um governo alternativo com sede nesta cidade. Porém, as forças conjuntas do MPLA e de Cuba conquistaram rapidamente a parte maior da metade austral de Angola. O governo FNLA/UNITA, que não havia sido reconhecido por nenhum país, dissolveu-se rapidamente. A FNLA retirou-se por completo do território angolano e desistiu de qualquer oposição armada contra o MPLA. Em contrapartida, Jonas Savimbi decidiu não abandonar a luta e, a partir de bases no Leste e Sudeste de Angola, começou de imediato uma guerra de guerrilha contra do governo do MPLA - desencadeando assim uma guerra civil que só terminaria com a sua morte.
    
Protagonista da Guerra Civil
Em 1992, aquando das primeiras eleições em Angola, Savimbi participou sendo o seu partido, a UNITA, derrotado nas eleições legislativas. Ao não aceitar o resultado das mesmas, optou novamente pelo caminho da guerra, perpetuando a guerra civil. Quanto à eleição presidencial, a segunda volta não se realizou devido ao recomeço do conflito armado.
Em 1994, a UNITA assinou os acordos de paz de Lusaca, depois de meses de negociações, e aceitou desmobilizar as suas forças, com o objetivo de conseguir a reconciliação nacional. O processo de paz prolongou-se durante quatro anos, marcado por acusações e adiamentos. Nesse período, muitos membros da UNITA deslocaram-se para Luanda e integraram o Governo de Unidade Nacional, no entanto dissidências internas separaram o braço armado do braço político surgindo dessa forma a UNITA renovada, onde Jonas Savimbi não se sentia representado, rompendo com os acordos de paz e retornando, novamente, ao caminho da guerra.
Morreu a 22 de fevereiro de 2002, perto de Lucusse na província do Moxico, após uma longa perseguição efetuada pelas Forças Armadas Angolanas.


NOTA: a morte de Savimbi acabou com a Guerra Civil Angolana (e com alguns proveitos para um partido político português que esteve agora oito anos no poder...) mas gerou um monopólio do MPLA, com as consequências financeiras para a nomenklatura desse partido por nós, infelizmente, cada vez mais bem conhecidas...
E, já agora, foi vergonhosa a exibição do corpo de Savimbi, pelo MPLA, como um troféu de caça, já depois de morto...
 

segunda-feira, janeiro 15, 2024

O inacreditável acordo de Alvor (que deu a guerra civil a Angola e o regresso dos retornados a Portugal) faz hoje 49 anos

(imagem daqui)
 
O Acordo do Alvor, assinado entre o governo português e os três principais movimentos de libertação de Angola (MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola e UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola), em 15 de janeiro de 1975, em Alvor, no Algarve, e que estabeleceu os parâmetros para a partilha do poder na ex-colónia entre esse movimentos, após a concessão da independência a Angola.
Em entrevista à Agência Lusa, o dirigente socialista, António de Almeida Santos, que a 15 de janeiro de 1975 era ministro da Coordenação Inter-Territorial e integrava a delegação portuguesa que assinou o acordo, refere que, assim que viu o documento, soube que "aquilo não resultaria".
De facto, pouco tempo depois do acordo assinado, os três movimentos envolveram-se num conflito armado pelo controlo do país e, em especial, da sua capital, Luanda, no que ficou conhecido como a Guerra Civil de Angola.
    

domingo, setembro 10, 2023

Agostinho Neto morreu há quarenta e quatro anos...

   
António Agostinho Neto (Catete, Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 - Moscovo, 10 de setembro de 1979) foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, que em 1975 se tornou o primeiro presidente de Angola, até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o "Prémio Lenine da Paz". Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela PIDE, a polícia política do regime Salazarista então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma atividade literária, escrevendo nomeadamente poesia.
Agostinho Neto dirigiu a partir de Argel e de Brazzaville as atividades políticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independência de Angola, entre 1961 e 1974, e durante o processo de descolonização, 1974/75, que opôs o MPLA aos dois outros movimentos nacionalistas, a FNLA e a UNITA Tendo o MPLA saído deste último processo como vencedor, declarou a independência do país em 11 de novembro de 1975, assumindo as funções de Presidente da República, mantendo as de Presidente do MPLA, e estabelecendo um regime mono-partidário, inspirado no modelo então praticado nos países do leste europeu.
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderança de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no início dos anos 70, de duas tendências opostas à direcão do movimento, a "Revolta Ativa" constituída no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divisões foram superadas num intrincado processo de discussão e negociação que terminou com a reafirmação da autoridade de Agostinho Neto. Já depois da independência, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderança e a linha ideológica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como fracionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens.
Agostinho Neto, que era casado com a portuguesa Eugénia Neto, morreu num hospital em Moscovo no decorrer de complicações ocorridas durante uma operação a um cancro hepático de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substituído na presidência do país e do MPLA por José Eduardo dos Santos, presidente de Angola durante cerca de 38 anos.
   

 

 

Velho negro

 

Vendido
e transportado nas galeras
vergastado pelos homens
linchado nas grandes cidades
esbulhado até ao último tostão
humilhado até ao pó
sempre sempre vencido

É forçado a obedecer
a Deus e aos homens
perdeu-se

Perdeu a pátria
e a noção de ser

Reduzido a farrapo
macaquearam seus gestos e a sua alma
diferente

Velho farrapo
negro
perdido no tempo
e dividido no espaço!

Ao passar de tanga
com o espírito bem escondido
no silêncio das frases côncanas
murmuram eles:
pobre negro!

E os poetas dizem que são seus irmãos.
 
 
Agostinho Neto

quarta-feira, fevereiro 22, 2023

Jonas Savimbi, o líder histórico da UNITA, foi assassinado há vinte e um anos...

    
Jonas Malheiro Savimbi (Munhango, Moxico, 3 de agosto de 1934 - Lucusse, Moxico, 22 de fevereiro de 2002) foi um político e guerrilheiro angolano e líder da UNITA durante mais de trinta anos.
Tendo, em conjunturas diversas, tido o apoio dos governos dos Estados Unidos da América, da República Popular da China, do regime do apartheid da África do Sul, de Israel, de vários líderes africanos (Félix Houphouët-Boigny da Costa do Marfim, Mobutu Sese Seko do Zaire, do rei Hassan II de Marrocos e Kenneth Kaunda da Zâmbia) e mercenários de Portugal, Israel, África do Sul e França, Savimbi passou grande parte de sua vida a lutar primeiro contra a ocupação colonial portuguesa e, depois da independência de Angola, contra o governo angolano que era apoiado, em termos militares e outros, pela então União Soviética, por Cuba e pela Nicarágua sandinista.
   
Nascimento e estudos
Savimbi nasceu a 3 de agosto de 1934, em Munhango, uma pequena localidade na província Moxico, de pais originários de Chilesso, na província Bié, pertencentes ao grupo Bieno da etnia Ovimbundu. O pai de Savimbi era funcionário do Caminho de Ferro de Benguela e também pastor da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA). Jonas Savimbi passou a sua juventude em Chilesso, onde frequentou o ensino primário e parte do ensino secundário em escolas da IECA. Como naquele tempo os diplomas das escolas protestantes não eram reconhecidos, repetiu a parte secundária no Huambo, numa escola católica mantida pela ordem dos Maristas. A seguir ganhou uma bolsa de estudos providenciada pela IECA nos Estados Unidos da América para concluir o ensino secundário e estudar medicina em Portugal. Em Lisboa concluiu de facto o ensino secundário, com a exceção da matéria "Organização Política Nacional", obrigatória durante o salazarismo, não chegando por isso a iniciar os estudos universitários. Entretanto tinha tomado contacto com um grupo de estudantes angolanos que, em Lisboa, propagavam em segredo a descolonização e discutiam a fundação de uma organização de luta anticolonial. Perante a ameaça de uma repressão por parte da PIDE, a polícia política do regime, Jonas Savimbi refugiou-se na Suíça, valendo-se de contactos obtidos por intermédio da IECA que, inclusive, lhe conseguiu uma segunda bolsa. Como a Suíça reconheceu os seus estudos secundários como completos, iniciou os estudos em ciências sociais e políticas, em Lausana e Genebra, obtendo provavelmente um diploma nestas matérias. Savimbi aproveitou a sua estadia na Suíça para aperfeiçoar o seu domínio do inglês e do francês, línguas que chegou a falar fluentemente.
    
Trajectória política
Posicionamento na guerra anticolonial
No início dos anos 1960, Savimbi saiu da Suíça para juntar-se à Guerra de Independência de Angola, entretanto iniciada pela UPA (posteriormente FNLA) e pelo MPLA. Tentando primeiro, sem sucesso, obter uma posição de liderança no MPLA, ingressou a seguir na FNLA que operava a partir de Kinshasa e onde passou a fazer parte da direção. Como a FNLA beneficiava na altura do apoio da China, Savimbi teve naquele país uma formação militar adaptada a condições de guerrilha. Logo a seguir saiu da FNLA para formar o seu próprio movimento, a UNITA. Este teve desde o início como principal base social os Ovimbundu, a etnia de origem de Savimbi, e a mais numerosa de Angola, em contraste com a FNLA, enraizada entre os Bakongo, e o MPLA cuja base original eram os Ambundu bem como boa parte dos "mestiços" e uma minoria da população portuguesa local, oposta ao regime colonial.
A UNITA desenvolveu entre 1966 e 1974 ações relativamente limitadas no Leste de Angola, mas em contrapartida conseguiu uma significativa penetração política clandestina entre os ovimbundu, contando para o efeito com o apoio de boa parte dos catequistas da IECA.
    
Papel no processo de descolonização
Na sequência da Revolução dos Cravos que derrubou a ditadura de Salazar, Portugal anunciou, em abril de 1974, a sua intenção de abdicar das suas colónias. Em Angola, os três movimentos anticoloniais iniciaram de imediato entre eles uma luta pela conquista do poder. Embora a UNITA fosse à partida o movimento mais fraco, Jonas Savimbi decidiu lançar-se na corrida, confiando na sua base social e nos seus apoios externos.
Numa fase inicial, as forças da FNLA e da UNITA, apoiadas principalmente pelo Zaire e pela África do Sul, obtiveram uma clara vantagem sobre o MPLA que teve apenas um certo apoio da parte de militares portugueses "reconvertidos". A situação mudou radicalmente quando Cuba decidiu intervir militarmente a favor do MPLA, com o suporte logístico da União Soviética. Na data marcada para a independência, a 11 de novembro de 1975, o MPLA dominava a capital e a parte setentrional de Angola, declarou a independência em Luanda sendo imediatamente reconhecido a nível internacional.
Face a esta constelação, Jonas Savimbi fez uma aliança com a FNLA; juntos, os dois movimentos declararam, na mesma data, a independência de Angola no Huambo e formaram um governo alternativo com sede nesta cidade. Porém, as forças conjuntas do MPLA e de Cuba conquistaram rapidamente a parte maior da metade austral de Angola. O governo FNLA/UNITA, que não havia sido reconhecido por nenhum país, dissolveu-se rapidamente. A FNLA retirou-se por completo do território angolano e desistiu de qualquer oposição armada contra o MPLA. Em contrapartida, Jonas Savimbi decidiu não abandonar a luta e, a partir de bases no Leste e Sudeste de Angola, começou de imediato uma guerra de guerrilha contra do governo do MPLA - desencadeando assim uma guerra civil que só terminaria com a sua morte.
    
Protagonista da Guerra Civil
Em 1992, aquando das primeiras eleições em Angola, Savimbi participou sendo o seu partido, a UNITA, derrotado nas eleições legislativas. Ao não aceitar o resultado das mesmas, optou novamente pelo caminho da guerra, perpetuando a guerra civil. Quanto à eleição presidencial, a segunda volta não se realizou devido ao recomeço do conflito armado.
Em 1994, a UNITA assinou os acordos de paz de Lusaca, depois de meses de negociações, e aceitou desmobilizar as suas forças, com o objetivo de conseguir a reconciliação nacional. O processo de paz prolongou-se durante quatro anos, marcado por acusações e adiamentos. Nesse período, muitos membros da UNITA deslocaram-se para Luanda e integraram o Governo de Unidade Nacional, no entanto dissidências internas separaram o braço armado do braço político surgindo dessa forma a UNITA renovada, onde Jonas Savimbi não se sentia representado, rompendo com os acordos de paz e retornando, novamente, ao caminho da guerra.
Morreu a 22 de fevereiro de 2002, perto de Lucusse na província do Moxico, após uma longa perseguição efetuada pelas Forças Armadas Angolanas.


NOTA: a morte de Savimbi acabou com a Guerra Civil Angolana (e com alguns proveitos para um partido político português há bastante tempo no poder...) mas gerou um monopólio do MPLA, com as consequências financeiras para a nomenklatura desse partido por nós, infelizmente, cada vez mais bem conhecidas...
E, já agora, foi vergonhosa a exibição de Savimbi, como troféu de caça, já depois de morto...
  
(imagem daqui)

domingo, janeiro 15, 2023

O vergonhoso acordo de Alvor (que deu guerra civil a Angola e regresso dos retornados a Portugal) faz hoje 48 anos

(imagem daqui)
 
O Acordo do Alvor, assinado entre o governo português e os três principais movimentos de libertação de Angola (MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola e UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola), em 15 de janeiro de 1975, em Alvor, no Algarve, e que estabeleceu os parâmetros para a partilha do poder na ex-colónia entre esse movimentos, após a concessão da independência de Angola.
Em entrevista à Agência Lusa, o dirigente socialista, António de Almeida Santos, que a 15 de janeiro de 1975 era ministro da Coordenação Inter-Territorial e integrava a delegação portuguesa que assinou o acordo, refere que, assim que viu o documento, soube que "aquilo não resultaria".
De facto, pouco tempo depois do acordo assinado, os três movimentos envolveram-se num conflito armado pelo controlo do país e, em especial, da sua capital, Luanda, no que ficou conhecido como a Guerra Civil de Angola.
    

sábado, setembro 10, 2022

Agostinho Neto morreu há 43 anos...

   
António Agostinho Neto (Catete, Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 - Moscovo, 10 de setembro de 1979) foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, que em 1975 se tornou o primeiro presidente de Angola, até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o "Prémio Lenine da Paz". Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela PIDE, a polícia política do regime Salazarista então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direcção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma actividade literária, escrevendo nomeadamente poesia.
Agostinho Neto dirigiu a partir de Argel e de Brazzaville as actividades políticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independência de Angola, entre 1961 e 1974, e durante o processo de descolonização, 1974/75, que opôs o MPLA aos dois outros movimentos nacionalistas, a FNLA e a UNITA Tendo o MPLA saído deste último processo como vencedor, declarou a independência do país em 11 de novembro de 1975, assumindo as funções de Presidente da República, mantendo as de Presidente do MPLA, e estabelecendo um regime mono-partidário, inspirado no modelo então praticado nos países do leste europeu.
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderança de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no início dos anos 70, de duas tendências opostas à direcção do movimento, a "Revolta Activa" constituída no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divisões foram superadas num intrincado processo de discussão e negociação que terminou com a reafirmação da autoridade de Agostinho Neto. Já depois da independência, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderança e a linha ideológica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como fracionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens.
Agostinho Neto, que era casado com a portuguesa Eugénia Neto, morreu num hospital em Moscovo no decorrer de complicações ocorridas durante uma operação a um cancro hepático de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substituído na presidência do país e do MPLA por José Eduardo dos Santos, presidente de Angola durante cerca de 38 anos.
   

Sobre o sangue ainda quente do meu irmão

Sobre o sangue ainda quente do meu irmão
Sacrificado pela pátria
Construo o meu sonho de união


Sobre o sangue ainda quente da minha irmã
Assassinada pelos carrascos
Construo o meu sonho de unidade


Unidade cimentada pelo sangue
União plantada sobre a terra
Germinando no meu gesto
Crescendo na minha voz
Gritando no teu olhar



Agostinho Neto

terça-feira, fevereiro 22, 2022

Jonas Savimbi, o líder histórico da UNITA, foi assassinado há vinte anos...

    
Jonas Malheiro Savimbi (Munhango, Moxico, 3 de agosto de 1934 - Lucusse, Moxico, 22 de fevereiro de 2002) foi um político e guerrilheiro angolano e líder da UNITA durante mais de trinta anos.
Tendo, em conjunturas diversas, tido o apoio dos governos dos Estados Unidos da América, da República Popular da China, do regime do apartheid da África do Sul, de Israel, de vários líderes africanos (Félix Houphouët-Boigny da Costa do Marfim, Mobutu Sese Seko do Zaire, do rei Hassan II de Marrocos e Kenneth Kaunda da Zâmbia) e mercenários de Portugal, Israel, África do Sul e França, Savimbi passou grande parte de sua vida a lutar primeiro contra a ocupação colonial portuguesa e, depois da independência de Angola, contra o governo Angolano que era apoiado, em termos militares e outros, pela então União Soviética, por Cuba e pela Nicarágua sandinista.
   
Nascimento e estudos
Savimbi nasceu a 3 de agosto de 1934, em Munhango, uma pequena localidade na província Moxico, de pais originários de Chilesso, na província Bié, pertencentes ao grupo Bieno da etnia Ovimbundu. O pai de Savimbi era funcionário do Caminho de Ferro de Benguela e também pastor da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA). Jonas Savimbi passou a sua juventude em Chilesso, onde frequentou o ensino primário e parte do ensino secundário em escolas da IECA. Como naquele tempo os diplomas das escolas protestantes não eram reconhecidos, repetiu a parte secundária no Huambo, numa escola católica mantida pela ordem dos Maristas. A seguir ganhou uma bolsa de estudos providenciada pela IECA nos Estados Unidos da América para concluir o ensino secundário e estudar medicina em Portugal. Em Lisboa concluiu de facto o ensino secundário, com a exceção da matéria "Organização Política Nacional", obrigatória durante o Salazarismo, não chegando por isso a iniciar os estudos universitários. Entretanto tinha tomado contacto com um grupo de estudantes angolanos que, em Lisboa, propagavam em segredo a descolonização e discutiam a fundação de uma organização de luta anticolonial. Perante a ameaça de uma repressão por parte da PIDE, a polícia política do regime, Jonas Savimbi refugiou-se na Suíça, valendo-se de contactos obtidos por intermédio da IECA que, inclusive, lhe conseguiu uma segunda bolsa. Como a Suíça reconheceu os seus estudos secundários como completos, iniciou os estudos em ciências sociais e políticas, em Lausana e Genebra, obtendo provavelmente um diploma nestas matérias. Savimbi aproveitou a sua estadia na Suíça para aperfeiçoar o seu domínio do inglês e do francês, línguas que chegou a falar fluentemente.
    
Trajectória política
Posicionamento na guerra anticolonial
No início dos anos 1960, Savimbi saiu da Suíça para juntar-se à Guerra de Independência de Angola, entretanto iniciada pela UPA (posteriormente FNLA) e pelo MPLA. Tentando primeiro, sem sucesso, obter uma posição de liderança no MPLA, ingressou a seguir na FNLA que operava a partir de Kinshasa e onde passou a fazer parte da direção. Como a FNLA beneficiava na altura do apoio da China, Savimbi teve naquele país uma formação militar adaptada a condições de guerrilha. Logo a seguir saiu da FNLA para formar o seu próprio movimento, a UNITA. Este teve desde o início como principal base social os Ovimbundu, a etnia de origem de Savimbi, e a mais numerosa de Angola, em contraste com a FNLA, enraizada entre os Bakongo, e o MPLA cuja base original eram os Ambundu bem como boa parte dos "mestiços" e uma minoria da população portuguesa local, oposta ao regime colonial.
A UNITA desenvolveu entre 1966 e 1974 ações relativamente limitadas no Leste de Angola, mas em contrapartida conseguiu uma significativa penetração política clandestina entre os ovimbundu, contando para o efeito com o apoio de boa parte dos catequistas da IECA.
    
Papel no processo de descolonização
Na sequência da Revolução dos Cravos que derrubou a ditadura de Salazar, Portugal anunciou, em abril de 1974, a sua intenção de abdicar das suas colónias. Em Angola, os três movimentos anticoloniais iniciaram de imediato entre eles uma luta pela conquista do poder. Embora a UNITA fosse à partida o movimento mais fraco, Jonas Savimbi decidiu lançar-se na corrida, confiando na sua base social e nos seus apoios externos.
Numa fase inicial, as forças da FNLA e da UNITA, apoiadas principalmente pelo Zaire e pela África do Sul, obtiveram uma clara vantagem sobre o MPLA que teve apenas um certo apoio da parte de militares portugueses "reconvertidos". A situação mudou radicalmente quando Cuba decidiu intervir militarmente a favor do MPLA, com o suporte logístico da União Soviética. Na data marcada para a independência, a 11 de novembro de 1975, o MPLA dominava a capital e a parte setentrional de Angola, declarou a independência em Luanda sendo imediatamente reconhecido a nível internacional.
Face a esta constelação, Jonas Savimbi fez uma aliança com a FNLA; juntos, os dois movimentos declararam, na mesma data, a independência de Angola no Huambo e formaram um governo alternativo com sede nesta cidade. Porém, as forças conjuntas do MPLA e de Cuba conquistaram rapidamente a parte maior da metade austral de Angola. O governo FNLA/UNITA, que não havia sido reconhecido por nenhum país, dissolveu-se rapidamente. A FNLA retirou-se por completo do território angolano e desistiu de qualquer oposição armada contra o MPLA. Em contrapartida, Jonas Savimbi decidiu não abandonar a luta e, a partir de bases no Leste e Sudeste de Angola, começou de imediato uma guerra de guerrilha contra do governo do MPLA - desencadeando assim uma guerra civil que só terminaria com a sua morte.
    
Protagonista da Guerra Civil
Em 1992, aquando das primeiras eleições em Angola, Savimbi participou sendo o seu partido, a UNITA, derrotado nas eleições legislativas. Ao não aceitar o resultado das mesmas, optou novamente pelo caminho da guerra, perpetuando a guerra civil. Quanto à eleição presidencial, a segunda volta não se realizou devido ao recomeço do conflito armado.
Em 1994, a UNITA assinou os acordos de paz de Lusaca, depois de meses de negociações, e aceitou desmobilizar as suas forças, com o objetivo de conseguir a reconciliação nacional. O processo de paz prolongou-se durante quatro anos, marcado por acusações e adiamentos. Nesse período, muitos membros da UNITA deslocaram-se para Luanda e integraram o Governo de Unidade Nacional, no entanto dissidências internas separaram o braço armado do braço político surgindo dessa forma a UNITA renovada, onde Jonas Savimbi não se sentia representado, rompendo com os acordos de paz e retornando, novamente, ao caminho da guerra.
Morreu a 22 de fevereiro de 2002, perto de Lucusse na província do Moxico, após uma longa perseguição efetuada pelas Forças Armadas Angolanas.


NOTA: a morte de Savimbi acabou com a Guerra Civil Angolana (e com alguns proveitos para um partido político português há bastante tempo no poder...) mas gerou um monopólio do MPLA, com as consequências financeiras para a nomenklatura desse partido por nós infelizmente bem conhecidas...
E, já agora, foi vergonhosa a exibição de Savimbi, como troféu de caça, já depois de morto:
  
(imagem daqui)

sábado, janeiro 15, 2022

O extra-ordinário acordo de Alvor (que deu guerra civil a Angola e retornados a Portugal) foi assinado há 47 anos

(imagem daqui)
 
O Acordo do Alvor, assinado entre o governo português e os três principais movimentos de libertação de Angola (MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola e UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola), em 15 de janeiro de 1975, em Alvor, no Algarve, e que estabeleceu os parâmetros para a partilha do poder na ex-colónia entre esse movimentos, após a concessão da independência de Angola.
Em entrevista à Agência Lusa, o dirigente socialista, António de Almeida Santos, que a 15 de janeiro de 1975 era ministro da Coordenação Inter-Territorial e integrava a delegação portuguesa que assinou o acordo, refere que, assim que viu o documento, soube que "aquilo não resultaria".
De facto, pouco tempo depois do acordo assinado, os três movimentos envolveram-se em um conflito armado pelo controlo do país e, em especial, da sua capital, Luanda, no que ficou conhecido como a Guerra Civil de Angola.
    

sexta-feira, setembro 10, 2021

Agostinho Neto morreu há 42 anos...

   
António Agostinho Neto (Catete, Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 - Moscovo, 10 de setembro de 1979) foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, que em 1975 se tornou o primeiro presidente de Angola, até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o "Prémio Lenine da Paz". Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela PIDE, a polícia política do regime Salazarista então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direcção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma actividade literária, escrevendo nomeadamente poesia.
Agostinho Neto dirigiu a partir de Argel e de Brazzaville as actividades políticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independência de Angola, entre 1961 e 1974, e durante o processo de descolonização, 1974/75, que opôs o MPLA aos dois outros movimentos nacionalistas, a FNLA e a UNITA Tendo o MPLA saído deste último processo como vencedor, declarou a independência do país em 11 de novembro de 1975, assumindo as funções de Presidente da República, mantendo as de Presidente do MPLA, e estabelecendo um regime mono-partidário, inspirado no modelo então praticado nos países do leste europeu.
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderança de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no início dos anos 70, de duas tendências opostas à direcção do movimento, a "Revolta Activa" constituída no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divisões foram superadas num intrincado processo de discussão e negociação que terminou com a reafirmação da autoridade de Agostinho Neto. Já depois da independência, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderança e a linha ideológica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como fracionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens.
Agostinho Neto, que era casado com a portuguesa Eugénia Neto, morreu num hospital em Moscovo no decorrer de complicações ocorridas durante uma operação a um cancro hepático de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substituído na presidência do país e do MPLA por José Eduardo dos Santos, presidente de Angola durante cerca de 38 anos.
   

Sobre o sangue ainda quente do meu irmão

Sobre o sangue ainda quente do meu irmão
Sacrificado pela pátria
Construo o meu sonho de união


Sobre o sangue ainda quente da minha irmã
Assassinada pelos carrascos
Construo o meu sonho de unidade


Unidade cimentada pelo sangue
União plantada sobre a terra
Germinando no meu gesto
Crescendo na minha voz
Gritando no teu olhar



Agostinho Neto

segunda-feira, fevereiro 22, 2021

Savimbi, o líder histórico da UNITA, foi assassinado há dezanove anos

    
Jonas Malheiro Savimbi (Munhango, Moxico, 3 de agosto de 1934 - Lucusse, Moxico, 22 de fevereiro de 2002) foi um político e guerrilheiro angolano e líder da UNITA durante mais de trinta anos.
Tendo, em conjunturas diversas, tido o apoio dos governos dos Estados Unidos da América, da República Popular da China, do regime do apartheid da África do Sul, de Israel, de vários líderes africanos (Félix Houphouët-Boigny da Costa do Marfim, Mobutu Sese Seko do Zaire, do rei Hassan II de Marrocos e Kenneth Kaunda da Zâmbia) e mercenários de Portugal, Israel, África do Sul e França, Savimbi passou grande parte de sua vida a lutar primeiro contra a ocupação colonial portuguesa e, depois da independência de Angola, contra o governo Angolano que era apoiado, em termos militares e outros, pela então União Soviética, por Cuba e pela Nicarágua sandinista.
   
Nascimento e estudos
Savimbi nasceu a 3 de agosto de 1934, em Munhango, uma pequena localidade na província Moxico, de pais originários de Chilesso, na província Bié, pertencentes ao grupo Bieno da etnia Ovimbundu. O pai de Savimbi era funcionário do Caminho de Ferro de Benguela e também pastor da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA). Jonas Savimbi passou a sua juventude em Chilesso, onde frequentou o ensino primário e parte do ensino secundário em escolas da IECA. Como naquele tempo os diplomas das escolas protestantes não eram reconhecidos, repetiu a parte secundária no Huambo, numa escola católica mantida pela ordem dos Maristas. A seguir ganhou uma bolsa de estudos providenciada pela IECA nos Estados Unidos da América para concluir o ensino secundário e estudar medicina em Portugal. Em Lisboa concluiu de facto o ensino secundário, com a excepção da matéria "Organização Política Nacional", obrigatória durante o Salazarismo, não chegando por isso a iniciar os estudos universitários. Entretanto tinha tomado contacto com um grupo de estudantes angolanos que, em Lisboa, propagavam em segredo a descolonização e discutiam a fundação de uma organização de luta anticolonial. Perante a ameaça de uma repressão por parte da PIDE, a polícia política do regime, Jonas Savimbi refugiou-se na Suíça, valendo-se de contactos obtidos por intermédio da IECA que, inclusive, lhe conseguiu uma segunda bolsa. Como a Suíça reconheceu os seus estudos secundários como completos, iniciou os estudos em ciências sociais e políticas, em Lausana e Genebra, obtendo provavelmente um diploma nestas matérias. Savimbi aproveitou a sua estadia na Suíça para aperfeiçoar o seu domínio do inglês e do francês, línguas que chegou a falar fluentemente.
    
Trajectória política
Posicionamento na guerra anticolonial
No início dos anos 1960, Savimbi saiu da Suíça para juntar-se à Guerra de Independência de Angola, entretanto iniciada pela UPA (posteriormente FNLA) e pelo MPLA. Tentando primeiro, sem sucesso, obter uma posição de liderança no MPLA, ingressou a seguir na FNLA que operava a partir de Kinshasa e onde passou a fazer parte da direcção. Como a FNLA beneficiava na altura do apoio da China, Savimbi teve naquele país uma formação militar adaptada a condições de guerrilha. Logo a seguir saiu da FNLA para formar o seu próprio movimento, a UNITA. Este teve desde o início como principal base social os Ovimbundu, a etnia de origem de Savimbi, e a mais numerosa de Angola, em contraste com a FNLA, enraizada entre os Bakongo, e o MPLA cuja base original eram os Ambundu bem como boa parte dos "mestiços" e uma minoria da população portuguesa local, oposta ao regime colonial.
A UNITA desenvolveu entre 1966 e 1974 acções relativamente limitadas no Leste de Angola, mas em contrapartida conseguiu uma significativa penetração política clandestina entre os Ovimbundu, contando para o efeito com o apoio de boa parte dos catequistas da IECA.
    
Papel no processo de descolonização
Na sequência da Revolução dos Cravos que derrubou a ditadura de Salazar, Portugal anunciou, em abril de 1974, a sua intenção de abdicar das suas colónias. Em Angola, os três movimentos anticoloniais iniciaram de imediato entre eles uma luta pela conquista do poder. Embora a UNITA fosse à partida o movimento mais fraco, Jonas Savimbi decidiu lançar-se na corrida, confiando na sua base social e nos seus apoios externos.
Numa fase inicial, as forças da FNLA e da UNITA, apoiadas principalmente pelo Zaire e pela África do Sul, obtiveram uma clara vantagem sobre o MPLA que teve apenas um certo apoio da parte de militares portugueses "reconvertidos". A situação mudou radicalmente quando Cuba decidiu intervir militarmente a favor do MPLA, com o suporte logístico da União Soviética. Na data marcada para a independência, a 11 de novembro de 1975, o MPLA dominava a capital e a parte setentrional de Angola, declarou a independência em Luanda sendo imediatamente reconhecido a nível internacional.
Face a esta constelação, Jonas Savimbi fez uma aliança com a FNLA; juntos, os dois movimentos declararam, na mesma data, a independência de Angola no Huambo e formaram um governo alternativo com sede nesta cidade. Porém, as forças conjuntas do MPLA e de Cuba conquistaram rapidamente a parte maior da metade austral de Angola. O governo FNLA/UNITA, que não havia sido reconhecido por nenhum país, dissolveu-se rapidamente. A FNLA retirou-se por completo do território angolano e desistiu de qualquer oposição armada contra o MPLA. Em contrapartida, Jonas Savimbi decidiu não abandonar a luta e, a partir de bases no Leste e Sudeste de Angola, começou de imediato uma guerra de guerrilha contra do governo do MPLA - desencadeando assim uma guerra civil que só terminaria com a sua morte.
    
Protagonista da Guerra Civil
Em 1992, aquando das primeiras eleições em Angola, Savimbi participou sendo o seu partido, a UNITA, derrotado nas eleições legislativas. Ao não aceitar o resultado das mesmas, optou novamente pelo caminho da guerra, perpetuando a guerra civil. Quanto à eleição presidencial, a segunda volta não se realizou devido ao recomeço do conflito armado.
Em 1994, a UNITA assinou os acordos de paz de Lusaca, depois de meses de negociações, e aceitou desmobilizar as suas forças, com o objectivo de conseguir a reconciliação nacional. O processo de paz prolongou-se durante quatro anos, marcado por acusações e adiamentos. Nesse período, muitos membros da UNITA deslocaram-se para Luanda e integraram o Governo de Unidade Nacional, no entanto dissidências internas separaram o braço armado do braço politico surgindo dessa forma a UNITA renovada, onde Jonas Savimbi não se sentia representado, rompendo com os acordos de paz e retornando, novamente, ao caminho da guerra.
Morreu a 22 de fevereiro de 2002, perto de Lucusse na província do Moxico, após uma longa perseguição efectuada pelas Forças Armadas Angolanas.


NOTA: a morte de Savimbi acabou com a Guerra Civil Angolana (e com alguns proveitos para um partido político português agora no poder...) mas gerou um monopólio do MPLA, com as consequências financeiras para a nomenklatura desse partido por nós infelizmente bem conhecidas...
E, já agora, foi vergonhosa a exibição de Savimbi, como troféu de caça, já depois de morto:
  
(imagem daqui)