quinta-feira, agosto 21, 2014

Joe Strummer, o vocalista dos The Clash nasceu há 62 anos

Joe Strummer (nascido John Grahan Mellor), (Ancara, 21 de agosto de 1952 - Somerset, 22 de Dezembro de 2002) mais conhecido por seu trabalho como vocalista e guitarrista da banda The Clash. Antes era integrante da banda The 101ers. Foi ainda membro dos The Mescaleros e temporariamente dos The Pogues.
Strummer nasceu em Ankara na Turquia. Sua mãe, Anna Mackenzie, era enfermeira de origem escocesa. Seu pai, Ronald Mellor, um indiano que trabalhava como diplomata de serviços estrangeiros nas ilhas britânicas. Sua família mudava-se de um lugar para outro muitas vezes e Joe passou partes de sua infância no Cairo, na Cidade do México e em Bona. Aos 9 anos, junto com seu irmão David (de 10 anos), começou a estudar na "City of London Freemen's School" em Surrey. Joe poucas vezes viu seus pais durante os sete anos seguintes à sua entrada na escola. Ele desenvolveu seu amor por Rock ouvindo gravações de Little Richard, Beach Boys e Woody Guthrie (Joe inclusive assumiu o apelido "Woody" por alguns anos).
Em 1970 o seu irmão, David, afastou-se da família e entrou para o British National Front (partido de extrema-direita). O seu suicídio, em julho do mesmo ano, afetou profundamente Joe, que precisou identificar o corpo após 3 dias de desaparecimento.
Em 22 de dezembro de 2002 morreu por causa de defeito cardíaco congénito, conforme foi referido no seu site oficial, tranquilamente, na sua casa em Somerset, deixando a esposa, duas filhas e uma neta.


quarta-feira, agosto 20, 2014

Fred Durst - 44 anos

William Frederick "Fred" Durst (Gastonia, Carolina do Norte, 20 de agosto de 1970) é um diretor de filme, ator e músico dos Estados Unidos, mais conhecido por ser vocalista da banda de nu-metal e rapcore Limp Bizkit, que ajudou a fundar em 1994.


Robert Plant - 66 anos

Robert Anthony Plant (West Bromwich, 20 de agosto de 1948) é um músico, cantor, e compositor britânico de hard rock, famoso pelo seu trabalho com os Led Zeppelin. Durante a carreira, Plant influenciou diversos artistas, como Freddie Mercury e Axl Rose. Atualmente, Plant revitalizou o projeto Band of Joy, à qual pertenceu antes dos Led Zeppelin, em 1967.
Foi eleito o 15º melhor vocalista da história pela revista Rolling Stone, e em 2006, a revista Hit Parader colocou Plant como o "melhor vocalista de heavy metal de todos os tempos".
Símbolo de Robert Plant no álbum Led Zeppelin IV

Salvatore Quasimodo nasceu há 113 anos

Salvatore Quasimodo (Módica, 20 de agosto de 1901 - Amalfi, 14 de junho de 1968) foi um poeta italiano.
Recebeu o Nobel de Literatura de 1959.
Nascido na província de Ragusa, sua família transferiu-se, em 1908, para Messina no dia seguinte ao grande terremoto de 1908, cuja destruição causou-lhe uma permanente impressão. Foi em Messina que concluiu os estudos secundários e, já na década de 1920, foi para Roma iniciar o estudo do grego e do latim, dedicando-se aos clássicos que mais tarde seriam a sua maior inspiração.
Em 1926, por motivos de trabalho, estabelece-se em Reggio Calabria, onde retoma a atividade poética. Em 1929, vai para Florença com a sua irmã, casada com Elio Vittorini. Graças a estas relações, entra em contacto com Eugenio Montale e com o ambiente da revista literária Solaria. A partir de 1931, foi durante dez anos funcionário do departamento de obras de vários municípios italianos.
Chega a Milão em 1934, onde entra num rico ambiente cultural, estabelecendo relações de amizade com pintores e escritores. Dois anos depois, deixa a sua profissão para se dedicar integralmente à literatura e à poesia.
Foi também tradutor de obras clássicas e contemporâneas, vertendo para o italiano de Shakespeare a Neruda.
A sua sepultura está localizada no Cemitério Monumental de Milão.


E de repente é noite


Cada um está só sobre o coração da terra
Trespassado por um raio de sol:
E de repente é noite.


salvatore quasimodo
a rosa do mundo 2001 poemas para o futuro
tradução de ernesto sampaio
assírio & alvim
2001

terça-feira, agosto 19, 2014

Para o meu Amor...

...que hoje é bebé, do seu Amor, na língua que tanto gosta, de um Senhor que foi um brilhante poeta e que a estúpida guerra nos levou tão cedo e de forma tão estúpida e cruel...


Gacela del amor desesperado


La noche no quiere venir
para que tú no vengas
ni yo pueda ir.

Pero yo iré
aunque un sol de alacranes me coma la sien.
Pero tú vendrás
con la lengua quemada por la lluvia de sal.

El día no quiere venir
para que tú no vengas
ni yo pueda ir.

Pero yo iré
entregando a los sapos mi mordido clavel.
Pero tú vendrás
por las turbias cloacas de la oscuridad.

Ni la noche ni el día quieren venir
para que por ti muera
y tú mueras por mí.


Federico García Lorca


NOTA: para quem gosta, aqui fica a sugestão de uma página sobre o poeta, dramaturgo e músico Federico García Lorca, em língua portuguesa, de Fernando Martins, António João Martins e Pedro Luna:

Christina Perri - 28 anos

Christina Perri (Filadélfia, 19 de agosto de 1986) é uma cantora e compositora americana. A sua canção "Jar of Hearts" ganhou destaque nos Estados Unidos depois de ela ter ido ao programa de televisão So You Think You Can Dance do canal Fox em 2010, mas foi "A Thousand Years" que se teve maior sucesso a nível mundial.
  
Biografia
Perri cresceu em Bensalem, na Pensilvânia (num subúrbio de Filadélfia) com o seu irmão mais velho, Nick Perri, que antes tocava guitarra com Shinedown, Silvertide, Perry Farrell e Matt Sorum. Ela aprendeu sozinha a tocar guitarra aos 16 anos de idade, após assistir a um vídeo de Shannon Hoon do grupo Blind Melon no canal VH1.

Carreira
Perri mudou para Los Angeles, Califórnia, no seu aniversário dos 20 anos. Mais tarde, naquele ano, ela casou e começou a produzir vídeoclipes. Ela divorciou-se após 18 meses e voltou para Filadélfia no final de 2009. Durante este tempo, escreveu "Jar of Hearts". Voltou para Los Angeles; foi empregada de bar no café Melrose, então conheceu um amigo que a apresentou a um coreógrafo. Este gostou tanto da música "Jar of Hearts" e perguntou se Christina queria gravar uma versão profissional da música.

2010–2012: Primeiro EP e Lovestrong
A canção "Jar of Hearts" foi apresentada no So You Think You Can Dance, a 30 de junho de 2010. O seu primeiro single, "Jar of Hearts", vendeu 48 mil cópias digitais, e estreou na Billboard Hot 100 na posição #63 e #28 na Billboard Hot Digital Songs. Dentro de um mês, vendeu mais de 100.000 cópias. Em seguida, o videoclipe da música "Jar of Hearts" ficou no topo do Top 20 VH1 e com mais de 100 milhões de visualizações no Youtube.
Pouco depois, Perri fez a sua estreia em horário nobre da televisão, tocando a música ao vivo no dia 10 de julho de 2010, no The Early Show na CBS, e também no dia 15 de julho de 2010 no So You Think You Can Dance. Christina Perri assinou um contrato com a Atlantic Records em 21 de julho de 2010. Perri também apareceu no Tonight Show com Jay Leno em 29 de julho de 2010.
Perri lançou um único EP, até então chamado The Ocean Way Sessions, que foi lançado em 9 de novembro de 2010.
A grande virada na vida de Perri foi com a música "A Thousand Years", lançada em 2011, e fez parte do filme Amanhecer, da Saga Crepúsculo. A cantora afirmou ser uma fã convicta da saga. O videoclipe da música foi lançado a 26 de outubro de 2011, no Youtube, que já conta com mais de 120 milhões de visualizações. Antes, já havia lançado seu primeiro álbum de estúdio chamado Lovestrong, em 10 de maio de 2011, com o outro sucesso de sua autoria, "Jar of Hearts", além de "Arms".
  
2013–presente: Head or Heart
Em 2013, Perri começou regularmente a colocar no Tweety e colocar imagens no Instagram sobre o progresso do segundo álbum de estúdio usando o hashtag "#albumtwo". Em fevereiro, Perri partilhou sobre um terceiro tour para obter dinheiro para a organização de caridade To Write Love On Her Arms, instituição sem fins lucrativos, e lançar uma canção totalmente nova do segundo álbum de estúdio, intitulada "I Believe", nos shows. Em 21 de junho, Perri tweetou anunciando que o segundo álbum de estúdio vinha logo a seguir.
Em 11 de novembro de 2013, Perri anunciou que o primeiro single do novo álbum se chamaria "Human". A canção foi lançada a 18 de novembro de 2013 no iTunes e Perri tocou a canção no The Queen Latifah Show no mesmo dia. Em 28 de novembro de 2013, Perri revelou que o seu segundo álbum de estúdio se chamaria Head or Heart e devia ser lançado a 1 de abril de 2014. A 29 de maio, anunciou que ela iria abrir o novo North American World Tour de Demi Lovato. Perri anunciou que segundo tour de concertos mundiais se chamaria Head or Heart Tour, tendo começado em abril de 2014.

Há 23 anos os comunistas ortodoxos soviéticos jogaram a sua última cartada

Boris Yeltsin em pé junto de um tanque a desafiar o golpe, em agosto de 1991

A tentativa de golpe na União Soviética, também conhecido como o golpe de agosto ou o Putsch de Moscovo é o nome de uma tentativa de golpe de Estado ocorrida num período de três dias, entre 19 e 21 de agosto de 1991, na União Soviética, feito por um grupo da "linha dura" no seio do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), que depuseram, brevemente, o líder estabelecido, Mikhail Gorbachev, e tentaram tomar o controle do país.
Os autores do golpe de Estado foram comunistas conservadores que acreditavam que o programa de reformas de Gorbachev estava indo longe demais e que o novo Tratado da União, que chegou a ser negociado, imediatamente dispersava o demasiado poder por parte do Governo Central para as repúblicas componentes da URSS. O golpe de Estado falhou em três dias e Gorbachev regressou ao poder. Ainda assim, os acontecimentos prejudicaram a legitimidade do PCUS, contribuindo para o colapso e desaparecimento da União Soviética.

(...)

Em 19 de agosto de 1991, um dia antes de Gorbachev e um grupo de dirigentes das Repúblicas assinarem o novo Tratado da União, um grupo chamado Comité Estatal para o estado de emergência tentou tomar o poder em Moscovo. Anunciou-se que Gorbachev estava doente e tinha sido afastado de seu posto como presidente. Gorbachev fora de férias para a Crimeia quando a tomada do poder foi desencadeada e lá permaneceu durante todo o seu curso. O vice-presidente da União Soviética, Gennady Yanaiev, foi nomeado presidente interino. A comissão de 8 membros, incluía o chefe do KGB, Vladimir Krioutchkov, e o Ministro das Relações Exteriores, Boris Pugo, o ministro da Defesa, Dmitri Iazov, todos os que concordaram em trabalhar sob Gorbachev.
Manifestações importantes contra líderes do golpe de Estado ocorreram em Moscovo e Leningrado, lealdades divididas nos ministérios da Defesa e Segurança impediam as forças armadas de vir para superar a resistência que o Presidente da Rússia, Boris Yeltsin, dirigia desde a Câmara Branca, o parlamento russo. Um assalto do edifício foi preparado pelo Grupo Alfa das Forças Especiais da KGB, mas depois as tropas foram recusando-se unanimemente a obedecer. Durante uma das manifestações, Yeltsin permaneceu de pé em um tanque para condenar a "Junta". A imagem disseminada pelo mundo foi à televisão, torna-se um dos mais importantes do golpe de Estado e reforça fortemente a posição de Ieltsin. Ocorrem confrontos nas redondezas das ruas que conduziram ao assassinato de três protestantes, Vladimir Ousov, Dmitri Komar e Ilia Krichevski, esmagados por um tanque, mas, em geral, houve poucos casos de violência. Em 21 de agosto de 1991, a grande maioria das tropas que foram enviadas para Moscovo coloca-se abertamente ao lado dos manifestantes ou são desertores. O golpe falhou e Gorbachev, que tinha estado preso na sua dacha na Crimeia, regressou a Moscovo.

John Deacon - 63 anos

John Richard Deacon (nascido em Leicester, Inglaterra, a 19 de agosto de 1951) é um músico inglês aposentado, mais conhecido como baixista e compositor da banda de rock Queen. Ele foi o último dos quatro membros que entrou para a formação da banda e também o mais jovem, tendo apenas 19 anos quando da sua entrada. Deacon é o compositor de um grande número de sucessos do Queen, incluindo "You're My Best Friend", "Spread Your Wings", "Back Chat", "I Want to Break Free" e o maior sucesso de todos, o single mais vendido da banda nos Estados Unidos, "Another One Bites the Dust", bem como outras faixas do álbum. Tocou também ritmo e guitarra acústica em vários álbuns, bem como teclados, ocasionalmente, sintetizador e programação. Ele frequentemente fazia backing vocal (coros) durante os shows ao vivo. Mesmo sendo bastante tímido, John Deacon é considerado um dos maiores baixistas do mundo do rock.
Depois do show Freddie Mercury Tribute Concert, em 1992, o baixista se apresentou com os Queen e mais o amigo de Mercury, Elton John em apenas uma única música: "The Show Must Go On" (Elton John inicialmente tinha cantado a faixa com a banda no tributo a Freddie Mercury). Deacon contribuiu para outra música do Queen: "No-One But You (Only The Good Die Young)" - lançado em 1997 no álbum Queen Rocks - depois disso ele retirou-se da indústria da música. Deacon decidiu não participar do Queen+Paul Rodgers, mas apoiou a iniciativa dos ex-companheiros de banda. Ele também não se apresentou na indicação dos Queen para o Rock and Roll Hall of Fame em 2001.


O poeta brasileiro Haroldo de Campos nasceu há 85 anos

(imagem daqui)

Haroldo Eurico Browne de Campos (São Paulo, 19 de agosto de 1929 - São Paulo, 16 de agosto de 2003) foi um poeta e tradutor brasileiro. Haroldo fez seus estudos secundários no Colégio São Bento, onde aprendeu os primeiros idiomas estrangeiros, como latim, inglês, espanhol e francês. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no final da década de 1940, lançando seu primeiro livro em 1949, O Auto do Possesso quando, ao lado de Décio Pignatari, participava do Clube de Poesia.
Em 1952, Décio, Haroldo e seu irmão Augusto de Campos rompem com o Clube, por divergirem quanto ao conservadorismo predominante entre os poetas, conhecidos como "Geração de 45". Fundam, então, o grupo Noigandres, passando a publicar poemas na revista do grupo, de mesmo título. Nos anos seguintes defendeu as teses que levariam os três a inaugurar em 1956 o movimento concretista, ao qual manteve-se fiel até o ano de 1963, quando inaugura um trajeto particular, centrando-se suas atenções no projeto do livro-poema "Galáxias".
Haroldo doutorou-se pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, sob orientação de Antonio Candido, tendo sido professor da PUC-SP, bem como na Universidade do Texas, em Austin.
Haroldo dirigiu até o final de sua vida a coleção Signos da Editora Perspectiva. "Transcriou" em português poemas de autores como Homero, Dante, Mallarmé, Goethe, Mayakovski, além de textos bíblicos, como o Génesis e o Eclesiastes. Publicou, ainda, numerosos ensaios de teoria literária, entre eles A Arte no Horizonte do Provável (1969).
Faleceu em São Paulo, tendo publicado, pouco antes, a sua transcriação em português da Ilíada, de Homero.
  
Prémios e homenagens
A sua biografia foi incluída na Enciclopédia Britânica em 1997.
Foi o vencedor do Prémio Octavio Paz de Poesía y Ensayo, no México, em 1999.
Nesse mesmo ano, as Universidades de Yale e de Oxford organizaram conferências sobre a sua obra na comemoração dos seus setenta anos.
Foi vencedor do Prémio Jabuti em 1991, 1993, 1994, 1999 e 2002.



circum-lóquio
(pur troppo non allegro)
sobre o neoliberalismo
terceiro-mundista

laisser faire laisser passer

1.
o neoliberal
neolibera:
de tanto neoliberar
o neoliberal
neolibera-se de neoliberar
tudo aquilo que não seja neo (leo)
libérrimo:
o livre quinhão do leão
neolibera a corvéia da ovelha

2.

o neoliberal
neolibera
o que neoliberar
para os não-neoliberados:
o labéu?
o libelo?
a libré do lacaio?
a argola do galé?
o ventre-livre?
a bóia-rala?
o prato raso?
a comunhão do atraso?
a ex-comunhão dos ex-clusos?
o amanhã sem fé?
o café requentado?
a queda em parafuso?
o pé de chinelo?
o pé no chão?
o bicho de pé?
a ração da ralé?

3.
no céu neon
do neoliberal
anjos-yuppies
bochechas cor-de-bife
privatizam
a rosácea do paraíso
de dante
enquanto lancham
fast-food
e super
(visionários) visam
com olho magnânimo
as bandas
(flutuantes)
do câmbio:

enquanto o não
- neoliberado
come pão
com salame
(quando come)
ele dorme
sonhando
com torneiras de ouro
e a hidrobanheira cor
de âmbar
de sua neo-
mansão em miami

4.

o centro e a direita
(des)conversam
sobre o social
(questão de polícia):
o desemprego um mal
conjuntural
(conjetural)
pois no céu da estatís-
tica o futuro
se decide pela lei
dos grandes números

5.
o neoliberal
sonha um mundo higiênico:
um ecúmeno de ecônomos
de economistas e atuários
de jogadores na bolsa
de gerentes
de supermercado
de capitães de indústria
e latifundários de
banqueiros
- banquiplenos ou
banquirrotos
(que importa?
dede que circule
autoregulante
o necessário
plusvalioso
numerário)
um mundo executivo
de mega-empresários
duros e puros
mós sem dó
mais atento ao lucro
que ao salário
solitários (no câncer)
antes que solidários:
um mundo onde deus
não jogue dados
e onde tudo dure para sempre
e sempremente nada mude
um confortável
estável
confiável
mundo contábil.

6.
(a
contramundo
o mundo-não
-mundo cão-
dos deserdados:
o anti-higiênico
gueto dos
sem-saída
dos excluídos pelo
deus-sistema
cana esmagada
pela moenda
pela roda dentada
dos enjeitados:
um mundo-pêsames
de pequenos
cidadãos-menos
de gente-gado
de civis
sub-servis
de povo-ônus
que não tem lugar marcado
no campo do possível
da economia de mercado
(onde mercúrio serve ao deus mamonas)

7.
o neoliberal
sonha um admirável
mundo fixo
de argentários e multinacionais
terratenentes terrapotentes coronéis políticos
milenaristas (cooptados) do perpétuo
status quo:
um mundo privé
palácio de cristal
à prova de balas:
bunker blau
durando para sempre - festa estática
(ainda que sustente sobre fictas
palafitas
e estas sobre uma lata
de lixo)


Haroldo de Campos

Homenagem a Federico...

(imagem daqui)

EL CRIMEN FUE EN GRANADA: A FEDERICO GARCÍA LORCA


1. El crimen

Se le vio, caminando entre fusiles,
por una calle larga,
salir al campo frío,
aún con estrellas de la madrugada.
Mataron a Federico
cuando la luz asomaba.
El pelotón de verdugos
no osó mirarle la cara.
Todos cerraron los ojos;
rezaron: ¡ni Dios te salva!
Muerto cayó Federico
—sangre en la frente y plomo en las entrañas—
... Que fue en Granada el crimen
sabed —¡pobre Granada!—, en su Granada.


2. El poeta y la muerte

Se le vio caminar solo con Ella,
sin miedo a su guadaña.
—Ya el sol en torre y torre, los martillos
en yunque— yunque y yunque de las fraguas.
Hablaba Federico,
requebrando a la muerte. Ella escuchaba.
«Porque ayer en mi verso, compañera,
sonaba el golpe de tus secas palmas,
y diste el hielo a mi cantar, y el filo
a mi tragedia de tu hoz de plata,
te cantaré la carne que no tienes,
los ojos que te faltan,
tus cabellos que el viento sacudía,
los rojos labios donde te besaban...
Hoy como ayer, gitana, muerte mía,
qué bien contigo a solas,
por estos aires de Granada, ¡mi Granada!»


3.

Se le vio caminar...
...................Labrad, amigos,
de piedra y sueño en el Alhambra,
un túmulo al poeta,
sobre una fuente donde llore el agua,
y eternamente diga:
el crimen fue en Granada, ¡en su Granada!


António Machado

Ian Gillan - 69 anos...

Ian Gillan (Londres, 19 de agosto de 1945) é um cantor inglês que tornou-se conhecido em todo o mundo como vocalista e compositor da banda de rock Deep Purple, tendo participado em diversas formações da banda, incluindo a considerada clássica. Gillan também cantou no Black Sabbath, gravando o disco Born Again, lançado em 1983.


segunda-feira, agosto 18, 2014

Kim Dae-jung, ex-Presidente da Coreia do Sul e Prémio Nobel da Paz, morreu há 5 anos

Kim Dae-jung (Hauido, 6 de janeiro de 1924  - Seul, 18 de agosto de 2009) foi um político sul-coreano, presidente de seu país de 1997 a 2003. Recebeu o Nobel da Paz pelos seus esforços na reconciliação da península da Coreia.
Filho de camponeses, católico, licenciou-se na Escola de Comércio de Mokp'o em 1943. Iniciou a sua atividade profissional numa companhia japonesa, na qual prosperou tornando-se um homem de negócios.
Entre 1950 e 1953, durante a Guerra da Coreia, foi preso e condenado à morte pelos comunistas, tendo conseguido escapar com a ajuda dos militares norte-americanos. Após a guerra, tornou-se um activista político de oposição ao poder.
Kim ingressou no Partido Democrático Coreano, do qual se tornou presidente em 1970. Em 1973, em Tóquio, durante a preparação de uma campanha política, foi raptado do hotel onde se encontrava e forçado a regressar à Coreia do Sul. Foi preso em 1976 por manifestar a sua oposição ao poder, tendo sido libertado três anos depois.
Em 1980 foi condenado a vinte anos de prisão, mas em 1982, por questões de saúde, foi autorizado a viajar para os Estados Unidos, onde se exilou. Regressou três anos mais tarde ao seu país e em 1987 concorreu às eleições presidenciais perdendo em favor de Kim Young-sam, com quem disputou as eleições seguintes, em 1992, das quais também saiu derrotado.
Em 1995 formou um novo partido e em 1997 voltou a concorrer às presidenciais, ganhando ao seu oponente Lee Hoi-chang.
Como presidente, esforçou-se por acabar com a pequena guerra fria entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul.
Em 2000 foi-lhe atribuído o Nobel da Paz, como reconhecimento pela sua luta constante pela democracia, pelos direitos humanos e pela reconciliação com a Coreia do Norte. Em 2003, Roh Moo-hyun tomaria posse como presidente da Coreia do Sul.

O Doutor Sousa Martins morreu há 117 anos

José Tomás de Sousa Martins (Alhandra, 7 de março de 1843 - Alhandra, 18 de agosto de 1897) foi um médico e professor catedrático da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, antecessora da Faculdade de Medicina de Lisboa. Formado em Farmácia e Medicina, trabalhou intensa e, na maioria dos casos, gratuitamente, sobretudo no combate à tuberculose. Orador brilhante, dotado de humor e inteligência, homem de actividade inesgotável e praticante incansável da caridade junto aos mais desfavorecidos, exerceu uma forte influência sobre os colegas de profissão, os alunos e os pacientes que tratou. Esta influência metamorfoseou-se e perpetuou-se no tempo, tendo a figura de Sousa Martins assumido contornos de santo laico, num culto actual, bem visível nos ex-votos colocados em torno da sua estátua no Campo de Santana, em Lisboa, e no cemitério de Alhandra, onde está sepultado. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa.

(...)

Monumento em homenagem a Sousa Martins, Campo de Santana, Lisboa

Adoeceu quando se encontrava em Veneza, regressando a Lisboa muito debilitado. Diagnosticada tuberculose, partiu para a Serra da Estrela à procura de alívio. Aparentemente convalescendo, recolheu-se a Alhandra, onde se instalou numa quinta, propriedade de amigos, tentando recuperar.
A doença agravou-se e aos 54 anos, tuberculoso terminal e sofrendo de lesão cardíaca, Sousa Martins cometeu suicídio, com uma injecção de morfina. Pouco antes, havia confidenciado a um amigo: "A morte não é mais forte do que eu" e "Um médico ameaçado de morte por duas doenças, ambas fatais, deve eliminar-se por si mesmo".
Na mensagem que enviou ao saber da morte de Sousa Martins, o rei D. Carlos I de Portugal afirmou: Ao deixar o mundo, chorou-o toda a terra que o conheceu. Foi uma perda irreparável, uma perda nacional, apagando-se com ele a maior luz do meu reino.
Também sobre ele, António Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina, disse: Notável professor que deixou, atrás de si, um nome aureolado de prelector admirável, de clínico, de orador consagrado, sempre alerta nas justas da Sociedade das Ciências Médicas.
Por sua vez Guerra Junqueiro considerou-o Eminente homem que radiou amor, encanto, esperança, alegria e generosidade. Foi amigo, carinhoso e dedicado dos pobres e dos poetas. A sua mão guiou. O seu coração perdoou. A sua boca ensinou. Honrou a medicina portuguesa e todos os que nele procuraram cura para os seus males.
O principal hospital da cidade da Guarda tem o nome de Hospital Sousa Martins, em homenagem ao trabalho pioneiro de Sousa Martins sobre a tuberculose e climoterapia que conduziu à promoção da Serra da Estrela como área propícia à instalação de sanatórios para o tratamento de tuberculosos. Para além disso, existem vários sítios que homenageiam o Dr. Sousa Martins, entre os quais um concorrido monumento, de autoria de Costa Motta (tio) no Campo de Santana, em Lisboa; um jazigo no Cemitério de Alhandra, onde se encontra sepultado; a Casa-Museu Dr. Sousa Martins, em Alhandra; e o busto do Dr. Sousa Martins, no Largo 7 de Março, na baixa alhandrense. Também a toponímia da cidade da Guarda, à qual o nome de Sousa Martins está associado desde o início do século XX mercê da estrutura sanatorial que ali existiu, o recorda no nome de uma das ruas do moderno Bairro da Senhora dos Remédios. Um pequeno monumento erguido dentro dos muros do antigo Sanatório da Guarda continua, diariamente, a receber preces e agradecimentos e, à semelhança do monumento lisboeta do Campo de Santana, está quase sempre emoldurado de flores e de ex-votos diversos.
Os adeptos do Espiritismo pretendem que ele tenha sido seguidor desta crença, embora não haja nenhuma prova que o confirme; muitos dos adeptos dessa crença atribuem-lhe curas milagrosas por intermédio das suas comunicações mediúnicas, como aliás fazem com outros não membros da sua crença, veja-se por exemplo o famoso Padre Miguel do Soito (Sabugal), que era um sacerdote católico. A 7 de março e a 18 de agosto de cada ano, aniversários do seu nascimento e morte, milhares de devotos visitam e rezam sobre o seu túmulo e outros locais onde está representado (como junto da sua estátua no Campo de Santana, em Lisboa).

domingo, agosto 17, 2014

O Rei da Polónia e Lituânia, João III Sobieski, nasceu há 385 anos

João III Sobieski, em polaco Jan III Sobieski (Olesko, perto de Lviv, 17 de agosto de 1629 - 17 de junho de 1696), foi rei da Polónia e da República das Duas Nações (1674-1696), num período marcado pela estabilização do poder na zona da Polónia e Mar Báltico. Ajudou a libertar Viena do cerco empreendido pelo Império Otomano em 1683.
Fluente em várias línguas, era um homem muito culto (estudou na Universidade Jaguelónica). Popular entre os seus súbditos, era um grande general militar e ficou famoso pela sua vitória sobre os turcos em 1683, na Batalha de Viena. Graças às suas vitórias sobre o Império Otomano, os turcos chamavam-lhe o "Leão de Lehistan".


Brasão Real de João III Sobieski , Rei da Polónia e da República das Duas Nações

Legado
  • After World War II, a statue of John III Sobieski was "repatriated" to Gdańsk from Lwów (a city now found in Ukraine, Lviv. The statue overlooks a little park at the old Gdańsk City Hall museum.
  • After the battle of Vienna, the newly delineated constellation of Scutum (Latin for shield) was originally named Scutum Sobiescianum by the astronomer Johannes Hevelius, in honor of John III Sobieski. While there are a few stars named after non-astronomers, this is the only constellation named after a real non-astronomer, moreover, one who was still alive when the constellation was named.
  • A legend of the origins of the bagel refers to John III Sobieski as the king to whom a Jewish baker gave the very first bagel in commemoration of his victory at Vienna in 1683. The round shape of the bagel was said to resemble the stirrups of Sobieski and his mounted warriors.
  • The EuroCity rail lines running between Vienna and Warsaw (lines 104/105) are named after Sobieski.
  • There is a modern proposition from non-Polish European newspapers to name the A2 highway in Poland after Sobieski.
  • Sobieski, a vodka brand named after His Majesty John III.
  • A cigarette brand owned by British American Tobacco is called Jan III Sobieski.

Belinda Carlisle - 56 anos

Belinda Carlisle (nascida Belinda Kerzcheski, Los Angeles, Califórnia, 16 de agosto de 1958) é uma cantora dos Estados Unidos e ex-integrante da banda de new wave dos anos oitenta The Go-Go's. Em carreira solo teve grande promeniência lançando clássicos da música pop como "Mad About You", "Heaven Is a Place on Earth" e "Circle in the Sand", assim como outros grandes sucessos. Em sua carreira solo vendeu mais de 7 milhões de álbuns e singles.


Carlos Drummond de Andrade morreu há 27 anos

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 - Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX.


Ausência 

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


in Corpo (1984) - Carlos Drummond de Andrade

João Donato - 80 anos!

João Donato de Oliveira Neto (Rio Branco, 17 de agosto de 1934), mais conhecido apenas como João Donato, é um pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor brasileiro.
Donato foi amigo de todos os expoentes do movimento bossanovista, como João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Johnny Alf, entre outros, mas nunca foi caracterizado unicamente como tal, e sim um músico muito criativo e que promove fusões musicais, de jazz e música latina, entre tantos outros. Na década de 1950, João Donato mudou-se para os Estados Unidos, onde permanece durante treze anos e realiza o que nunca tinha conseguido no Brasil: reincorporar a musicalidade afro-cubana no jazz. Grava o disco A Bad Donato e compõe músicas como "Amazonas", "A Rã" e "Cadê Jodel". Retorna ao Brasil, reencontra a música brasileira que estava sendo feita no país, mas não abandona sua paixão pela fusão entre o jazz e ritmos caribenhos. Como arranjador participou de discos de grandes nomes da MPB como Gal Costa e Gilberto Gil.
Entre as composições mais conhecidas do músico, estão: "Amazonas", "Lugar Comum", "Simples Carinho", "Até Quem Sabe" e "Nasci Para Bailar". Segundo o crítico musical Tárik de Souza: "Durante muito tempo, João Donato foi um mito das internas da MPB. Génio, desligado, louco, de tudo um pouco."
 
Biografia
Filho de um major da aeronáutica, João Donato de Oliveira Filho e Eutália Pacheco da Cunha, nasceu em Rio Branco no dia 17 de agosto de 1934, mas 11 anos depois mudou-se para o Rio de Janeiro. Desde cedo demonstrou ter mais intimidade com a música, aos cinco anos já tocava acordeão.
João Donato nasceu numa família musical, o seu pai, que era piloto de avião, nas horas vagas tocava bandolim. A mãe cantava e a irmã mais velha, Eneyda, pretendia ser concertista de piano. O mais novo, Lysias, pendeu para as letras e tornar-se-ia no principal parceiro nas composições com Donato.
O primeiro instrumento de João foi o acordeão, no qual, aos oito anos, compôs a sua primeira música, a valsa "Nini". Antes de completar 12 anos, o pai presenteou-lhe com acordeões de 24 e 120 baixos. Em 1945, Donato pai é transferido, e a família tem de deixar Rio Branco rumo ao Rio de Janeiro.
Em pouco tempo, passou a frequentar o circuito musical das festas de colégios da Tijuca e adjacências. Tentou a sorte no programa de Ary Barroso. Intransigente, Ary rodou o tabuleiro da baiana e nem sequer quis escutá-lo, sob a alegação de que "não gostava de meninos-prodígio".
Ao profissionalizar-se, em 1949, aos 15 anos, Donato já havia participado das jam sessions realizadas na casa do cantor Dick Farney e no Sinatra-Farney Fã Club, do qual era membro. Johnny Alf, Nora Ney, Dóris Monteiro, Paulo Moura e até Jô Soares, no bongô, estavam entre os componentes destas jams.
Na primeira gravação em que participa, como integrante da banda do flautista Altamiro Carrilho, Donato toca acordeão nas duas faixas do 78 RPM: "Brejeiro", de Ernesto Nazareth, e "Feliz aniversário", do próprio Altamiro. Pouco depois, migra para o grupo do violinista Fafá Lemos, como suplente de Chiquinho do Acordeão.
  
Década de 50
Durante este período frequentou o Sinatra-Farney Fan Clube, na Tijuca, zona norte carioca, que durou apenas 17 meses, considerado por muitos estudiosos como uma escola para toda a geração que mais tarde criaria a Bossa Nova.
Em 1951, com apenas 17 anos, namorou Dolores Duran, que tinha 21. O romance gerou polémicas e preconceitos a época, por ela ser mais velha que ele. Após um tempo, João resolveu se separar dela por causa das brigas da família do casal. Assim, ele a deixou e foi morar no México.
A partir de 1953, agora como pianista, Donato passa a comandar suas próprias formações instrumentais,– Donato e seu Conjunto, Donato Trio, o grupo Os Namorados – com quem lança, em 78 RPM, versões instrumentais para standards da música americana (como "Tenderly", sucesso de Nat King Cole) e brasileira (como "Se acaso você chegasse, do sambista gaúcho Lupicinio Rodrigues).
Três anos depois, a Odeon escala um iniciante para fazer a direção musical de "Chá Dançante" (1956), primeiro LP de Donato e seu conjunto. Antônio Carlos Jobim fez a seleção musical do disco de João Donato. O repertório escolhido por Tom Jobim foi: "No rancho fundo" (Lamartine BaboAry Barroso), "Carinhoso" (PixinguinhaJoão de Barro), "Baião" (Luiz GonzagaHumberto), "Peguei um ita no norte" (Dorival Caymmi).
Em seguida, Donato passa uma temporada de dois anos em São Paulo. Quando volta ao Rio, a Bossa Nova estava no ar. Ainda em 1958, grava "Minha saudade" e "Mambinho", em parceria com João Gilberto.
A convite de Nanai (ex-integrante do grupo Os Namorados) parte para uma temporada de seis semanas no Casino Lake Tahoe (Nevada), onde Donato adaptou as influências do jazz com a música do Caribe, como integrante das orquestras de Mongo Santamaría, Johnny Martinez, Cal Tjader e Tito Puente, e ainda excursionou com João Gilberto pela Europa.
Década de 60
Em 1962 regressa ao Brasil e concebe dois clássicos da música instrumental brasileira – "Muito à vontade" (1962) e "A Bossa muito moderna de João Donato" (1963), ambos pela Polydor. As canções foram relançadas no começo dos anos 2000 em CD pela Dubas. com Donato ao piano, Milton Banana na bateria, Tião Neto no baixo e Amaury Rodrigues, na percussão.
Sobre "Muito à vontade", o jornalista Ruy Castro escreveu, por ocasião de seu relançamento em CD: "foi o seu primeiro disco ao piano e o primeiro mesmo para valer, com nove de suas composições entre as 12 faixas (...). Donato, que estava morando nos Estados Unidos durante a explosão da Bossa Nova, era uma lenda entre os músicos mais novos - para alguns, pelas histórias que ouviam, ele devia ser algo assim como o curupira ou a cobra d'água. Este disco abriu-lhes novos horizontes e devolveu Donato a um movimento que ele, sem saber, ajudara a construir". Estão lá "Muito à vontade", "Minha saudade", "Sambou, sambou", "Jodel".
"A Bossa muito moderna" introduz mais alguns temas originalmente instrumentais que, muitos anos depois, se tornariam obrigatórios em qualquer cancioneiro da MPB. Entre elas "Índio perdido", que viraria "Lugar comum", ao receber letra de Gilberto Gil. Gil também é parceiro nos versos que transformariam "Villa Grazia" em "Bananeira". Já "Silk Stop" é o tema original sobre o qual Martinho da Vila escreveria "Gaiolas Abertas". A influência da música cubana é evidente em "Bluchanga", dos tempos em que Donato tocava com Mongo Santamaría.
Donato muda-se mais uma vez para os Estados Unidos e lá permaneceria durante quase uma década. Trabalhou com Nelson Riddle, Herbie Mann, Chet Baker, Cal Tjader, Bud Shank, Armando Peraza, etc. Formou, ao lado de João Gilberto, Jobim, Moacir Santos, Eumir Deodato, Sergio Mendes e Astrud Gilberto, o grupo dos que tornaram o Brasil de facto reconhecido internacionalmente pela sua música.
"Piano of João Donato: The new sound of Brazil" (1965) e "Donato/Deodato" (1973) saíram respectivamente pela RCA e Muse Records, mas permanecem fora do catálogo no Brasil. Mas o disco que melhor representa a segunda temporada americana é "A Bad Donato" (1970), feito para o selo Blue Thumb, da California, e relançado em CD pela Dubas. Gravado em Los Angeles, "A Bad Donato" condensa funk, psicodelia, soul music, sons afro-cubanos, jazz fusion. Um Donato dançante, repleto de groove e veneno sonoro – antenadíssimo com o experimentalismo do sonho californiano - , considerado um dos 100 maiores discos da música brasileira pela Revista Rolling Stone.

Década de 70
No Natal de 1972, Donato foi ao Rio e à casa do compositor Marcos Valle, onde encontrou o cantor Agostinho dos Santos, que sugeriu a Donato dar letras a suas criações instrumentais. Sendo assim, alguns temas de Donato ganharam letras e ganharam contornos de canção popular. Valle convidou-o a gravar um novo disco no Brasil, com o reportório formado a partir deste novo cancioneiro. O episódio é contado por Donato: "Eu ia gravar instrumental dentro de alguns dias e o Agostinho dos Santos falou: ‘Vai gravar tocando piano de novo? Todo mundo já ouviu isso. Se fosse você, eu gravaria cantando". A partir deste momento Donato deixa de ser integrante exclusivo da seara instrumental e entra para a MPB. Além de Gil, Martinho e Lysias, Chico Buarque, Caetano Veloso, Cazuza, Arnaldo Antunes, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Ronaldo Bastos, Abel Silva, Geraldo Carneiro e até o poeta Haroldo de Campos e o fonoaudiólogo e escritor Pedro Bloch tornaram-se parceiros de João.
O disco "Quem é quem", lançado pela Odeon, em 1973 traz as músicas "Terremoto", "Chorou, chorou" (ambas com letra de Paulo César Pinheiro"), "Até quem sabe" (com Lysias), "Cadê Jodel?" (com Marcos Valle). Até Dorival Caymmi manda uma música inédita, "Cala a boca, Menino". Em carta enviada a João Gilberto, em 13 de setembro de 1973, Donato não esconde o entusiasmo: "É o meu melhor trabalho em discos até o momento, tendo-se em conta o tempo que demorou, o que demonstra o máximo cuidado com que tudo aconteceu. E o resultado é um disco que eu simplesmente acho adorável". Também foi considerado um dos 100 melhores discos de todos os tempos pela Revista Rolling Stone. Em 2008 "Quem é Quem" foi tema de programa inteiramente dedicado a ele, pelo Canal Brasil, apresentado por Charles Gavin; e de livro escrito pelo produtor e músico Kassim.
O álbum seguinte, "Lugar comum" (1975), pela Philips, dá sequência ao Donato vocalista, com a maior parte do repertório formado por ex-temas instrumentais. Há parcerias com Caetano Veloso ("Naturalmente"), Gutemberg Guarabyra ("Ê menina"), Rubens Confete ("Xangô é de Baê"). Só com Gilberto Gil são oito, entre elas "Tudo tem", "A bruxa de mentira", "Deixei recado", "Que besteira", "Emoriô" e pelo menos dois standards para qualquer antologia da canção popular: a faixa-título e "Bananeira".
No texto que preparou para o lançamento em CD de "Lugar comum", pela Dubas, Donato revisita um certo dia de verão nos anos 1970, na casa de Caetano. Ele se aproximara dos baianos a ponto de fazer a direção musical do show "Cantar", de Gal Costa, registado em disco no ano anterior: "Estava todo mundo: Maria Bethânia, Gal, Caetano com Dedé e Moreno (...). Eles tinham meus dois discos "Muito à vontade" e "A bossa muito moderna" e eu sempre provocava, desafiando eles a fazer as letras. Quando surgiu essa melodia, o Gil inventou que era "bananeira não sei / bananeira sei lá (...)". Daí eu disse: "quintal do seu olhar". E ele: "olhar do coração. Como se fosse um ping-pong na segunda parte".
Lembram daquela excursão que Donato fez à Europa com João Gilberto, logo depois da primeira temporada americana? Pois foi num vilarejo italiano que a bananeira foi plantada. Donato explica: "As minhas primeiras letras surgiram a partir desses temas instrumentais já gravados, que eu pensava que não iam ter letra nunca. "Bananeira" era "Villa Grazia", o nome da pousadinha onde a gente ficou em Lucca, na Itália, acompanhando o João Gilberto numa temporada (...). Noventa e nove por cento das minhas músicas instrumentais trocaram de nome, por causa da letra".
Década de 90
Depois desse período, Donato ficou quase vinte anos sem gravar. O mainstream da época parecia não absorver o que a turma pop começou a enxergar a partir dos anos 1990. A volta de João ao mundo do disco acontece em 1996 (ele lançara apenas o instrumental e ao vivo "Leilíadas", pela WEA, em 1986), com o álbum "Coisas tão simples", produzido por João Augusto, para a EMI. O disco traz "Doralinda", parceria com Cazuza, além de novas colaborações com Lysias ("Fonte da saudade"), Norman Gimbel ("Everyday"), Toshiro Ono ("Summer of tentation").
De lá para cá, Donato tem lançado seus álbuns sobretudo por três gravadoras independentes: Pela Lumiar, de Almir Chediak: "Café com pão" (com o baterista Eloir de Moraes, 1997); "Só danço samba" (1999); os três volumes da coleção Songbook (1999), além de "Remando na raia" (2001), encontro com Emilio Santiago (2003) e o reencontro com Maria Tita (2006). Na Deckdisc, faz "Ê Lalá Lay-Ê" (2001), "Managarroba" (2002) e o instrumental "O piano de João Donato", produzidos pelo roqueiro Rafael Ramos, além do disco gravado com Wanda Sá (2003).
Pela Biscoito Fino, saíram os encontros instrumentais com Paulo Moura ("Dois panos pra manga", 2006) e Bud Shank ("Uma tarde com", este também em DVD). Pela Biscoito, Donato fez ainda o DVD "Donatural" (2005), onde recebe – em gravação ao vivo no Espaço Sérgio Porto, no Rio – diversas gerações de parceiros: de Gilberto Gil ao DJ Marcelinho da Lua; de Emilio Santiago a Marcelo D2; de Leila Pinheiro a Joyce, com direito a Ângela Rô Rô e o filho Donatinho, fera nos teclados e dos samplers.
João Donato vive no bairro da Urca, no Rio. Ele é casado com a jornalista Ivone Belem, desde 2001. É pai de Jodel, Joana e Donatinho.