quinta-feira, dezembro 31, 2009

Música para preparar um ano difícil



Cantiga do Desemprego - Fausto

Fumo um cigarro deitado no mês de Janeiro.
Fecho a cortina da vida, espreguiço em Fevereiro.
E procuro trabalho nesta esperança de Março.
Já me farta tanto Abril e aquilo que não faço.
Espreito por um funil a promessa de Maio,
porque esperar o prometido, nessa já não caio.
Queimo os dias de Junho no sol quente de Julho.
Esfrego as mãos de contente num sorriso de entulho.
Para teu grande desgosto, janto contigo em silêncio
e lentamente esquecido, digo-te adeus em Agosto.
Meu Setembro perdido numa esquina que eu roço.
E penso em Outubro o menos que posso.
Mas quando sinto a verdade daquilo que cansa,
nunca houve vontade do tempo de andança.
E sinto força em Novembro, juro luta em Dezembro.
E sinto força em Novembro, juro luta em Dezembro.

Melhor música do ano, segundo A Educação do meu Umbigo

Embora com algumas dúvidas (a música que ouço muitas vezes já tem uns anitos...) aqui fica a opção de Paulo Guinote, o responsável pelo blog A Educação do meu Umbigo:

Nacional, a uma enorme distância do resto:

Pontos Negros, Conto de Fadas de Sintra a Lisboa

Internacional, num ano muito bom em que qualquer selecção é algo arbitrário. Por isso, digam que sim.

Snow Patrol, Just Say Yes

Outros balanços se farão, assim o tempo seja caridoso.

Observação do Eclipse

Post em estereofonia com o Blog AstroLeiria:


(Clicar para aumentar - fonte Espenak/NASA)

Para quem esteja em Leiria, pode vir ter connosco até à Travessa da Rua das Olhalvas, como referimos em post anterior, bastando um e-mail (fernando.oliveira.martins@gmail.com) ou telefonema (960 081 251), isto o tempo (e S. Pedro) o permitir...

Para os restantes, há a hipótese de irem olhando para o céu, a ver se vêem a Lua. Este astro nasce à hora do pôr do Sol (cerca das 17.15 horas) e o nosso satélite levanta-se do horizonte no momento em que entra na penumbra (uma sombra difusa, difícil de observar...). Às 18.52 horas a Lua entra na sombra (aquilo a que os astrónomos chamam de umbra...) e, se olharem para a parte de baixo da Lua (Polo Sul) vêem essa mesma sombra, durante uma hora e dois minutos (sai da umbra às 19.54 horas). No seu ponto máximo (19.23 horas) somente cerca de 8% da Lua estará debaixo da sombra da Terra. O final do eclipse é às 21.30 horas, mas, depois das 19.54 horas, não há nada para ver...

Recordar os Delfins

Uma banda da qualidade dos Delfins nunca acaba - fica apenas nos discos, nos filmes e no coração dos seus admiradores...


Lua azul

Post em estereofonia com o Blog AstroLeiria:

Hoje é dia de eclipse e de Lua azul! Esta última expressão refere-se ao facto de haver duas luas cheias nesse mês (pois, em Dezembro de 2009, houve Lua Cheia a 2 de Dezembro e há novamente a 31 de Dezembro...).

Recordemos este raro evento (ainda mais raro porque associado a um eclipse...) com uma curiosa música de Amália Rodrigues:


quarta-feira, dezembro 30, 2009

Más notícias musicais

Amanhã os Xutos não tocam, porque o seu líder Zé Pedro teve uma hemorragia digestiva alta... e os Delfins (do cantor Miguel Ângelo) acabam oficialmente, com um concerto, como tinha de ser, na baía de Cascais.

Assim uns estão doentes e outros vão-se embora.

Para recordar a minha banda pop portuguesa preferida, apenas um vídeo:



PS - quem está em alta é o João Cabeleira, o melhor guitarrista português e colega de banda do Zé Pedro nos Xutos, que arranjou uma esposa muito simpática e prendada, que até gosta de fazer a lide de casa descalça até ao pescoço, como dizia o Solnado.

Música que me apetece ouvir depois das negociações da Ministra da Educação

E há para a escolha...



Boa

Boa, ela era boa
Boa, como era boa

Boa doce ao amanhecer
Boa quente ao entardecer

Boa, como era boa

Boa tipo tentação
Boa tipo aceleração

Ela era boa
Como era boa

Boa é a estrada, não posso parar
Boa é a estrada, boa era ela

Boa, ela era boa
Boa, como era boa

Boa cerveja, boa companhia
Ficava lá até nascer o dia

Boa, como era boa

Boa tipo tentação
Boa tipo aceleração

Ela era boa
Como era boa

Boa é a estrada, não posso parar
Boa é a estrada, boa era ela

Boa, ela era boa
Boa, como era boa

Boa mudança, bom é o caminho
Bom é o som, é pena ir sozinho

Boa, como era boa

Boa tipo tentação
Boa tipo aceleração

Ela era boa
Como era boa

Boa é a estrada, não posso parar
Boa é a estrada



Melga

Já farto de ouvir promessas
Pensas que ainda vou nas conversas
D'alguém que p'ra mim é uma melga

Chupas o sangue ao pessoal
Para ti isso é fundamental
P'ra mim tu és mesmo uma melga

O teu destino está traçado
Vais acabar esborrachado
Como acontece a qualquer melga

Observação do Eclipse parcial da Lua de amanhã

Post conjunto com o Blog AstroLeiria:

Amanhã há um Eclipse parcial da Lua visível em Portugal a horas decentes! Se o bom tempo o permitir e houver interessados, observaremos o fenómeno na Travessa da Rua das Olhalvas, em Leiria, junto ao Café Olhalvas - ver localização no seguinte mapa interactivo:


Ver mapa maior

Para quem quer saber mais sobre o assunto, sugere-se a visita à página da NASA de Fred Espenak sobre Eclipses:

Eis ainda um texto com os principais dados científicos do eclipse, feito pelo Observatório Astronómico de Lisboa:
A noite de 31 de Dezembro oferece o último evento astronómico do ano, o eclipse parcial da Lua. Só nos resta esperar boas condições meteorológicas para poder presenciar este belo espectáculo e findar o ano em grande.

As efemérides do Eclipse parcial da Lua, em 31 de Dezembro, para Lisboa, são:

17.15 - A Lua entra na penumbra

18.52 - A Lua entra na umbra

19:23 - Meio do eclipse

19.54 - A Lua sai da umbra

21.30 - A Lua sai da penumbra

Grandeza do eclipse = 0,082 (considerando o diâmetro da Lua como unidade)

Será um eclipse "quase" penumbral, pois a Lua atravessa o cone de sombra da Terra quase tangencialmente.

Será visto na Europa, na África, na Ásia, na parte extrema da Austrália Ocidental e no oceano Índico.

Eclipse parcial da Lua é um fenómeno celeste que ocorre quando a Lua penetra, parcialmente, no cone de sombra projectado pela Terra. Isto acontece sempre que o Sol, a Terra e a Lua se encontram próximos ou em perfeito alinhamento, estando a Terra no meio destes outros dois corpos. O eclipse parcial da Lua só pode ocorrer quando coincide com a fase de Lua cheia e a passagem dela pelo seu nodo orbital.

Poema alusivo à época natalícia - X


O espírito de Natal

Ano após ano em Dezembro a
árvore artificial
deixa o encerro da cave para ser
uma luz no frio. É um pinheiro da China. Quem
se deitar a fazer contas ao ágio
dessoutro negócio
(vinte e quatro mil escudos
já lá vão nove invernos) a
coisa
está mais ou menos por
dois contos e tal
o natal. Mau grado à sua copa
(inodora e inerte) falte o
olor a caruma dos natais da minha infância
nela escuso uma floresta que ficou por abater
todo um mundo aloplástico que me
sobreviverá.



in LUZ ÚLTIMA - João Luís Barreto Guimarães, 2006

Energias renováveis ou conservação da natureza?



Gralhas e morcegos inviabilizam investimento de 100 milhões de euros
Ministério do Ambiente chumba parque eólico no PNSAC


Projecto previa a instalação de 42 aerogeradores

O Parque Eólico de S. Bento, que previa a instalação de 42 aerogeradores nos concelhos de Alcobaça, Porto de Mós e Santarém, foi chumbado pelo Ministério do Ambiente, que considera que o projecto “não é compatível com os objectivos de conservação da natureza” da zona, inserida no Parque Natural das Serras de Aires e Candeeiros (PNSAC). Cai assim por terra um investimento na ordem dos 100 milhões de euros, que o consórcio Ventivest pretendia fazer naquela área protegida.

A Declaração de Impacto Ambiental, assinada pela ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, aponta como principais impactos negativos do projecto a “destruição e perturbação” de habitats prioritários, “com especial destaque para a afectação de três algares ocupados por gralhas-de-bico-vermelho”, uma espécie considerada em perigo, e de áreas de nidificação de aves de rapina e de “grande actividade de morcegos”.

A destruição de estruturas cársicas, os impactos directos e indirectos em vários elementos patrimoniais como o Arco da Memória (monumento em vias de classificação), os aumentos dos níveis sonoros, com o “incumprimento do critério de incomodidade”, e os impactos visuais dos 42 aerogeradores na paisagem são outros dos motivos que levaram o Ministério do Ambiente a indeferir o projecto. A tutela alega ainda que a instalação do parque eólico afectaria várias espécies de plantas raras e árvores protegidas legalmente, como sobreiros e azinheiras.

Por tudo isso, o ministério entende que a construção do parque eólico “acarreta impactos negativos muito significativos sobre o território, sobre a sua integridade ecológica e patrimonial não desprezíveis nem minimizáveis”. Esse é também o entendimento das associações ambientalistas Oikos, Liga para a Protecção da Natureza e GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, que, durante o período de discussão pública, entregaram um parecer conjunto opondo-se ao projecto, por considerarem que ele põe “em risco muitos dos valores para cuja protecção foram criados o PNSAC e a Rede Natura 2000”.

António Sá da Costa, administrador da Ventinvest Eólica, diz que a empresa “foi desagradavelmente surpreendida pelo ´chumbo´ do Parque Eólico de S. Bento” e que “está ainda a analisar as consequências desta situação”.

|Reacções|

A não aprovação do parque é uma medida de bom senso, porque iria incidir numa área sensível do parque natural, com espécies protegidas e ameaçadas. Não somos [Quercus] contra os parques eólicos, mas estes não podem ser feitos em qualquer local, escolhendo as áreas mais sensíveis do ponto de vista ambiental. Os promotores têm de procurar alternativas.
Domingos Patacho, presidente da Direcção do Núcleo do Ribatejo e Estremadura da Quercus

Já pedi uma reunião com a senhora ministra do Ambiente para lhe manifestar a minha preocupação. Não concordo com a decisão nem aceito que me digam que aquela é uma zona de protecção da natureza, porque já foi toda remexida por causa das pedreiras. Por isso mesmo, será, dentro do PNSAC, a zona onde um parque eólico produz menos impactos.
João Salgueiro, presidente da Câmara de Porto de Mós

in Jornal de Leiria - edição de 24.12.2009 (textos: Maria Anabela Silva)

terça-feira, dezembro 29, 2009

Um triste dia


Hoje, a República Popular da China, numa infeliz decisão, executou um cidadão do Reino Unido, um simples doente mental, acusado de tráfico de heroína...

E, em breve, haverá um luso-macaense a enfrentar a mesma pena...


Alguém que diga à China que estamos no século XXI.


A nossa homenagem ao ex-ministro Pinho

Face ao exposto no post anterior, queríamos dedicar o seguinte poema (uma Cantiga de Amigo, em galaico-português, de Martim Codax) ao Grande Manuel Pinho:

Ondas do mar de Vigo

Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo!

Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus, se verrá cedo!

Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
E ai Deus, se verrá cedo!

Se vistes meu amado,
por que hei gran cuidado!
E ai Deus, se verrá cedo!

Propaganda Socrática

Aqui no Blog somos favoráveis à pesquisa e utilização de Energias Alternativas - mas não podemos deixar de passar em branco mais esta faena do tauromáquico ex-ministro Pinho, o especialista-mor em gaffes e propaganda:



(Via Blasfémias)

Nesta reportagem da SIC podemos observar a propaganda socrática no estado puro. Reparem bem nas palavras do ridículo Manuel Pinho: "quando daqui a 15 anos muitos países produzirem electricidade a partir da energia das ondas, todos se vão lembrar que tudo começou aqui e hoje".

Passados três meses dessa bonita cerimónia, e com um apoio a fundo perdido de 1 milhão e 250 mil euros por parte do Estado português, as máquinas avariaram e o projecto terminou. O dinheiro dos contribuintes que se lixe, desde que vá dando para estas operações de propaganda, repetidamente engendradas pelo governo socialista.

Post de Nuno Gouveia - Blog 31 da Armada

Canção de Natal - IV


Geologia no YouTube

Numa altura em que estou a trabalhar na organização de uma viagem de alunos e professores de uma Escola de Pombal aos Açores, mais exactamente a S. Miguel, encontrei está pequena pérola no YouTube que quero partilhar com os nossos amigos e leitores:


Poema de Torga para alguém muito especial...

ANIVERSÁRIO

Mãe:
Que visita tão pura me fizeste
Neste dia!
Era a tua memória que sorria
Sobre o meu berço.
Nu e pequeno como me deixaste,
Ia chorar de medo e de abandono.
Então vieste, e outra vez cantaste,
Até que veio o sono.

in Diário IV, Miguel Torga

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Canção de Natal - III


domingo, dezembro 27, 2009

Olhó Magalhães fresquinho!

O Vendedor de Magalães
5 euros é quanto vale um computador Magalhães no mercado paralelo

Há computadores Magalhães a ser vendidos por esse preço na Ilha de São Miguel, Açores, por crianças, ou em troca de brinquedos.



As crianças que os receberam nas suas escolas, muitas delas oriundas de bairros carenciados, fazem negócio, trocando o computador por dinheiro ou por brinquedos.

A troca pode ser efectuada por uma bicicleta ou por um carro-de-esferas - disseram algumas crianças à Antena 1 / Açores.

Quanto ao dinheiro, a venda pode ser concretizada entre os 5 e os 30 euros, porque, disse uma criança " é para a Mãe fazer a sua vida, para comer ou até mesmo para brincar.

O Governo pagou por cada computador um preço que ronda os 200 euros, com vista a implementar o uso da informática no ensino, distribuindo essa nova ferramenta de estudo e de trabalho pelas escolas do País e das Regiões Autónomas.

Solicitada a pronunciar-se sobre esta questão, a secretária regional da Educação, Maria Lina Mendes disse à Antena 1 / Açores "que, a partir do momento em que os pais pagam o computador, essa responsabilidade passa a ser deles e não da tutela".

Canção de Natal - II


sábado, dezembro 26, 2009

O Sismo de Natal de Sumatra foi há 5 anos


(Fonte - NEIC)


Faz hoje 5 anos que ocorreu o último grande sismo, com uma magnitude superior a 9,0 (mais exactamente 9,1, segundo os últimos dados, na escala de Richter). Passou a ser conhecido como sismo de Natal pelo facto de ter ocorrido no dia a seguir a esta festividade cristã, quando ainda era Natal nalgumas partes da terra, e matou mais de 225.000 pessoas, directamente ou por causa do tsunami que causou...


Poema alusivo à época natalícia - IX


História Antiga


Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.


Miguel Torga, Antologia Poética, Coimbra, Ed. do Autor, 1981

A música do meu filho

E agora algo um pouco diferente: o Coro Infantil do Jardim Escola João de Deus de Leiria, numa apresentação pública em 20 de Dezembro de 2009, cantando o hino da Escola onde o meu filho e aluno e membro deste fantástico coro:


sexta-feira, dezembro 25, 2009

O filme de Natal do Blog Geopedrados

E agora o nosso filme de Natal, feito por mim e pelo meu filhote, recorrendo a imagens livres da net e a uma música da minha infância (sim, sou francófilo....):


Os Magalhães desmascarados


Visão, 23 de Dezembro de 2009

Um esclarecimento cabal sobre o processo financeiro através do qual o Magalhães se tornou uma arma de propaganda ao serviço do Governo mais do que uma ferramenta pedagógica.

Conhecido o financiamento através das verbas da Acção Social Escolar percebem-se duas coisas: os investimento não foi feito por verbas específicas para o efeito, mas sim cortando nos outros apoios aos alunos carenciados, pelo que o anúncio do reforço de verbas na ASE para os últimos anos apenas servia para encobrir o financiamento da JP Sá Couto, desculpem, da aquisição e distribuição dos Magalhães.

Claro que numa perspectiva isaltina ou valentina, ou mesmo avelino ou felgueirista da coisa, os fins justificam os meios. Só que neste caso os fiuns foram a propaganda eleitoralista do PS e os meios foram o dinheiro para o apoio aos alunos carenciados que, por causa disso, ficaram muitas vezes sujeitos a escrutínios às finanças familiares (sendo mais prejudicados aqueles que menos sabem como fazer cosmética com as finanças) e a atrasos imensos na distribuição de materiais de trabalho diários, como os manuais escolares.


in A Educação do meu Umbigo - post de Paulo Guinote

O meu Natal de antigamente

Um poema "temperado com música" enviado por quem tem a mestria de combinar as duas artes. Obrigada Paulo Rato.

O poema: O meu Natal de Antigamente, de Teresa Rita Lopes


O MEU NATAL DE ANTIGAMENTE

Quando era menina
não havia Pai Natal nem Árvore de Natal.
Armava-se o presépio com chão de musgo
rochas de cortiça virgem ervas a valer
pedrinhas de verdade
e searinhas que se semeavam em pires e latas vazias
no dia 8 de Dezembro
e eram o pequeno milagre o primeiro
a despontar dos grãos de trigo e a crescer todos os dias.
As criaturas do presépio eram de compra
mas também moldei algumas em barro fresco.
Uma vez uma das minhas tias fez casas e igrejinhas de papel
e acendemos velas lá dentro.
Foi um deslumbramento a luz a sair pelas janelinhas!
Mas ardeu tudo de repente.
Desde então só a lamparina de azeite continuou a alumiar
esse parco mundo pobre.

No meu Natal de antigamente havia menos presentes.
Os meninos não exigiam esses brinquedos extrabíblicos:
computadores, jogos de computadores, cêdêroms, sei lá.
Nem o Menino Jesus podia com tanto peso!
Sim, porque no meu Natal de antigamente era o Menino Jesus
quem dava as prendas.
Púnhamos, na véspera, o sapatinho na chaminé
mas tínhamos que ir para a cama esperar pela manhã
porque Ele só descia pela calada da noite
se ninguém estivesse à espreita
(hoje o Pai Natal não tem esses pudores).
Eu imaginava-O a saltar das palhinhas
nuzinho em pêlo
e a Nossa Senhora a agasalhá-Lo logo com a sua capa.
E lá ia Ele
Como um menino pobre enrolado no casaco do pai
a contentar todas as crianças do mundo.
O Pai Natal, esse, foi encarregado (não sei por quem)
de dar presentes a pequenos e grandes.
Com o Menino Jesus tudo ficava entre meninos.
e se a prenda não agradava
a gente fazia-lhe uma careta
e até, à socapa, chamava-lhe um nome feio.

O Pai Natal é um palhaço cheio de postiços:
barba bigode cabeleira
até a barriga é uma almofadinha.
E vai à televisão convencer-nos a comprar coisas.
Agora o Natal antecipa o Carnaval.
O Menino Jesus, esse não! nunca ia à televisão
(que para dizer a verdade não existia ainda.)

Mas que menino de hoje trocaria o seu Pai Natal
(gerente de um supermercado de prendas)
pelo meu Menino Jesus
a tiritar nas palhas?

Teresa Rita Lopes



A música: Um pastor vindo de longe, de Fernando Valente, sobre uma melodia tradicional portuguesa, numa interpretação de: Sílvia Correia Mateus, soprano; Coro da Sé Catedral do Porto; Octeto de Flautas de Bisel; Orquestra Sinfónica da Póvoa De Varzim; direcção de Osvaldo Ferreira.


Quando as empresas dos aeroportos fazem isto...





Ontem, a TAP Portugal e a ANA desejaram as Boas Festas aos passageiros no Aeroporto de Lisboa de uma forma muito original.

Eu assustava-me. Pensava que era ameaça de bomba!


Post roubado ao Blog 31 da Armada

E agora um filme com anjas...

Com frio que está, fica sempre bem na nesta quadra um pequeno filme para aquecer a a alma dos nossos leitores:


Natal dos Simples




Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras

Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura

O nosso Poema de Natal

Como sempre, a minha Mãe e o meu Pai mandam as Boas Festas aos amigos em carta, sempre com poema inédito e que o nosso Blog gosta de partilhar com os seus leitores. Este ano, para celebrar a chegada de uma Senhora dos Caminhos que se veio abeirar de uma Avenida nova da minha terra, aqui fica o nosso poema de Natal...

Nossa Senhora dos Caminhos

Tenho que confessar o meu pecado:
- Roubei a mãe ao Menino Jesus!...
(Ele já nem pequenino é,
e fica muito bem com S. José.)

....Fugi com Ela debaixo do braço
....e, a arfar de cansaço,
....pu-lA num pedestal de granito
...........bem bonito,
....à beira da avenida,
....presa com pedra e cal,
....p'ra ninguém ma roubar...

...Mas {há sempre um mas...}
o Natal aproximou-se,
o Menino volta ser pequenino
......e faz beicinho,
a chamar pela Mãe,
e a dizer que não tem ninguém...

....S. José bem O consola:
....- Deixa lá, meu Amor...
....porém Ele
....chora...chora...chora...

Então Deus-Pai,
que tudo vê
e tudo pode,
prestes acode
e desce, na Sua Majestade!

....- Ouve, Meu Filho,
....não chores mais.
....Ora vê: aqui tens A do Céu,
....a verdadeira,
....a Tua Mãe,
....a de Belém.

O Menino já não chora...
......ri...ri...ri...
numa gargalhada feliz e doirada,
e dorme descansadinho,
abraçado a Ela,
uma soneca abençoada!

....{Se Deus Pai
....não viesse do Céu,
....que remédio tinha eu
....se não dar-Lhe a minha,
....a tal que eu furtei.}

... E foi assim que eu levantei do chão
mais um sonho de menina;
e ganhei
a minha Nossa Senhora dos Caminhos.

........E é Ela
........que, neste Natal,
........vem comigo,
........num abraço sentido,
........trazer-vos muito Amor
........e Carinho

.....................da
........................MariAlice
.....................e do
........................Agostinho

~ Natal de 2009 ~

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Canção de Natal

Recordar a Amália é sempre bom - festas felizes a todos!


Poema alusivo à época natalícia - VIII


A NOITE DE NATAL

Em a noite de Natal
Alegram-se os pequenitos;
Pois sabem que o bom Jesus
Costuma dar-lhes bonitos.

Vão se deitar os lindinhos
Mas nem dormem de contentes
E somente às dez horas
Adormecem inocentes.

Perguntam logo à criada
Quando acorde de manhã
Se Jesus lhes não deu nada.

– Deu-lhes sim, muitos bonitos.
– Queremo-nos já levantar
Respondem os pequenitos.


Mário de Sá Carneiro

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Poema alusivo à época natalícia - VII


OS PASTORES

Guardavam certos pastores
seus rebanhos, ao relento,
sobre os céus consoladores
pondo a vista e o pensamento.

Quando viram que descia,
cheio de glória fulgente,
um anjo do céu do Oriente,
que era mais claro que o dia.

Jamais os cegara assim
luz do meio-dia ou manhã.
Dir-se-ia o audaz Serafim,
que um dia venceu Satã.

Cheios de assombro e terror,
rolaram na erva rasteira.
– Mas ele, com voz fagueira,
lhes diz, com suave amor:

«Erguei-vos, simples, daí,
humildes peitos da aldeia!
Nasceu o vosso Rabi,
que é Cristo – na Galileia!

Num berço, o filho real,
não o vereis reclinado.
Vê-lo-eis pobre e enfaixado,
sobre as palhas de um curral!

Segui dos astros a esteira.
Levai pombas, ramos, palmas,
ao que traz uma joeira
das estrelas e das almas!»

Foi-se o anjo: e nas neblinas,
então celestes legiões
soltam místicas canções,
sobre violas divinas.

Erguem-se, enfim, os pastores
e vão caminhos dalém,
com palmas, rolas, e flores,
cordeiros, até Belém.

E exclamavam indo a andar:
– «Vamos ver o vinhateiro!
Ver o que sabe lavrar
nas nuvens, ver o Ceifeiro!

Vamos beijar os pés nus
do que semeia nos céus.
Ver esse pastor que é Deus
– e traz cajado de luz!»

Chegando ao presépio, enfim,
caem, de rojo, os pastores,
vendo o herdeiro d’Eloim
que veste os lírios e as flores.

Dão-lhe pombas gloriosas,
meigos, tenros animais.
– Mas, vendo coisas radiosas,
casos vindouros, fatais…

Abria o deus das crianças
uns olhos profundos, graves,
no meio das pombas mansas
– nas palpitações das aves.


Gomes Leal

Filme apropriado à época natalícia - XVII



Outra versão, muito bem ilustrada:


terça-feira, dezembro 22, 2009

Hoje é dia de recordar José Régio

A aldrabice chamada Magalhães


Do Blog De Rerum Natura publicamos o seguinte post, de autoria do Professor Doutor Carlos Fiolhais, iminente físico da Universidade de Coimbra e um dos melhores divulgadores científicos nacionais da actualidade:

VACUIDADES SOBRE O MAGALHÃES

Há cerca de um ano e porque me foi perguntado respondi, num encontro de inspectores de ensino, que o computador Magalhães não passava de uma manobra de propaganda e de um grande negócio. Todas as revelações feitas nos últimos tempos sobre o negócio têm-me, infelizmente, dado razão.

O ex-ministro Mário Lino, no programa "Quadratura do Círculo" da SIC bem tentou fazer a indefensável defesa do Magalhães para consumo interno, mas agora é a União Europeia que está a esmiuçar o caso por terem sido violadas normas comunitárias.

Foi, por isso, com natural curiosidade que, alertado pelo título "O Magalhães não é apenas um concurso", comecei a ler um artigo de Francisco Jaime Quesado, Gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento, publicado no jornal "Público" de 19-12-2009. A minha desilusão foi enorme. O artigo era um emaranhado de lugares comuns, disfarçados em "economês" que, tal como o "eduquês", é declarado inimigo do pensamento claro.

Diz o articulista: "O Magalhães constituiu um passo marcante na afirmação por parte do Governo português de uma aposta estratégica na Educação como o grande driver de mudança colectiva da sociedade e recentragem no valor e competitividade como factores de distinção na economia global. Não tenhamos dúvidas." Eu, se me é permitido, tenho sérias dúvidas; lamento, mas não me convencem nem o "driver" nem a "recentragem"...

E continua: "Na "escola nova" de que o país precisa, [a Educação] tem que se ser capaz de dotar as "novas gerações" com os instrumentos de qualificação estratégica do futuro. Aliar ao domínio por excelência da tecnologia e das línguas a capacidade de, com criatividade e qualificação, conseguir continuar a manter uma "linha comportamental de justiça social e ética moral", como bem expressou recentemente Ralph Darhendorf em Oxford." Ainda se me é permitido, esta ideia da "escola nova" é muito velha e a "qualificação estratégica" é uma expressão não só gasta como vazia. E "conseguir continuar a manter" não passa de um comboio de verbos que, apesar da citação erudita, não leva a frase a estação nenhuma.

O autor, em vez de clarificar, consegue ser ainda mais confuso quando acrescenta: "Na economia global das nações, os "actores do conhecimento" têm que internalizar e desenvolver de forma efectiva práticas de articulação operativa permanente, sob pena de verem desagregada qualquer possibilidade concreta e efectiva de inserção nas redes onde se desenrolam os projectos de cariz estratégico estruturante." Registo a duplicação do "efectiva". E a insistência no "estratégico". Mas pergunto: que dicionário será preciso para perceber a frase toda?

Conclui o autor: "Por isso, a oportunidade e a importância do Magalhães. Que, para além dos efeitos ao nível da revolução na utilização das TIC como um instrumento de qualificação pedagógica, teve também o mérito de elevar na escala produtiva empresas portuguesas do sector, aumentando as exportações, consolidando dinâmicas de inovação e reforçando o emprego". Quanto à dita "qualificação pedagógica" nada está provado, pois nada foi até agora adiantado em seu abono. O que parece, outrossim, estar a ser provado é o favorecimento escandaloso de uma certa empresa com prejuízo da concorrência e, pior, dos dinheiros públicos e de todos nós.

Após uma defesa tão confusa do Magalhães, em nome de uma entusiástica fé em "amanhãs que cantam" graças a "novas tecnologias" que tornarão excelente o nosso depauperado ensino, continuo à espera de argumentos pedagógico-científicos que sustentem a distribuição a esmo e a pataco de computadores pelos infantes do 1.º ciclo, em detrimento de outros projectos como, por exemplo, o ensino experimental das ciências no ensino básico. Fala-se muito em avaliação. Não haverá ninguém que avalie a sério o Magalhães?

PS) "Darhendorf" deve ser "Dahrendorf" se é quem eu estou a pensar, mas esse erro é o menos...

José Régio partiu há 40 anos


Testamento do Poeta

Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
Não sou dos que se aceita... a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.

O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!

E o mesmo digo a tudo e a todos, - hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu próprio Deus nego, e o ar me foge.

Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!....
Basta-me o gesto de contar um verso.

José Régio

Poema alusivo à época natalícia - VI

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Leonardo Da Vinci, A Anunciação, circa 1474


LITANIA DO NATAL

A noite fora longa, escura, fria.
Ai noites de Natal que dáveis luz,
Que sombra dessa luz nos alumia?
Vim a mim dum mau sono, e disse: «Meu Jesus…»
Sem bem saber, sequer, porque o dizia.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

Na cama em que jazia,
De joelhos me pus
E as mãos erguia.
Comigo repetia: «Meu Jesus…»
Que então me recordei do santo dia.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

Ai dias de Natal a transbordar de luz,
Onde a vossa alegria?
Todo o dia eu gemia: «Meu Jesus…»
E a tarde descaiu, lenta e sombria.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

De novo a noite, longa, escura, fria,
Sobre a terra caiu, como um capuz
Que a engolia.
Deitando-me de novo, eu disse: «Meu Jesus…»

E assim, mais uma vez, Jesus nascia.

José Régio

Filme apropriado à época natalícia - XVI


segunda-feira, dezembro 21, 2009

Solstício - começa hoje o Inverno


Uma estranha estrutura geológica açoriana

Robô submarino Luso mergulha na zona em 2010
"Ovo estrelado" a sul dos Açores pode ser a cratera de um meteorito

A estrutura geológica (à esquerda) tem dois quilómetros de mar por cima

Parece mesmo um ovo estrelado, com as formas da gema no meio e da clara à volta, pelo que quem a viu pela primeira vez lembrou-se logo de lhe dar esse nome. Só que este é um "ovo estrelado" geológico, uma estrutura bem grande, estampada no fundo do mar, 150 quilómetros a sul dos Açores, que está a causar perplexidade entre os cientistas portugueses - e não só, pois acaba de ser apresentada na reunião anual da União Geofísica Americana, em São Francisco.

A história desta descoberta leva-nos a um cruzeiro científico, no ano passado, realizado pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC). Nos trabalhos para reivindicar que a plataforma continental portuguesa se estende para lá das 200 milhas náuticas, dando direito ao país de explorar os recursos no solo e subsolo marinhos, uma das coisas que este grupo técnico-científico fez foram levantamentos da morfologia do fundo do mar (através de uma sonda com múltiplos feixes sonoros).

Com esses dados, construíram-se depois mapas de grande resolução do relevo marinho. Mas só em meados deste ano, depois de Portugal ter entregado em Maio a sua proposta de extensão da plataforma nas Nações Unidas, é que os investigadores da EMEPC foram olhar com outros fins científicos para os dados que recolheram nas campanhas oceanográficas. Foi então que se depararam com o "ovo estrelado", dois quilómetros abaixo da superfície do mar.

As imagens revelavam uma estrutura relativamente circular com seis quilómetros de diâmetro e, no centro, surgia uma elevação, como se fosse a gema, com três quilómetros de diâmetro. A parte da "clara" deste ovo geológico encontra-se 110 metros abaixo do fundo do mar circundante. Já da base da clara até ao topo da gema são cerca de 300 metros.

A hipótese do meteorito...

No início de Outubro último, a equipa da EMEPC regressou ao local para confirmar a descoberta e, se as condições do mar deixassem, mergulhar no local com o robô submarino português, o Luso. O mar não deixou, pelo que o mergulho com este veículo tripulado à distância, a partir do navio, ficou adiado até 2010. Nessa altura, ideia é que o robô traga do "ovo estrelado" pedaços de rochas e amostras de sedimentos, para que possam desvendar-se todos os seus mistérios. E eles são muitos, a começar pela origem.

Existem três possibilidades para a sua formação, diz o engenheiro hidrógrafo e oceanógrafo físico Manuel Pinto de Abreu, o responsável pela EMEPC, que se encontra em São Francisco. Ou é uma cratera formada pelo impacto de um meteorito. Ou um vulcão de lama, formações que, em vez de lava, expelem sedimentos finos carregados de metano, como as que existem no golfo de Cádis. "Ou é uma coisa completamente diferente", resume Pinto de Abreu.

Em relação à hipótese do meteorito, a estrutura apresenta algumas características que se coadunam com a colisão de um corpo cósmico com a Terra: por exemplo, é comum a existência de um empolamento no centro das crateras de impacto. A confirmar-se mesmo como cratera - por exemplo, através da presença de vidros devido a um violento impacto na crosta terrestre -, não deverá ter mais de 17 milhões de anos, uma vez que essa é a idade atribuída ao fundo do mar naquela zona. A camada de sedimentos em cima do cume poderá também dar uma ideia de há quanto tempo ocorreu o impacto.

Encontrar vestígios, em sedimentos na costa, de um tsunami que a queda de um objecto destes no mar teria de causar é outra forma de ajudar a deslindar o mistério.

Para já, a equipa portuguesa está a fazer simulações matemáticas para testar a ideia do impacto. Que tamanho teria de ter o meteorito para causar a cratera e o empolamento central é uma das questões para que procuram resposta.

... e a do vulcão de lama

No entanto, não só as dimensões da gema geológica são muito grandes, como ela tem uma forma muito suave para ter resultado da colisão de um meteorito, por isso há quem não se incline para esta possibilidade e fale de um vulcão de lama.

O problema é que os vulcões de lama encontrados até agora não se formaram em regiões com o contexto geológico em que se localiza o"ovo estrelado". Primeiro, explica Pinto de Abreu, porque a camada de sedimentos dessa área é pouco espessa para fazer a retenção dos fluidos vindos do interior da Terra, como é o caso do gás metano dos vulcões de lama. Segundo, porque naquela região não se conhece a existência de compressão entre placas tectónicas. No golfo de Cádis, é precisamente essa compressão (entre a placa africana com a euroasiática) que força o metano em profundidade a ser expelido para a superfície.

Os vulcões de lama têm despertado muito interesse, pois, por causa do metano, são vistos como uma possível fonte energética alternativa. Se for um vulcão de lama, então o "ovo estrelado" representará uma nova classe destas formações geológicas.

Para adensar mais o enigma, descobriu-se uma outra estrutura geológica, semelhante mas mais pequena, a uns três ou quatro quilómetros de distância: esse ovinho geológico é a elevação que, na imagem aqui publicada, se encontra do lado direito.

A apresentação da descoberta, num poster na maior reunião mundial de investigadores das ciências da Terra, abriu o debate à comunidade científica internacional. Os cientistas portugueses puderam trocar impressões com colegas estrangeiros, e as opiniões dividiram-se entre a cratera de impacto e o vulcão de lama. "Não há nada semelhante conhecido", sublinha Pinto de Abreu.

Notícia sobre filmagem de erupção subaquática

Erupção de vulcão submarino é capturada por submarino-robô

A erupção foi uma das mais profundas já filmadas

Um vídeo filmado por um submarino-robô no fundo do Oceano Pacífico mostra a mais profunda erupção de um vulcão submarino já registada.

As imagens mostram lava explodindo na água no vulcão submarino de West Mata, que fica a uma profundidade de cerca 1.200 metros, localizado cerca de 200 quilómetros ao sudoeste do arquipélago de Samoa.

O robô submarino Jason desceu 1.100 metros para conseguir filmar o vídeo de alta definição.

O submarino ainda encontrou micróbios e uma espécie de camarão vivendo nas águas quentes e ácidas em torno do vulcão.

“É um ambiente extraordinário”, disse Joseph Resing, um oceanógrafo químico da Universidade de Washington e do Joint Institute for the Study of the Atmosphere and Ocean em Seattle, nos Estados Unidos.

“Você tem lava derretendo a 1.400º C produzindo fluidos acetosos – o dióxido de enxofre deixa esses fluidos com o ph1.4, extremamente ácido, e ainda assim os micróbios e camarões estão florescendo”, disse ele à BBC.

“Os gases magmáticos sustentam e fornecem energia para a vida microbial, e os micróbios fornecem energia para os camarões.”

“A gente vê os animais muito perto do vulcão – a metros.”

Placas tectónicas

Camarões dependem das bactérias que vivem na boca do vulcão

Resing descreveu o comportamento do vulcão na Reunião de Outono da União Geofísica Americana em San Francisco, Estados Unidos, a maior reunião anual de cientistas especializados em geofísica.

O vulcão submarino de West Mata fica localizado bem perto da fossa de Tonga-Kermadec, com 10 mil metros de profundidade. O local é onde a placa tectónica do Pacífico – que inclui a maior parte do solo central deste oceano – entra por baixo da placa tectónica australiana.

É um local chave para a reciclagem de rochas de volta para o centro da Terra e é onde o material derretido pode forçar seu caminho de volta à superfície.

A possível existência da erupção foi identificada pela primeira vez em Novembro de 2008 através de amostras de água colectadas no oceano, que continham níveis anormais de hidrogénio e detritos vulcânicos.

Mas os cientistas só tiveram a noção real da descoberta quando o submarino Jason foi enviado para investigar West Mata.

Jason, que é operado pela Woods Hole Oceonagraphic Institution (WHOI), chegou a três metros de distância do vulcão em erupção.

A câmara de alta definição do submarino capturou bolhas de lava derretida a um metro de distância estourando na água do mar e filmou o vulcão ejectando lava para o mar.

Acredita-se que tenha sido a primeira vez que se observou de tão perto um vulcão expelindo lava no fundo do oceano.

Poema alusivo à época natalícia - V


NATAL

Se considero o triste abatimento
Em que me faz jazer minha desgraça,
A desesperação me despedaça,
No mesmo instante, o frágil sofrimento.

Mas súbito me diz o pensamento,
Para aplacar-me a dor que me traspassa,
Que Este que trouxe ao mundo a Lei da Graça,
Teve num vil presepe o nascimento.

Vejo na palha o Redentor chorando,
Ao lado a Mãe, prostrados os pastores,
A milagrosa estrela os reis guiando.

Vejo-O morrer depois, ó pecadores,
Por nós, e fecho os olhos, adorando
Os castigos do Céu como favores.

Manuel Maria Barbosa du Bocage

Filme apropriado à época natalícia - XV


domingo, dezembro 20, 2009

Música de Natal para o novo tipo de famílias que José Sócrates quer consagrar



Sugestões de Prendas de Natal - VII

Vamos desistir de sugerir prendas de Natal depois desta notícia:


E Deus nos ajude...

Poema alusivo à época natalícia - IV


HINO DE AMOR

Andava um dia
Em pequenino
Nos arredores
De Nazaré,
Em companhia
De São José,
O bom Jesus,
O Deus Menino.

Eis senão quando
Vê num silvado
Andar piando
Arrepiado
E esvoaçando
Um rouxinol,
Que uma serpente
De olhar de luz
Resplandecente
Como a do Sol,
E penetrante
Como diamante,
Tinha atraído,
Tinha encantado.
Jesus, doído
Do desgraçado
Do passarinho,
Sai do caminho,
Corre apressado,
Quebra o encanto,
Foge a serpente,
E de repente
O pobrezinho,
Salvo e contente,
Rompe num canto
Tão requebrado,
Ou antes pranto
Tão soluçado,
Tão repassado
De gratidão,
De uma alegria,
Uma expansão,
Uma veemência,
Uma expressão,
Uma cadência,
Que comovia
O coração!
Jesus caminha
No seu passeio,
E a avezinha
Continuando
No seu gorjeio
Enquanto o via;
De vez em quando
Lá lhe passava
A dianteira
E mal poisava,
Não afroixava
Nem repetia,
Que redobrava
De melodia!

Assim foi indo
E foi seguindo.
De tal maneira,
Que noite e dia
Numa palmeira,
Que havia perto
Donde morava
Nosso Senhor
Em pequenino
(Era já certo)
Ela lá estava
A pobre ave
Cantando o hino
Terno e suave
Do seu amor
Ao Salvador!


João de Deus

Filme apropriado à época natalícia - XIV




NOTA: para os puristas, a versão original, de John Lennon:


sábado, dezembro 19, 2009

Poema alusivo à época natalícia - III


A abstracção não precisa de mãe nem pai


A abstracção não precisa de mãe nem pai
nem tão pouco de tão tolo infante

mas o natal de minha mãe é ainda o meu natal
com restos de Beira Alta

ano após ano via surgir figura nova nesse
presépio de vaca burro banda de música

ribeiro com patos farrapos de algodão muito
musgo percorrido por ovelhas e pastores

multidão de gente judaizante estremenha pela
mão de meu pai descendo de montes contando

moedas azenhas movendo água levada pela estrela
de Belém

um galo bate as asas um frade está de acordo
com a nossa circuncisão galinhas debicam milho

de mistura com um porco a que minha avó juntava
sempre um gato para dar sorte era preto

assim íamos todos naquela figuração animada
até ao dia de Reis aí estão

um de joelhos outro em pé
e o rei preto vinha sentado no

camelo. Era o mais bonito.

depois eram filhoses o acordar de prenda no
sapato tudo tão real como o abrir das lojas no dia de feira

e eu ia ao Sanguinhal visitar a minha prima que
tinha um cavalo debaixo do quarto

subindo de vales descendo de montes
acompanhando a banda do carvalhal com ferrinhos

e roucas trompas o meu Natal é ainda o Natal de
minha mãe com uns restos de canela e Beira Alta.


in Actus Tragicus - João Miguel Fernandes Jorge

Vitorino Nemésio nasceu há 108 anos

Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva (Praia da Vitória, 19 de Dezembro de 1901Lisboa, 20 de Fevereiro de 1978) foi um poeta, escritor e intelectual de origem açoriana que se destacou como romancista, autor de Mau Tempo no Canal, e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.




Uma Poesia sua para celebrar a data:

Quando Toda és Terra a Terra

Marga, teu busto tufa,
Dois gomos e véus de ilhal
Palpitam palmo de gente
Nesse tefe-tefe igual
E há qualquer coisa de ardente
Que se endireita e que rufa
Nem tambor a general.

Marga, teu peitinho estringes,
Toca a quebrados na praça
De armas que empunham rapazes
De guarda a uma egípcia esfinge,
E um vento de guerra passa
E o pau da bandeira ringe
Antes de fazer as pazes.

Marga, que deusa de guerra,
A Miosótis se interpôs
Quando toda és terra a terra
Cálice de rododendro
Zango nunca em ti se pôs
Em estames senão tremendo...

Vitorino Nemésio, in "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga"

O pintor José Dias Coelho morreu há 48 anos

A 19 de Dezembro de 1961 a PIDE assassinou a tiro, em pleno dia, numa rua de Lisboa, o pintor José Dias Coelho. Depois o nosso Zeca Afonso quis recordar este senhor, numa belíssima canção que em seguida iremos recordar e que admiravelmente a Censura deixou passar...


A Morte saiu à Rua

Naquele lugar sem nome p'ra qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai

O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu

Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou

Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação.

Zeca Afonso (Letra e Música), Eu Vou Ser Como a Toupeira, 1972

Filme apropriado à época natalícia - XIII