Quando iniciou o Reinado, estava-se em plena
Guerra da Sucessão de Espanha, que para
Portugal significava o perigo da ligação da Espanha à grande potência continental, a
França. Quando o Rei subiu ao trono o exército português estava na
Catalunha, comandado pelo
Marquês das Minas, apoiado por tropas inglesas e holandesas para dar batalha às tropas do
duque de Berwick. Mas os franco-espanhóis obtiveram uma grande vitória em
Almansa, em
24 de abril de
1707.
Alcântara foi reconquistada, o Duque de Ossuna atacou a fronteira do
Alentejo, conquistou Serpa e Moura. O perigo espreitava o alto Minho e o
tesouro público ficou exausto, diz Veríssimo Serrão, página 238 «
História de Portugal 1640-1750»,
volume V. A política régia tornou-se apenas defensiva, recuperando as
praças ocupadas e devolvendo à Espanha Alcântara e Valença. «A ânsia de
paz era grande nos dois reinos» e havia dissensões de alto nível entre
os comandantes, o
marquês de Fronteira, general do Alentejo, e o inglês
Galloway. Mas como
Luís XIV de França
se recusava a assinar a paz em desfavor do neto, a guerra permanecia
ateada em Flandres e na Catalunha até que a França propôs um novo
encontro para acabar com o conflito.
A subida ao trono austríaco do antigo pretendente ao Trono Espanhol como Imperador
Carlos VI da Germânia, ao morrer seu irmão o Imperador
José I em
17 de abril de
1711, facilitou a paz assinada em Utreque, em
1714. Desequilibrou-se o sistema de alianças, pois à
Inglaterra
não convinha que seu aliado tivesse um duplo trono. Os ingleses
preferiram aceitar o predomínio dos Bourbons no trono espanhol ao dos
Habsburgos.
Na cidade flamenga de Utreque ou
Utrecht, juntaram-se os ministros dos dois blocos. Portugal assinou um tratado com a
França em
11 de abril de
1713 e com a Espanha a
6 de fevereiro de
1715. Comentam cronistas lusos que «Portugal não retirou da paz as merecidas compensações». O
Conde de Tarouca
escreveu mesmo que «a Inglaterra só cuida da sua paz, sem consideração
alguma aos interesses dos mais aliados.» Portugal restituiu Puebla e
Albuquerque à Espanha, viu reconhecida sua soberania sobre as terras
amazónicas e a restituição da colónia do Sacramento.
Aprendeu
D. João V
com a guerra a não dar um apreço muito grande às questões europeias e à
sinceridade dos acordos; daí em diante permaneceu fiel a seus
interesses atlânticos, comerciais e políticos, reafirmando a aliança com
a
Inglaterra. Em relação ao
Brasil, que foi sem dúvida a sua principal preocupação, não pode impedir
D. João V
o enorme afluxo de emigrantes, pois se havia descoberto ouro nas Minas.
Ampliou os quadros administrativos, militares e técnicos, tudo com
vistas a evitar o descaminho dos quintos, o imposto sobre o ouro,
reformou os impostos e ampliou a cultura do açúcar. Pode escrever-lhe o
Duque de Cadaval, quando procurou - e conseguiu - impedir a projetada viagem do
Monarca
pelo continente, com medo de uma sublevação no Brasil: «...pois do
Brazil depende hoje absolutamente muita parte da conservação de
Portugal.» (Veríssimo Serrão, «
História de Portugal», volume V,
página 247. Apesar disso, Portugal entra numa fase de dificuldades
económicas, devidas ao contrabando do ouro e às dificuldades do Império
do Oriente.
A este estado de coisas procurou o Rei responder com o fomento
industrial, mas outros problemas surgiram, de carácter social:
insubordinação de
nobres, quebras de disciplina conventual, conflitos de trabalho, intensificação do ódio ao
judeu.
Por outro lado, o facto da máquina administrativa e política do
absolutismo não estar de maneira nenhuma preparada para a complexidade
crescente da vida da nação, só veio agravar as dificuldades citadas.
Em
1715, aceitando convite do Papa
Clemente XI, fez armar uma frota para defender
Corfu. Foi comandada por
Lopo Furtado de Mendonça,
Conde do Rio Grande.
Tal socorro foi impedido pelos ventos de chegar a tempo, voltando a
entrar na barra do Tejo. Obteve porém grande vitória no ano seguinte no
cabo de Matapão. A criação da Basílica Patriarcal, em Lisboa, em
1717,
se deve muito a tal êxito. Roma, aliás, sempre foi para D. João V o
verdadeiro fiel da balança europeia, Portugal sendo um país em que
Estado e Igreja continuavam a ser um bloco homogéneo. Houve conflito em
1720, melhorado em
1730 com a eleição de
Clemente XII e o reatamento diplomático. Em
1747 D. João V alcançou grande vitória ao lhe ser concedido o título de «Fidelíssimo» pela Cúria.
As relações com a Espanha correram muito bem, graças sobretudo à atuação de D.
Luís da Cunha, grande diplomata, embaixador em
1719 e
1720. Desde
1725 a diplomacia espanhola viu em D.
José, príncipe do Brasil, herdeiro da coroa, o noivo ideal para a Infanta
Maria Ana Vitória, filha de
Filipe V. A aliança foi transformada em consórcio duplo, oferecendo-se a Infanta portuguesa D.
Maria Bárbara de Bragança como esposa de D.
Fernando,
Príncipe das Astúrias. Criaram-se portanto condições excepcionais para a unidade peninsular. A troca das Princesas ocorreu em Caia, em
19 de janeiro de
1729.
Corriam também perfeitas as relações com a Inglaterra, pois «era na
força marítima dos ingleses que Portugal encontrava apoio contra a
ambição continental franco-espanhola». «Londres foi para nossa
diplomacia», diz Veríssimo Serrão, «o terreno ideal para rebater as
pretensões francesas aos territórios do Amazonas e do Maranhão». Como
enviado português a Londres surge aliás, em
1739, o
Conde de Oeiras,
Sebastião José de Carvalho e Melo.
Culturalmente, o reinado de
D. João V
tem aspectos de interesse. O barroco manifesta-se na arquitectura,
mobiliário, talha, azulejo e ourivesaria, com grande riqueza. No campo
filosófico surge Luís António Verney com o Verdadeiro Método de Estudar
e, no campo literário,
António José da Silva.
Foi fundada a
Real Academia portuguesa de História e a ópera italiana introduzida em
Portugal.
O nome do Rei está ligado ao do
Aqueduto das Águas Livres,
para o regular abastecimento de água de Lisboa, que trouxe água de
Belas. Teve início em 1731 mas só mostraria sua completa imagem sob D.
José I de Portugal. Assim como, foi responsável pela construção do Real Convento de Mafra
Palácio Nacional de Mafra. Tornou-se no mais importante monumento do barroco português, cujo os projectos e direcção da obra couberam a
João Frederico Ludovice,
ourives alemão, com formação de arquitectura em Itália. As obras
iniciaram-se em 1717. A 22 de outubro de 1730, dia do 41º aniversário do
Rei, procedeu-se à sagração da Basílica.