Auto-retrato com fundo rosa, 1875
Após uma fase inicial dedicada aos temas dramáticos e grandiloquentes próprios da escola
romântica, Paul Cézanne criou um estilo próprio, influenciado por
Delacroix. Introduziu nas suas obras distorções formais e alterações de
perspectiva em benefício da composição ou para ressaltar o volume e peso dos objetos. Concebeu a
cor de um modo sem precedentes, definindo diferentes volumes que foram essenciais para suas composições únicas.
Cézanne não se subordinava às leis da perspectiva, e, sim, as modificava. A sua conceção da composição era
arquitetónica; segundo as suas próprias palavras, o seu próprio estilo consistia em ver a
natureza segundo as suas formas fundamentais: a
esfera, o
cilindro e o
cone.
Cézanne preocupava-se mais com a captação destas formas do que com a
representação do ambiente atmosférico. Não é difícil ver nesta atitude
uma reação de carácter intelectual contra o gozo puramente colorido do
impressionismo.
Sobre ele,
Renoir escreveu, rebatendo o crítico de arte Castagnary:
Eu enfureço-me ao pensar que ele [Castagnary]
não entendeu que Uma Moderna Olympia
, de Cézanne, era uma obra prima clássica, mais próxima de Giorgione que de Claude Monet, e que diante dele estava um pintor já fora do Impressionismo.
Cézanne cultivava sobretudo a paisagem e a representação de
naturezas mortas, mas também pintou figuras humanas em grupo e
retratos.
Antes de começar as suas paisagens estudava-as e analisava os seus
valores plásticos, reduzindo-as depois a diferentes volumes e planos que
traçava à base de pinceladas paralelas. Árvores, casas e demais
elementos da paisagem subordinam-se à unidade de composição. As suas
paisagens são sutilmente
geométricas. Cézanne pintou, sobretudo, a sua
Provença natal (
O Golfo de Marselha e as célebres versões sucessivas de
O Monte de Sainte-Victoire).
Nas suas numerosas naturezas mortas, tipicamente compostas por maçãs,
levava a cabo uma exploração formal exaustiva que é a matriz de
onde surgirá o
cubismo, poucos anos depois. Entre as representações de grupos humanos, são muito apreciadas as suas cinco versões de
Os Jogadores de Cartas.
A Mulher com Cafeteira, pela sua estrutura monumental e serena, marca o grande momento classicista de Cézanne.
(...)
Após a morte de Cézanne em 1906, as suas pinturas foram exibidas em Paris em uma grande retrospectiva, em setembro de
1907, no
Salon D’Automne. A mostra causou um grande impacto nas mentes mais brilhantes da
vanguarda parisiense, tornando-o um dos artistas mais influentes do século XIX e o responsável pelo advento do cubismo.
As explorações de simplificação geométrica e dos fenómenos óticos inspiraram
Picasso,
Braque,
Gris
e outros, que passaram a experimentar múltiplas visões, mais complexas,
de um mesmo objeto chegando, finalmente, à fratura da forma. Cézanne,
assim, abriu uma das mais revolucionárias possibilidades de exploração
artística no
século XX, influenciando profundamente o desenvolvimento da
arte moderna.