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quinta-feira, outubro 31, 2024

O deslizamento da Ribeira Quente, na ilha de São Miguel, matou 29 pessoas há vinte e sete anos...

   
Há uma data que vai marcar, para sempre, a história da freguesia da Ribeira Quente, no concelho da Povoação, onde a 31 de outubro de 1997 a chuva intensa provocou derrocadas e 29 pessoas morreram soterradas.

“Todos nós, porque é uma freguesia pequena, acabámos por perder algum amigo. Temos também situações de famílias que desapareceram quase todas, é o caso de um pescador que andava na minha embarcação e que perdeu a mulher e os quatro filhos. Situações destas marcam muito o sentimento das pessoas na freguesia e ainda hoje, principalmente quando se chega perto da data, ninguém deixa de ficar comovido”, conta o presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Quente, Gualberto Rita.
No dia da tragédia, que vitimou residentes entre as três semanas de idade e os 76 anos, Gualberto Rita, de 44 anos, morava na freguesia. Acabou por deixá-la, quando os deslizamentos de terras a deixaram irreconhecível.
“Na altura, os peritos na matéria disseram que o deslizamento poderá ter atingido os 200 quilómetros/hora e que foi de tal forma brusco que cortou as casas pelos alicerces”, recorda.
Maria do Carmo Moniz, de 65 anos, perdeu o marido naquela madrugada, mas os filhos foram poupados, assim como outros familiares que se refugiaram na casa, fugindo às inundações nas habitações junto à ribeira que atravessa parte da freguesia.
“A minha mãe dizia que no fim do mundo iria haver um terramoto e eu na minha ideia pensava que era o terramoto de que a minha mãe falava”, explica, lembrando que o rés-do-chão foi o abrigo de todos, pelo menos até uma segunda derrocada os atirar para fora de casa.
O marido já não teve hipótese. A casa encheu-se de entulho, terra, pedras, roupas da vizinha de cima.
Maria do Carmo e os familiares refugiaram-se na única casa poupada às enxurradas, noutra rua.
“Começámos a puxar as pessoas, mas algumas já iam na lama, vinham todas enroladas e cortadas dos vidros. Houve uma grávida que foi salva, assim como um rapaz que foi agarrado pelos cabelos”, lembra por sua vez Aida Arruda, de 57 anos, dona da única casa que ficou intacta e que foi abrigo de dezenas de pessoas.
Aida Arruda não esquece a noite “horrorosa” em que “não se via nada”, já que não havia eletricidade, água ou telecomunicações.
“Há coincidências que não têm explicação, porque o meu marido tinha trazido naquele dia um Petromax [candeeiro a petróleo] da casa da minha sogra sem nenhuma razão e foi isso que ajudou a puxar as pessoas”, diz.
Silvino Amaral, de 82 anos, pároco na Ribeira Quente há 56, fez os 29 funerais das vítimas, numa altura em que a freguesia ficou inacessível por terra, com as autoridades a deslocarem-se de helicóptero.
“Foi uma tragédia num lugar tão pequenino, eu conhecia-os quase todos, cheguei a batizar alguns, ainda acartei alguns cadáveres do posto clínico para o centro social e depois fiz o velório. Não tínhamos água e lavámos os cadáveres com água da chuva”, descreve o sacerdote.
O pároco da Ribeira Quente relembra o clima de medo vivido nos momentos seguintes à tragédia, num “ambiente de tal ordem” que a população nem sequer compareceu aos velórios com medo de nova catástrofe.
Às avalanches de terra sucedeu-se uma avalanche de generosidade, refere o padre, apontando donativos do continente, mas também do estrangeiro ou de entidades como a Caritas. Foi, inclusive, “criada de imediato uma comissão de gestão dos donativos para distribuir pelas vítimas”.
Depois da tragédia de 1997, foi construído um heliporto junto à praia da Ribeira Quente, tendo em conta a existência de “uma estrada de risco” como única via de acesso à freguesia, a mesma que existe até hoje.
Silvino Amaral garante que a tragédia se mantém na memória da população da Ribeira Quente, tanto que as chuvas intensas que ocasionalmente caem sobre a freguesia deixam “as pessoas em sobressalto”.
“Isto é uma fajã e estas fajãs têm essa sina, esse risco, estão engolidas por mar e esmagadas pela montanha, de maneira que a todo o tempo pode acontecer”, afirma.

terça-feira, outubro 31, 2023

O deslizamento da Ribeira Quente matou 29 pessoas, na ilha de São Miguel, há vinte e seis anos...

   
Há uma data que vai marcar, para sempre, a história da freguesia da Ribeira Quente, no concelho da Povoação, onde a 31 de outubro de 1997 a chuva intensa provocou derrocadas e 29 pessoas morreram soterradas.

“Todos nós, porque é uma freguesia pequena, acabámos por perder algum amigo. Temos também situações de famílias que desapareceram quase todas, é o caso de um pescador que andava na minha embarcação e que perdeu a mulher e os quatro filhos. Situações destas marcam muito o sentimento das pessoas na freguesia e ainda hoje, principalmente quando se chega perto da data, ninguém deixa de ficar comovido”, conta o presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Quente, Gualberto Rita.
No dia da tragédia, que vitimou residentes entre as três semanas de idade e os 76 anos, Gualberto Rita, de 44 anos, morava na freguesia. Acabou por deixá-la, quando os deslizamentos de terras a deixaram irreconhecível.
“Na altura, os peritos na matéria disseram que o deslizamento poderá ter atingido os 200 quilómetros/hora e que foi de tal forma brusco que cortou as casas pelos alicerces”, recorda.
Maria do Carmo Moniz, de 65 anos, perdeu o marido naquela madrugada, mas os filhos foram poupados, assim como outros familiares que se refugiaram na casa, fugindo às inundações nas habitações junto à ribeira que atravessa parte da freguesia.
“A minha mãe dizia que no fim do mundo iria haver um terramoto e eu na minha ideia pensava que era o terramoto de que a minha mãe falava”, explica, lembrando que o rés-do-chão foi o abrigo de todos, pelo menos até uma segunda derrocada os atirar para fora de casa.
O marido já não teve hipótese. A casa encheu-se de entulho, terra, pedras, roupas da vizinha de cima.
Maria do Carmo e os familiares refugiaram-se na única casa poupada às enxurradas, noutra rua.
“Começámos a puxar as pessoas, mas algumas já iam na lama, vinham todas enroladas e cortadas dos vidros. Houve uma grávida que foi salva, assim como um rapaz que foi agarrado pelos cabelos”, lembra por sua vez Aida Arruda, de 57 anos, dona da única casa que ficou intacta e que foi abrigo de dezenas de pessoas.
Aida Arruda não esquece a noite “horrorosa” em que “não se via nada”, já que não havia eletricidade, água ou telecomunicações.
“Há coincidências que não têm explicação, porque o meu marido tinha trazido naquele dia um Petromax [candeeiro a petróleo] da casa da minha sogra sem nenhuma razão e foi isso que ajudou a puxar as pessoas”, diz.
Silvino Amaral, de 82 anos, pároco na Ribeira Quente há 56, fez os 29 funerais das vítimas, numa altura em que a freguesia ficou inacessível por terra, com as autoridades a deslocarem-se de helicóptero.
“Foi uma tragédia num lugar tão pequenino, eu conhecia-os quase todos, cheguei a batizar alguns, ainda acartei alguns cadáveres do posto clínico para o centro social e depois fiz o velório. Não tínhamos água e lavámos os cadáveres com água da chuva”, descreve o sacerdote.
O pároco da Ribeira Quente relembra o clima de medo vivido nos momentos seguintes à tragédia, num “ambiente de tal ordem” que a população nem sequer compareceu aos velórios com medo de nova catástrofe.
Às avalanches de terra sucedeu-se uma avalanche de generosidade, refere o padre, apontando donativos do continente, mas também do estrangeiro ou de entidades como a Caritas. Foi, inclusive, “criada de imediato uma comissão de gestão dos donativos para distribuir pelas vítimas”.
Depois da tragédia de 1997, foi construído um heliporto junto à praia da Ribeira Quente, tendo em conta a existência de “uma estrada de risco” como única via de acesso à freguesia, a mesma que existe até hoje.
Silvino Amaral garante que a tragédia se mantém na memória da população da Ribeira Quente, tanto que as chuvas intensas que ocasionalmente caem sobre a freguesia deixam “as pessoas em sobressalto”.
“Isto é uma fajã e estas fajãs têm essa sina, esse risco, estão engolidas por mar e esmagadas pela montanha, de maneira que a todo o tempo pode acontecer”, afirma.

segunda-feira, outubro 31, 2022

Há vinte e cinco anos o deslizamento da Ribeira Quente matou 29 pessoas nos Açores...

   
Há uma data que vai marcar, para sempre, a história da freguesia da Ribeira Quente, no concelho da Povoação, onde a 31 de outubro de 1997 a chuva intensa provocou derrocadas e 29 pessoas morreram soterradas.

“Todos nós, porque é uma freguesia pequena, acabámos por perder algum amigo. Temos também situações de famílias que desapareceram quase todas, é o caso de um pescador que andava na minha embarcação e que perdeu a mulher e os quatro filhos. Situações destas marcam muito o sentimento das pessoas na freguesia e ainda hoje, principalmente quando se chega perto da data, ninguém deixa de ficar comovido”, conta o presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Quente, Gualberto Rita.
No dia da tragédia, que vitimou residentes entre as três semanas de idade e os 76 anos, Gualberto Rita, de 44 anos, morava na freguesia. Acabou por deixá-la, quando os deslizamentos de terras a deixaram irreconhecível.
“Na altura, os peritos na matéria disseram que o deslizamento poderá ter atingido os 200 quilómetros/hora e que foi de tal forma brusco que cortou as casas pelos alicerces”, recorda.
Maria do Carmo Moniz, de 65 anos, perdeu o marido naquela madrugada, mas os filhos foram poupados, assim como outros familiares que se refugiaram na casa, fugindo às inundações nas habitações junto à ribeira que atravessa parte da freguesia.
“A minha mãe dizia que no fim do mundo iria haver um terramoto e eu na minha ideia pensava que era o terramoto de que a minha mãe falava”, explica, lembrando que o rés-do-chão foi o abrigo de todos, pelo menos até uma segunda derrocada os atirar para fora de casa.
O marido já não teve hipótese. A casa encheu-se de entulho, terra, pedras, roupas da vizinha de cima.
Maria do Carmo e os familiares refugiaram-se na única casa poupada às enxurradas, noutra rua.
“Começámos a puxar as pessoas, mas algumas já iam na lama, vinham todas enroladas e cortadas dos vidros. Houve uma grávida que foi salva, assim como um rapaz que foi agarrado pelos cabelos”, lembra por sua vez Aida Arruda, de 57 anos, dona da única casa que ficou intacta e que foi abrigo de dezenas de pessoas.
Aida Arruda não esquece a noite “horrorosa” em que “não se via nada”, já que não havia eletricidade, água ou telecomunicações.
“Há coincidências que não têm explicação, porque o meu marido tinha trazido naquele dia um Petromax [candeeiro a petróleo] da casa da minha sogra sem nenhuma razão e foi isso que ajudou a puxar as pessoas”, diz.
Silvino Amaral, de 82 anos, pároco na Ribeira Quente há 56, fez os 29 funerais das vítimas, numa altura em que a freguesia ficou inacessível por terra, com as autoridades a deslocarem-se de helicóptero.
“Foi uma tragédia num lugar tão pequenino, eu conhecia-os quase todos, cheguei a batizar alguns, ainda acartei alguns cadáveres do posto clínico para o centro social e depois fiz o velório. Não tínhamos água e lavámos os cadáveres com água da chuva”, descreve o sacerdote.
O pároco da Ribeira Quente relembra o clima de medo vivido nos momentos seguintes à tragédia, num “ambiente de tal ordem” que a população nem sequer compareceu aos velórios com medo de nova catástrofe.
Às avalanches de terra sucedeu-se uma avalanche de generosidade, refere o padre, apontando donativos do continente, mas também do estrangeiro ou de entidades como a Cáritas. Foi, inclusive, “criada de imediato uma comissão de gestão dos donativos para distribuir pelas vítimas”.
Depois da tragédia de 1997, foi construído um heliporto junto à praia da Ribeira Quente, tendo em conta a existência de “uma estrada de risco” como única via de acesso à freguesia, a mesma que existe até hoje.
Silvino Amaral garante que a tragédia se mantém na memória da população da Ribeira Quente, tanto que as chuvas intensas que ocasionalmente caem sobre a freguesia deixam “as pessoas em sobressalto”.
“Isto é uma fajã e estas fajãs têm essa sina, esse risco, estão engolidas por mar e esmagadas pela montanha, de maneira que a todo o tempo pode acontecer”, afirma.

domingo, outubro 31, 2021

Um deslizamento matou 29 pessoas nos Açores há vinte e quatro anos

Tragédia da Ribeira Quente em 1997 marca a história da Povoação

   
Há uma data que vai marcar, para sempre, a história da freguesia da Ribeira Quente, no concelho da Povoação, onde a 31 de outubro de 1997 a chuva intensa provocou derrocadas e 29 pessoas morreram soterradas.

“Todos nós, porque é uma freguesia pequena, acabámos por perder algum amigo. Temos também situações de famílias que desapareceram quase todas, é o caso de um pescador que andava na minha embarcação e que perdeu a mulher e os quatro filhos. Situações destas marcam muito o sentimento das pessoas na freguesia e ainda hoje, principalmente quando se chega perto da data, ninguém deixa de ficar comovido”, conta o presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Quente, Gualberto Rita.
No dia da tragédia, que vitimou residentes entre as três semanas de idade e os 76 anos, Gualberto Rita, de 44 anos, morava na freguesia. Acabou por deixá-la, quando os deslizamentos de terras a deixaram irreconhecível.
“Na altura, os peritos na matéria disseram que o deslizamento poderá ter atingido os 200 quilómetros/hora e que foi de tal forma brusco que cortou as casas pelos alicerces”, recorda.
Maria do Carmo Moniz, de 65 anos, perdeu o marido naquela madrugada, mas os filhos foram poupados, assim como outros familiares que se refugiaram na casa, fugindo às inundações nas habitações junto à ribeira que atravessa parte da freguesia.
“A minha mãe dizia que no fim do mundo iria haver um terramoto e eu na minha ideia pensava que era o terramoto de que a minha mãe falava”, explica, lembrando que o rés-do-chão foi o abrigo de todos, pelo menos até uma segunda derrocada os atirar para fora de casa.
O marido já não teve hipótese. A casa encheu-se de entulho, terra, pedras, roupas da vizinha de cima.
Maria do Carmo e os familiares refugiaram-se na única casa poupada às enxurradas, noutra rua.
“Começámos a puxar as pessoas, mas algumas já iam na lama, vinham todas enroladas e cortadas dos vidros. Houve uma grávida que foi salva, assim como um rapaz que foi agarrado pelos cabelos”, lembra por sua vez Aida Arruda, de 57 anos, dona da única casa que ficou intacta e que foi abrigo de dezenas de pessoas.
Aida Arruda não esquece a noite “horrorosa” em que “não se via nada”, já que não havia eletricidade, água ou telecomunicações.
“Há coincidências que não têm explicação, porque o meu marido tinha trazido naquele dia um Petromax [candeeiro a petróleo] da casa da minha sogra sem nenhuma razão e foi isso que ajudou a puxar as pessoas”, diz.
Silvino Amaral, de 82 anos, pároco na Ribeira Quente há 56, fez os 29 funerais das vítimas, numa altura em que a freguesia ficou inacessível por terra, com as autoridades a deslocarem-se de helicóptero.
“Foi uma tragédia num lugar tão pequenino, eu conhecia-os quase todos, cheguei a batizar alguns, ainda acartei alguns cadáveres do posto clínico para o centro social e depois fiz o velório. Não tínhamos água e lavámos os cadáveres com água da chuva”, descreve o sacerdote.
O pároco da Ribeira Quente relembra o clima de medo vivido nos momentos seguintes à tragédia, num “ambiente de tal ordem” que a população nem sequer compareceu aos velórios com medo de nova catástrofe.
Às avalanches de terra sucedeu-se uma avalanche de generosidade, refere o padre, apontando donativos do continente, mas também do estrangeiro ou de entidades como a Cáritas. Foi, inclusive, “criada de imediato uma comissão de gestão dos donativos para distribuir pelas vítimas”.
Depois da tragédia de 1997, foi construído um heliporto junto à praia da Ribeira Quente, tendo em conta a existência de “uma estrada de risco” como única via de acesso à freguesia, a mesma que existe até hoje.
Silvino Amaral garante que a tragédia se mantém na memória da população da Ribeira Quente, tanto que as chuvas intensas que ocasionalmente caem sobre a freguesia deixam “as pessoas em sobressalto”.
“Isto é uma fajã e estas fajãs têm essa sina, esse risco, estão engolidas por mar e esmagadas pela montanha, de maneira que a todo o tempo pode acontecer”, afirma.

terça-feira, outubro 31, 2017

Um deslizamento matou 29 pessoas nos Açores há vinte anos

Tragédia da Ribeira Quente em 1997 marca a história da Povoação

Há uma data que vai marcar, para sempre, a história da freguesia da Ribeira Quente, no concelho da Povoação, onde a 31 de outubro de 1997 a chuva intensa provocou derrocadas e 29 pessoas morreram soterradas.

“Todos nós, porque é uma freguesia pequena, acabámos por perder algum amigo. Temos também situações de famílias que desapareceram quase todas, é o caso de um pescador que andava na minha embarcação e que perdeu a mulher e os quatro filhos. Situações destas marcam muito o sentimento das pessoas na freguesia e ainda hoje, principalmente quando se chega perto da data, ninguém deixa de ficar comovido”, conta o presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Quente, Gualberto Rita.
No dia da tragédia, que vitimou residentes entre as três semanas de idade e os 76 anos, Gualberto Rita, de 44 anos, morava na freguesia. Acabou por deixá-la, quando os deslizamentos de terras a deixaram irreconhecível.
“Na altura, os peritos na matéria disseram que o deslizamento poderá ter atingido os 200 quilómetros/hora e que foi de tal forma brusco que cortou as casas pelos alicerces”, recorda.
Maria do Carmo Moniz, de 65 anos, perdeu o marido naquela madrugada, mas os filhos foram poupados, assim como outros familiares que se refugiaram na casa, fugindo às inundações nas habitações junto à ribeira que atravessa parte da freguesia.
“A minha mãe dizia que no fim do mundo iria haver um terramoto e eu na minha ideia pensava que era o terramoto de que a minha mãe falava”, explica, lembrando que o rés-do-chão foi o abrigo de todos, pelo menos até uma segunda derrocada os atirar para fora de casa.
O marido já não teve hipótese. A casa encheu-se de entulho, terra, pedras, roupas da vizinha de cima.
Maria do Carmo e os familiares refugiaram-se na única casa poupada às enxurradas, noutra rua.
“Começámos a puxar as pessoas, mas algumas já iam na lama, vinham todas enroladas e cortadas dos vidros. Houve uma grávida que foi salva, assim como um rapaz que foi agarrado pelos cabelos”, lembra por sua vez Aida Arruda, de 57 anos, dona da única casa que ficou intacta e que foi abrigo de dezenas de pessoas.
Aida Arruda não esquece a noite “horrorosa” em que “não se via nada”, já que não havia eletricidade, água ou telecomunicações.
“Há coincidências que não têm explicação, porque o meu marido tinha trazido naquele dia um Petromax [candeeiro a petróleo] da casa da minha sogra sem nenhuma razão e foi isso que ajudou a puxar as pessoas”, diz.
Silvino Amaral, de 82 anos, pároco na Ribeira Quente há 56, fez os 29 funerais das vítimas, numa altura em que a freguesia ficou inacessível por terra, com as autoridades a deslocarem-se de helicóptero.
“Foi uma tragédia num lugar tão pequenino, eu conhecia-os quase todos, cheguei a batizar alguns, ainda acartei alguns cadáveres do posto clínico para o centro social e depois fiz o velório. Não tínhamos água e lavámos os cadáveres com água da chuva”, descreve o sacerdote.
O pároco da Ribeira Quente relembra o clima de medo vivido nos momentos seguintes à tragédia, num “ambiente de tal ordem” que a população nem sequer compareceu aos velórios com medo de nova catástrofe.
Às avalanches de terra sucedeu-se uma avalanche de generosidade, refere o padre, apontando donativos do continente, mas também do estrangeiro ou de entidades como a Cáritas. Foi, inclusive, “criada de imediato uma comissão de gestão dos donativos para distribuir pelas vítimas”.
Depois da tragédia de 1997, foi construído um heliporto junto à praia da Ribeira Quente, tendo em conta a existência de “uma estrada de risco” como única via de acesso à freguesia, a mesma que existe até hoje.
Silvino Amaral garante que a tragédia se mantém na memória da população da Ribeira Quente, tanto que as chuvas intensas que ocasionalmente caem sobre a freguesia deixam “as pessoas em sobressalto”.
“Isto é uma fajã e estas fajãs têm essa sina, esse risco, estão engolidas por mar e esmagadas pela montanha, de maneira que a todo o tempo pode acontecer”, afirma.

quinta-feira, outubro 16, 2014

Pequeno sismo sentido nos Açores

Informação recebida via e-mail do IPMA:
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) informa que, no dia 15.10.2014, pelas 22.04 (hora local) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 1,9 (Richter) e cujo epicentro se localizou próximo de Ribeira Quente (S. Miguel).

Este sismo, de acordo com a informação disponível até ao momento, não causou danos pessoais ou materiais e foi sentido com intensidade máxima II (escala de Mercalli modificada) na freguesia da Ribeira Quente, concelho da Povoação, na ilha de S. Miguel.

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados.

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IPMA na Internet (www.ipma.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt). 

NOTA: últimos sismos registados nos Açores e mapa do GoogleMaps, com localização do epicentro:

Data (TU)Lat.Lon.Prof.Mag.Ref.GrauLocal+ info
2014-10-16 02:21 38,08 -26,67 2 2,7 S Banco D. João de Castro ------ -
2014-10-16 00:08 38,28 -26,59 - 3,1 Banco D. João de Castro ------ -
2014-10-15 22:04 37,74 -25,29 - 1,9 Maciço das Furnas IIRibeira Quente -

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Mais informações sobre o pequeno sismo de ontem nos Açores

Sismo de fraca intensidade sentido no Faial da Terra e na vila da Povoação (ilha de S. Miguel)

Lomba do Cavaleiro (concelho da Povoação)

O Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) informa que às 14.15 horas (hora local = hora UTC-1) do dia 4 de fevereiro foi registado um evento com magnitude 2,8 (Richter) e epicentro a cerca de 13 km a sul do Faial da Terra, ilha de S. Miguel.

De acordo com a informação disponível até ao momento o sismo foi sentido com intensidade máxima II/III (Escala de Mercalli Modificada) no Faial da Terra e intensidade II na vila da Povoação.

O CIVISA continua a acompanhar o evoluir da situação, emitindo novos comunicados caso necessário.

in CVARG - via CIVISA

NOTA: mapa e dados do Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos:

Data UTC Lat. Lon. Mag. Região Int. EMM Localidade
2014-02-04 15:15:4437.624-25.1812.8 MLSE S. MiguelII/III Faial da Terra

Pequeno sismo sentido em São Miguel - Açores

Recebido via e-mail do IPMA:
  
  
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) informa que no dia 04.02.2014 pelas 14.15 (hora local) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 2,9 (Richter) e cujo epicentro se localizou a cerca de 14 km a sul de Faial da Terra (S. Miguel).

Este sismo, de acordo com a informação disponível até ao momento, não causou danos pessoais ou materiais e foi sentido com intensidade máxima II (escala de Mercalli modificada) na Povoação, na ilha de S. Miguel.

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados.

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IPMA na Internet (www.ipma.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt).
Nota:os dados do IPMA aqui estão, bem como o mapa no GoogleMaps do epicentro:

Data (TU)Lat.Lon.Prof.Mag.Ref.GrauLocal
2014-02-04 15:15 37,61 -25,22 - 2,9 N Banco Grande Norte IIPovoação

segunda-feira, setembro 30, 2013

Setembro de 2013, mês de sismos nos Açores

Divulgámos aqui alguns sismos que o IPMA nos informou, através de e-mail, mas como o Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos (CVARG) refere mais sismos, aqui fica a lista de todos os sismos sentidos nos Açores, segundo o CVARG e o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (SIVISA):

Data e hora UTC Lat. Lon. Mag. Int. EMM Localidade
2013-09-30 13:22:5837.834 -25.5210.9 MLII/III Ribeira Grande
2013-09-30 13:18:3637.829 -25.5240.7 MLII/III Ribeira Grande
2013-09-30 13:12:2737.867 -25.5421.2 MLIII Ribeira Grande
2013-09-30 13:06:0837.87 -25.5511.4 MLIII Ribeira Grande
2013-09-28 20:41:2937.698 -25.2131.8 MLIII Povoação
2013-09-28 03:06:3637.817 -25.4840.3 MLII Ribeirinha (S. Miguel)
2013-09-25 07:40:1438.976 -28.723.9 MLIII Faial
2013-09-15 10:25:4237.769 -25.4362.0 MLIII Vila Franca do Campo
2013-09-04 23:21:5237.722 -25.2741.3 MLII/III Povoação
2013-09-04 21:03:5837.739 -25.2571.6 MLII/III Povoação
2013-09-04 20:31:0337.746 -25.2472.4 MLIV Povoação

NOTA: aproveitamos para deixar um mapa com os epicentros dos sismos de hoje na zona da Ribeira Grande, em São Miguel:

Sismo Sentido no Arquipélago dos Açores - informação do IPMA

Recebido via e-mail do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA):

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera informa que no dia 30.09.2013 pelas 13.12 (hora local e UTM) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 1.7 (Richter) e cujo epicentro se localizou próximo de Ribeira Grande (S. Miguel). 

De acordo com a informação disponível, este sismo foi sentido, devendo em breve ser emitido novo comunicado com informação instrumental e macrossísmica actualizada. 

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados. 

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IPMA na Internet (www.ipma.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt).

domingo, setembro 29, 2013

Ontem foi sentido um pequeno sismo em S. Miguel, nos Açores

Recebido via e-mail do IPMA:

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) informa que no dia 28.09.2013 pelas 20.41 (hora local e UTM) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 2.4 (Richter) e cujo epicentro se localizou a cerca de 4 km a Este-Nordeste das Furnas (S. Miguel).

Este sismo, de acordo com a informação disponível até ao momento, não causou danos pessoais ou materiais e foi sentido com intensidade máxima II (escala de Mercalli modificada) na região de Povoação e Ribeirinha, na Ilha de S. Miguel.

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados.

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IPMA na Internet (www.ipma.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt).

quinta-feira, setembro 05, 2013

Comunicado da CIVISA sobre uma pequena crise sísmica em S. Miguel - Açores

Actividade sísmica no concelho da Povoação, ilha de S. Miguel
​O Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) informa que às 20.31 (hora local, equivalente à hora UTC), do dia 4 de setembro, foi registado um evento com magnitude 2.6 (Richter) e epicentro na Vila da Povoação, ilha S. Miguel.

De acordo com a informação disponível até ao momento o sismo foi sentido com intensidade máxima IV (Escala de Mercalli Modificada) no concelho da Povoação.

Após este evento foram registadas várias réplicas com epicentro aproximadamente na mesma zona, uma das quais, às 21.03, foi sentida com fraca intensidade na Povoação.

in CVARG

NOTA: segundo o Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos (CVARG), da Universidade dos Açores, esta crise sísmica (que me parece afetar uma falha paralela à da Fossa da Povoação, bem visível no mapa do CVARG que publicamos) teve três sismos sentidos pela população, a saber:

Data UTC Lat. Lon. Maginute Região Intensidade EMM
2013-09-04 23:21:5237.722 -25.2741.3 MLPovoaçãoII/III
2013-09-04 21:03:5837.739 -25.2571.5 MLPovoaçãoII/III
2013-09-04 20:31:0337.747 -25.2442.4 MLPovoaçãoIV

Pequeno sismo em S. Miguel - Açores

Recebido via e-mail do Instituto Português do Mar e da Atmosfera:

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera informa que no dia 04.09.2013 pelas 20.31 (hora local) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 2.7 (Richter) e cujo epicentro se localizou próximo de Nordeste (S. Miguel).

De acordo com a informação disponível, este sismo foi sentido,com intensidade III na localidade da Povoação e intensidade II na localidade Faial da Terra, devendo em breve ser emitido novo comunicado com informação instrumental e macrossísmica actualizada.

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados.

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IPMA na Internet (www.ipma.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt).

terça-feira, abril 30, 2013

Sismo forte nos Açores

Recebido via e-mail (e com reforço pelos meus alunos...) do IPMA:
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) informa que no dia 30.04.2013 pelas 06.25 (hora local) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 5.7 (Richter) e cujo epicentro se localizou a cerca de 30 km a Norte-Noroeste dos Ilhéus das Formigas (S. Miguel). 

De acordo com a informação disponível, este sismo foi sentido, devendo em breve ser emitido novo comunicado com informação instrumental e macrossísmica actualizada. 

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados. 

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IPMA na Internet (www.ipma.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt).

Localização do epicentro, segundo o IPMA:


NOTA: passados poucos minutos (quatro, o suficiente para sair para a rua...) houve uma réplica forte que, provavelmente, assustou ainda mais os habitantes da parte este da ilha de São Miguel:
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera informa que no dia 30.04.2013 pelas 06.29 (hora local) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 4.4 (Richter) e cujo epicentro se localizou a cerca de 30 km a Norte-Noroeste dos Ilhéus das Formigas (S. Miguel).

Este sismo, de acordo com a informação disponível até ao momento, não causou danos pessoais ou materiais e foi sentido com intensidade máxima III/IV (escala de Mercalli modificada) nas regiões de Povoação e Vila Franca e intensidade III na região da Lagoa, ilha de S. Miguel.

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados.

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IPMA na Internet (www.ipma.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt)

quinta-feira, janeiro 17, 2013

Música para o amigo e geopedrado Rui...

Porque, apesar de haver um Oceano a separar-nos (ou a unir-nos...?!?), não nos esquecemos dos colegas de curso e dos amigos, aqui fica uma música para o nosso grande amigo micaelense, no dia do seu aniversário...

domingo, dezembro 02, 2012

Nelly Furtado - 34 anos

Nelly Kim Furtado (Victoria, 2 de dezembro de 1978[1]) é uma cantora, compositora e atriz canadiana, filha de emigrantes portugueses, mais propriamente da freguesia de Ponta Garça, São Miguel, Açores.
Entre as suas canções mais bem-sucedidas está o seu primeiro single, "I'm Like a Bird" (pelo qual ganhou um Grammy), Promiscuous e Say It Right além de All Good Things (Come to an End) e Give It To Me.
Conseguiu colocar três singles, "Promiscuous", "Say It Right" e "Give It to Me", no topo da parada americana Billboard Hot 100.
Recentemente, lançou o álbum "The Spirit Indestructible", que traz influências dos seus 2 primeiros trabalhos como cantora.


segunda-feira, outubro 22, 2012

A Subversão de Vila Franca destruiu a antiga capital dos Açores há 490 anos

(imagem daqui)

Subversão de Vila Franca ou Terramoto de Vila Franca são as designações que na historiografia açoriana tradicionalmente se dá ao grande sismo que na noite de 21 para 22 de outubro de 1522 provocou grandes movimentos de terra e destruição generalizadas das habitações na ilha de São Miguel, em especial em Vila Franca do Campo, então a capital da ilha. O sismo teve epicentro alguns quilómetros a NNW de Vila Franca, atingindo a localidade com intensidade máxima de grau X da Escala Macrossísmica Europeia de 1998, derrubou a maioria dos edifícios e desencadeou movimentos de vertente com origem nas encostas sobranceiras à vila que mobilizaram cerca de 6,75 milhões de metros cúbicos de material que formou um lahar que soterrou as ruínas do povoado. Em consequência estima-se que morreram de 3 000 e 5 000 pessoas na vila, a quase totalidade dos habitantes de então. Para além da destruição causada em Vila Franca do Campo, o terramoto atingiu as povoações vizinhas, com destaque para Ponta Garça, e o norte da ilha, com destaque para a Maia e Porto Formoso, onde também fez centenas de mortos. Um tsunami desencadeado pela entrada no mar do material carreado pelo deslizamento de terras causou a destruição de vários navios que estavam surtos junto ao ilhéu de Vila Franca e algumas dezenas de mortos (centenas segundo algumas crónicas). Gaspar Frutuoso, escrevendo cerca de 70 anos após a ocorrência, recolheu uma completa notícia dos eventos e um romance oral a eles referente.

Os acontecimentos
Ao entre finais do século XV e as primeiras décadas do século XVI o povoado de Vila Franca do Campo foi-se afirmando paulatinamente como a capital da ilha de São Miguel. Elevada à categoria de sede de município em 1472, a vila era fixara as principais instituições civis e religiosas da ilha, sendo o local de residência do capitão do donatário na ilha e por consequência o centro das actividades da poderosa família Gonçalves da Câmara, que mais tarde obteria o título de condes de Vila Franca. A presença da alfândega e o abrigo relativo que o ilhéu de Vila Franca propicia ao seu porto, fez do povoado o local de partida e chegada dos navios que demandavam a ilha.
Sem nunca ter sofrido qualquer calamidade de monta, nem nunca ter experimentado a guerra, Vila Franca do Campo chegou a 1522 próspera e em franco desenvolvimento, fixando na sua malha nascente urbana cerca de 5 000 habitantes, cerca de 25% das 20 000 pessoas que se estima então viverem na ilha de São Miguel.
O povoado instalou-se no litoral da ilha, aproveitando a zona aplanada e de costa baixa que circunda a enseada sita entre a foz da Ribeira da Mãe de Água e a Ribeira Seca. Sobranceiros à vila ficam os contrafortes do maciço de Água de Pau, com dois montes, o Rabaçal e o Louriçal, separados pelo vale da Ribeira da Mãe de Água, a qual providenciava abundante abastecimento à vila. Frente à costa, a pouco mais de 600 m de distância, fica o ilhéu de Vila Franca, que além de fornecer um marco fácil de localizar pelas embarcações que demandavam a ilha, dava algum abrigo ao porto.
Dada a falta de material de onde se pudesse obter cal e a fraca qualidade dos barros da ilha, as construções eram de alvenaria de pedra solta, construída com dupla face e enchimento a cascalho. Apenas as casas mais abastadas e as fachadas principais dos melhores imóveis levavam um reboco em barro, de muito fraca consistência dadas as características dos materiais locais, que depois era caiado. A dificuldade em produzir localmente telha, levava a que apenas as casas mais abastadas e as igrejas tivessem telhado, contentando-se os populares com tectos de colmo recobertos com palha de trigo.
A elevada dureza das rochas basálticas levava a que as pedras fossem pouco aparelhadas, mantendo superfícies arredondadas que fragilizam a alvenaria, a que se juntava o elevado peso das paredes, resultando em construções muito vulneráveis ao derrubamento pela aceleração induzida pelos sismos.
Era esta a vila que assistiu a um calmo anoitecer no dia 21 de Outubro de 1522, quando, de acordo com o Romance de Vila Franca,

Quarto de Lua seria:


Era uma quarta-feira,


Quarta-feira triste dia,


E em a noite mais serena


Que o céu fazer podia,


Inda que corre Levante


Nada d’ele se sentia;


Não corre bafo de vento,


Nem folha d’árvore bolia,


Estrelado estava o céu,


Nuvem não o escurecia.

Aquela calma seria de pouca dura, já que pelas duas da madrugada, tempo local, de acordo com as Saudades da Terra de Gaspar Frutuoso, ... estando o céu estrelado e claro, sem aparecer nuvem alguma, se sentiu em toda a ilha um grandíssimo e espantoso tremor de terra, que durou por espaço de um credo, em que parecia que os elementos, fogo, ar e água, pelejavam no centro dela, fazendo-a dar grandes abalos, com roncos e movimentos horrendos, como ondas de mar furioso, parecendo a todos os moradores da ilha que se virava o centro dela para cima e que o céu caía. E acabando o espaço do credo ou de um pater-noster e ave-maria a todo o mais, e ainda não foi tanto, tornou outra vez a tremer mais brandamente outro tanto. Durante a madrugada e até ao meio-dia do fatídico 22 de outubro, as réplicas foram muitas e rijas.
O grande sismo, que a tecnologia actual permite estimar ter tido epicentro a alguns quilómetros a NNW da vila, na zona do Monte Escuro, e ter nela atingido grau X da EMS-98, desencadeou movimentos de massa generalizados por toda a ilha, provavelmente devido aos solos se encontrarem então saturados de água em resultado de chuvas intensas ocorridas nos dias anteriores. Aliás, os terrenos vulcânicos, em particular os constituídos por materiais piroclásticos de baixa densidade, como são os profundos depósitos pomíticos que constituem as encostas do Maciço de Água de Pau, por estimulação sísmica são em extremo propícios a gerar grandes movimentos de massa, autênticos lahars. Veja-se o que ocorreu na encosta NE da Caldeira do Faial aquando do sismo de Julho de 1998.
Ainda nas palavras de Gaspar Frutuoso, os movimentos de massa foram generalizados e de volume assustador: ... não houve grota nenhuma, assim da parte sul como do nordeste, por onde não corressem ribeiras de lodo. Entre as múltiplas derrocadas verificadas, que também fizeram vítimas noutros lugares da ilha, em especial na Maia, destaca-se a gigantesca avalanche de lodo que desceu das encostas do Monte Rabaçal, seguindo o curso da Ribeira da Mãe de Água e depois espraiando-se sobre toda a vila. Diz Gaspar Frutuoso: ... da ribeira para a parte do oriente, onde estava a vila, tudo foi assolado e os moradores todos quase mortos. Somente da mesma ribeira para o poente, escaparam algumas casas, a maioria delas caídas, onde ficaram vivas até 70 pessoas pouco mais ou menos, as quais todas começaram a dar grandes gritos, chamando por Deus e outros por Santa Maria....
A massa de lodo soterrou o porto e entrou mar adentro, arrastando muita gente consigo e gerando um tsunami que destruiu as embarcações que ali estavam surtas. Ainda nas palavras de Gaspar Frutuoso: ... havia no porto então quatro ou cinco navios abrigados no ilhéu para partirem para Portugal, o que foi causa de morrer mais gente ali onde se ajuntava de toda a ilha para fazer aquela viagem.
Um estudo recente dos depósitos resultantes dos movimentos de vertente de 1522 permite estimar que a escoada de detritos que soterrou Vila Franca teve origem nas cabeceiras da Ribeira da Mãe d’Água, a NW de Vila Franca, ao sul do Pico da Cruz, então o Monte Rabaçal. A partir de uma face de rotura esventrada para SSE libertaram-se cerca de 6,75 milhões de metros cúbicos de detritos que correram ao longo da ribeira, com uma velocidade que hoje se estima ser de 1 a 3 m/s, atingindo em poucos minutos o centro da vila e recobrindo-o completamente. A corrente de alta densidade assim gerada arrasou as construções ainda existentes e carreou tudo o que encontrou, incluindo os infelizes vilafranquenses, até ao mar.
Outra torrente, embora de menor dimensão, gerou-se nas cabeceiras da Ribeira Seca, percorrendo o seu leito e espraiando-se sobre o arrabaldes leste da vila, na zona que corresponde à actual parte ocidental da freguesia de Ribeira Seca.
As consequências foram trágicas: entre 3 000 e 5 000 mortos só na vila, a maior parte dos quais soterrados em lama ou arrastados ao mar pela avalanche. Toda a parte central da vila ficou soterrada e o porto desapareceu sob uma espessa camada de pedra-pomes. Novamente a descrição de Gaspar Frutuoso é eloquente: ... e sendo já dia claro, se ajuntaram algumas pessoas que viviam pelos montes e nas quintas, e os que ficaram vivos no arrabalde, espantados todos dos grandes tremores e estrondos que ouviram; e vendo a vila no estado em que se encontrava, pasmavam. Muitas pessoas de toda a ilha que ali tinham as suas casas, parentes, amigos e conhecidos, mandaram cada um cavar onde lhes soía, uns para tirar os corpos dos mortos, outros para ver se achavam dinheiro e alfaias que tinham em suas casas, outros para fazer o mesmo aos corpos e haveres dos seus parentes e conhecidos. E assim se cavava em muitas partes da vila, e uns achavam mortos pelas ruas e outros em suas casas e leitos, entre os quais achavam alguns vivos. E conclui: ... Em uma só triste noite foram acabadas muitas vidas e ficou tudo tão coberto, que nem nobres casas, nem altos edifícios, nem sumptuosos templos, nem nobres ou vulgares pessoas pela manhã apareceram, ficando tudo raso e chão, sem sinal nem mostra de onde a vila estivera.
Esta catástrofe, que ficou conhecida pela subversão de Vila Franca, marcou profundamente o desenvolvimento da ilha de São Miguel, fazendo migrar o centro político e económico para a nascente vila de Ponta Delgada, que em breve seria a capital de ilha e continuaria a crescer até ser hoje maior cidade açoriana e o principal centro político e económico de todo o arquipélago. Não fora o terramoto e esse papel caberia a Vila Franca, vila melhor situada e com um melhor porto natural.


NOTA: para perceber melhor este evento, sugere-se a leitura do seguinte artigo científico:


terça-feira, junho 05, 2012

Sismo sentido nos Açores - S. Miguel e Terceira

Recebido via e-mail do Instituto de Meteorologia (IM):

O Instituto de Meteorologia informa que no dia 04.06.2012 pelas 21.23 (hora local e UTC) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 4.0 (Richter) e cujo epicentro se localizou a cerca de 70 km a Sudeste de S.Sebastião (Terceira). 

De acordo com a informação disponível, este sismo foi sentido, devendo em breve ser emitido novo comunicado com informação instrumental e macrossísmica actualizada. 

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados. 

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IM na Internet (www.meteo.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt).
NOTA: mais dados vindos dos organismos regionais:

Mapa do epicentro do CVARG



Comunicado do CVARG

O Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores informa que no dia 4 de junho de 2012 foi registado um evento às 21.24 horas (hora local, UTC), com epicentro na zona do Banco D. João de Castro, entre as ilhas S. Miguel e Terceira.
De acordo com a informação disponível até ao momento o sismo foi sentido com intensidade máxima III/IV (Escala de Mercalli Modificada) em S. Miguel e Terceira.
O evento agora registado enquadra-se na actividade sísmica que se vem registando naquela zona desde esta manhã.

Dados do CVARG do sismo

Data UTC Lat. Lon. Mag. Região Int. EMM Localidade
2012-06-04 21:23:5138.171-26.6224.3 MLBanco D. Joao de CastroIII/IV S.MIGUEL e TERCEIRA

segunda-feira, maio 14, 2012

Sismo sentido em S. Miguel - Açores

Recebido via e-mail do Instituto de Meteorologia (IM):


O Instituto de Meteorologia informa que no dia 13.05.2012 pelas 22.39 (hora local) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 2.9 (Richter) e cujo epicentro se localizou a cerca de 4 km a Norte-Nordeste da Ribeirinha (S. Miguel). 

De acordo com a informação disponível, este sismo foi sentido, devendo em breve ser emitido novo comunicado com informação instrumental e macrossísmica actualizada. 

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados. 

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IM na Internet (www.meteo.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt).

domingo, abril 29, 2012

Sismo em S. Miguel - Açores

 Recebido via e-mail do Instituto de Meteorologia (IM):

O Instituto de Meteorologia informa que no dia 29.04.2012 pelas 11.15 (hora local) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 3.0 (Richter) e cujo epicentro se localizou próximo de Ribeira das Tainhas (S. Miguel).

Este sismo, de acordo com a informação disponível até ao momento, não causou danos pessoais ou materiais e foi sentido com intensidade máxima IV (escala de Mercalli modificada) em Furnas, ilha de S. Miguel. Foi ainda sentido com a intensidade III em Vila Franca do Campo, Ribeira Quente, Ponta Garça e II em Água do Alto (S. Miguel).

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados.

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IM na Internet (www.meteo.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt).