Artista principalmente figurativo, tornou-se célebre sobretudo por
seus retratos femininos caracterizados por rostos e pescoços alongados, à
maneira das máscaras africanas.
Modigliani nasceu em uma família
judia, em Livorno, Itália.
O seu trisavô materno, Solomon Garsin, emigrara de
Túnis para Livorno no
século XVIII. Os Garsin eram originários da
Espanha, de onde haviam sido
expulsos, no final do
século XV, transferindo-se para Túnis.
Depois eles foram para Livorno, onde nasceu o bisavô materno
de Amedeo Mogigliani, Giuseppe Garsin - filho de Salomon Garsin e de
Régine Spinoza.
Já a família paterna, os Modigliani, era provavelmente oriunda de
Modigliana, perto de
Forli, na região da
Romagna. Antes de se estabelecerem em Livorno, teriam vivido em Roma, onde exploravam uma
casa de penhores. Segundo Jeanne Modigliani, um certo Emanuele Modigliani teria sido encarregado pelo governo pontifical de fornecer o
cobre necessário às emissões extraordinárias de moedas dos dois ateliês pontificais. Posteriormente, não obstante uma lei dos
Estados Pontifícios que proibia a posse de terras por judeus, Emmmnuele teria adquirido um
vinhedo nas encostas do
Albani,
sendo, logo em seguida, obrigado pelas autoridades a se desfazer da
vinha. Inconformado, ele teria então deixado Roma, com toda a sua
família, para se instalar em Livorno, em 1849. Naquele mesmo ano,
Giuseppe Garsin, depois de sofrer sérios reveses nos negócios, decide
deixar Livorno e partir , com a mulher, Anna Moscato, e o filho, Isaac,
para
Marselha onde foi bem-sucedido.
Amedeo Modigliani foi o quarto filho de Flaminio Modigliani e sua
esposa Eugénie Garsin, filha de Isaac e Régine Garsin. Na época, os
Garsin eram relativamente abastados - sobretudo um dos irmãos de
Eugénie, Amédée Garsin, que enriquecera especulando com
imóveis e
mercadorias. Já os Modigliani tinham empobrecido, chegando à
falência. Flaminio dedicava-se aos vários negócios da família, que incluíam mineração e agricultura na
Sardenha,
além de atividades comerciais em Livorno. Mas os negócios andaram mal.
Foi o nascimento de Amedeo que salvou a família da ruína total, pois, de
acordo com uma lei antiga, os credores não podiam tomar a cama de uma
mulher grávida ou de uma mãe com um filho recém-nascido. Os oficiais de
justiça entraram na casa da família, justamente quando Eugénie entrou em
trabalho de parto. A família então protegeu seus pertences mais
valiosos colocando-os por cima da cama da parturiente.
Na infância, Amedeo sofreu de diversas doenças graves -
pleurisia,
tifo e
tuberculose
- que comprometeram sua saúde pelo resto da vida e cujo tratamento
forçava-o a constantes viagens, até sua mudança definitiva para Paris,
em
1906.
Também por causa da saúde precária não recebeu educação formal e
voltou-se para o estudo da pintura, iniciado na cidade natal, que
prosseguiu em
Veneza e
Florença.
Teve uma estreita relação com sua mãe, que lhe deu aulas até que ele
completasse dez anos, e começou a desenhar e pintar precocemente, antes
mesmo de ir para a escola. Aos catorze anos, durante uma crise de
febre tifóide, ele delirava e, em seu delírio, falava que queria acima de tudo ver as pinturas no
Palazzo Pitti e nos
Uffizi,
em Florença. A sua mãe então prometeu-lhe que, assim que recuperasse, o levaria a Florença; de facto, não só cumpriu a
promessa como permitiu que o filho fosse trabalhar no estúdio de
Guglielmo Micheli, um dos pintores mais conhecidos de Livorno, de quem
Amedeo recebe as primeiras noções de pintura. No ateliê de Micheli, ele
conhecerá, em 1898, o grande
Giovanni Fattori, sendo assim influenciado pelo movimento dos
Macchiaioli, em particular pelo próprio Fattori e por
Silvestro Lega.
Em
1906, Modigliani transfere-se para Paris e, ao fim de três anos de vida
boémia, executa uma de suas obras mais importantes:
O violoncelista, que expôs no
Salão dos Independentes de
1909.
Como outros pintores e artistas do seu tempo, viveu a experiência da
extrema pobreza. Por meio dos companheiros de arte, conheceu o poeta
polaco
Leopold Zborowski, que se tornaria seu melhor e mais devotado amigo, além de incentivador e
marchand. Em
1917,
Zborowski consegue para Modigliani uma exposição individual na Gallerie
Berthe Weill. A exposição durou apenas um dia, pois se transformou num
escândalo graças aos nus expostos na vitrine da galeria.
A grande musa de Amedeo foi
Jeanne Hébuterne, com quem teve uma filha, Jeanne, em
1918.
Complicações na saúde fazem o pintor viajar para o sul da França com a
esposa e a filha, para se recuperar. Retorna a Paris ao final de
1918.
No dia seguinte à morte do companheiro, Jeanne, grávida de nove meses,
suicida-se, atirando-se do quinto andar de um edifício.
Fruto de diversas culturas, amigo de tantos artistas e encontrando-se
numa conturbada fase de questionamentos e transições, sua obra
entretanto não pode ser considerada filiada a nenhuma escola, sendo toda
ela dotada de um estilo próprio e autónomo.
Seus nus, que provocaram escândalo em seu tempo, revelam não
sensualidade, mas um desnudamento da alma humana. O seu estilo faz parte
de um momento em que a arte pictórica, confrontada à
fotografia, lutava para manter seu espaço, seus valores e sua estética.
A partir de
1912, com o agravamento de sua doença, Modigliani abandona a escultura, concentrando-se apenas na pintura.
Nu Couché au coussin Bleu
Cabeça de mulher, 1911/1912