Biografia
Por volta de 1889 formou-se em Letras pela
Universidade de Coimbra e mais tarde veio a lecionar nessa faculdade. Funda a revista "
Os Insubmissos" com João Menezes e Francisco Bastos ainda nos últimos anos da sua licenciatura, mais propriamente em
1889. Colaborou com a revista que fundou e com a revista "
Boémia nova", ambas seguidoras do
Simbolismo Francês. Teve também colaboração em várias publicações periódicas do século XIX, nomeadamente:
A imprensa (1885-1891),
Ave azul (1899-1900),
A semana de Lisboa (1893-1895),
A leitura (1894-1896),
Branco e Negro (1896-1898); nas duas séries da Ilustração Portuguesa:
Illustração Portugueza (1884-1890) e
Illustração portugueza (iniciada em 1903), e ainda, em diversas revistas do Século XX, entre as quais a revista
Serões (1901-1911),
Atlantida (1915-1920),
Contemporânea (1915-1926) e na revista
Ilustração (iniciada em 1926). Em
1890 entrou para a história da
literatura portuguesa com o lançamento do livro de poemas "Oaristos", marco inicial do Simbolismo em Portugal.
A obra de Eugénio de Castro pode ser dividida em duas fases: na primeira, a fase simbolista, que corresponde a sua produção poética até o fim do
século XIX, Eugénio de Castro apresenta algumas características da Escola Simbolista, como o uso de rimas novas e raras, novas
métricas,
sinestesias,
aliterações e vocabulário mais rico e musical.
Na segunda fase ou
neoclássica, que corresponde aos poemas escritos já no
século XX, vemos um poeta voltado à
Antiguidade Clássica e ao passado português, revelando um certo saudosismo, característico das primeiras décadas do século XX em Portugal.
Casou-se em 22 de Maio de 1898 com Brígida Augusta Correia Portal, e desse casamento houve seis filhos.
Engrinalda-me com os Teus Braços
Teu corpo de âmbar, gótico, afilado,
Sempre velado de cheirosos linhos,
Teu corpo, aprilino prado,
Por onde o meu desejo, pastor brando,
Risonho há-de viver, pastoreando
Meus beiços, desinquietos cordeirinhos,
Teu corpo é esbelto, ó zagaia esguia,
Como as harpas que o pai de Salomão tangia!
Teu corpo eléctrico, ogival,
Núbil, sequinho, perturbante,
É uma dispensa real:
Os teus olhos são duas cabacinhas
Cheias dum vinho estonteante
Os teus dentes são alvas camarinhas,
Os teus dedos, suavíssimos espargos,
E os teus seios, pêssegos verdes mas não amargos.
Lira de nervos, glória das trigueiras,
Como tu és graciosa! As laranjeiras,
Desde que viste o sol com esses sóis amados,
Só vinte vezes perfumaram noivados!
Nobre e graciosa és, morena das morenas,
Como as senhoras de olhos belos,
Que passeavam nos jardins de Atenas
Com uma cigarra de ouro nos cabelos!
Como tu, eu sou moço! e atrevido
Com Anceu, rei de Samos,
E jamais caçador me fez vencido,
Quando, caçando o javali, ando entre os ramos.
O meu peito é de jaspe, a minha voz macia,
Meus olhos ágeis e dourados como abelhas,
E, para que as colhas, minha boca sadia
E um orvalhado cabazinho de groselhas.
Novos e alegres somos! Ah! que em breve
Nossas bocas se colem voluptuosas;
Vamos sonhar e toucar-nos de rosas,
Enquanto há sol, enquanto não cai neve!
Não te demores,
Ó cheia de graça,
Que os dias correm voadores,
E a mocidade passa...
A mocidade passa... e, um dia, ó meus pecados,
A tua boca vermelha Será uma rosa velha,
E minhas mãos uns lírios fanados...
E então, velhinhos combalidos,
Como dois galhos ressequidos
Sem folhas e sem pomos,
Lembrar-nos-emos do que hoje somos,
Ó maravilha
De graciosidade!
Como dum filho e duma filha
Que nos morressem na flor da idade!
in Silva (1894) - Eugénio de Castro