Prokofiev demonstrou bem cedo invulgares dotes musicais. Aos nove anos ele compôs sua primeira
ópera,
O Gigante, assim como uma
abertura e outras peças. Em
1902, sua mãe conseguiu uma audiência com
Sergei Taneyev, diretor do
Conservatório de Moscovo. Taneyev sugeriu que Prokofiev começasse a ouvir aulas de composição com
Alexander Goldenweiser, que declinou, e
Reinhold Glière. Glière visitou o jovem Prokofiev em Sontsovka duas vezes durante o verão para ensiná-lo. Paralelamente, Prokofiev aprendeu
xadrez, uma paixão que se manteve por sua vida. Quando aprendeu a base teórica musical necessária, dedicou-se a experimentar, definindo o que seria o seu estilo musical.
Pouco tempo depois, ele sente que o isolamento de onde morava estava restringindo o seu desenvolvimento musical. Apesar de seus pais não apoiarem a entrada de seu filho na carreira musical tão cedo, em 1904 ele se mudou para
São Petersburgo e se inscreveu no
Conservatório de São Petersburgo, após encorajamento de
Alexander Glazunov. Entre seus professores estavam Rimsky-Korsakov, Liadov e Tcherepnin. Nesse momento, ele já havia composto mais duas óperas, e já estava trabalhando na quarta. Ele passou nos testes introdutórios e começou seus estudos de composição no mesmo ano. Sendo muito mais jovem que seus colegas de classe, era visto como excêntrico e arrogante, e ele frequentemente se mostrava insatisfeito com a educação, a qual ele considerava entediante. Entretanto, tornou-se amigo de
Boris Asafiev e
Nikolai Myaskovsky. Em
1908 ele estreou-se como pianista. No ano seguinte, gradou-se em composição, e continuou no conservatório para focar-se na aprendizagem de
piano e condução. Era visto como
enfant terrible, uma imagem que ele próprio cultivava.
No ano seguinte, seu pai morreu, o que resultou no fim do seu suporte económico. Mas ele já tinha certa reputação como compositor, apesar de causar escândalos frequentemente com seus trabalhos. Seus dois primeiros concertos para piano foram compostos nessa época, o que lhe valeu má fama como músico, contra a linha nacionalista russa. Fez sua primeira excursão fora da Rússia em
1913, viajando a
Londres e depois a
Paris, onde encontrou o
Ballets Russes de
Sergei Diaguilev. No ano seguinte, terminou o curso do Conservatório em São Petersburgo com as mais altas classificações, um prémio Rubenstein, o que lhe rendeu um piano. Retornou a Londres, onde entrou em contacto com
Sergei Diaguilev e
Igor Stravinsky. Durante a
Primeira Guerra Mundial, retornou a academia, agora estudando
órgão. Ele compôs a
ópera O Jogador, com base na
obra homónima de
Fiodor Dostoievski, um estudo sobre obsessão. A estreia foi cancelada devido à
Revolução Russa de 1917.
No verão do mesmo ano compôs sua primeira sinfonia, a
Sinfonia Clássica, desenvolvida ao estilo clássico em quatro andamentos. Após breve estadia com sua mãe em
Kislovodsk, preocupado com a captura inimiga de
Petrogrado (São Petersburgo), retornou em
1918. Ele estava determinado a deixar a Rússia, pelo menos temporariamente, percebendo nenhuma oportunidade para a música experimental. Em maio, mudou-se para os
Estados Unidos, mas manteve contacto com
bolcheviques como
Anatoly Lunacharsky. Posteriormente, escreveu que o motivo da sua ausência era estritamente musical, e não uma oposição ao novo regime que seu país instalado.
No exterior
Prokofiev passou a viver em
São Francisco, e ao chegar foi imediatamente comparado a outros exilados como
Sergei Rachmaninoff. Ele começou bem em
Nova Iorque, o que levou a diversas outras oportunidades. Entretanto, recebeu um contrato de produção de sua ópera
O Amor das Três Laranjas, que teve sua estreia cancelada devido à doença e morte do diretor. Esse facto lhe custou a carreira
a solo nos Estados Unidos.
Com problemas financeiros, mudou-se para
Paris em abril de 1920, sem querer voltar à Rússia como um fracasso. Por lá, retomou contacto com Diaghilev e Stravinsky, e retornou a trabalhos antigos e inacabados como o
Concerto para Piano nº 3. Para Diaguilev, compôs os bailados
Chout (
O Bufão,
1921, op.21), e
O Passo de Aço (
1927, op.41), apoteose da industrialização que estava a produzir-se nesse momento na Rússia. No fim do ano,
O Amor das Três Laranjas finalmente estreou em
Chicago, sob desaprovação do compositor. Trabalhou na ópera
O Anjo de Fogo, ópera mística tirada dum romance de
Valeri Briussov, que só foi encenada na íntegra depois da morte do compositor.
Em março de 1922, se mudou com sua mãe para a cidade de
Ettal, nos Alpes da Baviera por mais de um ano, a fim de se concentrar completamente nas composições. Nessa época, sua música repercutiu na Rússia, mas apesar de receber convites para retornar, permaneceu na Europa. Em
1923, se casou com a cantora espanhola Lina Llubera, antes de retornar a Paris. Por volta de
1927, recebeu comissão de Diaguilev e realizou diversas turnês pela
União Soviética, com uma apresentação bem sucedida de
O Amor das Três Laranjas em Leningrado. Duas óperas mais antigas também foram tocadas na Europa, e no ano seguinte Prokofiev produziu sua Terceira Sinfonia.
Em
1929, sofreu um acidente de carro em
Domrémy e magoou-se nas mãos. O acidente impediu-o de realizar uma turnê em Moscou; em contrapartida, ele teve a oportunidade de aproveitar a cena musical russa contemporânea. Após sua recuperação, ele tentou realizar turnê nos Estados Unidos novamente, e dessa vez foi calorosamente recebido, refletindo seu recente sucesso na Europa. No começo da
década de 1930, ele começou a passar muito mais tempo na União Soviética, trabalhando cada vez mais por lá em favor de Paris. Uma das comissões foi
Lieutenant Kije,
trilha sonora dum filme russo. Outro exemplo foi o
ballet Romeu e Julieta, para o
Balé Kirov em Leningrado, que estreou somente em 1938, em
Brno. Atualmente, este é um dos trabalhos mais conhecidos de Prokofiev. Entretanto, teve diversos problemas de coreografia, e a estreia foi adiada por diversos anos.
Regresso à União Soviética
Em
1935, Prokofiev voltou à
União Soviética permanentemente; a sua família voltou somente no ano seguinte. Na época, a política soviética referente a música havia mudado; uma agência havia sido criada para vigiar os artistas e suas criações. Limitando a influência externa, tais políticas gradualmente isolaram os compositores soviéticos do resto do mundo. Tentando se adaptar às novas circunstâncias, Prokofiev escreveu uma série de canções (Opp. 66, 79, 89), usando letras de poetas aprovados oficialmente pelo governo, além do
oratório Zdravitsa (Op. 85), o que assegurou sua posição como um compositor soviético. Na mesma época, compôs para crianças, incluindo
Pedro e o Lobo, para narrador e orquestra, uma obra realizada para agradar a
Josef Stalin.
Em 1938, Prokofiev colaborou com o famoso cineasta russo
Sergei Eisenstein no épico
Alexander Nevsky. Apesar do filme ter baixa qualidade sonora, Prokofiev adaptou grande parte da obra numa cantata, que tem sido apresentada e gravada frequentemente. Em
1941, o compositor sofre o primeiro de uma série de
ataques cardíacos, resultando numa piora gradual de saúde. por causa da
Segunda Guerra Mundial, ele foi periodicamente evacuado para o sul junto com outros artistas. Isso trouxe diversas consequências para sua família em Moscou, e seu relacionamento com a poetisa
Mira Mendelson resultou na sua separação com a esposa Lina, apesar de não terem se divorciado. Mira já havia o ajudado em libretos.
A guerra inspirou Prokofiev a mais uma ópera,
Guerra e Paz, com a qual ele trabalhou por dois anos, junto com mais uma trilha sonora para Sergei Eisenstein, dessa vez
Ivan, o Terrível. Entretanto, o governo soviético revisou a ópera diversas vezes. Em
1944, Prokofiev se mudou para fora de Moscou, para compor sua quinta sinfonia (Op. 100) que tornou-se a mais popular delas. Pouco depois, sofreu uma
concussão e nunca se recuperou. Por causa disso, a sua produtividade diminuiu drasticamente nos anos seguintes.
Após a guerra, o compositor ainda teve tempo para de escrever sua sexta sinfonia e sua nona sonata para piano, antes do Partido Soviético mudar de opinião sobre sua música. As atenções pós-guerra estavam voltadas novamente a assuntos internos, e o governo estava regulando novamente a atividade dos artistas locais. Em
10 de fevereiro de
1948, uma resolução do Partido Comunista condenou supostas tendências antidemocráticas na música. A música de Prokofiev agora era vista como um exemplo do
formalismo, um perigo para o povo soviético. Em
20 de fevereiro, sua esposa Lina foi presa por espionagem, ao tentar enviar dinheiro para sua mãe na
Catalunha. Nesse mesmo ano, Prokofiev deixa a família por Mira. Lina foi sentenciada a vinte anos, mas foi solta após a morte de
Estaline em 1953, deixando a União Soviética.
Seus últimos projetos de ópera foram rapidamente cancelados pelo Teatro Kirov, o que, em combinação com sua saúde cada vez pior, causou a queda cada vez maior da atividade musical do compositor. Seus médicos ordenaram a limitação de suas atividades, fazendo com que ele reservasse somente um ou duas horas diárias à composição. Sua última apresentação pública foi a estreia da sétima sinfonia em
1952, cuja música foi escrita para um programa de televisão infantil. A obra recebeu o prémio Estaline em 1947.
Igor Stravinsky classificou-o como o maior compositor russo de sua época, para além dele próprio.
Aos 61 anos, Prokofiev morreu em
5 de março de
1953, no mesmo dia que Estaline. Ele vivia próximo da
Praça Vermelha, e em três dias, enquanto a multidão que se despedia de Estaline, estas cerimónias impossibilitaram a retirada do corpo de Prokofiev para o serviço funerário. No funeral, não havia flores nem músicos, todos reservados ao funeral do líder soviético. A sua morte é frequentemente atribuída a uma
hemorragia cerebral, mas é sabido que ele já estava muito doente pelos últimos oito anos de sua vida. Ele havia apenas iniciado os ensaios para o seu bailado
A Flor de Pedra, que foi levado à cena no ano seguinte.
Com Lina Llubera teve dois filhos, Sviatoslav e Oleg.