Biografia
Nascido na
Ilha de São Miguel,
Açores, filho do combatente liberal
Fernando de Quental (
Solar do Ramalho - do qual mandou tirar a
pedra de armas da família -, 10 de maio de 1814 - Ponta Delgada,
Matriz, 7 de março de 1873) e de sua mulher Ana Guilhermina da Maia (
Setúbal, 16 de julho de 1811 - Lisboa, 28 de novembro de 1876), durante a sua vida, Antero de Quental dedicou-se à poesia, à filosofia e à política. Iniciou os seus estudos na cidade natal, mudando-se para
Coimbra aos 16 anos, ali estudando Direito e manifestando as primeiras ideias
socialistas. Fundou em
Coimbra a
Sociedade do Raio, que pretendia renovar o país pela literatura.
Em
1861, publicou seus primeiros
sonetos. Quatro anos depois, publicou as
Odes Modernas, influenciadas pelo
socialismo experimental de
Proudhon, enaltecendo a
revolução. Nesse mesmo ano iniciou a
Questão Coimbrã, em que Antero e outros poetas foram atacados por
Antônio Feliciano de Castilho, por instigarem a revolução intelectual. Como resposta, Antero publicou os opúsculos
Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. António Feliciano de Castilho, e
A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais.
Ainda em
1866 foi viver em
Lisboa, onde experimentou a vida de
operário, trabalhando como
tipógrafo, profissão que exerceu também em
Paris, entre janeiro e fevereiro de
1867.
Em
1868 regressou a
Lisboa, onde formou o
Cenáculo, de que fizeram parte, entre outros,
Eça de Queirós,
Abílio de Guerra Junqueiro e
Ramalho Ortigão.
Em
1873 herdou uma quantia considerável de dinheiro, o que lhe permitiu viver dos rendimentos dessa fortuna. Em
1874, com
tuberculose, descansou por um ano, mas em
1875, fez a reedição das
Odes Modernas.
Em
1879 mudou-se para o
Porto, e em
1886 publicou aquela que é considerada pelos críticos como sua melhor obra poética,
Sonetos Completos, com características autobiográficas e
simbolistas.
Em
1880, adoptou as duas filhas do seu amigo, Germano Meireles, que falecera em
1877. Em setembro de
1881 foi, por razões de saúde e a conselho do seu médico, viver em
Vila do Conde, onde fixou residência até maio de
1891, com pequenos intervalos nos
Açores e em
Lisboa. O período em Vila do Conde foi considerado pelo poeta o melhor período da sua vida: "Aqui as praias são amplas e belas, e por elas me passeio ou me estendo ao sol com a voluptuosidade que só conhecem os poetas e os lagartos adoradores da luz."
Em
1886 foram publicados os
Sonetos Completos, coligidos e prefaciados por Oliveira Martins. Entre março e outubro de
1887, permaneceu nos Açores, voltando depois a Vila do Conde. Devido à sua estada em Vila do Conde, foi criada nesta cidade, em
1995, o "Centro de Estudos Anterianos"
Em
1890, devido à reacção nacional contra o ultimato inglês, de
11 de janeiro, aceitou presidir à
Liga Patriótica do Norte, mas a existência da Liga foi efémera. Quando regressou a Lisboa, em maio de
1891, instalou-se em casa da irmã, Ana de Quental. Portador de
Distúrbio Bipolar, nesse momento o seu estado de depressão era permanente. Após um mês, em junho de
1891, regressou a Ponta Delgada, suicidando-se no dia
11 de setembro de
1891, com um ou dois tiros, num banco de jardim junto ao
Convento da Esperança, onde está na parede a palavra "Esperança", no
Campo de São Francisco, cerca das 20.00 horas.
Os seus restos mortais encontram-se sepultados no
Cemitério de São Joaquim, em Ponta Delgada.
A Obra
A poesia de Antero de Quental apresenta três faces distintas:
- A das experiências juvenis, em que coexistem diversas tendências;
- A da poesia militante, empenhada em agir como “voz da revolução”;
- E a da poesia de tom metafísico, voltada para a expressão da angustia de quem busca um sentido para a existência.
A oscilação entre uma poesia de combate, dedicada ao elogio da acção e da capacidade humana, e uma poesia intimista, direcionada para a análise de uma individualidade angustiada, parece ter sido constante na obra madura de Antero, abandonando a posição que costumava enxergar uma sequência cronológica de três fases.
Antero atinge um maior grau de elaboração em seus sonetos, considerados por muitos críticos uns dos melhores da língua e comparados aos de
Camões e aos de
Bocage. Há, na verdade, alguns pontos de contato estilísticos e temáticos entre esses três poetas: os sonetos de Antero têm inegável sabor clássico, quer na adjetivação e na musicalidade equilibrada, quer na análise de questões universais que afligem o homem.