Biografia
Murillo Araújo mudou-se em
1907 para o Rio de Janeiro e ingressou como interno no
Colégio Pedro II, onde mais tarde seria professor de desenho. Embora se formasse em
direito (
1921), pouco exerceu dessa profissão, dedicando-se ao
jornalismo.
Murillo Araújo foi um dos expoentes do
Modernismo, movimento que foi um dos pioneiros ao publicar, em
1917, o livro
Carrilhões, cinco anos antes da
Semana de Arte Moderna. A Enciclopédia de Literatura Brasileira (COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J.Galante de. Modernismo. Global Editora, São Paulo, 2001, 2a. edição, páginas 1083-1084) regista: "Apoiado nos estudos de Mário da Silva Brito, publicados em 'Anhembí', oferece Antônio Soares Amora a seguinte sucessão de momentos significativos anteriores à Semana de Arte Moderna de 1922, e já no rumo deliberado da renovação: (...) "...ainda em 1917 vários poetas novos começaram a impor-se:" (...) "...Murillo Araújo, 'Carrilhões'..."
Como índice da modernidade de Murillo Araújo, desponta o fato do seu poema Macumba, ter recebido, em 1930, aclamadora alusão na conferência "Poesia Moderníssima do Brasil", proferida no curso de férias da Faculdade de Letras de Coimbra, pelo professor da Cadeira de Estudos Brasileiros, Dr. Manoel de Souza Pinto.
Seguiram-se a este livro A galera (escrito em
1915, mas publicado anos depois),
Árias de muito longe (
1921),
A cidade de ouro (
1927),
A iluminação da vida (
1927),
A estrela azul (
1940) - esta obra foi traduzida pelo poeta
uruguaio Gaston Figuera para o espanhol com o nome
La Estrela Azul e publicada em
Nova York (
EUA) -,
As sete cores do céu (
1941),
A escadaria acesa (
1941),
O palhacinho quebrado (
1946),
A luz perdida (
1952) e
O candelabro eterno (
1955). A obra em prosa limita-se a quatro livros:
A arte do poeta (
1944),
Ontem ao luar (
1951), uma biografia do compositor
Catulo da Paixão Cearense,
Aconteceu em nossa terra (pequenos casos de grandes homens) e
Quadrantes do Modernismo Brasileiro (
1958). Murillo Araújo também traduziu o livro
O inspector geral, do escritor russo Nikolai
Gogol (
Sorotchintsi,
1809 –
Moscovo,
1852).
Em
1960, a
Editora Pongetti lançou, em três volumes, toda a sua obra poética, com o título
Poemas Completos de Murillo Araújo.
O Grupo Festa
O poeta foi um dos artistas do modernismo mais influenciado pelo
Simbolismo. O grupo, que editava a revista de mesmo nome, integrava que a Corrente Espiritualista do Modernismo. O poeta era também famoso frequentador dos
sabadoyles, organizados pelo bibliófilo
Plínio Doyle.
Dentre os poetas que o influenciaram estão
Walt Whitman - poeta norte-americano (
West Hills,
1819 -
Camden,
1892) -,
António Nobre - poeta português (
Porto,
1867 -
Foz do Douro,
1900), considerado a maior figura do simbolismo em Portugal - e
Émile Verhaeren - poeta
belga de expressão
francesa (
Saint-Amands,
1855 -
Rouen, 1916). Autor de contos, peças de teatro e crítica literária, além de poesia, evoluiu do naturalismo para o misticismo. Em
1971, ele recebeu o
Prémio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra
Murillo e a música
Parte de suas poesias chegou a ser musicada. O compositor Heitor
Villa-Lobos (Rio de Janeiro,
1887 - Rio de Janeiro,
1959) compôs três obras com letras dele,
Canção da Imprensa (
1940),
Juramento e
Canção de Cristal (
1955).
O poeta foi musicado também por
Francisco Braga (Rio de Janeiro,
1868 - idem,
1945), o autor do Hino à Bandeira, na música
Moreninha,
Eleazar de Carvalho (
Igatu -
CE,
1912 -
São Paulo,
1996) - em
Canto a Porto Seguro -,
Luciano Gallet (Rio de Janeiro,
1893 - idem,
1931) - em
Interpretações -,
Heckel Tavares (
Satuba,
AL,
1896 - Rio de Janeiro,
1969)-
Banzo,
Oração do Guerreiro,
Funeral d´um rei Nagô,
Três canções de Natal e
Anhanguera; e Fernando Lobo - que adotou o pseudónimo de
Marcelo Tupinambá, compositor popular brasileiro (
Tietê,
SP,
1892 --
São Paulo,
1953) -
Treva Noturna.
Murillo Araújo compôs Canto Heróico do Liceu de Artes e Ofícios e Canta, Canta, Passarinho, cujo arranjo é de Vila-Lobos.
Sonho de Herói
Com um galho de bambu verde
e dois ramos de palmeira
eu hei de fazer um dia o meu cavalo – com asas!
Subirei nele, com vento, lá bem alto,
de carreira,
por sobre o arvoredo e as casas.
Voarei, roçando o mato,
as copas em flor das árvores,
como se cruzasse o mar…
e até sobre o mar de fato
passarei nas nuvens pálidas
muito acima das montanhas, das cidades, das cachoeiras,
mais alto que a chuva, no ar!
E irei às estrelas,
ilhas dos rios de além,
ilhas de pedras divinas,
de ribeiras diamantinas
com palmas, conchas, coquinhos nas suas praias também…
praias de pérola e de ouro
onde nunca foi ninguém…
Murillo Araujo