sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Augusto Gil morreu há 81 anos



Augusto César Ferreira Gil (Lordelo do Ouro, 31 de Julho de 1873 - Guarda, 26 de Fevereiro de 1929) advogado e poeta português, viveu praticamente toda a sua vida na Cidade da Guarda onde colaborou e dirigiu alguns jornais locais.

Estudou inicialmente na Guarda, a "sagrada Beira", de cuja paisagem encontramos reflexos em muitos dos seus poemas e de onde os pais eram oriundos, e formou-se em Direito na Universidade de Coimbra.

Começou a exercer advocacia em Lisboa, tornando-se mais tarde director-geral das Belas-Artes. Na sua poesia notam-se influências do Parnasianismo e do Simbolismo. Influenciado por Guerra Junqueiro, João de Deus e pelo lirismo de António Nobre, a sua poesia insere-se numa perspectiva neo-romântica nacionalista.

in Wikipédia




Balada da Neve

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

in Luar de Janeiro (1909) - Augusto Gil

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Uma subida ao Pico

Com a devida vénia, publicamos o seguinte post, de autoria do meu amigo guia de montanha Valter Medeiros:

Pois é, na passada Quinta feira (18 de Fevereiro) fiz algo que já não fazia há alguns anos: uma subida ao Pico com neve!

O tempo estava quase perfeito, estávamos na crista de uma alta-pressão, e aproveitámos a janela de bom tempo para dar lá um saltinho.

Tudo começou na quarta-feira, quando o meu irmão, que tem estado cá com a minha cunhada de férias, me sugeriu que, caso o tempo estivesse bom no dia seguinte, fossemos pela montanha acima até à neve. Claro que disse logo que sim! Então fiz uma chamada para o meu meteorologista de confiança - o Rui Medeiros e, após alguns minutos a consultar cartas meteorológicas e imagens de satélite recebi a mensagem dele: "manda-te para cima! amanhã vai estar bom pelo menos até às 6 da tarde"

Mais uma chamada, desta vez para os irmãos do Rui - Duarte e João - e já tínhamos o nosso grupo feito!

Na quinta feira de manhã o Pico ainda nos fez algumas caretas, mostrando um chapéu de abas bem largas, que depressa se dissipou, mas não foi o suficiente para nos demover da nossa aventura!

A subida iniciou-se por volta das 11.00 horas, e começámos a encontrar gelo, formado na noite anterior, logo após os primeiros metros de trilho. Fomos nas calmas, "pole pole" como nos dizia o guia no Kilimanjaro. O objectivo era irmos até onde desse, e passar um bom bocado na neve.

Começámos a encontrar os primeiros "bardos" de neve a partir dos 1400 metros de altitude. Daí para cima foi-nos aparecendo cada vez mais neve. Era uma neve escorregadia, já tinha derretido bastante no dia anterior, voltado a gelar durante a noite, e já começava a derreter de novo, por isso tivemos de redobrar os cuidados à medida que fomos subindo.



Como já referi, o objectivo era chegar até onde desse... Deu para chegar à Cratera! Demorámos 4 horas, mas não tínhamos grandes pressas. Pelo caminho foram voando bolas de neve, piadas e tolices e as máquinas fotográficas tiveram pouco descanso!





O Piquinho estava tímido, escondido por uma neblina ténue, mas muito teimosa e que nos estragava as hipóteses de tirar fotografias nítidas do cume. Ao menos as formações de gelo na parede da Cratera eram fantásticas, o que já dava para animar um pouco.





Lanchámos e esperámos só mais um pouco na esperança que a neblina se dissipasse... e tivemos sorte! Lá ficaram as máquinas fotográficas sem descanso outra vez!



Era altura de descer, já estávamos há muito tempo lá em cima, o frio já se fazia sentir, e de que maneira! A hora já estava a ficar avançada também, já passava das 3 e ainda tínhamos a descida sobre aquela neve escorregadia pela frente.

Após 3 horas de descida, escorregadelas e muita galhofa lá chegámos ao fim desta pequena aventura.

Para a maior parte do grupo esta já não era a sua primeira subida com neve, mas para a minha cunhada foi a primeira subida ao Pico, e ainda por cima com neve! Para mim deverá ter sido a vigésima subida com neve, mas desde 2005 que não subia de inverno. Por mais subidas que faça com neve, em todas fico surpreendido pelas formações de gelo e pela Cratera cheia de neve!

Espero que este inverno hajam mais janelas de bom tempo como esta, para poder fazer mais algumas subidas e captar imagens como estas!

Tertúlia “Aspectos Geológicos do Litoral da Nazaré” com Galopim de Carvalho


O ciclo "Conversas na Biblioteca - Tertúlias Nazarenas" regressa no próximo dia 27 de Fevereiro de 2010 à Biblioteca Municipal da Nazaré, para falar dos “Aspectos Geológicos da Nazaré”.

O professor e geólogo Galopim de Carvalho, considerado um símbolo nacional da defesa e preservação do património cultural e científico, nomeadamente de sinais da evolução da história natural, é o convidado desta sessão, com início marcado para as 16.00 horas.

O ciclo de Tertúlias, uma actividade desenvolvida pela Biblioteca Municipal da Nazaré, visa, por um lado, fomentar o debate de ideias e, por outro, dinamizar este espaço de conhecimento, de cultura e de saber, visando a sua aproximação a públicos alargados, através da presença de figuras de destaque nacional.

Dirigidas ao público em geral, as “Conversas na Biblioteca” pretendem, ainda, fomentar o debate de ideias a partir da temática escolhida para cada sessão.

in CM Nazaré - ver aqui

Notícia sobre Espeleologia


Equipa de espeleólogos procura novas galerias em Mira de Aire

O que têm em comum um polvo, uma alforreca, uma velha, um órgão e o Pão de Açúcar? São algumas das imagens que vemos nas formações calcárias das Grutas de Mira de Aire, que continuam na corrida às Sete Maravilhas Naturais de Portugal e que no próximo Verão recebem uma equipa de geólogos em busca de novas galerias. Carlos Alberto Jorge, administrador das grutas, disse ao JORNAL DE LEIRIA que a equipa, liderada pelo geólogo e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, José Crispim virá equipada com material de mergulho e bombagem na esperança de descobrir novas ramificações da gigantesca gruta, que já se estende por três concelhos (Porto de Mós, Batalha e Alcanena) afectos a dois distritos (Leiria e Santarém). As Grutas de Mira de Aire têm 11.400 metros de área reconhecida, 600 dos quais são visitáveis. Numa visita/conferência, realizada na passada segunda-feira, às Grutas de Alvados e Mira de Aire João Salgueiro, presidente da Câmara de Porto de Mós, não escondeu as “fortes expectativas de continuar em frente na próxima etapa do concurso (dia 7 de Março) e ficar classificada como uma das Sete Maravilhas Naturais de Portugal”.

in Jornal de Leiria - Edição 1337, de 25 de Fevereiro de 2010

Ética republicana explicada de viva voz


Audição na Comissão de Ética
José Sócrates pressionou o director do "Expresso" para não publicar notícia sobre licenciatura

Foi uma tarde de opostos no Parlamento: se o director do semanário denunciou pressões, Paulo Penedos fez juramento de inocência.

José Sócrates terá pressionado o director do Expresso para que o jornal não publicasse a notícia sobre os atropelos do processo da sua licenciatura, revelou ontem Henrique Monteiro na Comissão Parlamentar de Ética. Na véspera da saída do artigo, o director recebeu "um telefonema de uma hora, bastante desagradável", do primeiro-ministro, em que este lhe pediu "por tudo para não publicar", mas nem sequer quis fazer um desmentido ou alguma correcção, salientou Henrique Monteiro.

Esta e a retirada de publicidade por parte do BES durante ano e meio por causa de um artigo de opinião publicado pelo jornal foram as maiores pressões que sofreu. Mas disse que "a verdadeira pressão" é "estar com uma pistola apontada à cabeça e dizerem-me se publicas isso eu dou-te um tiro", como lhe aconteceu há 18 anos em Angola. País onde, aliás, nenhum jornalista do seu grupo ou do PÚBLICO pode entrar, salientou.

Monteiro afirmou-se convencido que Sócrates sabia do negócio de compra da TVI pela PT e teria sido informado por Henrique Granadeiro numa reunião, em São Bento, na véspera de ir ao Parlamento, ou seja, no dia 23 de Junho. E que já na cimeira de Zamora, em Janeiro, o assunto fora abordado com o Governo espanhol. "Nunca houve uma compra ou venda de uma TV sem o primeiro-ministro saber", frisou. Monteiro deixou no ar as suas desconfianças quanto às intenções da Ongoing na Impresa, e considerou "um erro político" Sócrates apontar um jornal ou uma TV como inimigo, dizendo que o chefe do Governo tem um problema de "obsessão com a imagem".

Instado a comentar declarações em artigos de opinião antigos, Henrique Monteiro não quis concretizar a que títulos se referia ao dizer que "o gabinete do primeiro-ministro teve sempre a estratégia de secar a informação aos jornais que não controlava em detrimento dos jornais amigos".

Penedos invoca segredo

A audição do assessor jurídico da Portugal Telecom, Paulo Penedos, foi pouco conclusiva - a centrista Cecília Meireles chegou mesmo a queixar-se de que saía "mais confusa" do que entrou. Penedos multiplicou-se em justificações com a sua obrigação de segredo de justiça - por as escutas estarem ainda incluídas no processo Face Oculta - e de sigilo profissional para não responder a questões vindas de todos os partidos, fosse acerca do processo da compra da TVI ou do caso que envolve Figo e o Taguspark.

"Ninguém mais do que eu desejaria falar livremente sobre este assunto", garantiu, disponibilizando-se para voltar ao Parlamento quando o segredo de justiça for levantado, pedindo até dispensa do sigilo profissional - mas também "dependendo do que a PT me deixa ou não revelar", avisou. Questionado sobre as questões que vieram a público na transcrição de escutas no Sol, limitou-se a recusar o pressuposto de que se estaria a "esconder ou a proteger interesses estranhos ou menos respeitáveis".

Penedos afirmou que não participava em decisões, já que era um mero assessor jurídico que foi levado para a PT pelo amigo Rui Pedro Soares, a quem reportava. Que foi quem lhe passou a documentação sobre o negócio de compra da TVI para analisar em Maio.

Não quis revelar que bancos estariam envolvidos no financiamento - mas apressou-se a confirmar que nunca falou com Armando Vara "sobre a questão, nem sobre qualquer outro tipo de operação que tivesse a ver com tentativa de controlo ou manipulação de órgãos da comunicação social".

O zombie criminoso



Fidel Castro tomou o poder em Cuba em 1959, substituindo uma ditadura por outra ditadura – a sua – a qual, em meio século, provocou a morte de dezenas de milhar de cubanos.

Os números da morte daquele regime comunista impressionam, variando os cálculos entre os 77 mil e os 136 mil: só na década de 60 do século passado, as cifras apontam para mais de 10 mil fuzilamentos, sendo certo que muitos outros houve. Milhares de cubanos foram assassinados extrajudicialmente e outros milhares de presos políticos foram mortos por maus tratos nas prisões. Dezenas, muitas dezenas de milhar de cubanos morreram a tentar fugir da colónia penal em que Cuba se transformou.


Nada que incomode o politiburo estalinista cá do burgo, que continua a dizer loas sobre o abjecto mundo comunista.


Esta segunda-feira o zombie Fidel e o mano Raúl voltaram a matar. Friamente, implacavelmente, impunemente.


Desta vez foi mais um preso político, Orlando Zapata Tamayo, condenado em 2003 a penas sucessivas que acabaram por totalizar 36 anos de prisão, morreu após 85 dias em greve de fome.
Como pode alguém decente pactuar com tais criminosos?

(na imagem, "fidel zombie", escultura de Eugenio Merino, 2008)



in Corta-fitas - post de Rui Crull Tabosa

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Humor político

"Ele já era director da PT"

Sócrates.

in 31 da Armada - post de Carlos Nunes Lopes

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Palestra - What energy future after the world oil peak?


No dia 24 de Fevereiro de 2010 o Prof. Pierre-René Beauquis, professor do Instituto Francês do Petróleo e antigo consultor do presidente da TOTAL, irá proferir uma aula/palestra com o título What energy future after the world oil peak?. A aula iniciar-se-á às 14.00 e terminará às 17.00 horas no anfiteatro A1 do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra (Largo Marquês de Pombal, 3000-272 Coimbra).

A participação é gratuita mas é recomendável que os participantes façam a pré-inscrição em www.eage.org/students

O geólogo José Fernando Monteiro morreu há 5 anos


Faz hoje 5 anos que o promissor professor (assistente e doutorando...) do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa nos deixou. Estava a terminar a sua Tese, intitulada “O Registo de Impactos Cósmicos na História da Terra: O Caso da Fronteira Cenomaniano-Turoniano e a Montanha Submarina de Tore”, que já não pode defender. Brilhante divulgador científico, penso que um dos mais prolíficos em Portugal, deixa saudades e alguns materiais e ensinamentos que ainda podemos ler, vide estes três exemplos - 1, 2 e 3.

Porque os geólogos têm memória e recordam os que, dentre eles, foram importantes para a divulgação da sua área, pois uma ciência eminentemente histórica como é a Geologia não pode esquecer os que por ela labutaram e tanto lhe deram, hoje só podemos dizer:

- Obrigado, José Fernando Monteiro!

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Seminário em Porto de Mós sobre Sustentabilidade na Indústria Extractiva

Seminário “Sustentabilidade na Indústria Extractiva”

24 de Fevereiro de 2010 (4ª) - 14.15 horas

Cine-Teatro de Porto de Mós

(clicar para aumentar)

Esta iniciativa, organizada pela Câmara Municipal de Porto de Mós e pelo Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, com a colaboração da Associação de Exploradores de Calçada à Portuguesa (AECP), da Associação Portuguesa de Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins (ASSIMAGRA) e da Associação Gestora de Inertes, contará com a presença de vários representantes de entidades implicadas e conhecedoras do tema.

A entrada é gratuita mas os interessados deverão proceder a uma inscrição, através do número 244 499 605 ou para o e-mail comunicacao@municipio-portodemos.pt indicando o nome individual/empresarial e contacto.

Paleontologia e paleoantropologia no DN

Hobbit da Indonésia, o primeiro colonizador?


Estudos recentes apontam o 'Homo florensiensis', espécie descoberta em 2003 na Indonésia, como o primeiro a deixar África para colonizar outros pontos do globo


Cerca de um metro de altura, cérebro do tamanho de uma laranja, pés compridos e chatos. Os cientistas chamam-lhe "hobbit", mas não saiu de nenhum livro de Tolkien. Desde 2003 que a descoberta de ossadas de uma nova espécie está a ameaçar revolucionar a história da raça humana.

Quando um grupo de investigadores australianos começou a escavar o solo de Ling Bua, uma caverna de calcário na ilha das Flores, não podia adivinhar que estavam prestes a fazer uma das mais importantes descobertas arqueológicas de sempre. A ilha indonésia escondia, até há pouco mais de seis anos, a existência de uma espécie humana que não constava nos manuais de antropologia, o Homo florensiensis.

Desde essa altura que a descoberta tem causado uma acesa discussão entre cientistas sobre a origem desta espécie, que no início se pensava serem apenas humanos "modernos" que padeciam de doenças como a microcefalia, uma patologia que conduz a um desenvolvimento reduzido do crânio e do cérebro. Uma outra teoria rejeitava o "hobbit" como sendo uma nova espécie, dizendo que estas ossadas pertenceriam aos nossos antepassados Homo erectus, que teriam encolhido devido às condições de vida na ilha. Mas estudos recentes confirmam que se trata efectivamente de uma nova espécie. Desengane-se quem pensa que a discussão acaba aqui. Um artigo publicado ontem pelo editor de ciência do jornal britânico The Observer revela que as últimas pesquisas chegaram a conclusões no mínimo surpreendentes. A expedição liderada por Mike Morwood pode ter resultado na descoberta de um descendente directo do Homo habilis, espécie que apareceu pouco após a extinção do Australopithecus , correspondente ao primeiro estado de evolução da espécie humana.

A notícia está a deixar perplexa a comunidade científica, já que o Homo habilis viveu há cerca de dois milhões de anos, enquanto o "hobbit" se extinguiu apenas há 17 mil anos. São várias as questões que se levantam. Como poderá o "hobbit" ser descendente de uma espécie tão antiga? Como é possível que tenha migrado de África, onde vivia o Homo habilis, até à Indonésia? Os pés chatos e a pequena estatura tornavam a tarefa praticamente impossível. O que é certo é que as pesquisas mostram que o pequeno ser deixou África para colonizar parte do Sudeste asiático há mais de dois milhões de anos.

Esta teoria pode revolucionar a história da raça humana, já que até agora se acreditava que tinha sido o Homo erectus a primeira espécie a deixar o continente africano e a colonizar outros pontos do globo.

"Encontrámos uma ilha onde uma espécie foi separada do resto da evolução durante mais de um milhão de anos", explicou Morwood ao The Observer. O investigador acredita que, por ser uma região remota, a ilha das Flores concedeu uma protecção especial à espécie, que teve uma duração fora do comum, à semelhança de alguns animais que habitaram a ilha. "Houve , por exemplo, os elefantes-pigmeus e o dragão de Komodo, agora temos o Homo florensiensis."

in DN - ler notícia

Poema alusivo à catástrofe da Madeira




imagens daqui

Névoa (cantata)

A morte
em flor
dos camponeses
tão chegados à terra
que são folhas
e ervas do nada
passa no vento
e eu julgo ouvir
ao longe
nos recessos da névoa
os animais feridos
do Início.

Carlos de Oliveira

Madeira - mais um impressionante filme

domingo, fevereiro 21, 2010

Carnaval na terra de um geopedrado

Porque a vida não é só uma quarta-feira de cinzas, há que recordar que, embora curtos, os três dias de Carnaval são importantes - aqui ficam algumas fotos do Corso de Domingo de Carnaval de Vila Franca das Naves:






















PS - a amostra é pequena - para os interessados em ver a reportagem completa basta ir ao Blog Vila Franca das Naves.

Poesia alusiva à catástrofe madeirense


Descida aos Infernos


I

Desço
pelo cascalho interno da terra,
onde o esqueleto da vida
se petrifica protestando.

Como um rio ao contrário, de águas povoadas
por alucinações mortas boiando levadas
para a alma da terra,
procuro os úberes do fogo.

Carlos de Oliveira

sábado, fevereiro 20, 2010

Quando uma estrada se transforma em ribeira...

...é porque alguém se esqueceu de algumas regras elementares (e legais...). Veja-se este pequeno filme, sem som mas impressionante:


Madeira - mapa da destruição

Para quem está na Madeira, tenha um e-mail do Gmail e alguns conhecimentos de informática, aqui fica uma sugestão para colocar informações - veja-se o caso de Curral da Freiras, que no mapa inicialmente aparecia com um grande ponto de interrogação...





NOTA: post alterado em 22.02.2010.

Nevão na terra de um geopedrado

Vila Franca das Naves coberta de neve, mais uma vez. As fotografias, tiradas da estrada que segue para Trancoso, foram feita por uma colega e amiga de escola primária minha e publicadas inicialmente no Blog Aqui na Aldeia, num post de 17 de Fevereiro de 2010.








(clicar nas imagens para aumentar)

A desgraça (previsível) na Madeira

Quem conhece minimamente a Madeira (não é o meu caso) diz que se exagerou de tal maneira na ocupação de certos locais que era previsível o que aconteceu hoje. Não sabendo mais do assunto, mas preocupados com o mesmo (a minha irmã mais nova vive actualmente na capital do arquipélago) aqui deixamos algumas notícias de última hora sobre as inundações na Madeira:

Paleontologia no Público

O fóssil mais antigo de uma tartaruga marinha de África é de Angola

Octávio Mateus com o fóssil no dia da descoberta
Octávio Mateus com o fóssil no dia da descoberta


Aquele 25 de Maio foi em cheio para Octávio Mateus. Era o Dia de África, feriado em Angola, e com tudo fechado em Luanda o paleontólogo português não podia resolver as burocracias da expedição que estava a terminar. Por que não aproveitar o tempo livre para uma última prospecção de fósseis, antes do regresso a Portugal? Meteu-se no carro, disposto a viajar cinco horas até às arribas de uma praia a norte da capital angolana e a calcorrear o terreno durante três horas apenas. Olhos posto no chão, nessa caminhada iria recuar até ao tempo dos dinossauros.


Percorria a arriba não muito alta, de um amarelo forte, praia de um lado, estepe a puxar para a savana com embondeiros e eufórbias do outro. Encontrava-se na zona do Ambriz, na província de Bengo.

A certa altura, qualquer coisa lhe chamou a atenção pela cor e pela forma. "Percebi logo que era o crânio de uma tartaruga. Fiquei radiante", recorda ao P2 Octávio Mateus, com 35 anos, do Museu da Lourinhã e da Universidade Nova de Lisboa.

Sabia que o fóssil tinha cerca de 90 milhões de anos, pois essa é a idade dos sedimentos marinhos onde os ossos ficaram preservados. Era portanto uma tartaruga marinha contemporânea dos dinossauros, que desapareceram há 65 milhões de anos (excepto a linhagem que deu origem às aves), provavelmente devido a um cataclismo planetário provocado pela colisão de um meteorito.

Estava sozinho na arriba. O outro elemento desta expedição em 2005, o norte-americano Louis Jacobs, da Universidade Metodista do Sul, no Texas, já tinha regressado ao seu país. E não tinha um dos materiais essenciais numa escavação paleontológica - uma cola especial utilizada na consolidação dos fósseis, que evita a destruição dos fragmentos. Mesmo assim, avançou, deitando mão aos materiais que pôde: "A solução improvisada foi embrulhar o crânio, quase completo, em película de cozinha".

No regresso a Luanda, mostrou o resultado das suas andanças a colegas da Universidade Agostinho Neto, com quem foi estabelecer contactos para futuras expedições, e tratou das autorizações necessárias para retirar do país os ossos da tartaruga. Havia que os submeter a uma série de estudos em Portugal e nos Estados Unidos. "Vieram comigo, numa mala de mão."

Nem era preciso uma grande bagagem, uma vez que o crânio tem 20 centímetros de comprimento. Quanto ao animal completo, é difícil extrapolar o tamanho só a partir do crânio. "Na verdade, não sabemos. Mas não devia ter menos de um metro."

Passaram-se mais de quatro anos desde aquele dia na arriba angolana, o tempo que demorou a limpar os ossos, a extrair deles informações do passado longínquo e a publicá-las num artigo científico. Essa leitura das pistas encontradas nos ossos está na última edição da revista científica Acta Palaeontologica Polonica, num artigo de Mateus, Jacobs e outros paleontólogos de Portugal, Estados Unidos, Angola e Holanda.

Nascia o Atlântico Sul

Resultado dos estudos: a tartaruga de Angola pertence a um género e uma espécie novos para a ciência (chamaram-lhe Angolachelys mbaxi). Ao olhar para as relações de parentesco do novo fóssil, os investigadores também perceberam que fazia parte de um grupo distinto de tartarugas marinhas (chamaram-lhe Angolachelonia).

Neste grupo, a equipa inclui três outros elementos já conhecidos da comunidade científica, que podem considerar-se a partir de agora os primos mais próximos da tartaruga de Angola: a Sandownia harrisi (110 milhões de anos, de Inglaterra); a Glen Rose (nome da localidade no Texas onde foi descoberto o fóssil, com 120 milhões de anos); e a Solnhofia parsonsi (150 milhões de anos, da Alemanha). "Até este estudo, não eram reconhecidas como um grupo único, com uma origem comum", sublinha Octávio Mateus.

Todas habitavam o hemisfério Norte, com excepção da tartaruga de Angola. O facto de ela ser o primeiro elemento deste grupo descoberto no hemisfério Sul permite desvendar um pouco mais da história evolutiva das tartarugas marinhas e da sua relação com a geografia dos continentes naqueles tempos.

O Atlântico começava a nascer há 210 milhões de anos, entre o Norte de África e a parte ocidental da Península Ibérica. Há cerca de 160 milhões de anos estava em curso a abertura do Atlântico Norte e foi nessa altura que apareceram as tartarugas marinhas.

No entanto, o Atlântico Sul iniciou a sua formação mais tarde - há 110 milhões de anos, à medida que América do Sul e África se afastavam uma da outra, o que veio a permitir as migrações de animais. "As tartarugas começaram a poder atravessar o Atlântico de norte para sul. O mar que se abre é uma barreira para os animais terrestres, mas é um corredor para os animais marinhos", diz Octávio Mateus.

Com os seus 90 milhões de anos, a tartaruga de Angola deve ser descendente desses primeiros répteis marinhos a cruzarem o Atlântico de norte para sul, contribuindo para a compreensão das migrações da fauna marinha. "Muito provavelmente, nasceu e viveu em África, porque há ainda um intervalo de tempo grande entre ela e as outras tartarugas mais antigas."

Tanto quanto Octávio Mateus sabe, este é o fóssil mais antigo de uma tartaruga descoberto em África. Para Miguel Telles Antunes, também autor do artigo científico, o achado é muito interessante: "Quer pela qualidade do material encontrado, quer por se tratar de um animal muito mal conhecido na região", diz este paleontólogo da Academia de Ciências de Lisboa, citado num comunicado.

Uma pata de fora

Nas duas semanas anteriores à descoberta da tartaruga, Octávio Mateus e Louis Jacobs tinham seguido as pegadas deixadas há mais de 40 anos por Telles Antunes. Na década de 60, este paleontólogo esteve em Angola a identificar locais com fósseis de vertebrados para a sua tese de doutoramento, na qual veio a descrever uma nova espécie de réptil marinho. Era um mosassauro, um grande predador marinho contemporâneo dos dinossauros (a que Telles Antunes deu o nome de Angolasaurus bocagei).

A guerra interrompeu este tipo de trabalhos, além de os geólogos angolanos centrarem as atenções nos diamantes e no petróleo. Mas Octávio Mateus sempre se interessou por África, tal como Louis Jacobs, que é autor do livro Em Busca dos Dinossauros Africanos, de 1993. Encontraram-se num congresso e a ideia de procurar fósseis em Angola surgiu naturalmente.

Em 2005, cerca de três anos depois do fim da guerra em Angola, lá estavam eles. Nessa expedição, a primeira de várias, Mateus e Jacobs revisitaram os sítios estudados por Telles Antunes na província do Namibe e nas arribas do Ambriz.

Do passeio solitário de Octávio Mateus já tinha saído outra surpresa. Cerca de uma hora antes da tartaruga, Octávio Mateus cruzou-se com os ossos da pata dianteira de um saurópode, aquele grupo de dinossauros herbívoros quadrúpedes com os pescoços compridos. Era o primeiro dinossauro de Angola, igualmente com 90 milhões de anos, uma descoberta logo anunciada. "Fomos muito afortunados."

Não estava sequer nos planos da equipa encontrá-lo, uma vez que os terrenos que tinham palmilhado eram formados em ambientes marinhos, onde é raro haver esqueletos de dinossauro. Só que, embora os dinossauros tenham sido animais terrestres, também se encontram fósseis seus em ambientes marinhos. Parte dos esqueletos pode ter sido arrastada por um rio ou uma corrente de água e ter acabado depositada em sedimentos marinhos.

Octávio Mateus teve de deixar lá o braço do saurópode. "Não é coisa para pôr no bolso e levar para casa." Só nas expedições seguintes, em conjunto com paleontólogos norte-americanos e holandeses, acabaram a escavação e levaram uma parte dos ossos para o Museu Geológico da Universidade Agostinho Neto e outra para o Museu da Lourinhã. Quanto ao crânio da tartaruga, foi até aos Estados Unidos, com Louis Jacobs. Vão fazer-lhe uma tomografia axial computorizada (TAC), para ver os canais nos ossos associados aos ouvidos e ao cérebro, importantes na classificação do animal. Tudo regressará ao país de origem. "Faz parte do património angolano."

Desvendemos agora o nome da tartaruga. Angolachelys quer dizer "tartaruga de Angola", em grego clássico. E mbaxi, em kimbundo, língua do Norte de Angola, significa "tartaruga". "Queríamos também dar-lhe um nome local, para ter um cariz africano", explica Octávio Mateus. Traduzindo, esta foi a história da tartaruga-de-Angola-tartaruga.

in Público - ler notícia (17.02.2010)

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Ciência em família no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Informação recebida do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, via Blog De Rerum Natura:

Depois do sucesso da 1ª e 2ª edições, com muito som, plantas, vida, brinquedos, património, electricidade, geometria, arqueologia, robôs, evolução e algumas mentiras, apresentamos a programação para o 1º trimestre de 2010.

As sessões decorrem das 11.00 às 12.00 horas e são orientadas por cientistas de diversas áreas do conhecimento.

Veja aqui alguns filmes no YouTube: Filme 1 | Filme 2 | Filme 3

PRÓXIMA SESSÃO: 21 DE FEVEREIRO


DESCOBRE OS RECURSOS MINERAIS
Celeste Gomes e Elsa Gomes
(Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra
)

Sabes o que são recursos minerais? Onde podem ser explorados? Qual a sua importância para o nosso bem-estar? Se existem em quantidades inesgotáveis? Por exemplo, quais os recursos minerais necessários para construir um automóvel? E uma casa? Vem descobrir as respostas a estas perguntas e muitas outras que iremos formular!

Música para geopedrados


quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Música para geopedrados - e que falta faz...

A Little Respect




ADENDA: Para amantes de covers, uma versão portuguesa de uma banda de muito sucesso:



ADENDA: faz hoje 30 anos a cantora Regina Spektor. Ainda uma música outra música, para celebrar a data:

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Poema alusivo à época

Napoleão


Cantiga patriótica

Que intentas, Tirano?
Vencer portugueses?
Almas generosas
Não temem reveses!

No campo da glória,
Vencendo ou vencidos,
Quais rochas constantes
Nos vê destemidos.

Se férreas cadeias
Nos prendem os braços,
Nossas almas livres
Desprezam teus laços.

A terra ensopada
No sangue mais puro
Ao Céu justiceiro
Te acuso, perjuro!

Se tardam seus raios,
Se é lenta a vingança,
Já vem no horizonte
A nuvem que os lança.

Marquesa de Alorna


Nota
: poema dedicado pela autora aos portugueses que lutaram contra os invasores franceses, no início do século XIX, mas que poderia ser dedicada a um qualquer tiranete mentiroso de trazer por casa dos nossos dias...

Deslizamento em Itália

Uma grande parte de um monte perto da pequena aldeia de Maierato, na Calábria, Sul da Itália, simplesmente deslizou, destruindo construções e estradas e levando muitas árvores pelo caminho.

Eis um pequeno filme:


terça-feira, fevereiro 16, 2010

Ser professor é…

Mais especificamente, ser professor de Matemática do ensino básico (8º e 9º anos) é essencialmente:

1. Deparar com alunos com imensas dificuldades e com uma enorme falta de bases matemáticas. Só para se ter uma noção, poucos são aqueles que sabem calcular a área de um rectângulo, quanto é “quatro ao cubo”, somar duas fracções, dizer inequivocamente quanto é 5 – 12, resolver um problema simples que envolva apenas uma subtracção ou a tabuada (o resultado das pedagogias científicas que dizem que nada pode ser decorado e que tudo tem de ser aprendido de forma lúdica é perguntar quanto é 8×4 e dificilmente obter a resposta certa). No entanto, fruto das medidas educativas que evitam os chumbos a todo o custo e de um facilitismo avaliativo de muitos professores que autenticamente oferecem notas para não se chatear, estes alunos vão passando de ano, mesmo que dotados de uma ignorância profunda (só mais tarde, estes alunos irão perceber que são eles as principais vítimas deste sistema educativo facilitista e perverso). Isto está de tal forma que há exemplos na minha escola de alunos que chegam ao 5º ano sem praticamente saberem ler nem escrever (!!!).

2. Gerir uma multiplicidade de conflitos no seio da turma, com uma quantidade grande de alunos desmotivados, desinteressados e que não percepcionam na escola uma verdadeira utilidade prática.

3. Sempre que necessário, agir disciplinarmente, sabendo (professores e alunos) que a consequência prática e correctiva destas medidas é praticamente nula. Isto porque por mais faltas disciplinares que um aluno tenha, pouco mais pode acontecer do que efectuar trabalho comunitário durante uns dias (se os pais deixarem, senão o menino fica apenas suspenso, ou seja, férias antecipadas) dado que medidas como a expulsão estão completamente fora dos regulamentos (talvez aí os alunos pensassem duas vezes antes de pisarem o risco, mas não pode ser porque, como diria Eduardo Sá de forma mais eloquente, seria uma experiência verdadeiramente humilhante e traumática, que desrespeitaria o direito fundamental da criança). Tenho o maior respeito e consideração por alunos com casos familiares conturbados e provenientes de um meio social muito complicado (só uma pessoa fria e cruel não teria). Mas, mesmos alunos nessas condições, têm de perceber, a bem ou a mal, que a escola é uma oportunidade que não pode ser desaproveitada, que há regras a cumprir e que há (deveria haver) medidas verdadeiramente severas para quem prevarica. Sob pena de, como acontece, o conceito de “escola inclusiva” ser uma farsa. Que raio de “escola inclusiva” é esta que premeia e dá múltiplas oportunidades aos alunos mais indisciplinados, enquanto aqueles que cumprem, se esforçam e se empenham são dia após dia prejudicados pelo comportamento perturbador e recorrente dos primeiros? É o que dá quando certas leis são elaboradas por gente que não faz a mínima ideia do que é a realidade escolar no seu quotidiano, muito menos do que é o fenómeno da turma e das múltiplas variáveis que lhe estão associadas.

4. Preparar provas de recuperação para um aluno que falte permanentemente, sabendo que, mesmo que ele reprove uma ou duas vezes, a possibilidade de, nestas circunstâncias, chumbar por faltas está sujeita a um longo processo burocrático (que mesmo assim pode não conduzir a nada, pois há sempre pressões fortes para que este não se concretize, nomeadamente algumas usando “falhas” na lei). Ou seja, foi a forma genial encontrada pelo Ministério de ninguém chumbar por faltas, mesmo dando a ideia de que isso supostamente acontece, encarregando os professores de todo o procedimento legal em redor deste embuste.

5. Preparar e pôr em prática criteriosamente planos de acompanhamento e de recuperação, respectivamente para alunos repetentes e/ou em risco de chumbar pelo número elevado de negativas. Há casos onde se percebe essa necessidade, por serem casos com reais dificuldades, que precisam e merecem um acompanhamento mais directo, mas, em muitas situações, este insucesso deve-se muito a falta de estudo, de atenção nas aulas e de esforço (sim, porque aprender exige esforço e sacrifício – essa ideia de que tudo tem de ser aprendido de forma divertida e natural é mais uma das grandes falácias da “escola moderna”) e, nesses casos, estes planos de acompanhamento são mais um exemplo que demonstra a importância excessiva que se dá a quem não dá valor à escola e ao conhecimento, enquanto se despreza os bons alunos que, à custa de mérito próprio, vão tendo verdadeiro sucesso educativo (mas que ficam com a sua evolução limitada pelas prioridades da escola actual – Ken Robinson tem toda a razão: a escola anda mesmo a matar a criatividade e o desenvolvimento de muito boa gente)

6. Tentar encontrar mecanismos diferenciados de avaliar e/ou abordar os conteúdos programáticos a alunos com Necessidades Educativas Especiais ou em Currículos Alternativos.

7. Dar aulas de Área Projecto (a importância desta e de outras Actividades Curriculares Não Disciplinares daria uma análise interessante, mas demasiado longa para se enquadrar neste texto).

8. Participar em múltiplas reuniões, muitas vezes inócuas, mas obrigatórias perante a lei, onde se analisam mil e um aspectos de natureza burocrática referidos anteriormente.

É tudo isto (escapei a aulas de substituição, mas, ainda assim, devo-me ter esquecido de outras coisas) e não sou director de turma. Porque se fosse, teria ainda de, para além de ter uma proximidade maior com a turma e contactar e receber os pais (uma missão interessante, pois permite-nos ter um conhecimento maior do percurso individual dos alunos e o seu enquadramento familiar e socio-cultural, ajudando a perceber certas coisas e a tentar ser útil na orientação do seu futuro), coordenar administrativamente todo o procedimento atrás descrito, no que se refere à assiduidade, ao comportamento, à disciplina e ao aproveitamento, para além de orientar outros aspectos diversos (o dossier respectivo, o Projecto Curricular, as reuniões de conselho de turma, etc). Para todo esse trabalho de direcção de turma, o professor tem no seu horário, para desempenhar esta função, a módica quantia de… 90 minutos semanais (!!!).

Ah!!! Já me esquecia. Quando tenho tempo, quando as minhas missões de educador de infância, psicólogo ou funcionário administrativo me permitem, também consigo, em cerca de 10% do meu trabalho, preparar minimamente as aulas e ensinar matemática do 8º e do 9º anos (para além, naturalmente, de me preocupar com os instrumentos de avaliação). Mas tenho que dizer isto baixinho para que os peritos do eduquês não me ouçam. É que palavras como “ensinar”, “explicar” ou “expor” são para eles termos quase criminosos. Porque, qualquer dia, na forma como as coisas têm evoluído, escola e conhecimento serão conceitos que só tenuemente se interceptam. Porque a escola deixará definitivamente de ser um local onde se aprende e onde se ensina, para ser apenas um espaço de motivação e de vivência. Com estes pressupostos e com o anunciado e vergonhoso aumento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano, não é preciso ser grande visionário para que se preveja que, cada vez mais, cheguem às universidades verdadeiros analfabetos. Mesmo que não no sentido literal, pelo menos do ponto de vista cultural, formativo, comportamental ou cognitivo.

Assim sendo, atendendo aos factores que referi anteriormente e ao ordenado relativamente reduzido que se recebe (têm razão os críticos quando dizem que os professores têm um ordenado chorudo: 950€ limpos numa primeira fase é, de facto, uma verdadeira fortuna), parece-me que só pode ser professor do ensino básico quem tem uma vocação absolutamente única para a multiplicidade de tarefas em redor da profissão, capaz de contornar e de superar com facilidade todos estes obstáculos profundos, quem não tem habilitações ou capacidade de desempenhar outra função na sociedade ou quem é estúpido. Como, apesar de ter gosto em ensinar, não tenho essa capacidade de ignorar e me conformar alegremente com toda esta situação e, felizmente, tenho habilitações e capacidade para desempenhar outras tarefas profissionais, não me parece que faça muito sentido continuar a ser professor do ensino básico. A não ser que seja estúpido…

PS - Escrevo este texto numa altura em que acabo de corrigir 74 testes, tendo havido 8 positivas. Tenho perfeita noção que, à luz do sistema e independentemente da falta de bases e métodos de estudo dos alunos e da sua falta de atenção, esforço e empenho, a responsabilidade destes resultados é minha e só minha, por não os ter motivado convenientemente. Mas, claro, é fácil obter a redenção. Basta que assuma o meu pecado e premeie o fraco desempenho com óptimas notas, contribuindo para o “sucesso” educativo português. Nesse instante, tudo me será perdoado e passarei de imediato a ser… um “bom professor”.

in A Mesa do Café - post de João Torgal

Música para celebrar o Carnaval


Poesia para geopedrados

Figura 5 - Estalactite.


Estalactite


I

O céu calcário
duma colina oca,
donde morosas gotas
de água ou pedra
hão-de cair
daqui a alguns milénios
e acordar
as ténues flores
nas corolas de cal
tão próximas de mim
que julgo ouvir,
filtrado pelo túnel
do tempo, da colina,
o orvalho num jardim.

in Micropaisagem - Carlos de Oliveira

ADENDA: faz hoje 85 anos que nasceu Carlos Paredes - recordemos a data com a sua imortal música:


segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Poema para um amigo em dificuldades

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


Manuel Bandeira

domingo, fevereiro 14, 2010

Às vezes...

Às vezes o Amor - Sérgio Godinho



PS - para a Lai, minha esposa, companheira e namorada, uma canção especial num dia especial...

Cupid's day - músicas para celebrar a data



Namoro

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista
nas acácias floridas espalhando diamantes
na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia era sumaúma
Sua pele macia, da cor do jambo,
cheirando a rosas sua pele macia
guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce como o maboque
Seus seios, laranjas laranjas do Loje
seus dentes marfim
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
Por ti sofre o meu coração
Num canto "SIM",
noutro canto "NÃO"
E ela o canto do "NÃO" dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro
E ela disse que não.

Levei à Avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, à porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do Largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos
falei-lhe de amor
e ela disse que não.

Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
-Não viu (ai não viu?) não viu Benjamim?
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
às moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba dancei com ela
e num passo maluco voámos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: Aí Benjamim !
Olhei-a nos olhos sorriu para mim
pedi-lhe um beijo
lá lá lá lá lá
lá lá lá lá lá
E ela disse que sim e ela disse que sim.



Namoro II

Ai se eu disser que as tremuras
Me dão nas pernas, e as loucuras
Fazem esquecer-me dos prantos
Pensar em juras

Ai se eu disser que foi feitiço
Que fez na saia dar ventania
Mostrar-me coisas tão belas
Ter fantasia
E sonhar com aquele encontro
Sonhar que não diz que não

Tem um jeito de senhora
E um olhar desmascarado
De céu negro ou céu estrelado, ou Sol
Daquele que a gente sabe.
O seu balanço gingado
Tem os mistérios do mar
E a certeza do caminho certo
que tem a estrela polar.

Não sei se faça convite
E se quebre a tradição
Ou se lhe mande uma carta
Como ouvi numa canção
Só sei que o calor aperta
E ainda não estamos no verão.

Quanto mais o tempo passa
Mais me afasto da razão
E ela insiste no passeio à tarde
Em tom de provocação
Até que num dia feriado
P´ra curtir a solidão
Fui consumir as tristezas
P´ró baile do Sr. João

Não sei se foi por magia
Ou seria maldição
Dei por mim rodopiando
Bem no meio do salão
Acabei num tal convite
Em jeito de confissão
E a resposta foi tão doce
Que a beijei com emoção
Só que a malta não gritou
Como ouvi numa canção

sábado, fevereiro 13, 2010