Namoro - Fausto Bordalo Dias
E com letra bonita dizia ela tinha
Um sorriso luminoso tão triste e gaiato
Como o sol de novembro brincando de artista
Nas acácias floridas na fímbria do mar
E dando calor ao sumo das mangas
Sua pele macia era suma-uma
Sua pele macia da cor do jambo
Cheirando a rosas sua pele macia
Guardava as doçuras do corpo rijo
Tão rijo e tão doce como um maboque
Seus seios laranjas, laranjas do Loge
Seus dentes marfim
Mandei-lhe essa carta e ela disse que não
Que o amigo Maninho tipografou
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto "sim" noutro canto "não"
Pedindo e rogando de joelhos no chão
Pela Sra do Cabo, pela Sta Efigénia
Me desse a ventura do seu namoro
E ela disse que não
Levei à Vó Xica, quimbanda de fama
Areia da marca que o seu pé deixou
Para que fizesse um feitiço
Forte e seguro
E o feitiço falhou
Orfetei-lhe um colar, um anel e um broche
Paguei-lhe doces na calçada da Missão
Ficamos num banco do Largo da Estátua
Afaguei-lhe as mãos falamos de amor
E ela disse que não.
Andei barbudo, sujo e descalço
Não viu ai não viu, não viu Benjamim
E perdido me deram no morro da Samba
Do Só Januário, mas ela lá estava
Num canto a rir, contando o meu caso
às moças mais lindas do bairro operário
E num passo maluco voamos na sala
Qual uma estrela riscando o céu
E a malta gritou "Aí Benjamim"
Olhei-a nos olhos sorriu para mim
Pedi-lhe um beijo
Lá lá lá lá lá
Lá lá lá lá lá
E ela disse que sim