História
Na véspera da operação, integrantes da
Companhia Charlie, da 11ª
Brigada de
Infantaria, mandados à região por denúncias de que a área estaria a servir de refúgio para
guerrilheiros vietcongs da FNL (
Frente Nacional para a Libertação do Vietname), foram informados pelo comando norte-americano que os habitantes de
My Lai e das aldeias vizinhas saíam para o mercado da região às sete da manhã para compra de comida e que, consequentemente, aqueles que ficassem na área seriam guerrilheiros
vietcongs ou simpatizantes.
Como consequência, integrantes de um dos pelotões da companhia, comandados pelo
tenente William Calley, rumaram ao local. Muitos soldados dessa unidade haviam sido mortos ou feridos em combates, nos dias anteriores.
Quando as tropas penetraram na aldeia, o tenente Calley, lhes disse: "
É o que vocês estavam esperando: uma missão de procurar e destruir". Calley diria mais tarde ter recebido ordens para
"limpar My Lai", considerada um feudo dos combatentes da FNL. '
"As ordens eram para matar tudo o que se mexesse"', diria mais tarde um dos militares americanos ao jornalista
Seymour Hersh, que daria a conhecer ao mundo o horror praticado pelo exército dos EUA naquela aldeia.
Sob o comando de Calley, o pelotão não poupou ninguém. Em apenas quatro horas, mataram os animais, queimaram as choupanas, violaram e mutilaram as mulheres, assassinaram homens e trucidaram as crianças. Para sobreviver, alguns habitantes tiveram que fingir-se de mortos, passando horas no meio dos cadáveres. No final do derramamento de sangue, havia 504 cadáveres dos aldeões, na sua grande maioria idosos, mulheres e crianças (cerca de 170), todos desarmados e assassinados a sangue frio.
Ron Haeberle, fotógrafo militar que acompanhava o pelotão, encarregou-se de imortalizar a chacina.
No ocidente, o episódio é conhecido como o massacre de My Lai, e no Vietname, como Son My, o nome do povoado a que pertenciam as quatro aldeias, entre elas My Lai, que serviram de cenário para a orgia matinal de atrocidades, celebrada pelos homens da Companhia Charlie, dirigida pelo capitão Ernest Medina.
Cerca de vinte pessoas sobreviveram. As casas foram incendiadas, e as quatro aldeias reduzidas a cinzas. Quando acabou a guerra, em
1975, alguns voltaram para recomeçar a vida na terra de seus ancestrais. Seis deles permanecem na comunidade, rebatizada pela República Socialista do Vietname como
Tinh Khe.
O massacre só foi interrompido graças à iniciativa heróica de um piloto de
helicóptero,
Hugh Thompson, Jr., que vendo do alto a matança, pousou o aparelho e ameaçou atirar com as metralhadoras da sua própria aeronave contra os soldados americanos.
O crime só veio a público um mês depois, devido a denúncias saídas de dentro do exército, por soldados que testemunharam ou ouviram os detalhes do caso – e um deles, Ronald Ridenhour, escreveu a diversos integrantes do governo norte-americanos, inclusive ao presidente
Richard Nixon – e chegaram a órgãos de imprensa e às televisões. Jornalistas independentes conseguiram fotos dos assassinatos e estamparam-nas nos
media mundiais, ajudando a aumentar o horror e os esforços dos pacifistas a pressionar o governo Nixon a se retirar do
Vietname.
Condenado à
prisão perpétua, Calley foi perdoado dois dias depois da divulgação da sentença pelo presidente Nixon, cumprindo uma pena alternativa de três anos e meio em prisão domiciliar na
base militar de
Fort Benning, na
Geórgia.