Primeiros momentos
Foi o mais velho de três filhos, a sua mãe tinha poucos estudos e o seu
pai, apesar de professor no Instituto de Tecnologia de Stevens, era um
conservador rigoroso. Ambos eram devotos da
Igreja Metodista.
Como eram muito pobres, Alfred Kinsey e os seus irmãos cresceram em
condições inadequadas, expostos a inúmeras doenças e tratamentos
inadequados. Alfred passou por muitas doenças, como
raquitismo,
febre tifóide e
febre reumática. O raquitismo deixou como herança uma curvatura na espinha, o que levou à sua dispensa para servir nas forças armadas.
Formação
Quando jovem, Kinsey já mostrava um grande interesse pelas atividades
ao ar livre e pelo estudo da natureza. Na escola, era um rapaz tímido,
com pouco interesse para os desportos, mas com grande interesse para os
estudos académicos e de piano. Contra a sua vontade, ingressou no
Instituto de Tecnologia de Stevens, onde o seu pai, que queria um filho
engenheiro, lecionava. Não se adaptando à engenharia e contrariando o
pai, Kinsey ingressou no Bowdoin College em
1914, onde se graduou em
Biologia e
Psicologia. Continuou os seus estudos no Instituto Bossey, da
Universidade de Harvard,
onde estudou biologia aplicada com William Morton Wheeler, um
reconhecido entomologista. Continuando seus estudos em Harvard, defendeu a
sua tese de doutoramento em
1919, estudando a diversidade biológica de uma espécie de vespa.
Atuação como professor
Após completar o seu doutoramento, Kinsey ingressou como professor
assistente do departamento de zoologia da Universidade Bloomington de
Indiana, em
1920.
Era chamado pelos alunos de Prok, um diminutivo de Professor Kinsey.
Lá, conheceu Clara Bracken McMillen, a quem passou a chamar
carinhosamente de Mac. Kinsey casou com Clara em
1921,
com quem teve quatro filhos. Na Universidade de Indiana, continuou os seus
estudos de entomologia durante mais de 16 anos. Para isso, recolheu mais de um
milhão de exemplares de vespas, posteriormente doadas ao Museu Nacional
de História Natural, em
Nova York. O seu principal interesse era a história evolutiva das vespas.
Pai da Sexologia
Kinsey iniciou os seus estudos sobre práticas sexuais humanas após uma
discussão com o colega Robert Krog, na Universidade de Indiana. Após ter
concluído, nos seus estudos de entomologia, que nenhuma vespa era igual à
outra, e que as práticas de acasalamento das vespas eram extremamente
variadas, Kinsey percebeu que, apesar da falta de estudos sobre a
sexualidade humana, essa característica de diversidade sexual era comum entre os animais e, dentre estes, os humanos. Kinsey queria que a
educação sexual
fosse abordada em uma disciplina exclusiva, algo inexistente na época.
Ao fazer isto, Kinsey conseguiu criar a disciplina académica de
Sexologia, ciência da qual é considerado o criador. Após muita persistência, em
1935 Kinsey conseguiu recursos financeiros da
Fundação Rockefeller
e pode, então, iniciar a sua pesquisa sobre a sexualidade humana. Para
isso, Kinsey montou e treinou uma equipe que entrevistaria, nos anos
seguintes, milhares de pessoas em todo o território dos Estados Unidos.
O Relatório Kinsey
A publicação do primeiro volume do famoso relatório sobre a sexualidade masculina (
Sexual Behavior in the Human Male), em
1948,
deu origem a uma enorme polémica nos Estados Unidos. O livro foi um dos
mais vendidos naquele ano. Rapidamente, Kinsey se transformou numa
celebridade, considerado até hoje como uma das personalidades mais
polémicas do
século XX. Foi capa dos principais jornais e revistas do país. O segundo volume, abordando a sexualidade das mulheres (
Sexual Behavior in the Human Female) foi publicado em
1953.
A controvérsia que daí resultou foi inevitável, pois certos dados
chocavam a estrutura clássica da família americana no final da
década de 1940 e início da
década de 1950. A América acabava de descobrir que, segundo os estudos de Kinsey, 92% dos seus homens e 62% das suas mulheres se
masturbava. E que 37% dos homens e 13% das mulheres já tinham tido uma relação
homossexual que lhes tinha proporcionado um
orgasmo. Neste caso, os factos foram noticiados pela imprensa sensacionalista como uma verdadeira bomba.
Os seus relatórios foram vistos por muitos como o início da
revolução sexual da década de 1960. Apesar de ainda hoje encontrarmos dados resultantes do
Relatório Kinsey,
há que ter em conta que esses mesmos dados têm cerca de 50 anos e que,
certamente, muitas das práticas e percentuais da época podem certamente
ter se modificado.
A classificação de Kinsey
Para Kinsey, os seres humanos não se classificam quanto à sexualidade em apenas duas categorias (exclusivamente
heterossexual e exclusivamente
homossexual), mas apresentam diferentes graus de uma ou outra característica extrema.
Críticas e pedofilia
O trabalho de Kinsey tem sofrido, ao longo das décadas, vários
questionamentos e refutações de ordem científica. Além disso, grupos
conservadores, especialmente cristãos, atacaram Kinsey devido aos dados
de seus estudos, considerados por eles imorais e perigosos.
Kinsey já foi acusado de ser um praticante de inúmeras práticas
sexuais consideradas "anormais". Na biografia realizada por James H.
Jones, ele é referido como bissexual,
sádico e
masoquista. Supostamente, teria seduzido estudantes e colegas. Segundo afirmam alguns biógrafos, teria ainda feito uma
circuncisão em si próprio, sem
anestesia. Outros afirmam que ele teria instigado o
sexo grupal
entre colegas, e coagido a sua mulher e amigos a praticarem sexo, sendo
filmados. Kinsey e seu grupo realizaram inúmeros filmes sobre práticas
sexuais com fins científicos.
Um artigo na revista Super Interessante mostra um Kinsey masoquista e
debilitado por práticas sexuais extremadas que o levaram a morte, além
de mostrá-lo como condescendente com a pedofilia. Kinsey teria
entrevistado um certo Sr. X, que teria mantido relações sexuais com mais
de 600 pré-adolescentes. Além disso, Kinsey acreditava que a diversidade
sexual não poderia excluir determinadas
parafilias,
como a pedofilia. Noutro artigo há uma enorme polémica entre
conservadores e religiosos sobre a estreia de um filme sobre Kinsey,
estrelado por
Liam Neeson
Jones acrescentou que a esposa de Kinsey manteve relações sexuais com
outros homens, mas que o casal manteve-se unido durante 35 anos, numa
relação sexualmente ativa até o ponto em que Kinsey ficou gravemente
doente, falecendo pouco depois. Outro biógrafo, Jonathan Gathorne-Hardy,
considera que os filmes realizados por Kinsey na sua segunda etapa de
estudos não são científicos, mas simplesmente
pornográficos.
Entretanto, todas as críticas sobre o comportamento sexual de Kinsey
são consideradas especulações, pois não são confirmadas pelo
Instituto Kinsey.
Uma das mais conhecidas críticas de Kinsey é a Dra. Judith A. Reisman, chefe da RSVPAmerica (Restore Sexual Virtue and Purity to America).
Segundo ela, Kinsey e sua equipe teriam abusado de crianças para chegar
a certos dados do relatório Kinsey. No entanto, o coordenador do
Instituto Kinsey, John Bancroft, alega que essa temática não é
verdadeira, e que teria sido escolhida como apelo emocional para
desacreditar os estudos de Kinsey.
Outra organização bastante cética aos trabalhos de Kinsey é o FRC (
Family Research Council).
O FRC é uma organização religiosa que conta com a participação de
políticos conservadores influentes nos Estados Unidos. Além de reforçar
as denúncias de Judith Reisman, o FRC procura associar os trabalhos de
Kinsey especificamente às questões de orientação sexual e à
homossexualidade, consideradas por eles como uma tentativa de afirmação da homossexualidade.
Estatisticamente,
há os que também consideram o relatório não representativo. Segundo
esses críticos, as parcelas da população americana envolvidas nos
questionários não seriam cientificamente representativas à época, já que
a maioria dos entrevistados era de cor branca, de classe média, com
menos de 35 anos e com formação universitária. Bem distante do que seria
uma representação fiel dos Estados Unidos na década de 1940.