O armistício estabeleceu as condições oficiais da ocupação alemã da França, que ficou dividida em duas grandes zonas, a zona ocupada, sob controle alemão, e a chamada
zona livre, sob a autoridade da
França de Vichy.
Condições do armistício de Rethondes
A delegação francesa foi presidida pelo general
Charles Huntziger e inclusive por um civil, o
embaixador Léon Noël, tendo recebido do general
Maxime Weygand, o novo Ministro de Defesa, as instruções formais de cumprir as três exigências alemãs: a ocupação total de todo o território, a entrega da frota e a instalação dos alemães em território francês.
As condições do armistício foram motivadas pelas preocupações nessa época de
Adolf Hitler: talvez houvesse que evitar de forma permanente que a
França se tornasse uma grande potência militar, mas a curto prazo haveria que velar para que a frota francesa não se unisse ao
Reino Unido, único país que fica por vencer, uma vez que um acordo de paz com o Reino Unido ficava por ora longe da realidade. Por outro lado, no havia que irritar nem o aliado
italiano nem o potencial aliado
espanhol. Hitler teve um encontro com
Benito Mussolini em
18 de junho em Munique para convencê-lo a aceitar as instruções de Weygand, que tinha adivinhado. O
Duce queria ocupar a França até ao
rio Ródano, apoderar-se da frota e anexar
Nice, a
Córsega e os dos departamentos franceses que formam a Sabóia histórica (
Alta Sabóia e
Sabóia).
É todo este conjunto de considerações complexas que determinará as condições do acordo de armistício, um texto breve de vinte e quatro artigos, que contem, entre outras, as seguintes cláusulas:
- Os prisioneiros de guerra (mais de um milhão e meio de homens) ficam cativos até à assinatura de um acordo de paz.
- A metade norte, bem como a costa atlântica, ficam sob a ocupação alemã, constituindo a chamada zona ocupada, que abarca aproximadamente três quintas partes do território. O resto constitui a chamada zona livre, isto é, a não ocupada, situada principalmente a sul do rio Loire. Ambas as zonas se encontravam separadas pela chamada linha de demarcação.
- A França deve prover a manutenção do Exército alemão de ocupação. O importe da dita manutenção é fixado de forma quase arbitrária pelos alemães, sendo, como média, de uns 400 milhões de francos por dia.
- Na zona livre, o exército francês fica limitado a 100 000 homens e ditas tropas ficam desarmadas.
- A soberania francesa se exerce sobre o conjunto do território, incluída a zona ocupada, Alsácia e Mosela, mas na zona ocupada se estipula que Alemanha exerce Os direitos da potência ocupante, o que implica que a Administração francesa colabora com ela de um modo correto.
- O império colonial francês fica igualmente sob autoridade do Governo francês.
- Os navios de guerra devem acudir a seus portos em períodos de paz, embora alguns deles, como o de Brest, esteja em zona ocupada.
- França deve entregar os refugiados políticos alemães ou austríacos refugiados em seu território fugindo dos nazis.
Mapa da França resultante das cláusulas do Armistício; a vermelho, a costa proibida sob jurisdição militar alemã; a amarelo, a zona de ocupação militar alemã; a rosa, a zona sob administração do Governo Militar alemão de Bruxelas; a laranja a zona de acesso restringido no leste; a azul, a Alsácia e Lorena, incorporadas de fato a Alemanha; a verde, a zona de ocupação italiana; a branco, a chamada zona livre administrada pela França de Vichy
A decisão de Hitler de permitir à vencida França a conservação do seu império pode parecer nos dias de hoje surpreendente. Hitler, em uma carta a Mussolini, justifica a decisão (assim como a de manter uma zona não ocupada), pelo temor de no empurrar a França e a sua potente frota naval a continuação da guerra desde suas colónias (o que aliás certamente foi proposto por vários políticos franceses).
A marinha alemã não estava em condições para a conquista do vasto império colonial francês de ultramar, e o envio de tropas a territórios longínquos não estava nos planos de Hitler. Com exceção da África Equatorial Francesa e da Nova Caledónia, as colónias francesas não se uniram nem a
Charles de Gaulle nem aos Aliados nos meses seguintes ao armistício.
Por seu lado,
Churchill, enfrentando o risco insuportável de ver a frota francesa regressar aos seus portos, agora ocupados pelo inimigo, segundo as cláusulas do armistício, envia em 3 de julho de
1940 uma frota britânica para que obrigue a frota francesa, que se dirigia às
Antilhas Francesas, que se una à sua armada. O almirante francês em comando recusa o ultimato, sem informar o
governo de Vichy de todas as possibilidades referidas neste, especialmente a de se dirigir para as Antilhas para se resguardar dos alemães. Em consequência disso houve um combate naval, a
Batalha de Mers el-Kebir, no decurso da qual são afundados os principais navios franceses que se encontram na base.
O almirante
François Darlan, que inicialmente havia recusado enviar para Brest as unidades ali paradas em tempo de paz e havia ordenado que a totalidade da frota francesa devia reunir-se em bases no norte da África, modifica as suas ordens, que estavam na origem do ataque britânico, e ordena à frota que pare no porto metropolitano em
Toulon (que ficava em zona livre) no final do ano
1940.
Por outro lado a Itália, apesar de reivindicar os territórios do antigo condado de
Nice e a Sabóia, que não havia conseguido conquistar em combate, teve de contentar-se com a localidade mediterrânea de
Menton. O resto dos territórios reivindicados não serão ocupados pelo
Regio Esercito italiano senão em
11 de novembro de
1942, durante a invasão da zona antes não ocupada.