quarta-feira, junho 23, 2021

Catarina de Bragança casou com Carlos II do Reino Unido há 360 anos

 
D. Catarina Henriqueta de Bragança (Vila Viçosa, 25 de novembro de 1638Lisboa, 31 de Dezembro de 1705) foi princesa de Portugal e rainha consorte de Inglaterra e Escócia por seu casamento com o rei Carlos II da casa de Stuart.
Filha do Rei D. João IV de Portugal e da sua mulher a Rainha D. Luísa de Gusmão. Depois da morte da irmã mais velha, a Princesa D. Joana, assumiu o título de Princesa da Beira. Seus irmãos foram os monarcas D. Afonso VI e D. Pedro II de Portugal.
 
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Dois anos depois de aclamar, D. João IV, querendo fortificar e robustecer a soberania e a independência, procurava alianças: um dos meios era casar os filhos com príncipes e princesas estrangeiros. Catarina nem tinha oito anos e já se tratava de a casar com D. João d'Áustria, bastardo de Filipe IV de Espanha; houve ideias de a casar com o duque de Beaufort, neto de Henrique IV de França por bastardia. As negociações ficaram sem resultado. Pensou-se no casamento com Luís XIV, laço habilmente preparado pelo cardeal Mazarino para conseguir, via Portugal, obrigar a Espanha a fazer a paz com a França.
Em vida de D. João IV se trataram destas negociações com actividade, chegando a vir a Lisboa o embaixador francês conde de Cominges. Mazarino, servindo-se do engodo da promessa deste casamento, trouxe Portugal iludido, abandonando-o depois, assinando a paz com a Espanha e o contrato do casamento do rei com a infanta espanhola D. Maria Teresa de Áustria. Em 1661, sendo regente a rainha D. Luísa de Gusmão na menoridade de D. Afonso VI de Portugal, tratou-se novamente do casamento da infanta D. Catarina, sendo escolhido Carlos II da Inglaterra.

O contrato foi assinado por el-rei com todas as cerimónias legais da Inglaterra a 23 de Junho de 1661, e pelo embaixador Conde da Ponte e Marquês de Sande, Francisco de Melo e Torres, que regressou a Portugal, onde foi recebido com muita satisfação pela regente, e com muito desgosto da parte do povo, pela entrega de Tânger e Bombaim.
Em 28 de Abril de 1662 recebeu-se em Lisboa a notícia da realização do contrato, e pouco depois chegou a armada inglesa, que devia conduzir a seu bordo a nova rainha. O general comandante era Eduardo de Montaigne, Conde de Sandwich, revestido com o carácter de embaixador extraordinário. Ela partiu acompanhada do Marquês de Sande, do Conde de Pontével, Nuno da Cunha, Francisco Correia da Silva, e pessoas da corte. Antes de embarcar todos se dirigiram à Sé, onde se celebrou missa solene e Te-­Deum. Houve salvas da artilharia, repiques de sinos, pomposos ornatos nas ruas por onde passava o cortejo, o som das trombetas, charamela e outros instrumentos, tudo contribuía pare abrilhantar a festa do casamento real. Finalmente, a nova rainha entrou no bergantim real, adornado com magnificência, e navegou para bordo da nau capitania Grão-Carlos. Acompanharam as damas D. Elvira de Vilhena, condessa de Pontével, e D. Maria de Portugal, condessa de Penalva.
 
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D. Catarina não foi uma rainha popular na Inglaterra por ser católica, o que a impediu de ser coroada. Sem posteridade, diz-se que deixou, pelo menos, à Inglaterra, a geleia de laranja, o hábito de beber chá, além de lá ter introduzido o uso dos talheres e do tabaco.

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

Mais uma ruinosa e trágica efeméride:
"Portugal ofereceu o maior dote conhecido até então na História da Europa, nomeadamente a astronómica verba de dois milhões de cruzados (!) em dinheiro e os territórios portugueses de Tânger, no norte de África, e a ilha de Bombaim, na Índia. Também permitiu o comércio livre com os portos portugueses da América e do Oriente (em troca, os ingleses obrigavam-se unicamente a fornecer assistência militar – dez mil soldados – a Portugal)."
Nota importante:
Nas cláusulas do contrato de casamento o dote seria pago em mais do que uma vez, pois era difícil conseguir o vultuoso montante dado o país atravessar um período de quase penúria! Para completar o dote de D. Catarina foi necessário empenhar pratas, jóias e outros tesouros de conventos e igrejas. O Brasil também contribuiu, porque ainda era colónia.
[(*Resolução da rainha D. Luísa de Gusmão ordenando a duplicação do imposto das sisas para financiamento do dote de Catarina de Bragança, futura rainha de Inglaterra. 1661-11-10. Portugal, Torre do Tombo, Manuscritos da Livraria n.º 1146 (53).]

"Os territórios submetidos à soberania britânica por meio do casamento de Catarina com Carlos II facultaram aos Britânicos praças-fortes no norte de África e no subcontinente indiano. Estes postos avançados viriam a ser extremamente valiosos e cruciais ao expansionismo político-económico britânico, no alicerçar do Raj na Índia, e na projecção da influência britânica no Mundo Árabe. Mais, favoreceram o comércio britânico, com o estabelecimento de mercadores de vinho e açúcar na Madeira, um arquipélago situado perto da costa do noroeste Africano, cujos direitos e receitas tributárias Catarina herdara com a morte do seu pai.
Acrescente-se a este facto os privilégios comerciais especiais que os termos do Acordo de Casamento concederam à Grã-Bretanha no Brasil, os quais seriam basilares para todo o empreendimento militar e económico britânico na América do Sul, ao longo dos séculos seguintes."

"Descubra mais na Torre do Tombo…

* Ratificação ao Tratado de Casamento do rei Carlos II, do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda com D. Catarina de Portugal. 1661-06-23. Portugal, Torre do Tombo, Tratados, Inglaterra, cx. 1, n.º 5.
* Carta escrita da baía de Tânger, relativa à entrega desta praça aos ingleses, por ocasião do casamento da rainha D. Catarina de Bragança. 1661. Portugal, Torre do Tombo, Manuscritos da Livraria n.º 1145 (10).
* Resolução da rainha D. Luísa de Gusmão ordenando a duplicação do imposto das sisas para financiamento do dote de Catarina de Bragança, futura rainha de Inglaterra. 1661-11-10. Portugal, Torre do Tombo, Manuscritos da Livraria n.º 1146 (53)."