Frontispício de uma peça de teatro "de cordel" de Tolentino
Os seus versos continham muitas vezes pedidos, pleiteando um cargo na
secretaria de estado, até que este foi satisfeito, com a nomeação como
oficial de secretaria.
Foi um
professor
durante quinze anos, mas esta vida desagradava-lhe, pois era
inadaptado e descontente até conseguir o posto na Secretaria dos
Negócios do Reino. Obteve tudo quanto pretendeu, o que não o fez deixar
de deplorar uma suposta miséria.
Bom metrificador, compôs
sátiras descritivas e caricaturais,
sonetos e
odes, que reuniu em 1801 num volume chamado
Obras Poéticas.
Ficou pela superfície, mas apreendeu bem os erros e ridículos da
época. O seu cómico consistia no agravamento das proporções,
hipertrofiando o exagero que encontrava.
Vai, mísero cavalo lazarento
Vai, mísero cavalo lazarento,
Pastar longas campinas livremente;
Não percas tempo, enquanto to consente
De magros cães faminto ajuntamento.
Esta sela, teu único ornamento,
Para sinal da minha dor veemente,
De torto prego ficará pendente,
Despojo inútil do inconstante vento.
Morre em paz, que, em havendo algum dinheiro,
Hei-de mandar, em honra de teu nome,
Abrir em negra pedra este letreiro:
«Aqui piedoso entulho os ossos come
Do mais fiel, mais rápido sendeiro,
Que fora eterno, a não morrer de fome».
Nicolau Tolentino de Almeida