Retrato de Anna Akhmatova, por Kuzma Petrov-Vodkin, em 1922
Começou a escrever poesia aos onze anos de idade, mas o pai, um
engenheiro naval, temia que Anna viesse a desonrar o nome da família,
convencido de estar a adivinhar hábitos decadentes associados à vida
artística. Assim, assinou os seus primeiros trabalhos com o primeiro
nome da sua bisavó, Tatar.
Apesar do seu pai ter abandonado a família, quando Anna contava apenas
dezasseis anos, conseguiu prosseguir os seus estudos. Portanto, não só
estudou no liceu feminino de Tsarskoe Selo e no célebre Instituto
Smolnyi de
São Petersburgo, como também no Liceu Fundukleevskaia de
Kiev e numa Faculdade de Direito, em
1907.
A obra de Akhmatova compõem-se tanto de pequenos poemas líricos como de grandes poemas, como o Requiem,
um grande poema acerca do terror estalinista. Os temas recorrentes são
o passar do tempo, as recordações, o destino da mulher criadora e as
dificuldades em viver em escrever à sombra do estalinismo.
Os seus pais separaram-se em
1905. Ela casou-se com o poeta
Nikolaï Goumilev em
1910 e o filho deles, nascido em
1912, foi o historiador Lev Goumilev.
Akhmatova teve uma longa amizade com a poeta
Marina Tsvetaeva, sua compatriota. Estas duas amigas trocaram uma correspondência poética.
Nikolaï Goumilev foi executado em
1921,
por causa de actividades consideradas anti-soviéticas; Akhmatova foi
forçada ao silêncio, não podendo a sua poesia ser publicada de
1925 a
1952 (exceptuando-se o período de
1940 a
1946). Excluída da vida pública, vivendo de uma irrisória pensão e forçada a ir fazendo traduções de obras de escritores como
Victor Hugo e
Rabindranath Tagore, Akhmatova começou, após a morte de Estaline, em
1953, a ser reabilitada, tendo-lhe sido autorizada uma viagem a
Itália, para receber o prémio literário Taormina, e a
Oxford, para receber um título honorário, em
1965.
Na generalidade, a sua obra é caracterizada pela aparente simplicidade e naturalidade e pela precisão e clareza da sua escrita.
A sentença
A palavra
caiu pétrea
no meu seio ainda vivo.
Não importa, eu já esperava,
de certo modo eu sabia.
Tenho muito
a fazer hoje:
matar memórias de vez,
para a alma ser de pedra
a viver mais aprender.
Ou ... o estralejar
do ardente Estio
como, além da janela, um feriado.
Há muito tempo já que vinham vindo
o luminoso dia e a vazia casa.
E não
me consentirá
que leve nada comigo
(por mais que eu peça e suplique,
por mais que a moa a rezar):
não
os olhos do meu filho,
sofrimento como pedra,
o dia de tempestade,
nem a hora da visita,
o suave frio
das mãos,
o rugir de sombras de árvore,
nem o distante som leve -
consolação das últimas palavras.
Anna Akhmatova
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