sábado, dezembro 10, 2022

Ada Lovelace nasceu há 207 anos

   

Ada Augusta Byron King, Condessa de Lovelace (10 de dezembro de 1815 - 27 de novembro de 1852), atualmente conhecida como Ada Lovelace, foi uma matemática e escritora inglesa. Hoje é reconhecida principalmente por ter escrito o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina, a máquina analítica de Charles Babbage. Durante o período em que esteve envolvida com o projeto de Babbage, ela desenvolveu os algoritmos que permitiriam à máquina computar os valores de funções matemáticas, além de publicar uma coleção de notas sobre a máquina analítica. Por esse trabalho é considerada a primeira programadora de toda a história.
Lovelace nasceu em 10 de dezembro de 1815 e foi a única filha legítima do poeta Lord Byron e da sua esposa, Anne Isabella "Anabella" Byron, pois todos os outros filhos de Lorde Byron nasceram fora do casamento. Byron separou-se da esposa um mês depois do nascimento de Ada e deixou a Inglaterra para sempre, quatro meses depois. Acabou morrendo doente durante a Guerra da Independência Grega, quando Ada tinha oito anos de idade. A mãe de Ada promoveu o interesse de Ada em matemática e lógica, num esforço para impedi-la de desenvolver o que ela via como a insanidade de Lord Byron, mas Ada sempre permaneceu interessada no seu pai e, a seu pedido, foi enterrada ao lado dele quando morreu.
Na juventude seus talentos matemáticos levaram-a a uma relação de trabalho e de amizade com o colega matemático britânico Charles Babbage e, em particular, o trabalho de Babbage sobre a Máquina Analítica. Entre 1842 e 1843, ela traduziu um artigo do engenheiro militar italiano Luigi Federico Menabrea sobre o motor, e complementou com um conjunto de sua própria autoria, que ela chamou de Anotações. Essas notas, contém um algoritmo criado para ser processado por máquinas, o que muitos consideram ser o primeiro programa de computador. Ela também desenvolveu uma visão sobre a capacidade dos computadores de irem além do mero cálculo ou processamento de números, enquanto outros, incluindo o próprio Babbage, focavam apenas nessas capacidades. A sua mentalidade da "ciência poética" a levou a fazer perguntas sobre a Máquina Analítica (como mostrado em suas notas) e a examinar como os indivíduos e a sociedade se relacionam com a tecnologia como uma ferramenta de colaboração.
    
Infância
Ada Lovelace nasceu Augusta Ada Byron, a 10 de dezembro de 1815, em Londres, na Inglaterra, filha do poeta George Gordon Byron, 6 º Barão Byron, e de Anne Isabella "Annabella" Milbanke, Baronesa Byron. George Byron esperava ser pai de um menino e ficou desapontado quando a sua esposa deu à luz uma menina. Augusta recebeu esse nome por causa da meia-irmã de Byron, Augusta Leigh, e foi chamada de" Ada "pelo próprio George.
Em 16 de janeiro 1816, Annabella, a pedido de George, se mudou para a casa de seus pais em Kirkby Mallory levando Ada com ela, que na época tinha apenas um mês de idade. Embora a lei inglesa desse ao pai a custódia total de seus filhos em caso de separação, Byron não fez nenhuma tentativa de reivindicar os seus direitos, mas pediu para que a sua irmã o mantivesse informado sobre o bem-estar de Ada. A 21 de abril, Byron assinou o acordo de separação, com muita relutância, e deixou a Inglaterra, para sempre, alguns dias depois. Além de não aceitar bem a separação amarga, Annabella fez acusações sobre o comportamento imoral de Byron durante toda a sua vida. Este conjunto de eventos deixaram Ada famosa na sociedade vitoriana. Byron não tinha qualquer relacionamento com a sua filha e nunca mais a viu. Ele morreu em 1824, quando ela tinha oito anos, e a sua mãe era a única figura parental significativa na sua vida. Ada não foi autorizada a ver qualquer retrato de seu pai até ao seu vigésimo aniversário. A sua mãe tornou-se Baronesa Wentworth em 1856.
  
Primeiro programa de computador
Em 1842 Charles Babbage foi convidado a ministrar um seminário na Universidade de Turim sobre sua máquina analítica. Luigi Menabrea, um jovem engenheiro italiano e futuro Primeiro-ministro da Itália, publicou a palestra de Babbage em francês e esta transcrição foi posteriormente publicada na Bibliothèque universelle de Genève, em 1842.
Babbage pediu a Ada para traduzir o artigo de Menabrea para o inglês, adicionando depois a tradução com as anotações que ela mesma havia feito. Ada levou grande parte do ano nesta tarefa. Estas notas, que são mais extensas que o artigo de Menabrea, foram então publicados no The Ladies' Diary e no Memorial Científico de Taylor sob as iniciais "AAL".
Em 1953, mais de cem anos depois de sua morte, as notas de Ada sobre a máquina analítica de Babbage foram republicadas. A máquina foi reconhecida como um primeiro modelo de computador e as notas de Ada como a descrição de um computador e um software.
As notas de Ada foram classificadas alfabeticamente de A a G. Na nota G ela descreve o algoritmo para a máquina analítica computar a Sequência de Bernoulli. É considerado o primeiro algoritmo especificamente criado para ser implementado num computador e Ada é citada recorrentemente como a primeira programadora, por esta razão. No entanto, a máquina não foi construída durante a vida da Condessa de Lovelace.
   

Música adequada à data...

O primeiro Rei dos Belgas morreu há 157 anos

       
Leopoldo I (Coburgo, 16 de dezembro de 1790 - Laeken, 10 de dezembro de 1865) foi um príncipe de Saxe-Coburgo-Gota, e foi o primeiro Rei dos Belgas, título que deteve de 21 de julho de 1831 até à sua morte.
Ele foi o fundador da linhagem belga da Casa de Saxe-Coburgo-Gota. Entre seus filhos, estavam o rei Leopoldo II da Bélgica e a imperatriz Carlota do México.
      
Família e carreira militar
Leopoldo era o filho mais jovem do duque Francisco de Saxe-Coburgo-Saalfeld e da condessa Augusta Reuss-Ebersdorf.
Ele tornou-se um príncipe de Saxe-Coburgo-Gota somente depois de uma troca territorial realizada pelo seu pai, em 1826.
Em 1795, com cinco anos de idade, Leopoldo foi nomeado coronel do regimento imperial de Izmailovski, na Rússia. Sete anos depois, com doze anos, tornou-se general. As tropas napoleónicas ocuparam o ducado de Saxe-Coburgo em 1806. Leopoldo, a quem Napoleão Bonaparte ofereceu a posição de ajudante (recusada), partiu para a Rússia, ao encontro de Alexandre I, que era cunhado da sua irmã Juliana.
Em 1808, Leopoldo acompanhou Alexandre I durante os seus encontros com Napoleão em Erfurt. Como general de brigada do regimento de cavalaria russa, ele participou das campanhas de 1807, 1808 e 1813 e nas batalhas de Lützen, Bautzen e Leipzig (1814) contra as tropas francesas. Tais confrontos garantiram-lhe a posição de major-general do exército russo.
Leopoldo acabou condecorado com várias ordens russas: a Ordem de Santo André, a Ordem de Santa Ana, a Ordem de Santo Alexandre Nevsky, a Ordem de São Jorge, entre outras.
       
Casamentos e filhos
Em 2 de maio de 1816, em Carlton House, Leopoldo desposou a princesa Carlota de Gales, a única filha legítima do príncipe-regente britânico (mais tarde Jorge IV do Reino Unido) e por isso herdeira ao trono. Consequentemente, tornou-se marechal de campo britânico e cavaleiro da Ordem da Jarreteira. Em 5 de novembro de 1817, a princesa Carlota deu à luz um menino natimorto e ela própria morreu, no dia seguinte. Se ela tivesse sobrevivido, teria se tornado rainha do Reino Unido em 1830, com a morte de seu pai, e Leopoldo teria sido titulado príncipe consorte britânico em vez de rei dos Belgas.
Em 2 de julho de 1829, Leopoldo casou-se com a atriz Karoline Bauer, posteriormente condessa de Montgomery, uma prima dum conselheiro do rei, o barão Christian Friedrich von Stockmar. O contrato de casamento foi assinado sem cerimónia religiosa ou pública e, alegadamente, terminou em 1831.
Em 9 de agosto de 1832, Leopoldo casou-se de novo, desta vez com a princesa Luísa Maria d'Orléans, filha do rei Luís Filipe I da França, da qual teve quatro filhos:
  
Rei dos Belgas
Em 1830, o povo da Grécia ofereceu a Leopoldo a coroa grega, que recusou. Depois da Bélgica conquistar a sua independência dos Países Baixos, a 4 de outubro daquele mesmo ano, o Congresso Nacional da Bélgica, depois de considerar muitos outros candidatos, ofereceu a Leopoldo a coroa do país, recentemente formado. Ele aceitou e tornou-se o "rei dos belgas", em 26 de junho de 1831. Ele jurou lealdade à constituição à frente da Igreja de São Jacob, na praça de Coudenbergh, Bruxelas, em 21 de julho daquele ano. Este dia se tornou feriado nacional na Bélgica. Jules van Praet tornou-se o seu secretário particular.
Menos de duas semanas mais tarde, em 2 de agosto, os Países Baixos invadiram a Bélgica. Os combates continuaram por oito anos, mas, em 1839, os dois países assinaram o Tratado de Londres, estabelecendo a independência da Bélgica.
Com a abertura de uma nova linha ferroviária entre Bruxelas e Mechelen, em 5 de maio de 1835, um dos maiores desejos de Leopoldo - o de construir a primeira ferrovia na Europa continental - tornou-se realidade. No mesmo ano, Leopoldo foi investido cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro.
Em 1840, Leopoldo arranjou o casamento entre a sua sobrinha, a Rainha Vitória do Reino Unido (filha da sua irmã, Vitória de Saxe-Coburgo-Saalfeld) com o seu sobrinho, o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota (filho de seu irmão Ernesto I de Saxe-Coburgo-Gota). Leopoldo agiu como conselheiro de Vitória.
Em 1842, Leopoldo tentou criar leis para regulamentar o trabalho infantil e feminino, mas não teve sucesso. Uma onda de revoluções varreu a Europa depois da deposição do seu sogro, o rei Luís Filipe, do trono francês, em 1848. A Bélgica permaneceu neutra, por causa do papel de diplomata de Leopoldo.
       
     

Alfred Nobel morreu há 126 anos

     
Alfred Bernhard Nobel (Estocolmo, 21 de outubro de 1833 - San Remo, 10 de dezembro de 1896) foi um químico e inventor sueco.
  
Alfred Bernhard Nobel nasceu em 21 de outubro de 1833 em Estocolmo. Era filho de Immanuel Nobel, engenheiro civil e inventor, e de Andrietta Ahlsell, que provinha de uma família abastada sueca. Eles viviam em Estocolomo até que a empresa de Immanuel faliu. Andrietta e os filhos foram para a Finlândia, ao passo que Immanuel tentava montar um negócio em São Petersburgo, na Rússia. Nessa época Alfred estava com quatro anos de idade. Andrietta abriu uma mercearia para ganhar algum dinheiro e quando o marido obteve sucesso numa oficina de equipamento para o exército russo, mudaram-se todos para São Petersburgo.
Foi em São Petersburgo que ele e os irmãos estudaram. Rapidamente se notou um elevado interesse pela Literatura e pela Química. O pai, ao perceber isto, enviou-o para o estrangeiro para ganhar experiência no campo da Engenharia Química. Visitou países tais como França, Alemanha e Estados Unidos. Foi em Paris que conheceu o jovem químico italiano Ascanio Sobrero, que três anos antes tinha inventado a nitroglicerina. O invento fascinou Nobel devido ao seu potencial na engenharia civil.
Em 1852 foi trabalhar para a empresa do pai com os seus irmãos, e realizou experiências com o fim de arranjar um uso seguro e passível de vender para a nitroglicerina. Não obteve quaisquer resultados. Em 1863, regressou à Suécia com o objectivo de desenvolver a nitroglicerina como explosivo. Muda-se para uma zona isolada depois da morte do irmão Emil numa das suas explosões experimentais. Tentou então tornar a nitroglicerina num produto mais manipulável, juntando-lhe vários compostos, que a tornaram de facto numa pasta moldável, a dinamite. A sua invenção veio facilitar os trabalhos de grandes construções tais como túneis e canais.
A dinamite espalhou-se rapidamente por todo o mundo. Nobel dedicava muito tempo aos seus laboratórios, de onde saíram outros inventos (já não relacionados com explosivos), tais como a borracha sintética.
O trabalho intenso durante toda a sua vida não lhe deixou muito tempo para a vida pessoal; tinha apenas uma grande amiga, Bertha Kinsky, que lhe transmitiu os seus ideais pacifistas. Isto iria contribuir para a criação de uma fundação com o seu nome, que promovesse o bem-estar da Humanidade.
Morreu de hemorragia cerebral, na sua casa em San Remo (Itália). No seu testamento havia a indicação para a criação de uma fundação que premiasse anualmente as pessoas que mais tivessem contribuído para o desenvolvimento da Humanidade. Em 1900 foi criada a Fundação Nobel que atribuía cinco prémios em áreas distintas: Química, Física, Medicina, Literatura (atribuídos por especialistas suecos) e Paz Mundial (atribuído por uma comissão do parlamento norueguês). Em 1969 criou-se um novo prémio na área da Economia (financiado pelo Banco da Suécia), o Prémio de Ciências Económicas em memória de Alfred Nobel. Mas de facto, esse prémio não tem ligação com Alfred Nobel, não sendo pago com o dinheiro privado da Fundação Nobel, mas com dinheiro público do banco central sueco, embora os ganhadores sejam também escolhidos pela Academia Real das Ciências da Suécia. O vencedor do Prémio Nobel recebe uma medalha Nobel em ouro e um diploma Nobel. A importância do prémio varia segundo as receitas da Fundação obtidas nesse ano. Assim, nasceu o Prémio Nobel, concedido todos os anos pela Real Academia de Ciências da Suécia.
Encontra-se sepultado no Norra begravningsplatsen, Solna, Estocolmo, na Suécia.
  
   

A Espanha perdeu os restos do seu império nas Caraíbas e Pacífico há 124 anos

    
O Tratado de Paris de 1898, assinado em 10 de dezembro de 1898, terminou a Guerra Hispano-Americana.
    
(...)
    
O Tratado de Paris previa que Cuba se tornasse independente de Espanha, mas o Congresso dos Estados Unidos assegurou o controle deste país pelos Estados Unidos, com a Emenda Platt.
Especificamente, a Espanha renunciou a qualquer reivindicação de soberania sobre Cuba. Após a evacuação pela Espanha, Cuba seria ocupada pelos Estados Unidos, e os Estados Unidos iriam assumir e respeitar todas as obrigações de direito internacional que resultassem deste facto.
O Tratado também garantiu que a Espanha cedia aos Estados Unidos, a ilha de Porto Rico e outras ilhas, então sob soberania espanhola nas Índias Ocidentais, bem como a ilha de Guam.
O maior conflito dizia a respeito à situação das Filipinas. Os comissários espanhóis alegaram que Manila fora entregue após o armistício e, portanto, as Filipinas não poderiam ser exigidas como uma conquista de guerra, pois renderam-se depois do fim da guerra; finalmente, os Estados Unidos decidiram pagar 20 milhões de dólares à Espanha pela posse das Filipinas. O Tratado especificava que a Espanha iria ceder aos Estados Unidos, o arquipélago das Filipinas, e abrangendo as ilhas situadas dentro duma linha especificada.
O tratado foi tema de debate polémico no Senado dos Estados Unidos durante o inverno de 1898-1899, e foi aprovado a 6 de fevereiro de 1899.
De acordo com o tratado, a Espanha, desistia de todos os direitos de Cuba, renunciava a Porto Rico e às suas possessões nas Índias Ocidentais e entregava as ilhas Filipinas, mais a ilha de Guam, aos Estados Unidos.
A derrota pôs fim ao Império espanhol na América e, um ano mais tarde, no Oceano Pacífico (depois do Tratado Germano-Espanhol de 1899) e marcou o início dos Estados Unidos como potência colonial.
    

Olivier Messiaen nasceu há 114 anos


Foi autor de vasta produção, que se estende pela música para órgão, piano, de câmara, vocal (com ou sem instrumentos), concertante, sinfónica, coral-sinfónica e uma ópera - Sétimo Quadro do São Francisco de Assis.
   

 


Clarice Lispector nasceu há 102 anos

 

Clarice Lispector, nascida Haia Pinkhasovna Lispector (Tchetchelnik, 10 de dezembro de 1920 - Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora e jornalista brasileira, nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira.


De origem judaica, Clarice foi a terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Nasceu na cidade de Tchetchelnik enquanto seus pais percorriam várias aldeias da Ucrânia por conta da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa de 1918-1921. Chegou ao Brasil quando tinha dois meses de idade, e sempre que questionada de sua nacionalidade, Clarice afirmava não ter nenhuma ligação com a Ucrânia - "Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo" - e que sua verdadeira pátria era o Brasil.
A família chegou a Bragança Paulista em março de 1922, sendo recebida por Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin. Por iniciativa de seu pai todos mudaram de nome, exceto Tânia, sua irmã. O pai passou a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia, sua irmã, Elisa; e Haia, por fim, Clarice. Pedro passou a trabalhar com Rabin, já um próspero comerciante. Com dificuldades de relacionamento com Rabin e sua família, Pedro decide mudar-se para Recife, então a cidade mais importante do Nordeste.
Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade de Recife, onde passou parte da infância no bairro de Boa Vista. Estudou no Ginásio Pernambucano de 1932 a 1934. Falava vários idiomas, entre eles o francês e o inglês. Cresceu ouvindo no âmbito domiciliar o idioma materno, o iídiche.
A sua mãe morreu em 21 de setembro de 1930 (Clarice tinha apenas 9 anos), após vários anos sofrendo com as consequências de sífilis, supostamente contraída por conta de uma violação sofrida durante a Guerra Civil Russa, enquanto a família ainda estava na Ucrânia. Clarice sofreu com a morte da mãe, e muitos de seus textos refletem a culpa que a autora sentia e figuras de milagres que salvariam sua mãe.
Quando tinha 15 anos seu pai decidiu se mudar para o Rio de Janeiro. Sua irmã Elisa conseguiu um emprego no ministério, por intervenção do então ministro Agamenon Magalhães, enquanto seu pai teve dificuldades em achar uma oportunidade na capital. Clarice estudou em uma escola primária na Tijuca, até ir para o curso preparatório para a Faculdade de Direito. Foi aceita na Escola de Direito na então Universidade do Brasil, em 1939. Viu-se frustrada com muitas das teorias ensinadas no curso, e descobriu um escape: a literatura. Em 25 de maio de 1940, com apenas 19 anos, publicou o seu primeiro conto - "Triunfo" - na Revista Pan.
Três anos depois, após uma cirurgia simples para a retirada da sua vesícula biliar, o seu pai Pedro morre de complicações da operação. As filhas ficam arrasadas com as circunstâncias da morte tão inesperada, e como consequência Clarice se afasta da religião judaica. No mesmo ano, Clarice chama a atenção (provavelmente com o conto "Eu e Jimmy") de Lourival Fontes, então chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda (órgão responsável pela censura no Estado Novo de Getúlio Vargas), e é alocada para trabalhar na Agência Nacional, responsável por distribuir notícias aos jornais e emissoras de rádio da época. Lá conheceu o escritor Lúcio Cardoso, por quem se apaixonou (não correspondido, já que Lúcio era homossexual) e de quem se tornou amiga íntima.
Em 1943, no mesmo ano de sua formatura, casou-se com o colega de turma Maury Gurgel Valente, futuro pai de seus dois filhos. Maury foi aprovado no concurso de admissão na carreira diplomática, e passou a fazer parte do quadro do Ministério das Relações Exteriores. Em sua primeira viagem como esposa de diplomata, Clarice morou na Itália onde serviu durante a Segunda Guerra Mundial como assistente voluntária junto ao corpo de enfermagem da Força Expedicionária Brasileira. Também morou em países como Inglaterra, Estados Unidos e Suíça, países para onde Maury foi escalado. Apesar disso, sempre falou em suas cartas a amigos e irmãs como sentia falta do Brasil.
Em 10 de agosto de 1948, nasce em Berna, Suíça, o seu primeiro filho, Pedro. Quando criança Pedro se destacava por sua facilidade de aprendizado, porém na adolescência sua falta de atenção e agitação foram diagnosticados como esquizofrenia. Clarice se sentia de certa forma culpada pela doença do filho, e teve dificuldades para lidar com a situação.
Em 10 de fevereiro de 1953, nasce Paulo, o segundo filho de Clarice e Maury, em Washington, D.C., nos Estados Unidos.
Em 1959 se separou do marido que ficou na Europa e voltou permanentemente ao Rio de Janeiro com seus filhos, morando no Leme. No mesmo ano assina a coluna "Correio feminino - Feira de Utilidades", no jornal carioca Correio da Manhã, sob o pseudónimo de Helen Palmer. No ano seguinte, assume a coluna "Só para mulheres", do Diário da Noite, como ghost-writer da atriz Ilka Soares.
Provoca um incêndio ao dormir com um cigarro acesso em 14 de setembro de 1966, seu quarto fica destruído e a escritora é hospitalizada entre a vida e a morte por três dias. Sua mão direita é quase amputada devido aos ferimentos, e depois de passado o risco de morte, ainda fica hospitalizada por dois meses.
Em 1975 foi convidada a participar do Primeiro Congresso Mundial de Bruxaria, em Cali na Colômbia. Fez uma pequena apresentação na conferência, e falou do seu conto "O ovo e a Galinha", que depois de traduzido para o espanhol fez sucesso entre os participantes. Ao voltar ao Brasil, a viagem de Clarice ganhou ares mitológico, com jornalistas descrevendo (falsas) aparições da autora vestida de preto e coberta de amuletos. Porém, a imagem se formou, dando a Clarice o título de "a grande bruxa da literatura brasileira". O seu próprio amigo Otto Lara Resende disse sobre a obra de Lispector: "não se trata de literatura, mas de bruxaria."
Foi hospitalizada pouco tempo depois da publicação do romance A Hora da Estrela com cancro inoperável nos ovários, diagnóstico desconhecido por ela. Faleceu no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário. Foi enterrada no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro. Até à manhã de seu falecimento, mesmo sob sedativos, Clarice ainda ditava frases para sua amiga Olga Borelli.
Durante toda sua vida Clarice teve diversos amigos de destaque como Fernando Sabino, Lúcio Cardoso, Rubem Braga, San Tiago Dantas e Samuel Wainer, entre diversos outros literários e personalidades.

 


A lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.


Clarice Lispector

J. Mascis, vocalista dos Dinosaur Jr., faz hoje 57 anos

    
J. Mascis, nome artístico de Joseph Mascis (Amherst, 10 de dezembro de 1965) é um músico norte-americano, provavelmente mais conhecido como vocalista, guitarrista, compositor e líder do grupo Dinosaur Jr. e que também é produtor e compositor de bandas sonoras. Foi considerado o 86º melhor guitarrista de todos os tempos pela revista norte-americana Rolling Stone.
  

 


Otis Redding morreu há cinquenta e cinco anos...

      
Otis Redding (Dawson, Geórgia, 9 de setembro de 1941 - Madison, Wisconsin, 10 de dezembro de 1967) foi um cantor de soul norte-americano conhecido por seu estilo passional e pelo sucesso póstumo "(Sittin' On) the Dock of the Bay". Foi considerado pela revista Rolling Stone o 8° maior cantor de todos os tempos e, pela mesma, o 21° maior artista de todos os tempos (pelo conjunto da obra).

Otis Redding nasceu na pequena cidade de Dawson, Geórgia. Quando tinha cinco anos, a sua família mudou para Macon, também na Geórgia, onde Otis começou a cantar no coral de uma igreja e, na adolescência, ganhou o show de talentos do "Douglass Theatre" durante 15 semanas consecutivas. A sua primeira influência musical foi Little Richard, que também havia morado em Macon. Ainda na adolescência resolveu sair da cidade, dizendo que se aquele não tinha sido o lugar para Little Richard, não seria o lugar para ele também.

Em 1960, Otis Redding começou uma turnê pelo sul dos Estados Unidos com Johnny Jenkins and the Pinetoppers. Além de cantar, Otis trabalhava como motorista de Jenkins. No mesmo ano fez as suas primeiras gravações, "Fat Gal" e "Shout Bamalama", com seu grupo com o nome "Otis Redding and the Pinetoppers", lançado pelos selos musicais "Confederate" e "Orbit".
Em 1962 fez a sua primeira marca no mundo da música, durante uma sessão de Johnny Jenkins, quando o estúdio ficou vago, ele gravou "These Arms of Mine", uma balada de sua autoria. A música virou um pequeno hit pela "Volt Records", uma subsidiária do famoso selo sulista Stax Records, que tinha sede em Memphis, Tennessee.
Redding compunha a maioria das suas músicas, prática não muito comum na época, às vezes em parceria com Steve Cropper (do grupo Booker T. & the MG's). Em julho de 1967 ele apresentou-se no influente Festival Pop de Monterey.
"(Sittin' On) the Dock of the Bay" tornou-se famosa um ano depois da morte de Redding, num acidente de avião no Wisconsin, juntamente com a sua banda de apoio, The Bar-Kays.
  
  

 


Brian Molko, baixo e vocalista dos Placebo, faz hoje cinquenta anos

  
Brian Molko (Bruxelas, 10 de dezembro de 1972) é um músico nascido na Bélgica. Ele é o vocalista, baixista e guitarrista da banda de rock alternativo Placebo. Também escreve a maioria das letras do grupo.


 


Donavon Frankenreiter, surfista e músico, faz hoje cinquenta anos

  

Donavon Frankenreiter (born 10 December 1972 in Downey, California) is an American musician and surfer. His debut self-titled album was released in 2004 on Brushfire Records through Universal Music.


 


Jascha Heifetz morreu há 45 anos

   
Jascha Heifetz (Vilnius, Lituânia, 2 de fevereiro de 1901 - Los Angeles, 10 de dezembro de 1987) foi um dos maiores virtuosos da história do violino, famoso pelas suas interpretações de melodias famosas de Paganini, Bach e Saint-Saëns. É considerado, por muitos, o melhor violinista do século XX.

 


O ditador Pinochet morreu há dezasseis anos

(imagem daqui)
  
Augusto José Ramón Pinochet Ugarte (Valparaíso, 25 de novembro de 1915 - Santiago, 10 de dezembro de 2006) foi um general do exército chileno, ditador do Chile após um golpe militar em 11 de setembro de 1973, pelo Decreto Lei Nº 806 editado pela junta militar (Conselho do Chile), que foi estabelecida para governar o Chile após a deposição de Salvador Allende, e posteriormente tornado senador vitalício de seu país, cargo que foi criado exclusivamente para si, por ter sido um ex-governante.
Governou o Chile entre 1973 e 1990, depois de liderar o golpe militar que derrubou o governo democraticamente eleito do presidente Salvador Allende. O seu regime foi marcado por constantes violações de direitos humanos, com mais de 80.000 pessoas presas e outras 30.000 torturadas. Segundo números oficiais, mais de 3 mil pessoas foram assassinadas pelo governo Pinochet.
 
 

Lisa Della Casa morreu há dez anos...

 
Lisa Della Casa
(Burgdorf, 2 de fevereiro de 1919 –  Muensterlingen, 10 de dezembro de 2012) foi uma soprano suíça, célebre pelas suas interpretações de obras de Mozart e Richard Strauss, assim como pelo charme, dotes cénicos e grande beleza.

Filha de pai ítalo-suíço e mãe bávara, ela estudou canto com Margarete Haeser no Conservatório de Zurique e fez a sua estreia operística com Madame Butterfly, no Teatro Municipal Solothurn-Biel (1940). Ela ingressou no corpo artístico da Ópera Municipal de Zurique em 1943 (permanecendo até 1950) e cantou vários papéis, desde a Rainha da Noite na 'A Flauta Mágica até Dorabella em Così fan Tutte, ambas de Mozart. Em 1947, casou o jornalista de origem iugoslava Dragan Debeljevic, de quem teve uma filha, Vesna.

Della Casa fez Zdenka numa récita de Arabella, de Richard Strauss, na Ópera Municipal de Zurique, ao lado da Arabella de Maria Cebotari, no ano de 1946. Esta reconheceu seu talento e a apresentou ao Festival de Salzburgo em 1947, onde a jovem soprano cantaria novamente Zdenka com as estrelas Maria Reining e Hans Hotter. Depois da performance, o próprio Strauss comentou: "Aquela garota vai ser a Arabella um dia!". No mesmo ano, ela debutou na Ópera Estatal de Viena, cantando Gilda em Rigoletto. Logo ela se mudou para Viena e entrou para o corpo artístico da Wiener Staatsoper. Em 1949, fez a sua estreia no La Scala de Milão como Sophie, em Der Rosenkavalier, de Strauss, e Marzelline em Fidelio, de Beethoven. Victor de Sabata, então diretor musical do La Scala, tentou persuadi-la a mudar-se para o teatro, mas Della Casa preferiu continuar em Viena.

Ela estreia na Grã-Bretanha com a Condessa de Almaviva, em Le Nozze di Figaro, de Mozart, no Festival de Glyndebourne, e logo após cantou a protagonista de Arabella pela primeira vez na Ópera Estatal Bávara, em Munique, em 1951. Este papel viria a ser o seu cavalo-de-batalha e, conforme a crítica, sua maior realização como artista. Em 1952, cantou Eva, em Os Mestres Cantores de Nuremberg, de Wagner, no prestigiado Festival de Bayreuth.

Pode-se dizer que Della Casa fez três estreias decisivos em sua carreira:

Em 1955, cantou o papel da Marechala, em Der Rosenkavalier, pela primeira vez. Foi uma performance para celebrar a abertura da restaurada Wiener Staatsoper. Em virtude disso, Della Casa tornou-se intérprete de todas as três personagens principais de Der Rosenkavalier: a Marechala, Octavian e Sophie (que cantara no início da carreira).

O Festival de Salzburgo foi um dos mais importantes lugares em sua carreira. Dela Casa cantou Ariadne, em Ariadne auf Naxos, de Richard Strauss, e Donna Elvira em Don Giovanni em 1954; novamente Donna Elvira em 1956, Chrysothemis na Elektra de Strauss e a Condessa de Almaviva em 1957 (também deu um recital no Festival no mesmo ano); Arabella em 1958; e Pamina, de Die Zauberflöte em 1959. Em 26 de julho de 1960, a recém-construída Salzburg Festspielhaus foi inaugurada com uma performance de Der Rosenkavalier com regência de Herbert von Karajan e participação de Della Casa como a Marechala, Sena Jurinac como Octavian e Hilde Gueden como Sophie.

Em 1961, ela surpreendeu o público ao cantar o papel-título na Salomé de Richard Strauss, na Ópera Estatal Bávara, em Munique. Desde essa investida, Della Casa passou a assumir papéis mais dramáticos da ópera italiana, como Desdemona, do Otello de Verdi, e Tosca, da ópera homónima de Puccini, mas ao final retornou para suas tradicionais personagens mozartianas e straussianas. Em 1964, quando a famosa soprano alemã (e colega sua na Wiener Staatsoper) Elisabeth Schwarzkopf debutou no Met como a Marechala, Della Casa cantou com ela no papel de Octavian.

Em meados dos anos 60, a voz dessa Kammersängerin começou a decair, e ela passou a fazer menos récitas. Em 1974, cantou Arabella no Festival de Salzburgo. Foi depois dessa performance que ela surpreendeu a todos ao anunciar que seria esta a sua última, e logo em seguida se retirou dos palcos.

O timbre lírico, muito delicado e prateado de Della Casa combinava de forma ideal com as heroínas de Mozart e Strauss. Alguns comentadores afirmavam que, embora faltasse a ela a brilhante técnica vocal de Elisabeth Schwarzkopf, era exatamente a naturalidade do seu canto que lhe dava outro tipo de charme. Crítica e reflexiva, Della Casa admitia que não gostava do "negócio da música", com suas intrigas e vaidades.

Ela deixou várias gravações completas de óperas, principalmente para o selo Decca. Suas interpretações da Condessa de Almaviva na gravação de Le Nozze di Figaro com Erich Kleiber e de Arabella na gravação da ópera homônima com Georg Solti são até hoje consideradas entre as melhores já produzidas. Ela fez sua primeira gravação comercial das Quatro Últimas Canções de Richard Strauss em 1953, sob a batuta de Karl Böhm, em 1953, e muitos admiradores da música clássica a qualificam como a melhor já feita.

Della Casa também fez inúmeras aparições no programa de televisão do Bell Telephone Hour.

Morreu no castelo em que vivia, na cidade de Muensterlingen, ao pé do Lago Constance.
  

 


Cássia Eller nasceu há sessenta anos...

    
Cássia Rejane Eller (Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 1962 - Rio de Janeiro, 29 de dezembro de 2001) foi uma cantora e guitarrista do rock brasileiro dos anos 90.
Foi uma das maiores representantes do rock brasileiro dos anos 90 e eleita a 18ª maior voz e 40ª maior artista da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil. Lançou cinco álbuns de estúdio em vida: Cássia Eller (1990), O Marginal (1992), Cássia Eller (1994), Veneno AntiMonotonia (1997) e Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo (1999). O seu sexto álbum de estúdio, Dez de Dezembro (2002) foi lançado postumamente. O álbum mais bem sucedido de Cássia foi o Acústico MTV (2001), com mais de 1 milhão de cópias vendidas e um prémio Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock. Cássia morreu aos 39 anos em 29 de dezembro de 2001, após um enfarte do miocárdio, causado por uma malformação do coração.
     

 


César Franck nasceu há dois séculos

    
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert Franck (Liège, 10 de dezembro de 1822 - Paris, 8 de novembro de 1890) foi um organista e compositor belga.
Com quinze anos, após os estudos na sua cidade natal, foi para Paris, onde passou a frequentar o conservatório. As suas primeiras composições datam desta época e incluem quatro trios para piano e cordas, além de peças para piano. Rute, uma cantata bíblica, foi composta com sucesso no conservatório em 1846. Deixou inacabada a ópera Le Valet de Ferme, iniciada em 1851.
Durante muitos anos, Franck levou uma vida retirada, dedicando-se ao ensino e aos seus deveres de organista, adquirindo renome como improvisador. Escreveu também uma missa, motetos, peças para órgão e outros trabalhos de cunho religioso.
Professor do Conservatório de Paris em 1872, naturalizou-se francês no ano seguinte. A sua obra-prima é o poema sinfónico Les Béatitudes. Foi recebida, no entanto, com frieza, na única execução pública durante a vida do autor. Outros poemas sinfónicos de Franck são Les Éolides, de 1876, Le Chasseur Maudit, de 1883 e Psyche, de 1888.
   

 


sexta-feira, dezembro 09, 2022

Poema e pintura de aniversariante de hoje...

 

(imagem daqui)

  

 O enforcado - 1940

 
Protopoema da Serra d’Arga

Sonhei ou bem alguém me contou
Que um dia
Em San Lourenço da Montaria
Uma rã pediu a Deus para ser grande como um boi
A rã foi
Deus é que rebentou
E ficaram pedras e pedras nos montes à conta da fábula
Ficou aquele ar de coisa sossegada nas ruínas sensíveis
Ficou o desejo que se pega de deixar os dedos pelas arestas das fragas
Ficou a respiração ligeira do alívio do peso de cima
Ficou um admirável vazio azul para crescerem castanheiros
E ficou a capela como um inútil côncavo de virgem
Para dançar à roda o estrapassado e o vira
Na volta do San João d’Arga

Não sei se é bem assim em San Lourenço da Montaria
Sei que isto é mesmo assim em San Lourenço da Montaria
O resto não tem importância
O resto é que tem importância em San Lourenço da Montaria
O resto é a Deolinda
Dança os amores que não teve
Tem o fôlego do hálito alheio que lhe faltou a amolecer a carne
Seca como a da penedia

O resto é o verde que sangra nos beiços grossos de apetecerem ortigas
O resto são os machos as fêmeas e a paisagem é claro
Como não podia deixar de ser
As raízes das árvores à procura de merda na terra ressequida
Os bichos à procura dos bichos para fazerem mais bichos
Ou para comerem outros bichos
Os tira-olhos as moscas as ovelhas de não pintar
E o milho nos intervalos

Todas estas informações são muito mais poema do que parecem
Porque a poesia não está naquilo que se diz
Mas naquilo que fica depois de se dizer
Ora a poesia da Serra d’Arga não tem nada com as palavras
Nem com os montes nem com o lirismo fácil
De toda a poesia que por lá há

A poesia da Serra d’Arga está no desejo de poesia
Que fica depois da gente lá ter ido
Ver dançar a Deolinda
Depois da gente lá ter caçado rãs no rio
Depois da gente ter sacudido as varejeiras dos mendigos
Que também foram à romaria

As varejeiras põem as larvas nos buracos da pele dos mendigos
E da fermentação
Nascem odores azedos padre-nossos e membros mutilados

É assim na Serra d’Arga
Quando canta Deolinda
E vem gente de longe só para a ouvir cantar

Nesses dias
as larvas vêem-se menos
Pois o trabalho que têm é andar por debaixo das peles
A prepararem-se para voar

Quanto aos mendigos é diferente
A sua maneira de aparecer
Uns nascem já mendigos com aleijões e com as rezas sabidas
Do ventre mendigo materno
Outros é quando chupam o seio sujo das mães
Que apanham aquela voz rouca e as feridas
Outros então é em consequência das moscas e das chagas
Que vão à mendicidade

Não mo contou a Deolinda
Que só conta de amores
E só dança de cores
E só fala de flores
A Deolinda

Mas sabe-se na serra que há uma tribo especial de mendigos
Que para os criar bem
Lhes põem desde pequenos os pés na lama dos pauis
Regando-os com o esterco dos outros

Enquanto ali estão a criar as membranas que valem a pena
Vão os mais velhos ensinando-lhes as orações do agradecimento
Eles aprendem
Ao saberem tudo
Nasce de propósito um enxame de moscas para cada um

Todas as moscas que há no Minho
Se geraram nos mendigos ou para eles
E é por isso que têm as patinhas frias e peganhosas
Quando pousam em nós
E é por isso que aquele zumbido de vai-vem
Das moscas da Serra d’Arga
Ainda lembra a mastigação de lamúrias pelas alminhas do Purgatório
Em San Lourenço da Montaria

Este poema não tem nada que ver com os outros poemas
Nem eu quero tirar conclusões com os poetas nos artigos de fundo
Nem eu quero dizer que sofri muito ou gozei
Ou simplesmente achei uma maçada
Ou sim mas não talvez quem dera
Viva Deus-Nosso-Senhor

Este poema é como as moscas e a Deolinda
De San Lourenço da Montaria
E nem sequer lá foi escrito

Foi escrito conscienciosamente na minha secretária
Antes de eu o passar à máquina
Etc. que não tenho tempo para mais explicações

É que eu estava a falar dos mendigos e das moscas
E não disse
Contagiado pelo ar fino de San Lourenço da Montaria
Que tudo é assim em todos os dias do ano
Mas aos sábados e nos dias de romaria
Os mendigos e as moscas deles repartem-se melhor
São sempre mais
E creio de propósito
Ser na sexta-feira à noite
Que as mendigas parem aquela quantidade de mendigozinhos
Com que se apresentam sempre no dia da caridade

Elas parem-nos pelo corpo todo
Pois a carne
De tão amolecida pelos vermes
Não tem exigências especiais
E porque assim acontece
Todos os meninos nascidos deste modo têm aquele ar de coisa mole
Que nunca foi apertada

Os mendigos fazem parte de todas as paisagens verdadeiras
Em San Lourenço da Montaria
Além deles há a bosta dos bois
Os padres
O ar que é lindo
Os pássaros que comem as formigas
Algumas casas às vezes
Os homens e as mulheres

Por isso tudo ali parece ter sido feito de propósito
Exactamente de propósito
Exactamente para estar ali
E é por isso que se tiram as fotografias

Por isso tudo ali é naturalmente
Duma grande crueldade natural
Os meninos apertam os olhos das trutas
Que vêm da água do rio
Para elas estrebucharem com as dores e mostrarem que ainda estão vivas
Os homens beliscam o cu das mulheres para que elas se doam
E percebam assim que lhes agradam
Os animais comem-se uns aos outros
As pessoas comem muito devagar os animais e o pão
E as árvores essas
Sorvem monstruosamente pelas raízes tudo o que podem apanhar

Assim acaba este poema da Serra d’Arga
Onde ontem vi rachar uma árvore e me deu um certo gozo aquilo
Parecia a queda dum regímen
Tudo muito assim mesmo lá em cima
E cá em baixo dois suados à machadada

Ao cair o barulho parecia o duma coisa muito dolorosa
Mas no buraco do sítio da árvore
Na mata de pinheiral
O azul do céu emoldurado ainda era mais bonito
Em San Lourenço da Montaria

Moledo, agosto de 1948

 

António Pedro