Nasceu provavelmente em 1460 ou 1468 ou ainda 1469, em
Sines, na costa sudoeste de Portugal, possivelmente numa casa perto da
Igreja de Nossa Senhora das Salvas de Sines. Sines, um dos poucos portos da costa alentejana, era então uma pequena povoação habitada por pescadores.
Pouco se sabe do início da vida deste navegador. Foi sugerido pelo médico e historiador português
Augusto Carlos Teixeira de Aragão, que terá estudado em
Évora,
onde poderá ter aprendido matemática e navegação. É evidente que
conhecia bem a astronomia, e é possível que tenha estudado com o
astrónomo
Abraão Zacuto.
Em
1492 João II de Portugal enviou-o ao porto de
Setúbal, a sul de Lisboa, e ao
Algarve
para capturar navios franceses em retaliação por depredações feitas em
tempo de paz contra a navegação portuguesa - uma tarefa que Vasco da
Gama executou rápida e eficazmente.
Desde o início do século XV, impulsionados pelo
Infante D. Henrique,
os portugueses vinham aprofundando o conhecimento sobre o litoral
Africano. A partir da década de 1460, a meta tornara-se conseguir
contornar a extremidade sul do continente africano para assim aceder às
riquezas da Índia - pimenta preta e outras especiarias - estabelecendo
uma rota marítima de confiança. A
República de Veneza dominava grande parte das rotas comerciais entre a Europa e a Ásia, e desde
1453 a
tomada de Constantinopla pelos
otomanos limitara o comércio e aumentara os custos. Portugal pretendia usar a rota iniciada por
Bartolomeu Dias para quebrar o monopólio do comércio mediterrânico.
Quando Vasco da Gama tinha cerca de dez anos, esses planos de longo
prazo estavam perto de ser concretizados: Bartolomeu Dias tinha
retornado de dobrar o
Cabo da Boa Esperança, depois de explorar o "Rio do Infante" (
Great Fish River, na actual
África do Sul) e após ter verificado que a costa desconhecida se estendia para o nordeste.
Faltava apenas um navegador comprovar a ligação entre os achados de
Bartolomeu Dias e os de Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, para
inaugurar uma
rota de comércio
potencialmente lucrativa para o Oceano Índico. A tarefa fora
inicialmente atribuída por D. João II a Estevão da Gama, pai de Vasco da
Gama. Contudo, dada a morte de ambos, em Julho de 1497 o comando da
expedição foi delegado pelo novo rei D.
Manuel I de Portugal
a Vasco da Gama, possivelmente tendo em conta o seu desempenho ao
proteger os interesses comerciais portugueses de depredações pelos
franceses ao longo da Costa do Ouro Africana.
Manuel I de Portugal confiou a Vasco da Gama o cargo de capitão-mor da frota que, num sábado
8 de Julho de
1497, zarpou de
Belém em
demanda da Índia.
Era uma expedição essencialmente exploratória que levava cartas do rei D. Manuel I para os reinos a visitar,
padrões
para colocar, e que fora equipada por Bartolomeu Dias com alguns
produtos que haviam provado ser úteis nas suas viagens, para as trocas
com o comércio local. O único testemunho presencial da viagem é consta
num diário de bordo anónimo, atribuído a
Álvaro Velho.
Contava com cerca de cento e setenta homens, entre marinheiros, soldados e religiosos, distribuídos por quatro embarcações:
- São Gabriel, uma carraca de 27 metros de comprimento e 178 toneladas, construída especialmente para esta viagem, comandada pelo próprio Vasco da Gama;
- São Rafael, de dimensões semelhantes à São Gabriel, também construída especialmente para esta viagem, comandada por Paulo da Gama, seu irmão; no regresso, com a tripulação diminuída, foi abatida em Melinde, prosseguindo na Bérrio e São Gabriel.
- Bérrio, uma caravela ligeiramente menor que as anteriores, oferecida por D. Manuel de Bérrio, seu proprietário, sob o comando de Nicolau Coelho;
- São Miguel, uma carraca para transporte de mantimentos, sob o comando de Gonçalo Nunes, que viria a ser queimada na ida, perto da baía de São Brás, na costa oriental africana.
A expedição partiu de Lisboa, acompanhada por
Bartolomeu Dias
que seguia numa caravela rumo à Mina, seguindo a rota já experimentada
pelos anteriores exploradores ao longo da costa de África, através de
Tenerife e do
Arquipélago de Cabo Verde. Após atingir a costa da atual
Serra Leoa, Vasco da Gama desviou-se para o sul em mar aberto, cruzando a
linha do Equador, em demanda dos ventos vindos do oeste do
Atlântico Sul, que Bartolomeu Dias já havia identificado desde
1487. Esta manobra de "
volta do mar" foi bem sucedida e, a
4 de Novembro de
1497,
a expedição atingiu novamente o litoral Africano. Após mais de três
meses, os navios tinham navegado mais de 6.000 quilómetros de mar
aberto, a viagem mais longa até então realizada em alto mar.
A
16 de Dezembro, a frota já tinha ultrapassado o chamado "rio do Infante" ("Great Fish River", na atual
África do Sul)
- de onde Bartolomeu Dias havia retornado anteriormente - e navegou em
águas até então desconhecidas para os europeus. No dia de Natal, Gama e
sua tripulação batizaram a costa em que navegavam o nome de
Natal (actual província
KwaZulu-Natal da
África do Sul).
A
2 de Março de
1498, completando o contorno da costa africana, a armada chegou à costa de
Moçambique,
após haver sofrido fortes temporais e de Vasco da Gama ter sufocado com
mão de ferro uma revolta da marinhagem. Na costa Leste Africana, os
territórios controlados por
muçulmanos integravam a rede de comércio no
Oceano Índico. Em
Moçambique
encontram os primeiros mercadores indianos. Inicialmente são bem
recebidos pelo sultão, que os confunde com muçulmanos e disponibiliza
dois pilotos. Temendo que a população fosse hostil aos cristãos, tentam
manter o equívoco mas, após uma série de mal entendidos, foram forçados
por uma multidão hostil a fugir de Moçambique, e zarparam do porto
disparando os seus canhões contra a cidade.
O piloto que o sultão da
ilha de Moçambique ofereceu para os conduzir à
Índia havia sido secretamente incumbido de entregar os navios portugueses aos
mouros em
Mombaça. Um acaso fez descobrir a cilada e Vasco da Gama pôde continuar.
Na costa do actual
Quénia
a expedição saqueou navios mercantes árabes desarmados. Os portugueses
tornaram-se conhecidos como os primeiros europeus a visitar o porto de
Mombaça, mas foram recebidos com hostilidade e logo partiram.
Em Fevereiro de 1498, Vasco da Gama seguiu para norte, desembarcando no amistoso porto de
Melinde - rival de Mombaça - onde foi bem recebido pelo sultão que lhe forneceu um piloto árabe, conhecedor do
Oceano Índico, cujo conhecimento dos ventos de
monções
permitiu guiar a expedição até Calecute, na costa sudoeste da Índia. As
fontes divergem quanto à identidade do piloto, identificando-o por
vezes como um cristão, um muçulmano e um
guzerate. Uma história tradicional descreve o piloto como o famoso navegador árabe
Ibn Majid, mas relatos contemporâneos posicionam Majid lugar noutro local naquele momento.
Em
20 de Maio de
1498, a frota alcançou
Kappakadavu, próxima a
Calecute, no actual estado indiano de Kerala, ficando estabelecida a
Rota do Cabo e aberto o caminho marítimo dos Europeus para a Índia.
No dia seguinte à chegada, entre a multidão reunida na praia, foram saudados por dois mouros de
Tunes (Tunísia), um dos quais dirigiu-se em castelhano
«Ao
diabo que te dou; quem te trouxe cá?». E perguntaram-lhe o que vínhamos
buscar tão longe; e ele respondeu: «Vimos buscar cristãos e
especiaria.», conforme relatado por Álvaro Velho. Ao ver as imagens de deuses
Hindus
Gama e os seus homens pensaram tratar-se de santos cristãos, por
contraste com os muçulmanos que não tinham imagens. A crença nos
"cristãos da Índia", como então lhes chamaram, perdurou algum tempo
mesmo depois do regresso.
Contudo as negociações com o governador local,
Samutiri Manavikraman Rajá,
Samorim
de Calecute, foram difíceis. Os esforços de Vasco da Gama para obter
condições comerciais favoráveis foram dificultados pela diferença de
culturas e pelo baixo valor de suas mercadorias,
com os representantes do samorim a escarnecerem das suas ofertas, e os
mercadores árabes aí estabelecidos a resistir à possibilidade de
concorrência indesejada. As mercadorias apresentadas pelos portugueses
mostraram-se insuficientes para impressionar o samorim, em comparação
com os bens de alto valor ali comerciados, o que gerou alguma
desconfiança. Os portugueses acabariam por vender as suas mercadorias
por baixo preço para poderem comprar pequenas quantidades de especiarias
e jóias para levar para o reino.
Por fim o Samorim mostrou-se agradado com as cartas de D. Manuel I e
Vasco da Gama conseguiu obter uma carta ambígua de concessão de direitos
para comerciar, mas acabou por partir sem aviso após o Samorim e o seu
chefe da Marinha
Kunjali Marakkar
insistirem para que deixasse todos os seus bens como garantia. Vasco da
Gama manteve os seus bens, mas deixou alguns portugueses com ordens
para iniciar uma
feitoria.
Vasco da Gama iniciou a viagem de regresso a
29 de agosto de 1498. Na ânsia de partir, ignorou o conhecimento local sobre os padrões da
monção que lhe permitiria velejar. Na
Ilha de Angediva foram abordados por um homem que se afirmava
cristão mas que se fingia de
muçulmano ao serviço de
Hidalcão, o
sultão de Bijapur. Suspeitando que era um
espião, açoitaram-no até que ele confessou ser um aventureiro
judeu polaco no Oriente. Vasco da Gama apadrinhou-o, nomeando-o
Gaspar da Gama.
Na viagem de ida, cruzar o Índico até à Índia com o auxílio dos
ventos de monção demorara apenas 23 dias. A de regresso, navegando
contra o vento, consumiu 132 dias, tendo as embarcações aportado em
Melinde a
7 de Janeiro
de 1499. Nesta viagem cerca de metade da tripulação sobrevivente
pereceu, e muitos dos restantes foram severamente atingidos pelo
escorbuto,
por isso dos 148 homens que integravam a armada, só 55 regressaram a
Portugal. Apenas duas das embarcações que partiram do Tejo conseguiram
voltar a Portugal, chegando, respectivamente em Julho e Agosto de 1499. A caravela
Bérrio, sendo a mais leve e rápida da frota, foi a primeira a regressar a Lisboa, onde aportou a
10 de Julho de 1499, sob o comando de
Nicolau Coelho e tendo como piloto
Pêro Escobar, que mais tarde acompanhariam a frota de
Pedro Álvares Cabral na viagem em que se registou o
descobrimento do Brasil em Abril de
1500.
Vasco da Gama regressou a Portugal em Setembro de 1499, um mês depois de
seus companheiros, pois teve de sepultar o irmão mais velho
Paulo da Gama, que adoecera e acabara por falecer na ilha
Terceira, nos
Açores.
Em seu regresso, foi recompensado como o homem que finalizara um plano
que levara oitenta anos a cumprir. Recebeu o título de "
almirante-mor dos Mares das Índia", sendo lhe concedida uma renda de trezentos mil
réis anuais, que passaria para os filhos que tivesse. Recebeu ainda, conjuntamente com os irmãos, o título perpétuo de
Dom e duas vilas,
Sines e
Vila Nova de Milfontes.
A 12 de Fevereiro de
1502,
Vasco da Gama comandou nova expedição com uma frota de vinte navios de
guerra, com o objetivo de fazer cumprir os interesses portugueses no
oriente. Fora convidado após a recusa de
Pedro Álvares Cabral,
que se desentendera com o monarca acerca do comando da expedição. Esta
viagem ocorreu depois da segunda armada à Índia, comandada por Pedro
Álvares Cabral em 1500, que ao desviar-se da rota
descobrira o Brasil.
Quando chegou à Índia, Cabral soube que os portugueses que haviam sido
aí deixados por Vasco da Gama na primeira viagem para estabelecer um
posto comercial haviam sido mortos. Após bombardear Calecute, rumou para
o sul até
Cochim, um pequeno reino rival, onde foi calorosamente recebido pelo
Rajá, regressando à Europa com seda e ouro.
Gama tomou e exigiu um tributo à ilha de
Quíloa
na África Oriental, um dos portos de domínio árabe que haviam combatido
os portugueses, tornando-a tributária de Portugal. Com ouro proveniente
de 500 moedas trazidas por Vasco da Gama do régulo de Quíloa (actual
Kilwa Kisiwani, na Tanzânia), como tributo de vassalagem ao rei de
Portugal, foi mandada criar, pelo rei D. Manuel I para o Mosteiro dos
Jerónimos, a
Custódia de Belém.
Nesta viagem ocorreu o primeiro registo europeu conhecido do avistamento das ilhas
Seychelles, que Vasco da Gama nomeou
Ilhas Amirante (ilhas do Almirante) em sua própria honra.
Vasco da Gama partira com o objectivo de instalar o centro português e
uma feitoria em Cochim, após esforços consecutivos de Pedro Álvares
Cabral e
João da Nova. Bombardeou Calecute e destruiu postos de comércio árabes.
Depois de chegar ao norte do Oceano Índico, Vasco da Gama aguardou até capturar um navio que retornava de
Meca, o Mîrî, com importantes mercadores muçulmanos, apreendendo todas as mercadorias e incendiando-o. Ao chegar a Calecute a 30 de Outubro 1502 o samorim estava disposto a assinar um tratado,
num acto de ferocidade que chocou até os cronistas contemporâneos, que o
consideraram um acto e vingança pelos portugueses mortos em Calecute da
sua primeira viagem.
Em 1 de março de 1503 inicia-se a guerra entre o samorim de Calecute e
o rajá de Cochim. Os seus navios assaltaram navios mercantes árabes,
destruindo também uma frota de 29 navios de Calecute. Após essa batalha,
obteve então concessões comerciais favoráveis do Samorim. Vasco da Gama
fundou a colónia portuguesa de Cochim, na Índia, regressando a Portugal
em Setembro de 1503. Vasco da Gama voltou a pátria em
1513 e levou vida retirada, em
Évora, apesar de consideração de que gozava junto do rei.
Tendo adquirido uma reputação de temível "solucionador" de problemas
na Índia, Vasco da Gama foi enviado de novo para o subcontinente indiano
em 1524. O objectivo era o de que ele substituísse o vice-rei
Duarte de Meneses, cujo governo se revelava desastroso, mas Vasco da Gama contraiu
malária pouco depois de chegar a
Goa. Como
governador e segundo vice-rei actuou com rigidez e conseguiu impor a ordem, mas veio a falecer na cidade de Cochim, na véspera de Natal em
1524
Foi sepultado na
Igreja de São Francisco (Cochim).
Em 1539 os seus restos mortais foram transladados para Portugal, mais
concretamente para a Igreja de um convento carmelita, conhecido
actualmente como Quinta do Carmo (hoje propriedade privada), próximo da
vila
alentejana da
Vidigueira, como
conde da Vidigueira de juro e herdade (ou seja a si e aos seus descendentes) desde
1519.
Aqui estiveram até
1880, data em que ocorreu a trasladação para o
Mosteiro dos Jerónimos,
que foram construídos logo após a sua viagem, com os primeiros lucros
do comércio de especiarias, ficando ao lado do túmulo de
Luís Vaz de Camões.
Há quem defenda, porém, que os ossos de Vasco da Gama ainda se
encontram na vila alentejana. Como testemunho da trasladação das
ossadas, em frente à estátua do navegador na
Vidigueira,
existe a antiga Escola Primária Vasco da Gama (cuja construção serviu
de moeda de troca para obter permissão para efectuar a trasladação à
época), onde se encontra instalado o
Museu Municipal de Vidigueira.