Início de vida
Inácio foi o mais novo de treze irmãos e irmãs. A sua mãe faleceu nos seus primeiros anos de vida e seu pai faleceu quando tinha 16 anos de
idade. Em
1506, tornou-se
pajem de um familiar,
Juan Velázquez de Cuellar, ministro do Tesouro Real (
contador mayor) do reino de
Castela durante o reinado de
Fernando de Aragão. Iñigo viveu em
Arévalo, na casa de seu protetor de 1506 a
1517. Como
cortesão, levou vida leviana.
Com a morte de D. Fernando, Velásquez de Cuellar teve seus bens apropriados pela rainha D.
Germana de Foix. Cuellar faleceu em
1516. Em 1516, Inácio colocou-se a serviço do vice-rei de
Navarra,
António Manrique de Lara, Duque de Nájera. Segundo Villoslada
"Iñigo de Loyola nunca foi capitão, nem soldado, nem oficial do exército. Era familiar do duque e seu gentil-homem". Gravemente ferido na
batalha de Pamplona (
20 de maio de
1521),
passou meses inválido, no castelo de seu pai. Durante o longo período
de recuperação, Inácio procura ler livros para passar o tempo, e começa a
ler a "Vita Christi", de Rodolfo da Saxónia, e a
Legenda Áurea, sobre a vida dos santos, de Jacopo de Varazze,
monge cisterciense que comparava o serviço de Deus com uma ordem cavalheiresca.
Aspiração religiosa
A partir destas leituras, tornou-se empolgado com a ideia de uma vida dedicada a Deus, emulando os feitos heróicos de
Francisco de Assis e outros líderes religiosos. Decidiu devotar a sua vida à conversão dos infiéis na
Terra Santa.
Durante esse período, Inácio desenvolveu os primeiros planos dos «
Exercícios Espirituais» (
Ejercicios espirituales),
que iriam adquirir uma grande influência na mudança dos métodos de
evangelização da Igreja; "o moinho para onde todos os jesuítas são
atirados; eles emergem com caracteres e talentos diversos, mas as marcas
impressas permanecerão indeléveis" (Cretineau-Joly).
Após ter recuperado a saúde, decidiu deixar a casa paterna em segredo e dedicar-se ao serviço da "
Divina Majestade". Dirigiu-se ao
Mosteiro de Montserrat, onde se confessou durante três dias. Em
24 de março de
1522, dependurou o seu equipamento militar perante uma imagem da
Virgem, despiu-se de suas roupas vistosas, doou-as a um mendigo e passou a vestir-se com um tecido de saco. Em breve entrou no
mosteiro de
Manresa (apenas morou num quarto do mosteiro, como hóspede, mas não era monge), na
Catalunha.
Assumiu então um estilo de vida mendicante, impondo-se rigorosas
penitências à imitação dos santos. Vivia de esmolas, privava-se de carne
e vinho, frequentava a
missa diária e rezava a
Liturgia das Horas. Costumava visitar o hospital e levar comida para os doentes.
Em Manresa, teve diversas experiências espirituais e visões e também
passou por diversas provações internas: o desânimo, a aflição e a noite
escura da alma. Passadas estas provações, teve o ânimo renovado diante
de novas experiências espirituais. Conforme narrado em sua
autobiografia: "Estas visões o confirmaram então e lhe deram tanta
segurança sempre da fé, que muitas vezes pensou consigo: se não houvesse
Escritura que nos ensinasse estas verdades de fé, ele se determinaria a
morrer por elas, só pelo que vira".
Também em Manresa, às margens do Rio Cardoner, teve uma experiência
mística, conforme narrou mais tarde ao Padre Luís Gonçalves da Câmara: "Estando
ali assentado, começaram a abrir-se-lhe os olhos do entendimento … Em
todo o decurso de sua vida, até os 62 anos de sua idade, não lhe parece
ter alcançado tanto quanto daquela vez". A Virgem tornou-se objeto duma devoção cavaleiresca. Imagens militares tomaram grande relevo em sua contemplação religiosa.
A vivência interior deste período deu-lhe a matéria para escrever os Exercícios Espirituais.
Fundação da Companhia de Jesus
Em
15 de Agosto de
1534 ele e os outros seis (
Pedro Fabro, o único sacerdote do grupo,
Francisco Xavier, Alfonso Salmeron,
Diego Laynez e Nicolau Bobedilla, espanhóis, e
Simão Rodrigues, português) fundaram a
Companhia de Jesus na capela cripta de Saint-Denis, na Igreja de Santa Maria, em
Montmartre,
"para efetuar trabalho missionário e de apoio hospitalar em Jerusalém, ou para ir aonde o papa quiser, sem questionar". Em
1537 eles viajaram até
Itália para procurar a aprovação papal a sua viagem à Terra Santa. O
papa Paulo III concedeu-lhes a aprovação e permitiu que fossem ordenados padres. Foram ordenados em
Veneza pelo bispo de Arbe (
24 de junho).
Inicialmente, dedicaram-se a pregar e a efetuar obras de caridade na
Itália. A guerra reatada entre o imperador, Veneza, o papa e os
turcos otomanos, tornava qualquer viagem até Jerusalém pouco aconselhável.
Os companheiros decidiram esperar um ano, na esperança de conseguirem
chegar ao destino almejado. Neste período, iam dois a dois pelas terras
venezianas a visitar prisões e hospitais, catequizar crianças e realizar
obras de caridade.
Na companhia de Fabro e Lainez, Inácio viajou até Roma em outubro de
1538, para colocar-se à disposição do papa. No caminho, Inácio detém-se
em oração em uma capela próxima de Roma, La Storta. Neste local, relata
ter feito uma experiência profunda, que marcou decisivamente o futuro do
grupo: viver em Roma.
Os companheiros estabeleceram-se então em Roma, onde pregavam em igrejas
e praças e pediam esmolas nas ruas. Novas suspeitas foram levantadas
sobre o grupo. Acusavam Inácio de fugitivo da inquisição espanhola. O
peregrino dirigiu-se então ao papa, solicitando que se abrisse um novo
processo. Novamente a sua obra foi examinada e nada foi encontrado que o
condenasse.
O
Papa Paulo III, diante de um mundo em expansão, necessitava de missionários para terras longínquas, como as
Américas
e o Oriente. Contava com os jesuítas para esta tarefa. Além disto,
novos companheiros queriam aderir ao grupo. Diante disto, verificou-se a
necessidade de organizar a nova Ordem, por meio de uma regra de vida.
Apresentada ao papa, veio a aprovação verbal em 3 de setembro de 1539. A
congregação de cardinais, deu um parecer positivo à constituição
apresentada, e em 27 de setembro de 1540, o Papa Paulo III confirmou a
ordem através da Bula
Regimini militantis Ecclesiae, que integra a
"Fórmula do Instituto" onde está contida a legislação substancial da
nova Ordem. O número dos seus membros foi no entanto limitado a 60. Esta
limitação foi porém posteriormente abolida pela bula
Injunctum nobis, de
14 de março de 1543.
Superior Geral Jesuíta
Em Roma, o seu apostolado respondia às necessidades que eram impostas
pela realidade vivida. Dedicava-se à catequese de crianças, fundou a
Casa de Santa Marta, para acolher prostitutas e outra instituição para
acolher donzelas pobres, dava assistência aos órfãos e trabalhava para a
conversão dos judeus de Roma.
Em
1551 criou o Colégio Romano, que viria a ser a atual
Pontifícia Universidade Gregoriana, de ensino gratuito, que, adotando o sistema parisiense, renovou o ensino na Itália. Com o advento do
Papa Paulo IV,
desfavorável a Inácio, a obra passou por dificuldades financeiras. Em
prol do sustento do colégio, a própria ordem teve que passar por muitas
privações económicas, até que fosse mantida pelo Papa Gregório XIII, 25
anos após a morte do fundador (daí o nome Universidade Gregoriana).
A Companhia nascente passou por diversas adversidades. Não possuía
nenhuma fonte de renda fixa e era mantida por doações. Além disto, o
novo estilo de vida da ordem despertava suspeitas a ponto de a
Universidade de Paris decretá-la perigosa para a fé. Inácio manteve-se
firme diante de todas estas adversidades e trabalhou intensamente nas
Constituições do grupo.
Inácio escreveu as
Constituições Jesuítas, adotadas em
1554, que criaram uma organização hierarquicamente rígida, enfatizando a absoluta auto-abnegação e a obediência ao
Papa e aos superiores hierárquicos (
perinde ac cadaver, "disciplinado como um cadáver", nas palavras de Inácio). Seu grande princípio tornou-se o lema dos jesuítas:
Ad Majorem Dei Gloriam (pela maior glória de Deus).
Entre 1553 e 1555, Inácio ditou sua experiência espiritual ao Padre.Gonçalves da Câmara, considerada pelo Padre Nadal o seu testamento
espiritual. Este texto originou a chamada
Autobiografia, que, após a morte do peregrino, teve algumas cópias manuscritas e uma tradução para o latim. Entretanto,
Francisco de Borja,
o terceiro provincial jesuíta, encarregou o Padre Ribadeneira de escrever
uma biografia oficial de Inácio e proibiu a leitura e divulgação do
texto autobiográfico, por considerá-lo perigoso. Somente em
1929, este texto foi resgatado e publicado em várias línguas.
Morreu em
Roma, em 31 de julho de 1556. Nesta data, os jesuítas eram aproximadamente
1.000, espalhados em 110 casas e 13 províncias. Tinham 35 colégios em
funcionamento e mais cinco aprovados.
Em 2009, a Companhia de Jesus constituía-se na ordem religiosa masculina
mais numerosa na Igreja Católica, com cerca de 18.500 membros,
distribuídos por 127 países e cerca de 2.900 jesuítas em formação.