Milton já se apresentou na
América do Sul,
América do Norte,
Europa,
Ásia e
África. Também conhecido pela alcunha de
Bituca, nasceu no
Rio de Janeiro, filho de Maria Nascimento, uma empregada doméstica muito humilde, que foi mãe solteira. Tentou criar Milton, o registou e o levou para a casa dos patrões, mas foi demitida e viu que não poderia criá-lo, tamanha a miséria na qual vivia. Sofrendo muito, entregou o filho para um casal rico criar. Milton, então, foi
adotado. A sua mãe adotiva, Líliam Silva Campos, era professora de
música. O pai adotivo, Josino Campos, era dono de uma estação de
rádio. Mudou-se para
Três Pontas, em
Minas Gerais, antes dos dois anos e aos treze anos já cantava em festas e bailes da cidade.
Gravou a primeira canção,
Barulho de trem, em
1962. Em Três Pontas, integrava, ao lado de
Wagner Tiso, o grupo
W's Boys, que tocava em bailes. Mudou-se para
Belo Horizonte para fazer o curso de
Economia, onde, tocando em bares e clubes noturnos, começou a compor com mais frequência; datam dessa época as composições
Novena e
Gira Girou (
1964), ambas com
Márcio Borges.
- Clube da Esquina
Na pensão onde foi morar na capital, no Edifício Levy, Milton conheceu os irmãos Borges, Marilton, Lô e Márcio. Dos encontros na esquina das Ruas Divinópolis com Paraisópolis surgiram os acordes e letras de canções como
Cravo e Canela,
Alunar,
Para Lennon e McCartney,
Trem azul,
Nada será como antes,
Estrelas,
São Vicente e
Cais. Aos meninos fãs do
The Beatles e do
The Platters vieram juntar-se
Tavinho Moura,
Flavio Venturini,
Beto Guedes,
Fernando Brant,
Toninho Horta. Em
1972 a
EMI gravou o primeiro LP,
Clube da esquina, que era duplo e apresentava um grupo de jovens que chamou a atenção pelas composições engajadas, a miscelânea de sons e riqueza poética. O
Clube da esquina escreveu um dos mais importantes capítulos da história da MPB. Chamou a atenção dos músicos brasileiros e estrangeiros, dada a sua ousadia artística e criatividade inovadora.
Quando do lançamento, a crítica especializada não teve a capacidade de entender o que estava acontecendo e fez comentários severos a respeito da obra. Pouco tempo depois o disco teve reconhecimento internacional e ganhou o prestígio merecido aqui no Brasil também. O álbum virou
disco de cabeceira de músicos no mundo inteiro, tornando-se referência estilística e estética da música contemporânea, e levou Milton Nascimento a ser convidado por
Wayne Shorter a gravar um disco com ele, em
1975. O disco chamava-se
Native Dancer e serviu para projetar Milton de uma vez por todas no mercado norte-americano.
Em 1966 Milton escreveu, em parceria com César Roldão Vieira, as músicas para a peça infantil "Viagem ao Faz de Conta" de Walter Quaglia. EM
1967, segundo o trecho da contracapa do disco
Milton e Tamba Trio:
Milton Nascimento entrou no estúdio acompanhado pelo 'Tamba Trio', no Rio de Janeiro, em 1967, para gravar seu primeiro disco. O encontro de 'Milton & Tamba' com os arranjos de Luizinho Eça fazem de 'Travessia' um álbum definitivo e eternamente moderno. No mesmo ano, a composição
Canção do Sal foi gravada por
Elis Regina. A convite do músico
Eumir Deodato, gravou um LP nos
Estados Unidos (
Courage), onde se destacam
Catavento e uma versão de
Travessia chamada
Bridges. Em
1970 realiza temporadas no Rio de Janeiro e em
São Paulo com o conjunto
Som Imaginário, destacando-se desse período
Para Lennon e McCartney (
1970, com
Fernando Brant, Márcio Borges e
Lo Borges) e
Clube da Esquina. No disco
Sentinela (
1980), foi um grande sucesso a
composição Canção da América. No ano seguinte, fez sucesso com a canção
Caçador de Mim (uma composição de Luiz Carlos Sá e Sergio Magrão). Também participou e compôs a
trilha sonora de filmes como
Os Deuses e Os Mortos (
1969, direção de
Ruy Guerra), e
Fitzcarraldo (
1981, direção de
Werner Herzog).
Entre outros sucessos, destacam-se
Maria, Maria (
1978, com Fernando Brant), e a interpretação de
Coração de Estudante (
Wagner Tiso), que se tornou o
hino das
Diretas Já (movimento sócio-político de reivindicação por eleições diretas,
1984) e dos funerais de
Tancredo Neves (
1985). Posteriormente, a
Canção da América, que versa sobre a
Amizade, foi o tema de fundo dos funerais de
Ayrton Senna (
1994).
- O Grande Circo Místico
Originalmente idealizado para a montagem do
ballet teatro do
Balé Teatro Guaíra (
Curitiba,
1982), o espetáculo
O Grande Circo Místico foi lançado em
1983. Milton Nascimento integrou o grupo seleto de intérpretes da MPB que viajaram o país durante dois anos apresentando o projeto, um dos maiores e mais completos espetáculos teatrais já apresentados, para uma plateia de mais de 200 mil pessoas. Milton interpretou a canção
Beatriz, composta pela dupla
Chico Buarque e
Edu Lobo. O espetáculo conta a história de amor entre um
aristocrata e uma
acrobata e a saga da família austríaca proprietária do
Grande Circo Knie, que vagava pelo mundo nas primeiras décadas do século.
- Nordeste já
Valendo-se ainda do filão engajado da pós-ditadura, cantou no coro da versão brasileira de
We are the world, o
hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a
África ou
USA for Africa. O projeto
Nordeste já (
1985) abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num
compacto, de criação coletiva, com as canções
Chega de mágoa e
Seca d'água, elogiado pela competência das interpretações individuais.
- Estilo
O estilo musical de Milton pode ser classificado como
Música Popular Brasileira, surgido de um desdobramento do movimento da
bossa nova, com fortes influências desta, do
jazz, do
jazz-rock e de grandes expoentes do rock, como os
Beatles,
Bob Dylan e com pitadas tanto da música hispano-americana de
Mercedes Sosa,
Violeta Parra e
Victor Jara, quanto dos sons caribenhos de
Pablo Milanes e
Silvio Rodríguez. Ao mesmo tempo, o estilo de Milton Nascimento não deixa de beber nas fontes regionais brasileiras, nos cantos folclóricos de Minas Gerais e de outros estados.
O estilo foi inaugurado com a inesquecível interpretação da canção
Arrastão (
Edu Lobo /
Vinícius de Moraes), pela novata
Elis Regina, na estreia do I
Festival de Música Popular Brasileira. Até agora, Milton Nascimento já gravou trinta e quatro álbuns. Cantou com dúzias de outros artistas, incluindo
Angra,
Maria Bethânia,
Elis Regina,
Gal Costa,
Jorge Ben Jor,
Caetano Veloso,
Simone,
Chico Buarque,
Clementina de Jesus,
Gilberto Gil,
Beto Guedes,
Paul Simon,
Peter Gabriel (com quem co-escreveu a música
Breath after Breath dos
Duran Duran),
Herbie Hancock,
Quincy Jones e
Jon Anderson. Elegeu Elis Regina como
a grande musa inspiradora para quem compôs inúmeras canções. A filha de Elis,
Maria Rita, teve sua carreira catapultada pelo padrinho Milton Nascimento com a participação no álbum
Pietá, cantando as faixas
Voa Bicho,
Vozes do Vento e
Tristesse.
| Sou fascinado pela minha família, acho que eu não poderia ter tido mais amor, educação e liberdade em nenhuma outra família no mundo. Eles moldaram a minha vida. Meu primeiro instrumento foi uma harmónica dada pela minha avó. Ela me deu um acordeão, e foi aí que minha vida musical começou | — Milton Nascimento |
Em 2010 Milton Nascimento foi o homenageado do
Festival Internacional de Corais (FIC) de Belo Horizonte. No encerramento do festival Milton esteve presente e recebeu uma homenagem de mais de mil vozes que cantaram uma composição de Fernando Brant e Leonardo Cunha "A Voz Coral" feita especialmente para o homenageado.
Além disso, neste mesmo ano, o cantor, e padrinho da banda
Roupa Nova, Milton Nascimento foi homenageado pelo sexteto carioca em uma participação especial no CD/DVD ao vivo da banda na faixa "Nos Bailes da Vida", de composição de Milton, como forma de agradecimento pelo que ele fez para o grupo durante os 30 anos de carreira, já que ambos vieram de 'bailes'.