domingo, março 08, 2020

A filósofa e cientista Hipátia foi assassinada há 1605 anos

Hipátia de Alexandria - Gravura de Elbert Hubbard, 1908
   
Hipátia (ou Hipácia; em grego: Υπατία, transl. Ypatía) de Alexandria - circa 350 a 370 – 8 de março de 415) foi uma neoplatonista grega e filósofa do Egito Romano, a primeira mulher documentada como sendo matemática. Como chefe da escola platónica em Alexandria, também lecionou filosofia e astronomia.
Como neoplatonista, pertencia à tradição matemática da Academia de Atenas, representada por Eudoxo de Cnido e era da escola intelectual do pensador Plotino que a incentivou estudar Lógica e Matemática no lugar de investigação empírica e a estudar Direito em vez de ciências da natureza.
De acordo com a única fonte contemporânea, Hipátia foi assassinada por uma multidão de cristãos, depois de ser acusada de exacerbar um conflito entre duas figuras proeminentes na Alexandria: o governador Orestes e o bispo de Alexandria, Cirilo de Alexandria.
Kathleen Wider propõe que o assassinato de Hipátia marcou o fim da Antiguidade Clássica, e Stephen Greenblatt observa que o assassinato "efetivamente marcou a queda da vida intelectual na Alexandria". Por outro lado, Maria Dzielska e Christian Wildberg notam que a filosofia helenística continuou a florescer nos séculos V e VI, e, talvez, até a era de Justiniano.
  

Berlioz morreu há 151 anos

   
Hector Berlioz (La Côte-Saint-André, 11 de dezembro de 1803 - Paris, 8 de março de 1869), músico romântico, autor da Sinfonia Fantástica e Grande Messe des morts, teve contribuições significativas para a orquestra moderna, com o seu Grand traité d'instrumentation et d'orchestration modernes. Ele criou música para enormes grupos orquestrais, para alguns dos seus trabalhos, e realizou vários concertos com mais de 1.000 músicos. Ele também compôs cerca de 50 canções. A sua influência foi fundamental para o desenvolvimento do romantismo, especialmente em compositores como Richard Wagner, Nikolai Rimsky-Korsakov, Franz Liszt, Richard Strauss, Gustav Mahler e muitos outros.

 

Àcerca do sismo de ontem na Madeira - II

Sismo de magnitude 5,3 abala a Madeira. Registada réplica menos de 30 minutos depois


Sismo de magnitude 5,3 abalou este sábado o Funchal. Houve uma réplica meia hora depois. Presidente da Câmara confirma não haver feridos nem danos materiais.

Um sismo de magnitude 5,3 na escala de Richter abalou este sábado à noite o arquipélago da Madeira, confirmam os dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). O terramoto foi registado às 20h58 a 40 quilómetros a sudoeste da Deserta Grande (a maior do sub-arquipélago das Ilhas Desertas) e teve origem a 4,7 quilómetros de profundidade.
Meia hora depois do primeiro abalo, às 21h22, foi registada uma réplica de magnitude 2,4 na escala de Richter. O epicentro do segundo sismo está a cerca de 35 quilómetros a sul de Câmara de Lobos, numa região próxima à origem do primeiro terramoto. De acordo com o IPMA, o sismo ocorreu a uma profundidade de 24 quilómetros.
Em entrevista telefónica ao Observador, Miguel Gouveia, presidente da Câmara Municipal do Funchal, confirmou que “não há registo de quaisquer danos materiais, nem tampouco qualquer informação de pessoas feridas” pelo terramoto.
O autarca, que está neste momento nos Bombeiros Sapadores do Funchal, onde funciona a Proteção Civil madeirense, indicou, no entanto, que as autoridades receberam algumas chamadas de pessoas em pânico, embora não estivessem em perigo: “Tivemos de as tranquilizar”, explicou.
Não há, para já, indicação do perigo de derrocadas ou deslizamento de terras na ilha — embora a autarquia coloque a hipótese de fazer avaliações para confirmar a estabilidade do terreno, afirma o autarca. Um comunicado do IPMA indica que os especialistas determinaram que este abalo teve intensidade máxima IV a V na escala de Mercalli.
Esta escala avalia os danos provocados por um sismo. Um sismo de intensidade IV a V é considerado “moderado a forte”: “Os objetos suspensos baloiçam. A vibração é semelhante à provocada pela passagem de veículos pesados ou à sensação de pancada duma bola pesada nas paredes. Os carros estacionados balançam. As janelas, portas e loiças tremem. Os vidros e loiças chocam ou tilintam. E as paredes e as estruturas de madeira rangem”.
Esta descrição coincide com o relato feito ao Observador por Miguel Gouveia. O autarca contou ao Observador que estava no edifício da Câmara Municipal do Funchal quando sentiu o abalo: “A Câmara é num palácio antigo e começou tudo a tremer, as janelas também”. Foi “um pouco desconcertante”, adjetivou Miguel Gouveia: “Nem me apercebi que pudesse ser um sismo. Não estamos muito habituados a estes fenómenos”.
Quando o sismo começou, Miguel Gouveia e o segurança do edifício foram para a rua: “Os carros pararam e as pessoas saíram dos edifícios para a rua. Toda a gente seguiu os procedimentos que se aconselham em situações como esta”, garantiu. Tinham passado “seis ou sete segundos”, recordou o autarca madeirense.
Este é o sismo mais forte registado no arquipélago da Madeira desde 1975, quando foi sentido o terramoto com maior magnitude de que havia memória. Nesse ano, um abalo de 7,9 na escala de Richter eclodiu na Madeira, mas foi sentido em todo o país, mas provocou apenas danos materiais ligeiros.
Os sismos ocorrem normalmente quando os materiais que compõem a litosfera - a camada mais superficial da Terra - libertam a energia que têm acumulado ao longo do tempo por causa dos movimentos tectónicos, isto é, das placas em que se divide a superfície terrestre.
Ao contrário do que acontece no arquipélago dos Açores, a Madeira não está numa região de encontro entre placas tectónicas, uma região de elevada sismicidade. Ainda assim, a ilha da Madeira assenta em algumas falhas, ou seja, rasgões dentro das placas tectónicas que aparecem quando quando as rochas cedem à pressão que os movimentos tectónicos provocam.

Àcerca do sismo de ontem na Madeira

Aviso de Sismo Sentido no Arquipélago da Madeira 07-03-2020

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera informa que no dia 07-03-2020 pelas 20:58 (hora local) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Continente, um sismo de magnitude 5.1 (Richter) e cujo epicentro se localizou a cerca de 40 km a Sul do Funchal.

Este sismo, de acordo com a informação disponível até ao momento, não causou danos pessoais ou materiais e foi sentido com intensidade máxima V (escala de Mercalli modificada) nos concelhos de Funchal e Santa Cruz (ilha da Madeira) e com intensidade menor em diversos outros concelhos na ilha da Madeira. Foi ainda sentido em Porto Santo com intensidade de III/IV. Até ao momento foram recebidos mais de 200 testemunhos do sismo ter sido sentido.

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados.

A localização do epicentro de um sismo é um processo físico e matemático complexo que depende do conjunto de dados, dos algoritmos e dos modelos de propagação das ondas sísmicas. Agências diferentes podem produzir resultados ligeiramente diferentes. Do mesmo modo, as determinações preliminares são habitualmente corrigidas posteriormente, pela integração de mais informação. Em todos os casos acompanhe sempre as indicações dos serviços de proteção civil. Toda e qualquer utilização do conteúdo deste comunicado deverá sempre fazer referência à fonte.


Hoje é dia de recordar Ruy Cinatti...


Ruy Cinatti nasceu em Londres, a 8 de março de 1915, estudou em Lisboa, doutorou-se em Oxford e veio a falecer, em 12 de outubro de 1986, na capital portuguesa. Era um apaixonado por Timor onde viveu alguns anos e que lhe mereceu três livros publicados. Sobre S. Tomé e Príncipe editou também: "Lembranças para S. Tomé e Príncipe". No posfácio ao seu livro de poemas "Sete Septetos" (1967) escreveu: "...Por agora, firmo-me no que está acontecendo. O mistério envolve-me. A poesia é a autobiografia do poeta ou do nómada em escala de partida: o seu cântico. O homem, porém, não pode convencer-se da sua invulnerabilidade, para que, sobretudo, o poeta não se tome demasiado a sério e cristalize... E Deus lhe valha...". Do seu livro "Nós não somos deste mundo", de 1941, são os versos:

Gritam todos: venham!
E os outros: tenham!
Aqueles que estão comigo
Sonham. Não querem, nem partem,
Encantados...

in Arpose
  
Linha de Rumo
  
 
Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Encontro-me parado...
Olho em meu redor e vejo inacabado
O meu mundo melhor.
 
Tanto tempo perdido...
Com que saudade o lembro e o bendigo:
Campo de flores
E silvas...
 
Fonte da vida fui. Medito. Ordeno.
Penso o futuro a haver.
E sigo deslumbrado o pensamento
Que se descobre.
  
Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Desterrado,
Desterrado prossigo.
E sonho-me sem Pátria e sem Amigos,
Adrede.
   
  
Ruy Cinatti

Ferdinand von Zeppelin morreu há 103 anos

 
   
Ferdinand Adolf Heinrich August Graf von Zeppelin (Constança, 8 de julho de 1838 - Berlim, 8 de março de 1917) foi um nobre e militar, general alemão, fundador da companhia dirigível Zeppelin.
O nome da banda de rock britânica Led Zeppelin remete para os balões de Ferdinand. A Kriegsmarine desenvolveu um porta-aviões batizado Graf Zeppelin em homenagem ao conde.
 
Zeppelin sobrevoando a Baía de Guanabara, em 25 de maio de 1930
  

Micky Dolenz, vocalista dos The Monkees, faz hoje 75 anos!

   
George Michael Dolenz (Los Angeles, Califórnia, 8 de março de 1945) mais conhecido como Micky Dolenz é um músico e ator dos Estados Unidos, mais conhecido por ter sido o baterista e vocalista do grupo musical The Monkees.
   
Biografia
É filho do ator George Dolenz, que fez a série O Conde de Monte Cristo. Toda a família Dolenz era de artistas e o próprio Micky fazia gigs com a irmã Coco Dolenz. Aos 9, ele fez a série O Menino do Circo (The Circus Boy), sob o pseudónimo de Micky Braddock (para não se aproveitar da fama do pai) e pintou os cabelos de loiro.
Com o fim da série, Micky dedicou-se aos estudos, formando em 1963 a banda Missing Links, sob o pseudónimo Mike Swain. A banda chegou a lançar um single, Don't Do It, que ficou em 40º lugar nos tops americanas. Foi aí que Dolenz fez o famoso teste para a série The Monkees e ficou com uma das vagas. Após o fim da banda, Micky passou a trabalhar de ator dobrador e diretor em séries e desenhos. Trabalhou também como DJ na Rádio CBS de New York. Micky é pai da atriz Amy Dolenz.
   
  

O avião da Malaysia Airlines MH370 desapareceu misteriosamente há seis anos

O avião 9M-MRO, envolvido no incidente, descolando no Aeroporto Internacional de Los Angeles, em outubro de 2013
   
Malaysia Airlines MH370 foi a identificação da rota aérea de passageiros regular e internacional entre Kuala Lumpur, na Malásia, e Pequim, na China. A rota é operada pela companhia aérea Malaysia Airlines que, a partir de 14 de março de 2014, substituiu sua identificação para Malaysia Airlines MH318. Na madrugada de 8 de março de 2014, no horário local (tarde de 7 de março, horário UTC), a aeronave que realizava esta rota levando 227 passageiros e 12 tripulantes, desapareceu dos radares após aproximadamente uma hora de voo enquanto sobrevoava o Golfo da Tailândia, no Mar da China.
Até o instante do desaparecimento dos monitores de radar, a tripulação não havia relatado nenhuma anomalia com o voo. O sistema ACARS do avião também não enviou mensagens por satélite, o que deveria ocorrer automaticamente no caso de alguma falha.
Em 24 de março de 2014, o governo malaio comunicou oficialmente que o voo caiu no mar no Oceano Índico sem deixar sobreviventes. Segundo registos feitos por satélites, o avião voou por várias horas após desaparecer dos radares, até esgotar o combustível, com todos os seus sistemas de comunicação desativados. Mesmo após três anos de extensas buscas, comandadas pelos governos da Austrália, da Malásia e da China no período de 2014 a 2017, os destroços da aeronave nunca foram localizados, tornando o caso um dos maiores mistérios da aviação civil contemporânea.
 
(...)
 
No final de julho de 2015, foi encontrada uma parte da asa da aeronave no litoral da ilha de Reunião, próximo de Madagascar. A peça, encontrada por moradores durante uma limpeza da praia, foi submetida a uma perícia por especialistas e identificada como sendo do MH370. Além desta peça, foram encontradas almofadas de poltronas e janelas de avião, que as autoridades acreditam ser também da mesma aeronave.
Dois destroços, encontrados a 27 de dezembro de 2015 e a 27 de fevereiro de 2016 em dois locais separados por 220 quilómetros, perto de Moçambique pertencem "quase com toda a certeza" ao voo MH370. As duas peças faziam parte da fuselagem do Boeing 777.
   

São João de Deus nasceu há 525 e morreu há 470 anos

Retrato de São João de Deus, da autoria de Murillo
  
São João de Deus, de seu nome João Cidade (Montemor-o-Novo, 8 de março de 1495Granada, 8 de março de 1550) é um santo da Igreja Católica Romana que se distinguiu na assistência aos pobres e aos doentes, através de um hospital por si fundado, em Granada, em 1539.
Criou a Ordem dos Irmãos Hospitaleiros para o ajudarem nessa missão e noutras extensões que viriam depois a surgir.


Biografia
João Cidade, filho de André Cidade e de sua mulher, Teresa Duarte, deixou Montemor-o-Novo aos oito anos de idade e dirigiu-se a Oropesa onde foi pastor de ovelhas. Alistou-se no exército e tomou parte na conquista de Fuenterabia, então ocupada pela França. Ao abandonar a vida militar, voltou ao ofício de pastor em Oropesa, Sevilha, Ceuta e Granada.
Depois de várias vicissitudes volta para casa, mas, encontrando os seus pais mortos, decide voltar a partir.
Há quem diga que terá feito a peregrinação à catedral de Santiago de Compostela e que, nessa altura, terá ficado tão impressionado e exaltando o seu espírito religioso.
Mais ainda, em Granada, quando ouviu os sermões do padre São João de Ávila e aí confessou publicamente todos os erros da sua vida passada e para mais clara demonstração do seu arrependimento, andou percorrendo a cidade ferindo o peito com pedras, e manchando o rosto com lama. Devido ao seu estado lastimoso foi dado como louco e internado num hospício, onde permaneceu muitos anos.
Com um espírito mais sereno, para o qual contribuiu o referido padre, João Cidade saiu do hospício e foi visitar o Mosteiro de Guadalupe. Voltando de seguida para Granada onde fundou em 1539 um hospital para doenças contagiosas e incuráveis. Daí em diante dedicou-se ao serviço deste hospital. Fundou assim a ordem dos Irmãos Hospitaleiros, a qual foi confirmada, debaixo da regra de Santo Agostinho, pelo Papa Pio V em 1 de janeiro de 1571.
João Cidade foi beatificado pelo Papa Urbano VIII em 28 de outubro de 1630 e canonizado em 16 de outubro de 1690, pelo Papa Alexandre VIII, sendo no entanto a sua bula expedida após a sua morte, pelo seu sucessor, o Papa Inocêncio XII
São João de Deus é o padroeiro dos hospitais, dos doentes e dos enfermeiros. A sua memória litúrgica é celebrada a 8 de março.
  
San Juan de Dios salvando a los enfermos de incendio del Hospital Real, Manuel Gómez-Moreno González (1880) - Museo de Bellas Artes de Granada
   

Tom Chaplin, o vocalista dos Keane, faz hoje 41 anos

  
Thomas Oliver Chaplin (Hastings, East Sussex, 8 de março de 1979), conhecido pelo nome "Tom Chaplin", é o vocalista - e também o mais novo - da banda britânica Keane. Ele também toca guitarra, viola e piano e já compôs algumas letras para a banda, mas o letrista oficial do ex-trio, agora quarteto (Tom Chaplin, Tim Rice-Oxley, Richard Hughes e Jesse Quin) é Tim Rice-Oxley.
Dono de uma potência vocal incrível, que contrasta com o timbre doce com o qual ele entoa o hit-hino da banda 'Somewhere Only We Know' do álbum Hopes and Fears, de 2004. No entanto, a musica «Somewhere Only We Know» não é a única que é alvo de sucesso. Músicas como This is The Last Time, It Is Any Wonder, Everybodys Changing e Silenced By The Night são igualmente músicas famosas.
Tom Chaplin, revelou no site oficial da banda no fim de 2007 que sente-se ainda o mesmo menino dos tempos iniciais da banda. "Sempre serei o mais novo, e por mais que fiquemos velhos, sempre sentirei que precisarei dos conselhos do Tim e do Richard", diz Chaplin. Também revelou que em 2008 estava muito animado com as gravações do terceiro CD, e que já têm uma canção favorita, Perfect Symmetry. "Foi a melhor música que Tim já compôs", disse Tom com exclusividade ao site oficial da banda.
Em julho de 1997, Chaplin foi para a África do Sul, para um ano sabático, durante o qual o resto dos membros da banda estavam se preparando para um show. Quando Hughes foi buscar Chaplin, um ano depois, em 3 de julho de 1998, as suas primeiras palavras foram: "Nós temos um show em 10 dias." Chaplin então começou a estudar para uma licenciatura em história da arte na Universidade de Edimburgo, antes de sair para prosseguir a sua carreira musical em Londres.
  
 

Ruy Cinatti nasceu há 105 anos

(imagem daqui)
   
Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes (Londres, 8 de março de 1915 - Lisboa, 12 de outubro de 1986) foi um poeta, antropólogo e agrónomo português.
  
Ruy Cinatti escreveu sobre São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Foi co-fundador de Os Cadernos de Poesia (1940).
A 10 de junho de 1992 foi agraciado, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
   
 
Quando o amor morrer dentro de ti
  
 
Quando o amor morrer dentro de ti,
Caminha para o alto onde haja espaço,
E com o silêncio outrora pressentido
Molda em duas colunas os teus braços.
Relembra a confusão dos pensamentos,
E neles ateia o fogo adormecido
Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido
Espalhou generoso aos quatro ventos.
Aos que passarem dá-lhes o abrigo
E o nocturno calor que se debruça
Sobre as faces brilhantes de soluços.
E se ninguém vier, ergue o sudário
Que mil saudosas lágrimas velaram;
Desfralda na tua alma o inventário
Do templo onde a vida ora de bruços
A Deus e aos sonhos que gelaram.
  
 
in Obra Poética - Ruy Cinatti

Porque hoje é dia de recordar João de Deus e a sua obra...



João de Deus nasceu há 190 anos

  
João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de Messines, 8 de março de 1830 - Lisboa, 11 de janeiro de 1896), mais conhecido por João de Deus, foi um eminente poeta lírico e pedagogo, considerado à época o primeiro do seu tempo, e o proponente de um método de ensino da leitura, assente numa Cartilha Maternal por ele escrita, que teve grande aceitação popular, sendo ainda utilizado. Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto, sendo ainda em vida objecto das mais variadas homenagens. Foi considerado o poeta do amor e encontra-se sepultado no Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa.
  
Biografia
João de Deus nasceu em São Bartolomeu de Messines em 8 de março de 1830, filho de Isabel Gertrudes Martins e de Pedro José dos Ramos, modestos proprietários dali naturais e residentes. O pai, também comerciante, era conhecido entre os seus patrícios por Pedro Malgovernado, não que merecesse o cognome pelo mau governo da sua casa, mas pela facilidade em satisfazer as vontades dos filhos, com os quais gastava mais do que podia.
 
O seminário e os anos de Coimbra
João de Deus, o quarto de catorze irmãos, não lhe permitindo a situação sócio-económica da família aspirar a uma carreira universitária, estudou latim na sua terra natal e ingressou no Seminário de Coimbra, então o único caminho para prosseguir estudos aberto aos menos abonados. Em 1850, aos dezanove anos, não tendo vocação para a vida eclesiástica, ingressou na Universidade de Coimbra como estudante de Direito.
Preferindo as belas artes à ciência do direito, envolvido na vida boémia coimbrã, teve na universidade um percurso académico conturbado, com diversas interrupções e reprovações por faltas. Apenas se formou dez anos depois de ter ingressado, em 13 de julho de 1859, e mesmo assim por instâncias e ameaças dos seus condiscípulos, entre os quais se incluía a melhor intelectualidade da época.
Logo no ano de ingresso na universidade revelou o seus dotes líricos, escrevendo versos que circularam manuscritos no meio académico e com os quais obtinha modestos rendimentos que ajudavam na sua parca subsistência. De 1851 conhece-se o poema Pomba e a elegia Oração, a qual foi a sua primeira obra publicada, tendo saído a público na Revista Académica em 1855, tendo merecido imediata aclamação pública.
Nos anos seguintes, os fracos recursos familiares, a melancolia e passividade do seu carácter e o insucesso académico levaram a que João de Deus vivesse em Coimbra numa quase indigência. Como forma de ajuda, os amigos e condiscípulos coligiram as suas poesias, as quais foram aparecendo na imprensa coimbrã da época. São desta fase os poemas publicados na Estreia Literária, na Ateneu e no Instituto de Coimbra.
Com aquelas publicações a sua reputação de poeta lírico foi crescendo, com a sua obra a merecer, já em 1858, uma crítica fortemente elogiosa no artigo A propósito de um Poeta, publicado no Instituto de Coimbra por Antero de Quental.
Em 1859, terminado o curso, opta por permanecer em Coimbra, praticando pouca advocacia e continuando a escrever, agora produzindo poesia de carácter satírico, entre as quais ressalta A lata (publicada em 1860 e a sua primeira obra em separata) e A Marmelada.
 
Beja, Messines e Lisboa
Não tendo interesse pela advocacia, em 1862 aceita o convite para ir para Beja como redactor do periódico O Bejense, então o jornal de maior expansão no Alentejo. Neste período colaborou em diversos periódicos da imprensa regional do sul de Portugal. Permaneceu em Beja até 1864, regressando nesse ano à sua terra natal.
Mantendo colaboração com a imprensa regional alentejana e algarvia e redigindo a Folha do Sul, em São Bartolomeu de Messines e em Silves tentou sem sucesso a advocacia, tendo em 1868 optado por partir para Lisboa, cidade onde passou a residir.
Em Lisboa levou uma vida de grandes privações. Passava o tempo nos cafés, em particular no Martinho da Arcada, em constantes tertúlias, sem nunca procurar encontrar uma forma estável de ganhar a vida. Para sobreviver recorria à realização de traduções, à escrita de sermões e hinos para cerimónias religiosas e a colaborações literárias várias. Neste período diz-se que, entre outras actividades, costurou roupas de senhora.
    
A passagem pelas Cortes
Numa dessas tertúlias surgiu a ideia, talvez no contexto do tradicional bota abaixo dos políticos (o poema Eleições de João de Deus indicia isso mesmo), de tentar a eleição de João de Deus como deputado às Cortes e por esta via obter uma subvenção que lhe permitisse viver.
A ideia foi levada avante, e João de Deus apresentou-se às eleições gerais de 22 de março de 1868 (para a 16:ª legislatura da monarquia constitucional) como candidato independente pelo Círculo de Silves.
Apesar da sua candidatura ser apoiada por José António Garcia Blanco e Domingos Vieira, a eleição não foi fácil, tendo havido lugar a uma votação de desempate no dia 5 de abril imediato. Saindo vitorioso, presta juramento nas Cortes a 18 de maio de 1868, iniciando relutantemente a sua actividade parlamentar.
Sobre o Parlamento, em declarações que foram publicadas pelo Correio da Noite em 1869, terá dito: Que diacho querem vocês que eu faça no Parlamento? Cantar? Recitar versos? Deve ser (…) gaiola que talvez sirva para dormir lá dentro a ouvir a música dos outros pássaros. Dormirei com certeza!. Essas palavras retratam a sua atitude perante a actividade parlamentar: em 1868 ainda participou, embora sem intervir, na maioria das sessões, mas no ano seguinte, faltou a 10 das 13 sessões que se realizaram.
 
O casamento e a mudança de vida
Em 1868, pouco depois da sua eleição parlamentar, casa com Guilhermina das Mercês Battaglia, uma senhora de boas famílias, ganhando estabilidade na sua vida pessoal.
Deste casamento nasceram Maria Isabel Battaglia Ramos, José do Espírito Santo Battaglia Ramos, que vira a ser visconde de São Bartolomeu de Messines, João de Deus Ramos, que continuaria a obra pedagógica de seu pai, e Clotilde Battaglia Ramos.
Com o casamento e a passagem pelas Cortes, reflectindo uma maior disponibilidade, inicia a publicação sistemática da sua obra poética e dramática. Logo nesse ano publica a colectânea Flores do campo, a que se segue uma pequena recolha de 14 poemas intitulada Ramo de flores (1869), considerada a sua melhor obra poética.
Ambas recolhas resultaram da selecção feita por José António Garcia Blanco entre os poemas publicados na imprensa periódica. São obras com laivos de ultra-romantismo, representativas da sua primeira fase de produção poética de João de Deus.
Estes textos seriam depois reunidos e organizados por Teófilo Braga. A compilação dos seus textos líricos, satíricos e epigramáticos foi editada com o título de Campo de Flores (1893), e os textos de prosa com o título de Prosas (1898). Na colectânea Campo de Flores foi incluído o poema algo lascivo Cryptinas, o que na altura foi motivo de algum escândalo.
Ao longo dos anos seguintes manterá colaboração com a imprensa periódica e continuará a produzir traduções e adaptações de obras de diversos autores, com destaque para as comédias Amemos o nosso próximo, Ser apresentado, Ensaio de Casamento e A viúva inconsolável
O poema Horácio e Lydia (1872), uma tradução da obra homónima de Pierre de Ronsard, demonstra a perícia de João de Deus na versificação e na manutenção do ritmo discursivo.
Demonstrando a mutação espiritual entretanto ocorrida, publica em 1873 os textos em prosa Ana, Mãe de Maria, A Virgem Maria e A Mulher do Levita de Ephraim, traduções livres da obra Femmes de la Bible do arcebispo francês Georges Darboy. Na mesma linha vão as obras Grinalda de Maria (1877), Loas da Virgem (1878) e Provérbios de Salomão.
Também por esta altura, talvez por influência do seu amigo Antero de Quental, adere ao ideário socialista, vindo e publicar na edição de 29 de agosto de 1880 do jornal católico Cruz do Operário uma carta onde se afirma socialista dizendo que (…) é socialista porque é cristão, é socialista porque ama os seus semelhantes (…).
 
A Cartilha Maternal e o método de ensinar a leitura às crianças
Entretanto, em 1876, menos de um ano depois da morte de António Feliciano de Castilho e perante a descrença em que caíra o Método Português de Castilho, João de Deus envolveu-se nas campanhas de alfabetização, escrevendo a Cartilha Maternal, um novo método de ensino da leitura, que o haveria de distinguir como pedagogo.
A Cartilha, num processo muito semelhante aos esforços que 25 anos antes António Feliciano de Castilho empreendera com o seu método, incorpora, para além daquela experiência, os trabalhos de Johann Heinrich Pestalozzi e Friedrich Wilhelm August Fröbel, dando-lhe um carácter menos infantilizante.
A obra foi recebida de forma encomiástica, sendo saudada como utilíssima e genial pelos principais intelectuais da época, entre os quais Alexandre Herculano e Adolfo Coelho.
Este método, relativamente inovador na época, foi dois anos depois, e por proposta do deputado Augusto de Lemos Álvares Portugal Ribeiro, aprovado como o método nacional de aprendizagem da escrita da língua portuguesa. Graças a esta decisão, João de Deus teria a nomeação vitalícia de "Comissário Geral da Leitura" para essa forma de ensinar, com uma pensão anual de 900$000 réis.
Para complementar o seu método, João de Deus publicou uma tradução adaptada da obra Des devoirs des enfants envers leurs parents, de Theodore-Henri Barraus, a que se seguiram múltiplos artigos de natureza pedagógica contento exortações e instruções dirigidas aos mestres que deveriam aplicar o método.
 
Os anos finais
A expansão do método da Cartilha Maternal foi seguida de um autêntico fenómeno de culto pela figura do poeta, tornando-o numa das figuras mais populares do último quartel do século XIX português. Nesse contexto foi organizada em 1895 uma grande homenagem nacional ao poeta, alegadamente iniciativa dos estudantes de Coimbra. Durante a homenagem o rei D. Carlos impôs-lhe a grã-cruz da Ordem de Santiago da Espada e por todo o país foram realizadas iniciativas comemorativas.
Na sequência da homenagem nacional, o Diário de Notícias, de 8 de março de 1895, publicou o seguinte texto laudatório: João de Deus é uma das personificações mais belas do nosso carácter peninsular; vivo e indolente, devaneador e apaixonado, crente e sentimental. É uma flor do meio-dia, cheia de seiva e colorido, dos poetas e nunca ninguém sentiu entre nós mais ardente a sua imortalidade do que Bocage. Com que entusiasmo ele exclamava ao ver os seus versos elogiados na boca de Filinto: - Zoilos tremei; posteridade, és minha! Sob este ponto de vista, João de Deus é a antítese completa de Bocage. Este tinha a inspiração orgulhosa, cheia de fogo, rebentando quase num caudal de ironia e de sarcasmo. João de Deus tem a inspiração serena, espontânea, quase inconsciente. João de Deus é como a flor do campo, que rebenta formosa sem cultivo, velada apenas pela graça de Deus, o jardineiro supremo. As suas poesias são verdadeiras flores do campo, mas das mimosas, das encantadoras na sua singeleza, das que, guardadas num álbum, conservam perfeitamente a delicadeza da forma, o colorido transparente da corola, o aveludado do cálice, a disposição encantadora das pétalas.
Apesar da fama, o método da Cartilha Maternal tinha adversários e pouco depois da homenagem nacional, por iniciativa de Joaquim Pedro de Oliveira Martins, o Ministério do Reino decidiu mandar retirar das salas de aula os quadros da Cartilha. Pouco depois desta polémica decisão, João de Deus caiu doente com uma enfermidade cardíaca.
João de Deus viria a falecer, aos 65 anos, no dia 11 de Janeiro de 1896.
Por decreto de Governo presidido por Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro, datado de 13 de janeiro de 1896, foi concedida à viúva e filhos do poeta uma pensão vitalícia, isenta de impostos, de 1000$000 réis anuais.
João de Deus é recordado em Lisboa pelo Museu João de Deus e em São Bartolomeu de Messines por uma casa-museu e por um grupo escultórico. A modestíssima casa onde nasceu ostenta na sua fachada uma lápide alusiva.
Em 1930, aquando da comemoração do centenário do seu nascimento, foi-lhe erigida um estátua no Jardim da Estrela, em Lisboa.
Em 1966, o seu corpo fora solenemente trasladado do Mosteiro dos Jerónimos para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, após o término da sua edificação. A cerimónia decorreu entre os dias 1 e 5 de dezembro, em conjunto com as de outras ilustres figuras portuguesas.
 
Obra
Na literatura da sua época, João de Deus ocupou uma posição singular e destacada. Surgido nos finais do ultra-romantismo, aproximou-se da tradição folclórica de forma mais conseguida que qualquer outro escritor romântico português. A sua poesia distinguiu-se, sobretudo, pela grande riqueza musical e rítmica.
Grande parte da sua obra poética está presente em Flores do Campo (publicada em 1868), Folhas Soltas (1876) e Campos de Flores. Esta última obra, publicada em 1893, além de conter outros poemas, engloba também o conteúdo de Flores do Campo e Folhas Soltas, pelo que funciona como uma colectânea da sua obra poética.
Foi, ainda, autor de fábulas e de obras destinadas ao teatro, estas na maior parte dos casos traduções e adaptações de autores estrangeiros. Grande parte da sua produção em prosa foi reunida na colectânea Prosas.
Mas a sua obra mais importante viria a ser a Cartilha Maternal, um método destinado a ajudar a aprendizagem da leitura a criança, que ainda hoje mantém seguidores.
Para além das obras mencionadas, deixou um Dicionário Prosódico de Portugal e Brasil (1870), e as obras poéticas Ramo de Flores (1869) e Despedidas de Verão (1880).
Algumas composições em prosa que se encontravam dispersas e parte importante da sua correspondência foram editadas postumamente por Teófilo Braga (Lisboa, 1898).
João de Deus colaborou também em algumas publicações periódicas, de que são exemplo O Panorama (1837-1868), A Mulher (1879), Ribaltas e gambiarras (1881), A imprensa (1885-1891), A comedia portugueza (1888-1902) e A semana de Lisboa (1893-1895).
O folheto avulso Cryptinas, normalmente atribuído a João de Deus, foi publicado em fac-símile pelas Edições Ecopy em 2008.
 
A Associação de Escolas Móveis e Jardins Escolas João de Deus
Em maio de 1882, por iniciativa de Casimiro Freire, (…) reuniram-se algumas dezenas de cidadãos e fundaram a Associação de Escolas Móveis, com o fim de ensinar a ler, escrever e contar pelo método de admirável rapidez, do Senhor Dr. João de Deus, os indivíduos que o solicitarem, até onde permitam os seus meios económicos, enviando nesse intuito às diversas povoações da nação portuguesa professores devidamente habilitados – não se envolvendo em assuntos políticos, nem quaisquer outros alheios ao seu fim.
A Associação é hoje a Associação de Jardins-Escolas João de Deus, uma Instituição Particular de Solidariedade Social dedicada à educação e à cultura. No seu âmbito funciona o Museu João de Deus e a Escola Superior de Educação João de Deus e múltiplos jardins-escolas.
Em 2002 a Associação tinha ao seu serviço quase 1000 pessoas, entre educadores, professores, auxiliares de educação e outros colaboradores, cuja actividade se repartia pela Escola Superior de Educação João de Deus e por 34 jardins-escolas distribuídos por todo o país.
Desde a sua fundação até 2003 passaram pelas Escolas da Associação aproximadamente 164 mil crianças.



LÁGRIMA CELESTE
 
 
Lágrima celeste,
pérola do mar,
tu que me fizeste
para me encantar!
 
Ah! se tu não fosses
lágrima do céu,
lágrimas tão doces
não chorava eu.
 
Se eu nunca te visse,
bonina do vale,
talvez não sentisse
nunca amor igual.
 
Pomba debandada,
que é dos filhos teus?
Luz da madrugada,
luz dos olhos meus!
 
Meu suspiro eterno,
meu eterno amor,
de um olhar mais terno
que o abrir da flor.

Quando o néctar chora
que se lhe introduz
ao romper da aurora
e ao raiar da luz!
 
Esta voz te enleve,
este adeus lá soe,
o Senhor to leve
e Deus te abençoe.
 
O Senhor te diga
se te adoro ou não,
minha doce amiga
do meu coração!
 
Se de ti me esqueço
ou já me esqueci,
ou se mais lhe peço
do que ver-te a ti!
 
A ti, que amo tanto
como a flor a luz,
como a ave o canto,
e o Cordeiro a Cruz;
 
A campa o cipreste,
a rola o seu par,
lágrima celeste,
pérola do mar.
 
Lágrima celeste,
pérola do mar,
tu que me fizeste
para me encantar?
 
 
in
Campo de Flores (1893) - João de Deus

Hoje é o Dia Internacional da Mulher!

Poster alemão de 1914, de comemoração do Dia Internacional da Mulher, que reclama o direito ao voto feminino
   
O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, tem como origem as manifestações das mulheres russas por melhores condições de vida e trabalho e contra a entrada da Rússia czarista na Primeira Guerra Mundial. Essas manifestações marcaram o início da Revolução de 1917. Entretanto a ideia de celebrar um dia da mulher já havia surgido desde os primeiros anos do século XX, nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas de mulheres por melhores condições de vida e trabalho, bem como pelo direito de voto. O Dia Internacional das Mulheres e a data de 8 de março são comumente associados a dois factos históricos que teriam dado origem à comemoração. O primeiro deles seria uma manifestação das operárias do setor têxtil novaiorquino ocorrida em 8 de março de 1857 (segundo outras versões em 1908). O outro acontecimento é o incêndio de uma fábrica têxtil ocorrido na mesma data e na mesma cidade. Não existe consenso entre a historiografia para esses dois factos, nem sequer sobre as datas, o que gerou mitos sobre esses acontecimentos.
No Ocidente, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado no início do século XX, até à década de 20.
Na antiga União Soviética, durante o estalinismo, o Dia Internacional da Mulher tornou-se elemento de propaganda partidária.
Nos países ocidentais, a data foi esquecida por longo tempo e somente recuperada pelo movimento feminista, já na década de 60. Na atualidade, a celebração do Dia Internacional da Mulher perdeu parcialmente o seu sentido original, adquirindo um caráter festivo e comercial. Nessa data, os empregadores, sem certamente pretender envocar o espírito das operárias grevistas do 8 de março de 1917, costumam distribuir rosas vermelhas ou pequenos mimos entre suas empregadas.
Em 1975, foi designado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher e, em dezembro de 1977, o Dia Internacional da Mulher foi adotado pelas Nações Unidas, para lembrar as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres.
   

sábado, março 07, 2020

Stanley Kubrick morreu há 21 anos

  
Stanley Kubrick (Nova Iorque, 26 de julho de 1928 - St Albans, 7 de março de 1999) foi um cineasta, roteirista, produtor de cinema e fotógrafo americano. Considerado um dos mais importantes cineastas de todos os tempos, foi autor de grandes clássicos do cinema, como Spartacus (1960), Dr. Stangelove (1964), 2001 - Odisseia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971) e Shining (1980), entre outros.
  
Infância e adolescência
Em sua infância, o jovem do Bronx não era o que se podia chamar de "aluno exemplar". Raramente fazia os trabalhos de casa e as suas notas não eram das melhores. Mas apesar disso, tinha reconhecimento do pai em sua mente criativa. Foi este quem o encorajou a aprender xadrez (tornou-se um especialista no desporto) e deu-lhe a sua primeira máquina fotográfica. Ainda na adolescência, visando a carreira como fotógrafo, conseguiu emprego na conceituada revista Look, mas logo Kubrick descobriu que o seu futuro estava ligado a outro tipo de câmara.
  
Auto retrato na década de 50 para a revista Look
  
Primeiros trabalhos
Estreou como cineasta de curta-metragens aos 22 anos. Aos 25, obteve uma grande ajuda financeira do pai, que penhorou a casa para a produção de Fear and Desire, de 1953, sua primeira longa-metragem. Considerou o trabalho amador e, mesmo com algumas boas críticas, logo tratou de retirá-lo de circulação. Até hoje, o filme permanece fora de catálogo, tendo sido exibido poucas vezes em festivais ou distribuído ilegalmente. Logo após, Kubrick realizaria outro longa, Killer's Kiss, de 1955, outro filme pouco divulgado e de difícil acesso. Mas é a partir de The Killing, de 1956, que a sua carreira começa a funcionar. O trama sobre um plano de assalto ganhou a atenção de alguns produtores. Apesar disso, teve dificuldades com a adaptação da novela Paths of Glory. O filme homónimo foi estrelado pelo astro Kirk Douglas, que ajudou a levantar o projeto após ele ter sido rejeitado pelos estúdios. Kubrick fez um dos filmes antiguerra mais poderosos que o mundo do cinema já viu. Focado não em heróis, mas sim em cobardes. Apesar das excelentes críticas, Paths of Glory (Horizontes de Glória), de 1957, foi proibido em alguns países, incluindo a França.
  
Reconhecimento e clássicos
Kirk Douglas gostou de trabalhar com Kubrick. Foi ele quem o chamou para dirigir o épico Spartacus (1960), após a tensa demissão do veterano diretor Anthony Mann. Mann já havia filmado boa parte da produção quando Kubrick, com apenas 29 anos, assumiu o seu lugar. A boa relação com Douglas viria por água a baixo quando as diferenças criativas os fizeram confrontar. Kubrick perdeu a batalha e viu obrigado-se a filmar sem poder colocar algumas das suas ideias em prática. Mesmo com o sucesso do filme, ele decidiu que dali por diante só iria aceitar projetos que pudesse ter total liberdade criativa. E foi com esse pensamento que se muda para a Inglaterra em 1962. No mesmo ano começa as filmagens de Lolita (1962), clássico da literatura escrita por Vladimir Nabokov. A curiosidade sobre a adaptação da obra de Nabokov dá grande visibilidade ao filme, que mesmo imerso em polémicas (a relação entre um homem de meia-idade e uma adolescente era a principal delas) se torna outro grande sucesso de crítica. Dois anos depois, o diretor lança outro clássico absoluto: Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb (1964) (Doutor Fantástico no Brasil; Doutor Estranhoamor em Portugal). Tendo como tema a ameaça nuclear, o filme é uma comédia de humor negro com atuações e roteiro primorosos. Para atuar, Kubrick chamou o comediante inglês Peter Sellers, que se desdobra em três papéis, incluindo o de presidente dos Estados Unidos e George C. Scott (que alguns anos mais tarde se destacaria em Patton, Rebelde ou Herói?). Entre os vários momentos clássicos, está o final, com direito a um major cowboy montado sobre uma bomba atómica no ar. Esse trabalho rendeu a Kubrick a sua primeira nomeação para o Óscar de melhor diretor.
Cinco anos de produção foram necessários para o desenvolvimento de 2001: A Space Odyssey (2001: Odisseia no Espaço), de 1968, para muitos a melhor ficção científica já filmada. Foi escrito ao mesmo tempo em que o livro homónimo de Arthur C. Clarke estava a se escrito. Clarke, inclusive, deu assistência na criação do roteiro. 2001 teve uma recepção fria da crítica, mas obteve um enorme sucesso junto do público. Até hoje, possui na sua força maior, as músicas de Richard Strauss, Assim falou Zaratustra e Johann Strauss II, Danúbio Azul. Os efeitos especiais, inovadores para a época, garantiram ao filme um Óscar da categoria.
Novamente indicado para melhor diretor, Kubrick vê o seu prémio escapar. Logo após, chateado com o cancelamento do filme sobre Napoleão Bonaparte, ele segue para mais uma adaptação. Dessa vez o livro é A Clockwork Orange (Laranja Mecânica), de 1971, de Anthony Burgess, focado na violência humana e, principalmente, na da juventude. Causou grande polémica na época de seu lançamento e foi acusado de incitar a barbárie. Na história, quatro jovens de classe trabalhadoras passam as noites cometendo as maiores atrocidades: lutar, roubar, violar… são apenas algumas delas. A vida de um deles, Alex, (Malcolm McDowell) toma um rumo diferente quando o mesmo vai para a cadeia. Disparado o trabalho mais controverso do diretor, que deu-lhe outra nomeação para o prémio da Academia e outra derrota.
Nos anos seguintes, três filmes totalmente diferentes: um longuíssimo filme de época, um terror de gelar a espinha e a sua visão da Guerra do Vietname. O primeiro é Barry Lyndon (1975). Linda obra saída de uma novela de William Makepeace Thackeray. Apesar de ser pouco conhecido, o filme é considerado por muito dos fãs de Kubrick, entre eles Martin Scorsese, como seu melhor trabalho. Pois nele é perfeitamente visível o seu perfecionismo, característica marcante em sua carreira. Barry Lyndon, interpretado magistralmente por Ryan O'Neal, é uma espécie de "talentosa fraude" que inevitavelmente é expulso de onde quer que se meta. A fotografia do filme, dirigida por John Alcott - trabalhando sob a orientação técnica de Kubrick - e vencedora do Óscar, é outro momento inesquecível. Kubrick usou lentes criadas pela NASA para poder filmar alguns interiores. Detalhe: iluminados apenas com velas. Mesmo com todo o cuidado da produção, Barry Lyndon fracassou nos Estados Unidos, mas fez relativo sucesso na Europa. Levou quatro estatuetas douradas, mas de novo o admirável trabalho de Stanley como diretor não foi reconhecido pela maioria votante. Ele voltaria a ter um novo sucesso mundial com o clássico Shining (1980) (The Shining), adaptação da obra de Stephen King. A história de uma família que passa uma época num hotel nas montanhas até hoje faz sucesso onde quer que seja exibida. Quase no final dos anos 1980, Kubrick resurgiria dando ênfase a guerra. Dessa vez a do Vietname. Saída do livro de Gustav Hasford, Full Metal Jacket (Nascido Para Matar), de 1987, quase que uma versão "kubrickiana" de Apocalypse Now. O filme é praticamente dividido em duas partes: a preparação para a guerra e o ambiente de combate. Kubrick disse que ficou frustrado com o facto de que antes da estreia do filme dois outros longas sobre o tema já tinham sido lançados com sucesso: The Killing Fields (Terra sangrenta), de 1984, e Platoon (Platoon - Os Bravos do Pelotão), de 1986. Ainda como destaque da produção está o imenso set erguido em Londres, para a batalha final.
  
Final de carreira
Do seu último longa-metragem até Eyes Wide Shut (De Olhos Bem Fechados), de 1999, passou-se um longo período sem nada assinado por Stanley. Lançado em 1999, o filme protagonizado pelo (até então) casal número um dos Estados Unidos, causou uma grande comoção entre os amantes da sétima arte. Tom Cruise e Nicole Kidman interpretam um casal em crise e foi adaptada de romance escrito por Arthur Schnitzler, chamado Traumnovelle. Dois anos foi o período de filmagem, tempo que o perfecionismo de Kubrick achou necessário para a conclusão do filme, mas não o necessário para agradar à crítica e público. Kubrick faleceu enquanto dormia, devido a um ataque cardíaco, no dia 7 de março de 1999, não testemunhando a fria recepção que seu último trabalho obteve. O último projeto cinematográfico em que esteve envolvido, mas que por questões de saúde não dirigiu, foi AI: Inteligência Artificial, de Steven Spielberg. Encontra-se sepultado em Childwickbury Manor, Hertfordshire na Inglaterra.