sexta-feira, maio 10, 2024

Poesia para recordar um evento triste...

(imagem daqui)

  

A QUEIMA DOS LIVROS

Quando o Regime ordenou que queimassem em público
Os livros de saber nocivo, e por toda parte
Os bois foram forçados a puxar carroças
Carregadas de livros para a fogueira, um poeta
Expulso, um dos melhores, ao estudar a lista
Dos queimados, descobriu, horrorizado, que os seus
Livros tinham sido esquecidos. Correu para a secretária
Alado de cólera e escreveu uma carta aos do Poder
Queimai-me! escreveu com pena veloz, queimai-me!
Não me façais isso! Não me deixeis de lado! Não disse eu
Sempre a verdade nos meus livros? E agora
Tratais-me como um mentiroso! Ordeno-vos:
Queimai-me!

 
  
Bertolt Brecht

 

Nota: as ditaduras não gostam lá muito de livros - em Portugal, no estado novo, queimaram-se bastantes (aliás, curiosamente, como na I república...). Obviamente, no PREC, fez-se o mesmo - um professor familiar meu, em 75, recebeu ordens de  queimar uma extraordinária coleção didática que havia nas escolas primárias, só porque cada livro tinha uma pequena citação de Salazar...

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