Filho de um magistrado, aos dois meses de idade foi viver para
Lisboa. Aí fez os seus estudos e iniciou a sua actividade cultural.
Fundou as revistas Orpheu, em 1915, e Centauro, em 1916, e foi colaborador das revistas Atlântida (1915-1920), Contemporânea (1915-1926) e Sudoeste (1935).
Em 1933, fundou a "Editorial Ática, Lda.", com sede numa pequena
loja na rua das Chagas, em Lisboa, e que a partir dos anos 40 adoptou a
firma de "Ática, S.A.R.L., Casa Editora".
Pouco depois da morte de Fernando Pessoa,
foi Luís de Montalvor quem convenceu a família do então quase
desconhecido poeta (até aí só haviam sido publicados poemas avulsos em
revistas de pequena circulação e a Mensagem em livro) do valor imenso da sua obra, praticamente inédita. Os herdeiros de Pessoa confiaram então a Montalvor e a João Gaspar Simões
a tarefa de inventariar o espólio literário que o escritor deixara
guardado numa arca, fechada no seu quarto do apartamento da Rua Coelho
da Rocha.
Durante os anos seguintes, os dois escritores, paciente e
graciosamente, organizaram os manuscritos pessoanos, tendo em 1942 sido
publicado pela editora Ática as Poesias de Fernando Pessoa, primeiro dos cinco volumes constituintes das Obras Completas de Fernando Pessoa – sendo os restantes: Poesias de Álvaro de Campos (1944), Odes de Ricardo Reis (1945), Mensagem (1945) e Poemas de Alberto Caeiro (1946).
Segundo Gaspar Simões,
instigado por sócios mais ambiciosos, Montalvor em dezembro de 1946,
inaugurou, na rua Garrett nº 2, em pleno Chiado, as instalações luxuosas
e ampliadas da editora-livraria, com espaços para conferências e
exposições de arte moderna, livros de arte importados, etc.
Infelizmente, no pós-guerra, o frágil mundo editorial português foi
sacudido por uma crise que afectou profundamente a Ática.
Morte misteriosaDecorridos
escassos quatro meses do início do novo projecto comercial, a 2 de março de 1947, pelas 12 horas, junto à Estação Fluvial de Belém, foi
visto o automóvel Opel, usado pela família nos seus passeios dominicais,
a cair ao Tejo, perante a impotência das testemunhas que viram os seus
ocupantes a debater-se aflitivamente no seu interior. Quando finalmente
foi retirado do rio, já estavam mortos os sinistrados: o casal Montalvor
e o seu filho único, condutor do veículo (uma "estranha criatura", no
dizer de Gaspar Simões).
Desconhecem-se os motivos da tragédia. Segundo Gaspar Simões
teria sido um suicídio colectivo, motivado por dificuldades financeiras
ou por algum drama familiar, aludindo a "histórias equívocas" que na
época circulavam pelos maledicentes cafés lisboetas, a respeito de
Montalvor e dos seus familiares.
No entanto, segundo o Diário de Lisboa
desse mesmo dia, poderá ter-se tratado de um lamentável acidente. Foram
os jornalistas desse diário que se dirigiram à morada na família, um
enorme casarão na rua Garcia da Orta, nº 59, em Santos-o-Velho, e deram a
triste notícia às duas jovens criadas, que ficaram estupefactas e
tomadas pela dor. Segundo elas, nessa manhã, a patroa ter-lhes-ia
recomendado que tivessem o almoço pronto para as 13.30 e o filho teria
falado ao telefone com António Sérgio,
combinando um jantar para essa noite. Além disso, no interior do
veículo foi encontrado um saco com géneros alimentícios. As criadas
apenas conheciam da família das vítimas uma tia muito idosa, Cândida da
Silva Ramos.
Um técnico, citado pelo Diário de Lisboa de 3 de Março, referiu
que aquele modelo de carro teria o pedal do acelerador muito próximo do
pedal do travão e que alguém que usasse calçado largo poderia muito bem
ter momentaneamente acelerado o veículo em vez de o travar. Os cadáveres
estiveram para ser autopsiados, mas houve dispensa disso, a instâncias
de amigos da família. No dia 5, foi celebrada missa na igreja dos
Mártires, e o enterro foi no cemitério dos Prazeres. Nesse mesmo dia,
foi realizada uma peritagem ao automóvel.