Segundo Fernão Lopes, D. Nuno Álvares Pereira foi um dos filhos naturais de
D. Álvaro Gonçalves Pereira, Prior da
Ordem do Hospital, e Iria Gonçalves. D. Nuno Álvares Pereira cresceu na casa do seu pai até aos seus treze anos e foi lá que se iniciou
"como bom cavalgante, torneador, justador e lançador" e sobretudo onde ganhou gosto pela leitura, lia nos
"livros
de cavallaria que a pureza era a virtude que tornara invenciveis os
heroes da Tavola Redonda, e procurava que a sua alma e corpo se
conservassem immaculados". Foi com essa idade que entrou para a corte de D.
Fernando de Portugal, onde foi feito cavaleiro com uma armadura emprestada por
D. João, o Mestre de Avis. Decidido a manter-se virgem, foi profundamente contrariado (e praticamente obrigado pelo pai) que aos 16 anos casou com
Leonor de Alvim cerca de 1376
em
Vila Nova da Rainha, freguesia do concelho de
Azambuja. O nobre casal estabeleceu-se no Minho (supõe-se que em Pedraça
Cabeceiras de Basto), em propriedade de D. Leonor de Alvim.
Quando o Rei
Dom Fernando de Portugal morreu em
1383, sem herdeiros a não ser a princesa
D. Beatriz, casada com o Rei
João I de Castela, D. Nuno foi um dos primeiros nobres a apoiar as pretensões de
João, o Mestre de Avis à coroa. Apesar de ser filho ilegítimo de
D. Pedro I de Portugal,
D. João afigurava-se como uma hipótese preferível à perda de
independência para os castelhanos. Depois da primeira vitória de D. Nuno
Álvares Pereira frente aos castelhanos na
batalha dos Atoleiros em que pela primeira vez se combateu a pé em Portugal, em Abril de
1384, D. João de Avis nomeia-o
Condestável de Portugal e Conde de Ourém.
A
6 de abril de
1385, D. João é reconhecido pelas
cortes reunidas em Coimbra como
Rei de Portugal. Esta posição de força portuguesa desencadeia uma resposta à altura em Castela. D. João de Castela invade Portugal pela
Beira Alta
com vista a proteger os interesses de sua mulher D. Beatriz. D. Nuno
Álvares Pereira toma o controlo da situação no terreno e inicia uma
série de cercos a cidades leais a Castela, localizadas principalmente no
Norte do país.
A
14 de agosto, D. Nuno Álvares Pereira mostra o seu génio militar ao vencer a
batalha de Aljubarrota.
A batalha viria a ser decisiva no fim da instabilidade política de
1383-1385 e na consolidação da independência portuguesa. Finda a ameaça
castelhana, D. Nuno Álvares Pereira permaneceu como Condestável do Reino
e tornou-se Conde de Arraiolos e Barcelos. Entre 1385 e 1390, ano da
morte de D. João de Castela, dedicou-se a realizar incursões contra a
fronteira de Castela, com o objectivo de manter a pressão e dissuadir o
país vizinho de novos ataques. Por essa altura, foi travada em terreno
castelhano a célebre Batalha de Valverde. Conta-se que na fase mais
crítica da batalha e quando já parecia que o exército português iria
sofrer uma derrota completa, se deu pela falta de D. Nuno. Quando já se
temia o pior, o seu escudeiro foi encontrá-lo em
êxtase,
ajoelhado a rezar entre dois penedos. Quando o escudeiro aflito lhe
chamou a atenção para a batalha que se perdia, o Condestável fez um
sinal com a mão a pedir silêncio. Novamente chamado à atenção pelo
escudeiro, que lhe disse:
"Nada de orações, que morremos todos! responde então D. Nuno, suavemente:
"Amigo, ainda não é hora. Aguardai um pouco e acabarei de orar.".
Quando acabou de rezar, ergue-se com o rosto iluminado e dando as suas
ordens, consegue que se ganhe a batalha de uma forma considerada
milagrosa.
Descendência
Do seu casamento com D. Leonor de
Alvim, o Condestável teve três filhos, mas apenas uma filha teve descendência,
D. Beatriz Pereira de Alvim, que se tornou mulher de
D. Afonso, o primeiro
Duque de Bragança, dando origem à
Casa de Bragança, que viria a reinar em Portugal três séculos mais tarde.
Vida religiosa
Após a morte da sua mulher, tornou-se
carmelita (entrou na Ordem em
1423, no
Convento do Carmo,
que mandara construir como cumprimento de um voto). Toma o nome de
Irmão Nuno de Santa Maria. Aí permanece até à morte, ocorrida em
1 de novembro de
1431, com 71 anos.
Durante o seu último ano de vida, o Rei
D. João I
fez-lhe uma visita no Carmo. D. João sempre considerou que fora Nuno
Álvares Pereira o seu mais próximo amigo, que o colocara no trono e
salvara a independência de Portugal.
O túmulo de Nuno Álvares Pereira foi destruído no
Terramoto de 1755. O seu epitáfio era:
"Aqui
jaz aquele famoso Nuno, o Condestável, fundador da Sereníssima Casa de
Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na
terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e
mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram
incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas
fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde
descansa o seu corpo."
Há uma história apócrifa, em que o embaixador castelhano teria ido ao
Convento do Carmo
encontrar-se com Nun'Álvares, e ter-lhe-á perguntado qual seria a sua
posição se Castela novamente invadisse Portugal. Nuno terá levantado o
seu hábito, e mostrado, por baixo deste, a sua
cota de malha,
indicando a sua disponibilidade para servir o seu país sempre que
necessário e declarando que "se el-rei de Castela outra vez movesse
guerra a Portugal, serviria ao mesmo tempo a religião que professava e a
terra que lhe dera o ser". Conta-se também que no inicio da sua vida
monástica correra em Lisboa o boato de que Ceuta estaria em risco de ser
apresada pelos Mouros. De imediato Frei Nuno manifesta a sua vontade em
fazer parte da expedição que iria acudir a Ceuta. Quando o tentaram
dissuadir, apontando a sua figura alquebrada pelos anos e por tantas
canseiras, pegou numa lança e atirou-a do varandim do convento. A lança
atravessou todo o Vale da Baixa de Lisboa, indo cravar-se numa porta do
outro lado do Rossio e disse Nuno Álvares:
"Em África a poderei meter, se tanto for mister!" (daqui nasceu a expressão "meter uma lança em África", no sentido de se vencer uma grande dificuldade).
Beatificação e canonização
Nuno Álvares Pereira foi
beatificado aos
23 de janeiro de
1918 pelo
Papa Bento XV através do Decreto
"Clementíssimus Deus" e foi consagrado o dia
6 de novembro ao, então,
beato. Iniciado em
1921, em
1940 o processo de
canonização
foi interrompido por razões essencialmente políticas. O país festejava
então os Centenários da Fundação de Portugal e da Restauração da
Independência e Salazar desejava que a canonização do Beato Nuno se
revestisse de uma pompa nunca vista e num ambiente de grande exaltação
nacionalista, incluindo uma possível visita papal a Portugal, para que o
próprio Sumo Pontífice presidisse às cerimónias da Canonização. O Papa
de então (
Pio XII)
recusou, profundamente incomodado com o significado altamente político
em que o facto estava a descambar. O processo foi então suspenso e por
assim dizer, caiu num "semi-esquecimento". Entretanto, em 1953, foi
inaugurada a Igreja do Santo Condestável, sede da Paróquia do mesmo
nome, em
Campo de Ourique
(Lisboa), que contou com a Procissão de Transladação das Relíquias
desde o Largo do Carmo, no meio de honras militares e de um intenso
entusiasmo popular (segundo testemunhos da época, mais de metade do povo
de Lisboa esteve presente na consagração da Igreja e nas restantes
cerimónias religiosas) e com a presença dos mais altos dignitários da
Nação. Posteriormente, em
2004 o Processo foi reiniciado por vontade do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José da Cruz Policarpo.
No
Consistório de
21 de fevereiro de
2009 - acto formal no qual o Papa ordenou aos
Cardeais para confirmarem os processos de canonização já concluídos -, o
Papa Bento XVI anunciou para
26 de Abril de 2009 a canonização do Beato Nuno de Santa Maria, juntamente com quatro outros novos santos. O processo referente a Nuno Álvares Pereira encontrava-se concluído desde a
Primavera de
2008, noventa anos após sua beatificação.
D. Nuno Álvares Pereira foi canonizado como São Nuno de Santa Maria pelo papa
Bento XVI às 09.33 (hora de
Portugal) de
26 de abril de
2009. É o Padroeiro dos Escuteiros Católicos de Portugal (
Corpo Nacional de Escutas).
A
Conferência Episcopal Portuguesa, em nota pastoral sobre a canonização de Nuno de Santa Maria, declarou:
"(…)
o testemunho de vida de D. Nuno constituirá uma força de mudança em
favor da justiça e da fraternidade, da promoção de estilos de vida mais
sóbrios e solidários e de iniciativas de partilha de bens. Será também
apelo a uma cidadania exemplarmente vivida e um forte convite à
dignificação da vida política como expressão de melhor humanismo ao
serviço do bem comum.
Os Bispos de Portugal propõem, portanto, aos homens e mulheres de
hoje o exemplo da vida de Nuno Álvares Pereira, pautada pelos valores
evangélicos, orientada pelo maior bem de todos, disponível para lutar
pelos superiores interesses da Pátria, solícita por servir os mais
desprotegidos e pobres. Assim seremos parte activa na construção de uma
sociedade mais justa e fraterna que todos desejamos."