segunda-feira, novembro 19, 2012
Indira Gandhi nasceu há 95 anos
Postado por Fernando Martins às 22:30 0 bocas
Marcadores: Congresso Nacional Indiano, Índia, Indira Gandhi
O único acidente com mortos da TAP foi há 35 anos
Postado por Fernando Martins às 21:48 0 bocas
Marcadores: acidente, Aeroporto da Madeira, aviação, Boeing 727-200, Funchal, Madeira, Sacadura Cabral, TAP
O famoso discurso de Lincoln em Gettysburg ocorreu há 149 anos
Há 87 anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma nova Nação, concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais.
Encontramo-nos actualmente empenhados numa grande guerra civil, pondo à prova se essa Nação, ou qualquer outra Nação assim concebida e consagrada, poderá perdurar. Eis-nos num grande campo de batalha dessa guerra. Eis-nos reunidos para dedicar uma parte desse campo ao derradeiro repouso daqueles que, aqui, deram a sua vida para que essa Nação possa sobreviver. É perfeitamente conveniente e justo que o façamos.
Mas, numa visão mais ampla, não podemos dedicar, não podemos consagrar, não podemos santificar este local. Os valentes homens, vivos e mortos, que aqui combateram já o consagraram, muito além do que nós jamais poderíamos acrescentar ou diminuir com os nossos fracos poderes.
O mundo muito pouco atentará, e muito pouco recordará o que aqui dissermos, mas não poderá jamais esquecer o que eles aqui fizeram.
Cumpre-nos, antes, a nós os vivos, dedicarmo-nos hoje à obra inacabada até este ponto tão insignemente adiantada pelos que aqui combateram. Antes, cumpre-nos a nós os presentes, dedicarmo-nos à importante tarefa que temos pela frente – que estes mortos veneráveis nos inspirem maior devoção à causa pela qual deram a última medida transbordante de devoção – que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que esta Nação com a graça de Deus venha gerar uma nova Liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da terra.
Postado por Fernando Martins às 01:49 0 bocas
Marcadores: Abraham Lincoln, Discurso de Gettysburg, Guerra Civil Americana, Liberdade
domingo, novembro 18, 2012
O Massacre de Jonestown foi há 34 anos
O Massacre de Jonestown ocorreu a 18 de novembro de 1978 na Guiana com a morte de mais de 900 pessoas, resultando na maior perda de vidas de civis norte-americanas em desastres não naturais até os ataques de 11 de setembro.
Jonestown was the informal name for the Peoples Temple Agricultural Project, an intentional community in northwestern Guyana formed by the Peoples Temple led by Jim Jones. It became internationally notorious when, on November 18 of 1978, 918 people died in the settlement as well as in a nearby airstrip and in Georgetown, Guyana's capital. The name of the settlement became synonymous with the incidents at those locations.
A total of 909 Temple members died in Jonestown, all but two from apparent cyanide poisoning, in an event termed "revolutionary suicide" by Jones and some members on an audio tape of the event and in prior discussions. This includes over 200 murdered children. The poisonings in Jonestown followed the murder of five others by Temple members at a nearby Port Kaituma airstrip. The victims included United States Congressman Leo Ryan. Four other Temple members died in Georgetown at Jones's command.
To the extent the actions in Jonestown were viewed as a mass murder, it was the largest such event in modern history and resulted in the largest single loss of American civilian life in a non-natural disaster until the events of September 11, 2001.
Postado por Fernando Martins às 23:30 0 bocas
Marcadores: Guiana, Jim Jones, massacre, Massacre de Jonestown, Peoples Temple
Kirk The Ripper Hammett faz hoje 50 anos!
Postado por Fernando Martins às 22:30 0 bocas
Marcadores: guitarra, hard rock, heavy metal, Kirk Lee Hammett, Master Of Puppets, Metallica, música, Speed Metal, The Ripper, Thrash metal
Porque Manuel António Pina nasceu há 69 anos
Sérgio
.
Onde agora estás não alcançam o clamor dos magistrados
nem a faca do assassino.
A tua própria morte não te pertence já,
é assunto nosso, desprovido e inerte.
Que faremos nós com o teu inúmero corpo,
como te diremos o que está a acontecer-te?
.
.
Fechou-se qualquer coisa qualquer porta
espessa e desabitada,
a faca pôs tudo como estava.
Sobram, inúteis, as lágrimas (mas isso que te importa?),
as últimas palavras, a última carta.
Se não fosse essa faca seria outra faca
noutra noite noutra autoestrada
e se não fosses tu seria outro
do mesmo modo vivo e morto.
.
in Cuidados Intensivos (1994) - Manuel António Pina
Postado por Fernando Martins às 00:06 0 bocas
Marcadores: jornalismo, literatura, Manuel António Pina, poesia, saudades
sábado, novembro 17, 2012
O Infante D. Fernando, sogro do Rei D. João II e pai do Rei D. Manuel I, nasceu há 579 anos
Postado por Fernando Martins às 23:30 0 bocas
Marcadores: D. João II, D. Manuel I, descobrimentos, dinastia de Avis, Duque de Beja, Duque de Viseu, Infante D. Fernando, Monarquia
Jeffrey Buckley nasceu há 46 anos
Postado por Fernando Martins às 23:00 0 bocas
Marcadores: folk, guitarra, Hallelujah, Jeffrey Buckley, música, Rock alternativo
sexta-feira, novembro 16, 2012
Música para acabar bem o dia...
Ain't No Sunshine when She's Gone - Lighthouse Family
Ain't no sunshine when she's gone
It's not warm when she's away
Ain't no sunshine when she's gone
And she always gone too long anytime she goes away
Wonder this time where she's gone
Wonder if she's gone to stay
Ain't no sunshine when she's gone
And this house just ain't no home
Anytime she goes away
I know, I know, I know, I know
I know, I know, I know, I know
I know, I know, I know, I know
I know, know, know, know, know
I know, I know
Hey I ought to leave the yound thing alone
But ain't no sunshine when she's gone
Ain't no sunshine when she's gone
Only darkness everyday
Ain't no sunshine when she's gone
And this house just ain't no home
Anytime she goes away
Postado por Fernando Martins às 23:44 0 bocas
Marcadores: Ain't No Sunshine when She's Gone, Lighthouse Family, música
Carolina Parra, dos Cansei de Ser Sexy, faz hoje 34 anos
Postado por Fernando Martins às 19:53 0 bocas
Marcadores: bateria, Brasil, Cansei de Ser Sexy, Carolina Parra, Electroclash, guitarra, indie rock, New rave, new wave, Rock alternativo, Rock electrónico, Superafim
Doktor Flake, o teclista dos Rammstein, faz hoje 46 anos
Postado por Fernando Martins às 19:42 0 bocas
Marcadores: Christian Lorenz, Doktor Flake, heavy metal, Metal Alternativo, Metal industrial, Rammstein, Sonne
Sobre caridadezinhas, Bancos Alimentares e comentários desbocados - versão soviética de há 90 anos...
O nome mais conhecido era o do filósofo Berdyaev. Mas muitos outros contribuíram então para a revitalização do pensamento russo. Esses homens e mulheres, ávidos de mudança, acompanharam com esperança a revolução de 1905, desiludiram-se com a efémera democratização, iludiram-se com a revolução de Fevereiro mas não deram qualquer crédito à revolução de Outubro. Afinal, os bolcheviques negavam todos os seus valores.
Estes reformadores não quiseram acompanhar a aristocracia e os generais brancos que emigraram. O seu propósito foi o de ficar na Rússia. Em 1918, Berdyaev criou a Academia Livre da Cultura Espiritual. Semyon Frank, Ivanov e Stepun continuavam a ensinar na Universidade de Moscovo. Em 1919, renasceu a Sociedade Filosófica de S. Petersburgo. Lossky e Radov lançaram uma revista filosófica. Assistiu-se, então, a algo de extraordinário. Advogados e comerciantes, operários e marinheiros, encontravam-se, não nas manifestações, mas em pequenas salas onde se lia poesia e se refletia sobre o futuro da Rússia. Falava-se sobre Deus e sobre a alma russa, pensava-se uma democracia verdadeiramente russa, onde as forças espirituais prevalecessem sobre o materialismo.
Algo de extraordinário, com efeito. Estava-se a construir uma nova “obshchestvennost”, ou seja, uma esfera pública não dominada pelas autoridades. Algo de impensável, que assustou profundamente Lenine e o Politburo. Para estes, era claro que, para construir a sociedade socialista, o espaço público tinha de ser uniforme. Por outras palavras, apenas devia existir uma “obshchestvennost” soviética. O que obrigava a dissolver todas as organizações independentes e “afastar”, seja o que for que isso signifique, todo o pensamento não alinhado. Chama-se a isto totalitarismo.
A intenção era destruir a intelligentsia russa e construir uma nova e exclusiva intelligentsia soviética. Nenhuma independência de pensamento seria permitida. Essa foi a primeira prioridade, depois de vencida a guerra civil. Assim se vê a força das ideias.
É interessante analisar como nasce e se desenvolve a ideia de que o Estado soviético se tinha de desembaraçar dos divergentes. Um dos casos mais interessantes é o de Yekaterina Kuskova. Não era uma grande intelectual, mas alguém com ideias muito firmes sobre as mudanças necessárias, o que fez com que nunca abraçasse o marxismo, mas defendesse profundas reformas sociais.
A fome que ameaçou os campos russos e que em 1921 chegou às portas de Moscovo, levou-a a criar, conjuntamente com outros intelectuais não bolcheviques, o Comité Russo de Ajuda aos Famintos. Por outras palavras, Yekaterina Kuskova criou um Banco Alimentar naquelas paragens. Dada a situação desesperada, a liderança bolchevique não se opôs, mas manteve a vigilância com a maior das desconfianças. Qualquer russo que pudesse ganhar notoriedade por ajudar a resolver problemas que o Estado, por si, não poderia solucionar, transformava-se numa ameaça para a autoridade do Estado e dos seus líderes. Lenine teve de se impor perante os outros membros do Politburo, afirmando mesmo a um deles, o Comissário da Saúde, Nikolai Semashko: “- Não sejas caprichoso, meu caro. Não fiques invejoso da Kuskova. A directiva do Politburo é: tornar a Kuskova completamente inofensiva. (…) vigia essa gente rigorosamente.”
É muito interessante ver de que modo Lenine se queria servir da iniciativa daquelas pessoas de boa vontade. Kuskova pensava que, dada a situação, a ajuda só poderia vir de fora. E que, para as potências ocidentais ajudarem a Rússia, cujo regime há tão pouco tempo tentaram derrubar, esse auxílio só poderia ser obtido se fosse solicitado, não pelo governo mas pela sociedade civil. Lenine, pelos vistos, concordava com ela. Assim, serviu-se desta organização para garantir a intervenção da American Relief Administration, de Herbert Hoover. Mal o conseguiu, mandou prender todos os dirigentes do Comité Russo de Ajuda aos Famintos.
Lenine tinha menos receio dos americanos que tinham prestado auxílio por toda a Europa de leste e que, por exemplo, tinham intervindo na Hungria, enviando alimentos, mas colaborando activamente na queda do soviete de Bela Kun. Os russos de boa vontade faziam-lhe mais medo: corriam o risco de provar que as pessoas podiam, movidas por puro altruísmo e desejo de melhorar a sorte dos desprovidos, fazer muito melhor do que o Estado. Afinal, não seria essa a forma mais radical de demonstrar a falência dos princípios que inspiravam o novo regime?
Yekaterina Kuskova e os seus companheiros foram exilados para longe de Moscovo. Depois, a sanha persecutória voltou a manifestar-se através do inefável Comissário da Saúde: Nikolai Semashko descobriu que havia médicos que se queriam organizar autonomamente. Ora, era evidente que no Estado soviético só se poderia praticar medicina soviética, fosse lá isso o que fosse. Propôs ao Politburo a “remoção” (estes eufemismos são fantásticos) dos médicos dissidentes. Lenine pediu a intervenção de Estaline, que aproveitou para propor um alargamento da “remoção” a todos os dissidentes. O Politburo, onde ainda estavam Kamenev, Rykov e Molotov, aprovou a medida. Entusiasticamente. É bom recordar que também votou a favor um certo Trotsky cujos seguidores continuam a ter uma congénita repulsa por pessoas que fazem bem aos outros sem estarem enquadradas nas organizações que consideram aceitáveis. Os hábitos disfarçam-se, mas nunca se perdem.
Entrou então em ação a OGPU de Dzerzinski, que, pressuroso, apresentou de imediato um relatório intitulado “Dos Grupos Anti-Soviéticos entre a Intelligentsia”. Aí se começou o labor de identificação dos intelectuais a remover. Lá estavam Yekaterina Kuskova, Berdyaev, Stepun e muitos outros. Meses depois, deixariam a Rússia para não mais voltar. Alguns seguiriam no Preussen. Em 16 de novembro de 1922. Há precisamente noventa anos, uma história para os nossos dias.
Postado por Pedro Luna às 19:03 0 bocas
Marcadores: American Relief Administration, banco alimentar, Comité Russo de Ajuda aos Famintos, comunismo, Estaline, fome, Herbert Hoover, Lenine, Preussen, Trotsky, URSS
António Aleixo, o poeta popular mais importante do século XX, morreu há 63 anos
A partir da descoberta de Joaquim de Magalhães, o grande responsável por "passar a limpo" e registar a obra do poeta, António Aleixo passou a ser apreciado por inúmeras figuras da sociedade e do meio cultural algarvio. Também é digno de registo José Rosa Madeira, que o protegeu, divulgou e coleccionou os seus escritos, contribuindo no lançamento do primeiro livro, "Quando Começo a Cantar" (1943), editado pelo Círculo Cultural do Algarve.
A opinião pública aceitou a primeira obra de António Aleixo com bom agrado, tendo sido bem acolhida pela crítica. Com uma tiragem de cerca de 1.100 exemplares, o livro esgotou-se em poucos dias, o que proporcionou ao Poeta Aleixo uma pequena melhoria de vida, contudo ensombrada pela morte de uma filha sua, com tuberculose. Desta mesma doença viria o poeta a sofrer pelos tratamentos que a vida lhe foi impondo, tendo de ser internado no Hospital – Sanatório dos Covões, em Coimbra, a 28 de junho de 1943.
Em Coimbra começa uma nova era para o poeta que descobre novas amizades e deleita-se com novos admiradores, que reconhecem o seu talento, de destacar o Dr. Armando Gonçalves, o escritor Miguel Torga, e António Santos (Tóssan), artista plástico e autor da mais conhecida imagem do poeta algarvio, amigo do poeta que nunca o desamparou nas horas difíceis. Os seus últimos anos de vida foram passados, ora no sanatório em Coimbra, ora no Algarve, em Loulé.
A 27 de maio de 1944 recebeu o grau de Oficial da Ordem do Mérito.
Ser Doido-Alegre
Ser doido-alegre, que maior ventura!
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!
Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.
Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso...
Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai quem me dera ser doido também
P'ra suportar melhor quem tem juízo.
in Este livro que vos deixo (1969) - António Aleixo
Postado por Fernando Martins às 18:30 0 bocas
Marcadores: Algarve, António Aleixo, Cristina Nóbrega, Fado, música, poesia, quadras, Ser doido alegre
José Saramago nasceu há 90 anos
Biografia
José Saramago nasceu na vila de Azinhaga, no concelho da Golegã, de uma família de pais e avós agricultores. A sua vida é passada em grande parte em Lisboa, para onde a família se muda em 1924 – era um menino de apenas dois anos de idade. Dificuldades económicas impedem-no de entrar na universidade. Demonstra desde cedo interesse pelos estudos e pela cultura, sendo que esta curiosidade perante o Mundo o acompanhou até à morte. Formou-se numa escola técnica. O seu primeiro emprego foi de serralheiro mecânico. Fascinado pelos livros, visitava, à noite, com grande frequência, a Biblioteca Municipal Central — Palácio Galveias
Aos 25 anos, publica o primeiro romance Terra do Pecado (1947), no mesmo ano de nascimento da sua filha, Violante, fruto do primeiro casamento com Ilda Reis – com quem se casou em 1944 e com quem permaneceu até 1970. Nessa época, Saramago era funcionário público. Em 1988, casar-se-ia com a jornalista e tradutora espanhola María del Pilar del Río Sánchez, que conheceu em 1986 e ao lado da qual viveu até à morte. Em 1955 e para aumentar os rendimentos, começou a fazer traduções de Hegel, Tolstoi e Baudelaire, entre outros.
Depois de Terra do Pecado, Saramago apresentou ao seu editor o livro Clarabóia que, depois de rejeitado, permanece inédito até à data de hoje. Persiste, contudo, nos esforços literários e, dezanove anos depois, funcionário,então, da Editorial Estudos Cor, troca a prosa pela poesia, lançando Os Poemas Possíveis. Num espaço de cinco anos, publica, sem alarde, mais dois livros de poesia: Provavelmente Alegria (1970) e O Ano de 1993 (1975). É quando troca também de emprego, abandonando a Estudos Cor para trabalhar no Diário de Notícias (DN) e, depois, no Diário de Lisboa. Em 1975, retorna ao DN como Director-Adjunto, onde permanece por dez meses, até 25 de novembro do mesmo ano, quando os militares portugueses intervêm na publicação (reagindo ao que consideravam os excessos da Revolução dos Cravos) demitindo vários funcionários. Demitido, Saramago resolve dedicar-se apenas à literatura, substituindo de vez o jornalista pelo ficcionista: "(…) Estava à espera de que as pedras do puzzle do destino – supondo-se que haja destino, não creio que haja – se organizassem. É preciso que cada um de nós ponha a sua própria pedra, e a que eu pus foi esta: "Não vou procurar trabalho", disse Saramago em entrevista à revista Playboy, em 1995.
Da experiência vivida nos jornais, restaram quatro crónicas: Deste Mundo e do Outro, 1971, A Bagagem do Viajante, 1973, As Opiniões que o DL Teve, 1974 e Os Apontamentos, 1976. Mas não são as crónicas, nem os contos, nem o teatro os responsáveis por fazer de Saramago um dos autores portugueses de maior destaque - esta missão está reservada aos seus romances, género a que retorna em 1977.
Três décadas depois de publicado Terra do Pecado, Saramago retornou ao mundo da prosa ficcional com Manual de Pintura e Caligrafia. Mas ainda não foi aí que o autor definiu o seu estilo. As marcas características do estilo Saramaguiano só apareceriam com Levantado do Chão (1980), livro no qual o autor retrata a vida de privações da população pobre do Alentejo.
Dois anos depois de Levantado do Chão (1982), surge o romance Memorial do Convento, livro que conquista definitivamente a atenção de leitores e críticos. Nele, Saramago misturou factos reais com personagens inventados: o rei D. João V e Bartolomeu de Gusmão, com a misteriosa Blimunda e o operário Baltazar, por exemplo. O contraste entre a opulenta aristocracia ociosa e o povo trabalhador e construtor da história servem de metáfora à medida da luta de classes marxista. A crítica brutal a uma Igreja ao serviço dos opressores inicia a exposição de uma tentativa de destruição do fenómeno religioso como devaneio humano construtor de guerras.[3]
De 1980 a 1991, o autor trouxe a lume mais quatro romances que remetem a factos da realidade material, problematizando a interpretação da "história" oficial: O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984) - sobre as andanças do heterónimo de Fernando Pessoa por Lisboa; A Jangada de Pedra (1986) - em que se questiona o papel Ibérico na então CEE através da metáfora da Península Ibérica soltando-se da Europa e encontrando o seu lugar entre a velha Europa e a nova América; História do Cerco de Lisboa (1989) - onde um revisor é tentado a introduzir um "não" no texto histórico que corrige, mudando-lhe o sentido; e O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) - onde Saramago reescreve o livro sagrado sob a óptica de um Cristo que não é Deus e se revolta contra o seu destino e onde, a fundo, questiona o lugar de Deus, do cristianismo, do sofrimento e da morte.
Nos anos seguintes, entre 1995 e 2005, Saramago publicou mais seis romances, dando início a uma nova fase em que os enredos não se desenrolam mais em locais ou épocas determinados e personagens dos anais da história se ausentam: Ensaio Sobre a Cegueira (1995); Todos os Nomes (1997); A Caverna (2001); O Homem Duplicado (2002); Ensaio Sobre a Lucidez (2004); e As Intermitências da Morte (2005). Nessa fase, Saramago penetrou de maneira mais investigadora os caminhos da sociedade contemporânea, questionando a sociedade capitalista e o papel da existência humana condenada à morte.
A ida para Lanzarote conta mais sobre o escritor do que deixa transparecer a justificativa corrente (a medida censória portuguesa). Com o gesto de afastamento rumo à ilha mais oriental das Canárias, Saramago não apenas protesta ante o cerceamento, como finca raízes num local de geografia inóspita (trata-se de uma ilha vulcânica, com pouca vegetação e nenhuma fonte de água potável). A decisão tem um carácter revelador, tanto mais se se levar em conta que, neste caso, "mais oriental" significa dizer mais próximo de Portugal e do continente europeu.
Mesmo em dias de hegemonia do pensamento pró-mercado, Saramago guarda um olhar abrigado numa ilha europeia mais próxima da África que do velho centro da civilização capitalista. Sempre atento às injustiças da era moderna, vigilante das mais diversas causas sociais, Saramago não se cansava de investir, usando a arma que lhe coube usar, a palavra. "Aqui na Terra a fome continua, / A miséria, o luto, e outra vez a fome.", diz o eu lírico do poema saramaguiano "Fala do Velho do Restelo ao Astronauta" (do livro Os Poemas Possíveis, editado em 1966).
Saramago faleceu no dia 18 de Junho de 2010, aos 87 anos de idade, na sua casa em Lanzarote onde residia com a mulher Pilar del Rio, vítima de leucemia crónica. O escritor estava doente havia algum tempo e o seu estado de saúde agravou-se na sua última semana de vida. O seu funeral teve honras de Estado, tendo o seu corpo sido cremado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa. As cinzas do escritor, foram depositadas aos pés de uma oliveira, em Lisboa em 18 de junho de 2011.
Obra
José Saramago foi conhecido por utilizar um estilo oral, coevo dos contos de tradição oral populares em que a vivacidade da comunicação é mais importante do que a correcção de uma linguagem escrita. Todas as características de uma linguagem oral, predominantemente usada na oratória, na dialéctica, na retórica e que servem sobremaneira o seu estilo interventivo e persuasivo estão presentes. Assim, utiliza frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional; Os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões nos seus livros. Este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento. Muitas das suas frases (i.e. orações) ocupam mais de uma página, usando vírgulas onde a maioria dos escritores usaria pontos finais. Da mesma forma, muitos dos seus parágrafos ocupariam capítulos inteiros de outros autores. Por isso, se o leitor se habituar ao o seu estilo, a sua leitura é muito agradável, pois o seu ritmo está muito próximo da eloquência oral do Povo Português.
Estas características tornam o estilo de Saramago único na literatura contemporânea, sendo considerado por muitos críticos um mestre no tratamento da língua portuguesa. Em 2003, o crítico norte-americano Harold Bloom, no seu livro Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds ("Génio: Um Mosaico de Cem Exemplares Mentes Criativas"), considerou José Saramago "o mais talentoso romancista vivo nos dias de hoje" (tradução livre de the most gifted novelist alive in the world today), referindo-se a ele como "o Mestre". Declarou ainda que Saramago é "um dos últimos titãs de um género literário que se está a desvanecer".
No coração, talvez, ou diga antes:
Uma ferida rasgada de navalha,
Por onde vai a vida, tão mal gasta.
Na total consciência nos retalha.
O desejar, o querer, o não bastar,
Enganada procura da razão
Que o acaso de sermos justifique,
Eis o que dói, talvez no coração.
in Os Poemas Possíveis (1966) - José Saramago
Postado por Geopedrados às 01:30 0 bocas
Marcadores: Canárias, comunismo, José Saramago, Lanzarote, literatura, PCP, Prémio Nobel, Ribatejo
Paul Hindemith nasceu há 116 anos
Postado por Pedro Luna às 01:16 0 bocas
Marcadores: música, Paul Hindemith