Estátua de António Aleixo em Loulé, em frente ao Bar "Calcinha", frequentado em vida pelo poeta
Considerado um dos poetas populares
algarvios de maior relevo, famoso pela sua
ironia e pela crítica social sempre presente nos seus versos, António Aleixo também é recordado por ter sido simples, humilde e
semi-analfabeto, e ainda assim ter deixado como legado uma obra poética singular no panorama literário português da primeira metade do século XX.
No emaranhado de uma vida cheia de pobreza, mudanças de emprego, emigração, tragédias familiares e doenças na sua figura de homem humilde e simples, havia o perfil de uma personalidade rica, vincada e conhecedora das diversas realidades da
cultura e
sociedade do seu tempo. Do seu percurso de vida fazem parte profissões como
tecelão, guarda de polícia e servente de
pedreiro, trabalho este que, como emigrante foi exercido em
França.
De regresso ao seu
país natal, estabeleceu-se novamente em
Loulé, onde passou a vender
cautelas e a cantar as suas produções pelas feiras portuguesas, actividades que se juntaram às suas muitas profissões e que lhe renderia a alcunha de "poeta-cauteleiro".
Poeta possuidor de uma rara espontaneidade, de um apurado sentido
filosófico e notável pela «capacidade de expressão sintética de conceitos com conteúdo de pensamento moral», António Aleixo tinha por motivos de inspiração desde as brincadeiras dirigidas aos amigos até à crítica sofrida das injustiças da vida. É notável em sua poesia a expressão concisa e original de uma "amarga filosofia, aprendida na escola impiedosa da vida".
A sua conhecida obra poética é uma parte mínima de um vasto repertório literário. O poeta, que escrevia sempre usando a métrica mais comum na língua portuguesa (heptassílabos, em pequenas composições de quatro versos, conhecidas como "quadras" ou "trovas"), nunca teve a preocupação de registar suas composições. Foi o trabalho de
Joaquim de Magalhães, que se dedicou a compilar os versos que eram ditados pelo poeta no intuito de compor o primeiro volume de suas poesias (
Quando Começo a Cantar), com o posterior registo do próprio poeta tendo o incentivo daquele mesmo professor, a obra de António Aleixo adquiriu algum trabalho documentado. Antes de Magalhães, contudo, alguns amigos do poeta lançaram folhetos avulsos com quadras por ele compostas, mais no intuito, à época, de angariar algum dinheiro que ajudasse o poeta na sua situação de miséria que com a intenção maior de permanência da obra na forma escrita.
Estudiosos de António Aleixo ainda conjugam esforços no sentido de reunir o seu espólio, que ainda se encontra fragmentado por vários pontos do
Algarve, algum dele já localizado. Sabe-se também que vários cadernos seus de poesia, foram cremados como meio de defesa contra o vírus infeccioso da doença que o vitimou, sem dúvida, um «sacrifício» impensado, levado a cabo pelo desconhecimento de seus vizinhos. Foi esta uma perda irreparável de um património insubstituível no vasto mundo da literatura portuguesa.
A partir da descoberta de Joaquim de Magalhães, o grande responsável
por "passar a limpo" e registar a obra do poeta, António Aleixo passou a
ser apreciado por inúmeras figuras da sociedade e do meio cultural
algarvio. Também é digno de registo José Rosa Madeira, que o protegeu,
divulgou e coleccionou os seus escritos, contribuindo no lançamento do
primeiro livro, "Quando Começo a Cantar" (
1943), editado pelo Círculo Cultural do Algarve.
A opinião pública aceitou a primeira obra de António Aleixo com bom
agrado, tendo sido bem acolhida pela crítica. Com uma tiragem de cerca
de 1.100 exemplares, o livro esgotou-se em poucos dias, o que
proporcionou ao Poeta Aleixo uma pequena melhoria de vida, contudo
ensombrada pela morte de uma filha sua, com
tuberculose.
Desta mesma doença viria o poeta a sofrer pelos tratamentos que a vida
lhe foi impondo, tendo de ser internado no Hospital – Sanatório dos
Covões, em
Coimbra, a
28 de junho de
1943.
Em
Coimbra
começa uma nova era para o poeta que descobre novas amizades e
deleita-se com novos admiradores, que reconhecem o seu talento, de
destacar o Dr. Armando Gonçalves, o escritor
Miguel Torga, e António Santos (
Tóssan),
artista plástico e autor da mais conhecida imagem do poeta algarvio,
amigo do poeta que nunca o desamparou nas horas difíceis. Os seus
últimos anos de vida foram passados, ora no sanatório em
Coimbra, ora no
Algarve, em
Loulé.
A 27 de maio de 1944 recebeu o grau de Oficial da
Ordem do Mérito.