Foi o primeiro Papa desde
Clemente V a recusar uma
coroação formal,
cerimónia não oficialmente abolida, ficando a cargo do eleito escolher
como queria iniciar seu pontificado. Contudo, desde então, os papas
eleitos têm optado por uma cerimónia de "
início do pontificado",
com a respectiva entronização e o juramento de fidelidade. Não aceitava
ser carregado em uma liteira como os outros papas, por uma questão de
humildade. Também foi pioneiro ao adoptar um
nome papal duplo.
Antes de ser Papa, Luciani foi
Patriarca de Veneza e não tinha ambições, nunca tendo sonhado sequer em ser papa. Foi o primeiro Papa a nascer no
século XX e o seu nome papal duplo foi uma homenagem aos seus dois antecessores,
Paulo VI e
João XXIII.
Albino Luciani nasceu na
província de Belluno, norte da
Itália. O seu nome de batismo fora uma homenagem a um amigo da família, que morrera numa explosão numa mina de carvão na
Alemanha.
De origem humilde, viu o seu pai, chamado Giovanni, que era socialista,
ser inúmeras vezes forçado a buscar trabalho noutros países, por
ocasião da
Primeira Guerra Mundial. A sua mãe, Bertola, católica fervorosa, incentivou-o a seguir a formação
religiosa. No que foi bem sucedida: Albino foi ordenado
padre em
1935, assumindo a posição paroquial que tanto desejara.
Embora, segundo consta, não tivesse grande ambições, foi nomeado
bispo pelo
João XXIII e
cardeal pelo
Paulo VI, com o título de
São Marcos. Esteve presente no
Concílio Vaticano II, convocado em
1962 por
João XXIII. Albino Luciani era o
Patriarca de Veneza quando, com 65 anos, foi eleito
Papa, em
26 de agosto de
1978, na terceira votação do
conclave que se seguiu à morte do
Papa Paulo VI, superando o cardeal considerado "ultraconservador"
Giuseppe Siri - favorito ao trono de
São Pedro, de acordo com a
imprensa - por 99 votos a 11. Segundo se conta, a princípio, um atónito Luciani teria declinado de aceitar o
pontificado, mas fora persuadido do contrário pelo cardeal
holandês Johannes Willebrands, que estava sentado a seu lado na
Capela Sistina. Para isso, ter-lhe-ia dito: "
Coragem. O Senhor dá o fardo, mas também a força para carregá-lo".
Escolheu o nome de João Paulo (
Ioannes Paulus, pela grafia em
latim) para homenagear os seus antecessores, João XXIII e Paulo VI. Morreu na madrugada de
28 de Setembro de
1978, entre as 23.30 e 04.30 horas da manhã, no
Palácio Apostólico do
Vaticano. Na época do
conclave, o
cardeal britânico Basil Hume, um de seus eleitores, chamou João Paulo I de "o candidato de Deus". A figura de João Paulo I na
Igreja Católica sempre foi a de um papa afável, tendo, por isso, recebido a alcunha de "O Papa do Sorriso".
Reza uma lenda que João Paulo I teria feito uma premonição sobre a sua
morte, ao afirmar a conhecidos que "alguém mais forte que eu, e que
merece estar neste lugar, estava sentado à minha frente durante o
conclave". Um
cardeal presente na ocasião - que preferiu escudar-se no anonimato - confirmou que esse homem era, de facto, o
polaco Karol Wojtyla.
"Ele virá, porque eu irei", prosseguiu o "Papa Breve". Curiosamente,
Wojtyla realmente votara em Luciani naquele conclave e logo depois veio a
tornar-se
João Paulo II. Por outro lado, o que há de concreto é que João Paulo I teria falado da sua morte um dia antes dela ao Bispo John Magee.
Brasão papal de João Paulo II
Embora João Paulo I tenha sido encontrado morto por uma freira que
trabalhava para ele há muitos anos e o acordava sempre, a versão oficial
divulgada pelo
Vaticano, contudo, diz que o corpo de João Paulo I teria sido encontrado pelo
padre
Diego Lorenzi, um de seus secretários, enunciando a morte como
"possivelmente associada com enfarte do miocárdio". Para alguns, João
Paulo I teria sido vítima das terríveis pressões características de seu
cargo, e que não as tendo suportado, veio a perecer. A citada freira,
após a morte deste, fez voto de silêncio.
Outra hipótese levantada foi a de que o Papa "Sorriso de Deus" teria
sido vítima de embolia pulmonar. De qualquer maneira, sua morte provocou
enorme consternação entre os
católicos; mesmo sob chuva torrencial, a Praça de São Pedro esteve totalmente lotada quando de seus serviços funerais. Em sua homenagem, o
seu sucessor (João Paulo II) adotaria o seu nome papal ao ser eleito, em
16 de outubro de
1978.
O momento da sua morte, apenas um mês depois de sua eleição para o
papado, e alegadas dificuldades do Vaticano com os procedimentos
cerimoniais e legais, juntamente com declarações inconsistentes feitas
após a morte, fomentaram várias teorias da conspiração. O autor
britânico
David Yallop escreveu extensivamente sobre crimes não resolvidos e teorias da conspiração, e no seu livro de
1984 In God's Name sugeriu que João Paulo I morreu porque estava prestes a descobrir escândalos financeiros supostamente envolvendo o Vaticano.
John Cornwell respondeu às acusações de Yallop em
1987, com o livro
A Thief In The Night, em que analisou as várias alegações e negou a conspiração. De acordo com
Eugene Kennedy, escrevendo para o
The New York Times:
o livro de Cornwell "ajuda a purificar o ar de paranóia e de teorias da
conspiração, mostrando como a verdade, cuidadosamente escavada por um
jornalista em um volume pode nos refrescar, faz-nos livres."
A revista italiana
30 Giorni revela, com base em declarações de um dos quatro irmãos de João Paulo I, que a
Irmã Lúcia, durante a visita que o então
Patriarca de Veneza lhe fez no
Carmelo de Santa Teresa, em
Coimbra, sempre o tratou por "
Santo Padre".
O Cardeal Luciani fica impressionado e pergunta: "Porquê?", ao que a
Irmã responde: "Vossa Eminência um dia será eleito Papa". E ele disse:
"Sabe-se lá, irmã…", e a Irmã retorquiu: "Será sim, mas o seu
pontificado será muito breve".