Uma vítima de mina terrestre da Guerra Civil Moçambicana
A
Guerra Civil Moçambicana foi um
conflito civil que começou em 1977, dois anos após o fim da
Guerra de Independência de Moçambique, e que foi semelhante à
Guerra Civil Angolana, visto que ambas eram guerras secundárias dentro do contexto maior da
Guerra Fria. O partido no poder, a
Frente de Libertação de Moçambique(FRELIMO), e as forças armadas moçambicanas eram violentamente contrários a
Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que recebia financiamento da
Rodésia e, mais tarde, da
África do Sul. Durante o conflito, cerca de um milhão de pessoas morreram em combates e por conta de crises de
fome, cinco milhões de civis foram deslocados e muitos sofreram
amputações por
minas terrestres, um legado da guerra que continua a assolar o país. O conflito terminou em 1992 com o
Acordo Geral de Paz e as primeiras eleições multipartidárias do país foram realizadas em 1994. No entanto, passados mais de vinte anos de paz formal, Moçambique presenciou em 2013 o ressurgimento do conflito armado nas regiões central e norte do país, pondo em questão a aparente estabilidade democrática e o processo de reconciliação. Apesar das inúmeras negociações, um novo acordo de paz ainda não foi concluído.
Imediatamente a seguir à
independência do Moçambique, alguns militares (ou ex-militares)
portugueses e dissidentes da
FRELIMO instalaram-se na
Rodésia, que vivia uma situação de "independência unilateral" não reconhecida pela maior parte dos países do mundo. O regime de
Ian Smith, já a braços com um movimento interno de resistência que aparentemente tinha algumas bases em Moçambique, aproveitou esses dissidentes para atacar essas bases.
De facto, a FRELIMO apoiava esses rebeldes rodesianos e, em 1976, o governo de Moçambique declarou oficialmente aplicar as sanções estabelecidas pela
ONU contra o governo ilegal de
Salisbúria e fechou as fronteiras com aquele país. A Rodésia dependia em grande parte do
corredor da Beira, incluindo a linha de caminhos de ferro, a estrada e o oleoduto que ligavam o porto da Beira àquele país encravado. Embora, a Rodésia tivesse boas relações com o regime
sul-africano do
apartheid, este fecho das suas fontes de abastecimento foi um duro golpe para o regime rodesiano.
Pouco tempo depois, para além de intensificarem os ataques contra estradas, pontes e colunas de abastecimento dentro de Moçambique, os rodesianos ofereceram aos dissidentes moçambicanos espaço para formarem um movimento de resistência - a "REsistência NAcional MOçambicana" ou
RENAMO - e criarem uma estação de rádio usada para propaganda antigovernamental.
Até
1980, data da independência do
Zimbabwe, a RENAMO continuou os seus ataques a aldeias e infraestruturas sociais em Moçambique, semeando
minas terrestres em várias estradas, principalmente nas regiões mais próximas das fronteiras com a Rodésia. Estas acções tiveram um enorme papel desestabilizador da economia, uma vez que não só obrigaram o governo a concentrar importantes recursos numa máquina de guerra, mas principalmente porque levaram ao êxodo de muitos milhares de pessoas do campo para as cidades e para os países vizinhos, diminuindo assim a produção agrícola.
Com a independência do Zimbabwe, a RENAMO foi obrigada a mudar a sua base de apoio para a África do Sul, o que conseguiu com muito sucesso, tendo tido amplo apoio das forças armadas sul-africanas. Para além disso, estas forças realizaram vários "raids"
terrestres e aéreos contra
Maputo, alegadamente para destruirem "bases" do
ANC. No entanto, o governo de Moçambique, que já tinha secretamente encetado negociações com o governo sul-africano e com a própria RENAMO, assinou em
1983 um acordo de "boa vizinhança" com aquele governo, que ficou conhecido como o
Acordo de Nkomati, segundo o qual o governo sul-africano se comprometia a abandonar o apoio militar à RENAMO, enquanto que o governo moçambicano se comprometia a deixar de apoiar os
militantes do ANC que se encontravam em Moçambique.
Em
1986, a RENAMO tinha já estabelecido uma base central na
Gorongosa e expandido as acções militares para todas as províncias de Moçambique, contando ainda com o apoio do
Malawi, cujo governo tinha boas relações com o regime do apartheid. Nesta altura, a RENAMO tinha conseguido alcançar um dos seus objectivos estratégicos que consistiu em obrigar o governo a abandonar a sua política de "socialização do campo" através das
aldeias comunais e
machambas estatais.
Em vista dos problemas económicos que Moçambique atravessava, o governo assinou um acordo com o
Banco Mundial e
FMI em
1987, que o obrigaram a abandonar completamente a política "
socialista". A guerra, porém, só
terminou em 1992 com o Acordo Geral de Paz, assinado em
Roma a
4 de outubro, pelo Presidente da República,
Joaquim Chissano e pelo presidente da RENAMO,
Afonso Dhlakama, depois de cerca de dois anos de conversações mediadas pela
Comunidade de Santo Egídio, uma organização da
igreja católica, com apoio do governo
italiano.
Nos termos do Acordo, o governo de Moçambique solicitou o apoio da
ONU para o desarmamento das tropas beligerantes. A
ONUMOZ foi a força internacional que apoiou neste trabalho, que durou cerca de dois anos e que culminou com a formação dum exército unificado e com a organização das primeiras eleições gerais multipartidárias, em 1994.