Adriano entrou para expedição de
Trajano contra
Pártia como um legado na tropa de Trajano. Nem durante a primeira fase, vitoriosa, nem durante a segunda fase da
guerra, quando a rebelião foi arrastado até à Mesopotâmia, Adriano nada faz de digno. No entanto, quando o governador da
Síria teve que ser enviado para resolver problemas renovados na
Dácia, Adriano foi apontado como um substituto, dando-lhe um comando independente.
Nascimento
Adriano nasceu Públio Élio Trajano Adriano em
Itálica, próximo da atual
Santiponce, na
Espanha. Outras fontes citam
Roma, na
Itália. Adriano era descendente de colonos romanos domiciliados no sul da
Hispânia e primo de
Trajano, tendo sido nomeado por este para uma série de dignidades públicas que o fizeram aparecer como herdeiro presuntivo deste imperador. À época das guerras contra os
partas, durante o reinado de Trajano, era governador da
província romana da
Síria.
Imperador
Logo após a morte de
Trajano, consta que teria sido adotado por este no seu leito de morte como filho e sucessor na dignidade imperial. Muitos dizem, no entanto, que tal adoção teria sido uma farsa engendrada pela viúva de Trajano, a imperatriz
Plotina. Seja como for, a ascensão de Adriano ao trono imperial foi imediatamente seguida pela execução sumária de quatro importantes ex-
cônsules - entre eles o príncipe
mouro e comandante de um contingente de cavalaria moura no exército romano
Lúsio Quieto - expoentes da política de conquistas militares de Trajano. Estas execuções, ordenadas pelo imperador sem o acordo prévio do
senado, fizeram muito para alienar a velha assembleia do imperador e deram o tom da política imperial subsequente, que foi dirigida no sentido de ampliar a base de apoio do
principado para além de Roma, mediante o contacto direto do imperador com as elites provinciais, em oposição à velha política de manutenção de Roma como cidade imperial hegemónica.
Talvez por entender que o império esgotara sua capacidade de expansão, Adriano abandonou a política de conquistas de Trajano, adotando outra nitidamente defensiva, optando pela via diplomática para resolver questões relativas ao relacionamento com povos vizinhos. Na prática, isso significou renunciar às conquistas recentes - e, a esta altura, pouco mais do que teóricas - de Trajano na
Mesopotâmia. Adriano também retificou os limites de uma outra conquista de Trajano, esta já antiga, a
Dácia (atual
Roménia), cedendo aos
sármatas a
planície do Baixo
Danúbio e concentrando a ocupação romana na região da
Transilvânia, protegida pela barreira natural dos
Cárpatos.
Segundo
Dião Cássio, Adriano teria também ordenado a demolição da ponte construída por Trajano sobre o Danúbio, de forma a evitar uma invasão das
províncias danubianas tradicionais a partir da Dácia.
Com o intuito de proteger as demais fronteiras
romanas contra os
bárbaros, construiu grande número de fortificações contínuas na
Germânia e na
Inglaterra (por exemplo, mandou construir, em
122, a chamada
Muralha de Adriano, que marcou durante séculos a fronteira entre a Inglaterra e a
Escócia).
Adriano implementou uma profunda reforma na administração, transformando o
conselho do príncipe um órgão de governo, e procurou unificar a legislação (
Édito Perpétuo,
131). Durante o seu reinado, foi um viajante incansável, visitando as várias províncias do império: parece ter passado 12 anos do seu reinado fora de Roma.
A cultura e arte Letrado, Adriano era um grande admirador da cultura
grega, sendo um dos responsáveis pela propagação do
helenismo no mundo antigo. Realizou grandes viagens pelo império, realizando obras e melhorando a infraestrutura e a economia das províncias. Como gesto simbólico, ordenou uma série de emissões monetárias honrando as províncias, que eram representadas nestas moedas por alegorias femininas que lhes davam uma personalidade moral distinta. Estas alegorias seriam mais tarde representadas como uma série de estátuas que, após a morte de Adriano, seriam colocadas no seu templo em Roma.
Foi o
arquiteto responsável pela construção do
Panteão de Roma, reconstruindo um antigo prédio muito menor erguido por
Marco Vipsânio Agripa, porém mantendo a velha fachada com o nome do antigo construtor. Construiu perto de Roma a grande
villa que leva seu nome (
Villa Adriana).
Foi um imperador ambulante, viajava sempre e por onde passava ia levantando cidades, construindo estradas, erigindo monumentos. Estes monumentos tinham um significado político: sua construção geralmente significava uma aliança em pé de igualdade abstrata entre Roma e a cidade onde eram erguidos. Assim, Adriano mandou completar em
Atenas a construção de um gigantesco templo a
Zeus, o
Olimpeu, cuja construção já se arrastava desde a época do tirano
Pisístrato, do
século VI a.C.. Nas vizinhanças desta construção, organizou um bairro dentro do estilo romano de urbanismo, de maneira a poder igualar-se a um rei mítico de Atenas,
Teseu. Esta Atenas "romana" era separada da antiga cidade por um pórtico na entrada do qual estava inscrito: "Esta é a cidade de Adriano, e não a de Teseu".
Ao mesmo tempo, Adriano fez de Atenas a sede de um fórum regional de discussão de assuntos comuns das cidades helénicas, o Pan-helénio (
Panhellenion; 131-132). Esta reelaboração da legitimidade política do império em torno não mais da hegemonia da cidade de
Roma e do seu
senado e da
Itália, mas como um império ecumênico dotado de uma cultura helénica comum, que prenunciava já de certa forma o
Império Bizantino, permitiu ao historiador francês
Paul Veyne chamar Adriano de "um
Nero bem sucedido", que soube transformar sua mania da cultura helénica num programa político Por isto, tal política encontrou sua maior contestação entre o povo que havia oposto, historicamente, maior resistência a esta matriz cultural grega: na
Judeia, os judeus reuniam-se preparando uma nova (e última) revolta contra o elemento greco-romano.
Essa
guerra estalou porquanto Adriano mandara reconstruir
Jerusalém, destruída por
Tito em
70 d. C., como uma cidade grega, e os
judeus de então sentiam que a sua cidade sagrada estava sendo profanada por estrangeiros. De fato, em toda parte surgiam estátuas, banhos públicos, centros ruidosos de vida profana. Durante o final do reinado de Adriano, um movimento armado anti-romano estourou no interior da Judeia, comandado pelo rebelde messiânico que viria a ser conhecido pelo nome de
Bar Kochba ("o Filho da Estrela").
Assim que Adriano soube do levante dos judeus, determinou que as
legiões localizadas nas províncias vizinhas atacassem os
judeus e os destruíssem. Não se sabe com certeza se Adriano participou ativamente da guerra judaica, e em que medida. O certo é que esta guerra foi longa e terrível. Após mais de dois anos de combates, as tropas romanas acabaram por sufocar a revolta. O exército romano sofreu um tal desgaste que Adriano teria, segundo
Dião Cássio, eliminado dos seus despachos militares ao senado a fórmula usual de abertura: "o exército e o imperador vão bem".
Os sobreviventes foram vendidos como
escravos. Roma decretou a exclusão dos judeus de Jerusalém, que foi reconstruída como cidade grega e passou a chamar-se
Élia Capitolina. No lugar do antigo templo judaico ergueu-se a estátua de
Zeus e junto ao
Gólgota (onde, segundo a tradição bíblica, teria sido crucificado
Jesus) ergueu-se um templo à
deusa grega Afrodite. A antiga
província da
Judeia passou a chamar-se Palestina - forma de tentar apagar a memória da presença judaica na região pela recordação dos
filisteus, também antigos habitantes da região nos tempos bíblicos.
Por isso, no
Talmud, essa revolta ficou sendo chamada "a guerra do extermínio". De fato, por mais que a
diáspora judaica tivesse-se iniciado séculos antes de Adriano, e que as narrativas sobre a guerra judaica tenham-se cedo revestido de características legendárias, é certo que a guerra eliminou definitivamente qualquer possibilidade de renascimento de um
judaísmo centrado no
Templo de Jerusalém e na sua casta sacerdotal, dando origem, assim, ao judaísmo como uma expressão puramente religiosa e cultural, e não mais política, situação esta que se perpetuaria até o surgimento do
sionismo no
século XIX.
Morte e sucessãoAdriano morreu em
138, em
Roma. O seu corpo foi depositado num
mausoléu, que veio a ser o
castelo de Santo Ângelo, em Roma. A sucessão de Adriano foi complicada: a princípio ele havia pensado em adotar como filho e sucessor um dos seus muitos antigos favoritos (tal como o adolescente grego
Antínoo),
Lúcio Élio Vero - e efetivamente fê-lo, mas, tendo Élio falecido prematuramente, Adriano acabou por adotar o senador T. Aurélio Fúlvio Boiônio Antonino - que tornou-se depois o imperador
Antonino Pio - sob a condição, no entanto, de que este adotasse como seu filho e sucessor o parente distante de Adriano, o jovem Marco Ânio Vero, o futuro imperador
Marco Aurélio, assim como o filho do falecido Lúcio Ceiônio,
Lúcio Vero, que viria a ser co-imperador junto com Marco Aurélio. Entrementes, Adriano acabou por ordenar o
suicídio de outro dos seus parentes, o nonagenário senador Lúcio Júlio Urso Serviano - ou
Serviano Urso - de quem ele desconfiava que buscaria a sucessão imperial para seu neto (que também foi obrigado a suicidar-se). Tal decisão fez muito para confirmar a alienação mútua entre Adriano e o senado romano, que levaria, após sua morte, a uma tentativa fracassada do senado de invalidar seus atos, o que foi impedido por Antonino Pio. A hostilidade duradoura entre o senado e Adriano seria reconhecida pelo seu contemporâneo mais jovem, o senador, orador e correspondente de Marco Aurélio,
Frontão, que comparava Adriano ao deus da guerra
Marte e ao deus dos mortos
Dis Pater - ambos deuses que se deve tentar apaziguar, mas sem poder realmente amá-los.
Como prova das políticas autoritárias de Adriano, deve ser assinalado que credita-se a ele a criação de um corpo de
polícia política no
Império Romano, os
frumentários, cujos agentes foram destacados do corpo de funcionários imperiais dedicados à supervisão do abastecimento de
trigo da cidade de Roma, daí seu nome em
latim.