João XXI, nascido Pedro Julião Rebolo e mais conhecido como Pedro Hispano, (Lisboa, 1215 - Viterbo, 20 de maio de 1277) foi Papa desde 20 de setembro de 1276 até à data da sua morte, tendo sido também um famoso médico, filósofo, teólogo, professor e matemático português do século XIII.
Adotou sucessivamente os nomes de Pedro Julião como nome de batismo, Pedro Hispano como académico e João XXI como pontífice.
Alguns autores indicam como data de nascimento o ano de 1205, outros que foi antes de 1210, possivelmente em 1205 ou 1207 e outros ainda entre 1210 e 1220.
Pedro Julião, ou Pedro Hispano, nasce em
Lisboa, no então Reino de
Portugal, provavelmente na que é a atual freguesia de
São Julião, em data não conhecida, mas seguramente antes de
1226, filho de Julião Rebelo, médico, cuja profissão segue, e de Teresa Gil (embora
Luís Ribeiro Soares defenda que possa ter sido filho do chanceler de
D. Sancho I, Mestre
Julião Pais).
Começou os seus estudos na escola episcopal da catedral de
Lisboa, tendo mais tarde estudado na Universidade de
Paris (alguns historiadores afirmam que terá sido na Universidade de
Montpellier) com mestres notáveis, como
São Alberto Magno, e tendo por condiscípulos
São Tomás de Aquino e
São Boaventura, grandes nomes do cristianismo. Lá estuda
medicina e
teologia, dedicando especial atenção a palestras de
dialética,
lógica e sobretudo a
física e
metafísica de
Aristóteles.
Entre
1246 e
1252 ensinou
medicina na Universidade de
Siena, onde escreveu algumas obras, de entre as quais se destaca o Tratado
Summulæ Logicales que foi o manual de referência sobre
lógica aristotélica durante mais de trezentos anos, nas universidades europeias, com 260 edições em toda a
Europa, traduzido para
grego e
hebraico.
Prova da sua vastíssima cultura científica encontra-se na obra
De oculo, um tratado de
Oftalmologia, que conhece ampla difusão nas universidades europeias. Quando
Miguel Ângelo adoece gravemente dos olhos, devido ao árduo labor consumido na decoração da
Capela Sistina,
encontra remédio numa receita de Pedro Julião. De sua autoria, o
‘Thesaurus Pauperum’ (Tesouro dos pobres), em que trata de várias
doenças e suas curas, com cerca de uma centena de edições e traduzido
para 12 línguas.
Já no domínio da
Teologia, é autor de
Comentários ao pseudo-Dionísio e
Scientia libri de anima. Encontra-se por publicar a obra
De tuenda valetudine, manuscrita em Paris, dedicada a
Branca de Castela, esposa do rei
Luís VIII de França, filha de
Afonso IX de Castela.
Antes de
1261, ano em que é eleito decano da
Sé de Lisboa, Pedro Julião ingressa no
sacerdócio. O rei
Afonso III de Portugal confia-lhe o
priorado da
Igreja de Santo André (Mafra) em
1263, posto o que é elevado a
cónego e
deão da Sé de Lisboa,
Tesoureiro-mor na
Sé do Porto e Dom
Prior na
Colegiada Real de Santa Maria de Guimarães.
Após a morte de Dom
Martinho Geraldes, Pedro Julião é nomeado
Arcebispo de
Braga pelo Papa
Gregório X, em
1273. Um ano depois, participa no
XIV Concílio Ecuménico de Lião, altura em que Gregório X o eleva a
Cardeal-
bispo com o título de
Tusculum-Frascati, da
Diocese suburbicária de
Frascati, o que permite ao pontífice poder contar com os serviços médicos do sábio português. Regressa ao
Arcebispado de Braga, até ser nomeado o sucessor,
Dom Sancho. De volta à corte pontifícia, Gregório X nomeia-o seu médico principal (
arquiathros) em
1275.
A eleição de Pedro Julião, em
conclave realizado em
Viterbo, após a morte do
Papa Adriano V, a
18 de agosto de
1276,
decorre num período muito perturbado por tensões políticas e religiosas
e com alguns cardeais a sofrer violências físicas. É eleito Papa a
13 de setembro e coroado a
20 de setembro de
1276, e adota o nome de João XXI.
Brasão de armas do Papa João XXI
João XXI irá marcar o seu breve pontificado (de pouco mais de 8 meses) pela fidelidade ao
XIV Concílio Ecuménico de Lião.
Apressa-se a mandar castigar, em tribunal criado para o efeito, os que
haviam molestado os cardeais presentes no conclave que o elegera.
Embora sem grande sucesso, leva por diante a missão encetada por Gregório X de reunir a
Igreja Grega à
Igreja do Ocidente. Esforça-se por libertar a
Terra Santa em poder dos
turcos.
Tenta reconciliar grandes nações europeias, como
França,
Alemanha e
Castela, dentro do espírito da unidade cristã. Neste sentido, envia legados a
Rodolfo de Habsburgo e a
Carlos de Anjou, sem sucesso.
Pontífice dotado de rara simplicidade, recebe em audiência tanto os ricos como os pobres.
Dante Alighieri, poeta italiano (1265-1321), na sua famosa ‘
Divina Comédia’, coloca a alma de João XXI no
Paraíso,
entre as almas que rodeiam a alma de São Boaventura, apelidando-o de
"aquele que brilha em doze livros", menção clara a doze tratados
escritos pelo erudito pontífice português. O rei castelhano
Afonso X de Leão e Castela, o Sábio, avô de
D. Dinis de Portugal,
elogia-o em forma de canção no "Paraíso", canto XII. Mecenas de
artistas e estudantes, é tido na sua época por 'egrégio varão de
letras', 'grande filósofo', 'clérigo universal' e 'completo cientista
físico e naturalista'.
Mais dado ao estudo que às tarefas pontifícias, João XXI delega no Cardeal Orsini, o futuro Papa
Nicolau III, os assuntos correntes da
Sé Apostólica. Ao sentir-se doente, retira-se para a cidade de
Viterbo, onde morre a
20 de maio de
1277,
com 51 anos, vitimado pelo desmoronamento das paredes do seu aposento,
estando o palácio apostólico em obras. É sepultado junto do altar-mor da
Catedral de São Lourenço,
naquela cidade. No século XVI, durante os trabalhos de reconstrução do
templo, os seus restos mortais são trasladados para modesto e ignorado
túmulo, mas nem aqui encontraram repouso definitivo. Através do
contributo da Câmara Municipal de
Lisboa, por
João Soares, então seu presidente, o mausoléu é colocado, a título definitivo, ao lado do Evangelho de
Catedral de Viterbo, a
28 de março de
2000.