Em seguida à derrota frente à Índia, Yahya Khan demitiu-se do cargo de presidente em favor de Zulfikar Ali Bhutto, do Partido Popular Paquistanês (PPP), conformando-se então o retorno dos civis à alta administração do país. Em 1973, adotou-se uma nova constituição, de modelo federalista.
A figura presidencial tornou-se principalmente simbólica, com os
poderes do Estado transferidos para o primeiro-ministro, para cujo cargo
a Assembleia Nacional elegeu Bhutto.
Desde 1972, Bhutto dera início a um vasto programa de nacionalizações, principalmente das indústrias de base, e a um ambicioso projeto de reforma agrária. Todos os bancos foram nacionalizados em janeiro de 1974.
Os militares foram alijados dos cargos de decisão política mas o
orçamento destinado à defesa nacional foi ampliado para 6 por cento do
PIB. Não obstante, as iniciativas de Bhutto geraram descontentamento, em
especial entre os empresários, ressentidos com as nacionalizações, e
entre os religiosos, que rejeitavam a política de tendência socialista.
Em 1972, o serviço de informações paquistanês descobriu que a Índia estava perto de desenvolver uma bomba nuclear;
em reação, Bhutto formou um grupo de engenheiros com o propósito de
fazer o mesmo. Em 1974, após o teste nuclear indiano, Bhutto prometeu
que o Paquistão teria a sua bomba "mesmo que tenhamos que comer capim e
folhas". Durante o governo Bhutto, uma séria revolta ocorrida no Baluchistão foi reprimida com o auxílio presumido do xá do Irão, temeroso de que a rebelião contaminasse o Sistão-Baluchistão iraniano.
Nas eleições gerais de 1977
- o segundo pleito geral da história do Paquistão - nove partidos de
oposição aliaram-se contra o PPP. O resultado, porém, favoreceu o o
partido de Bhutto, que elegeu 150 deputados numa Assembleia de 200
assentos. A oposição contestou violentamente os resultados, que teriam
sido marcados, alegava, pela fraude e coação. Estalaram então
manifestações e distúrbios no país.
Frente a esta situação, o General Muhammad Zia-ul-Haq decidiu impor a lei marcial no Paquistão, em 5 de julho de 1977.
Regime militar Zia (1977-1988)
Ali Bhutto foi preso, julgado e condenado à morte pelo suposto assassinato de um rival político do PPP. Apesar dos apelos do Ocidente, o ex-primeiro-ministro foi enforcado em 1979.
Apesar de afirmar inicialmente que a sua permanência no poder seria
temporal, até que o Paquistão recuperasse a estabilidade interna, Zia
adiou indefinidamente eleições e terminou por decretar a dissolução dos partidos políticos.
Os partidos de centro e de esquerda, por inspiração do PPP, criaram o
Movimento pela restauração da democracia (MRD) em 6 de outubro de 1981, exigindo o fim da lei marcial, novas eleições e o restabelecimento da constituição de 1973.
O governo Zia reprimiu com severidade protestos da oposição civil e empreendeu uma paulatina islamização
da sociedade paquistanesa, no que foi apoiado pelos partidos
tradicionais e opositores do laicismo implementado por Bhutto. Pouco a
pouco, instituíram-se impostos de origem religiosa, como a esmola obrigatória exigida pelo Alcorão. Criou-se um tribunal federal para aplicar a sharia. A blasfémia contra Maomé passou a ser punível com a pena de morte. A chamada Majlis-i-Shoora substituiu a Assembleia Nacional em 1980, perdendo suas funções legislativas para tornar-se um conselho do presidente. A língua árabe e os estudos islâmicos passaram a ser matérias obrigatórias na maior parte dos estabelecimentos de ensino superior. Os media
também foram incluídos neste processo, com a instalação de jornais
televisivos em árabe, a exigência de que as apresentadoras cobrissem a
cabeça e a difusão pela televisão da chamada à oração islâmica. No exército,
patentes do oficialato são conferidas a teólogos.
Embora a islamização do país desagradasse os Estados Unidos, a
Casa Branca seguiu ajudando financeiro ao regime de Zia, já que o
Paquistão era um dos principais aliados dos norte-americanos durante a Guerra Fria. O governo paquistanês deu suporte aos guerrilheiros mujahedins afegãos contra o regime pró-soviético em Cabul. Desde 1979, quando as forças soviéticas invadiram o Afeganistão, Zia tornou-se um dos principais opositores da ocupação no país vizinho.
Em 19 de dezembro de 1984, um referendo
convocado por Zia sobre a sua política de islamização, boicotado pelo
MRD, deu 97,7% de votos favoráveis ao governo - ante uma participação de
62,1% do eleitorado. No mesmo pleito, Zia foi eleito para o cargo de
presidente por um período de cinco anos.
Restauração de uma ordem constitucional
Em 25 de fevereiro de 1985, ocorreram as primeiras eleições legislativas no país, também boicotadas pelo MRD, desde 1977,
e no final desse ano, Zia suspendeu a lei marcial. Essas eleições
permitiram a restauração de uma Assembleia Nacional dotada de poderes legislativos. Zia nomeou Muhammad Khan Junejo
para o cargo de primeiro-ministro. Apesar de esforços, Junejo não
conseguiu reformar o sistema político, fortemente controlado por Zia. As
tensões acerca da questão afegã aumentavam entre o Presidente Zia e o Primeiro-Ministro Junejo.
A evolução democrática do regime pode ser explicada pelas
pressões americanas que acompanhavam o auxílio financeiro. Entrementes, o
êxodo maciço de civis afegãos para o Paquistão deu origem a enormes
dificuldades para um país de economia precária e de organização política
instável. Junejo tentou consolidar um consenso nacional, ao consultar o
conjunto das forças políticas paquistanesas, inclusive Benazir Bhutto,
que sucedera ao pai à frente do PPP. Esta movimentação não contava,
porém, com a aprovação de Zia, que acabou por demitir o governo Junejo
e, em seguida, a dissolver os parlamentos federais e provinciais.
Morte de Zia
Em 29 de maio de 1988,
Zia endureceu o regime novamente, com a dissolução da Assembleia
Nacional e a destituição do primeiro-ministro Muhammad Khan Junejo,
tendo o próprio Zia assumido o posto. Em 15 de junho, o ditador decretou a adoção da sharia (lei islâmica). Em 17 de agosto, o avião em que viajavam Zia, o embaixador dos Estados Unidos e outras 28 pessoas, foi sabotado e caiu, minutos depois de descolar do aeroporto de Bahawalpur.