O Infante D. Pedro no Padrão dos Descobrimentos
Pedro foi, desde a nascença, um dos filhos favoritos de João I, que lhe
proporcionou uma educação esmerada e excecional numa era em que os
grandes senhores eram pouco mais, senão mesmo, analfabetos. Muito
próximo dos irmãos
Duarte e
João, Pedro cresceu num ambiente tranquilo e livre de intrigas. Em
1415, acompanha o pai na
conquista de Ceuta
e é feito cavaleiro no dia seguinte à tomada da cidade, na recém
consagrada mesquita. É nesta altura que lhe é conferido o Ducado de
Coimbra, tornando-se, com o irmão
Henrique, nos dois primeiros duques criados em Portugal.
Em
1429, Pedro casa com a princesa
Isabel de Aragão,
condessa de Urgel, em determinada altura herdeira de
Aragão,
com quem constitui, segundo as fontes, uma união de amor. Na morte de
Duarte, seu Rei e irmão mais velho, Pedro é preterido na regência de
Afonso V de Portugal
a favor da rainha mãe, Leonor de Aragão. A escolha do falecido rei não
era, no entanto, popular e a fação opositora de Leonor em breve saiu
às ruas. Um motim em
Lisboa foi evitado
in extremis, convocando-se uma reunião das
cortes para normalizar a situação (
Cortes de 1439). O resultado do encontro foi a nomeação de Pedro para a regência do pequeno Rei (dezembro de
1439), deixando a classe média de burgueses e mercadores deveras satisfeita. No entanto, dentro da aristocracia, em particular
D. Afonso, conde de Barcelos
(meio irmão de Pedro), preferia-se a mais maleável Leonor de Aragão e
desconfiava-se do valor do Infante. Começa então uma guerra surda de
influências e Afonso consegue transformar-se no tio favorito de D.
Afonso V.
Em
1443, num gesto de reconciliação, Pedro torna o meio irmão Afonso no primeiro
duque de Bragança
e as relações entre os dois parecem regressar à normalidade.
Indiferente às intrigas, Pedro continua a sua regência e o país prospera
sob a sua influência. É durante este período que se concedem os
primeiros subsídios à exploração do
oceano Atlântico, organizada pelo Infante D. Henrique.
Finalmente, a
9 de junho de
1448,
Afonso V atinge a maioridade e Pedro entrega o controlo de Portugal ao
Rei, verificando-se o grau de influência do Duque de Bragança sobre
Afonso. A 15 de setembro, Afonso V anula todos os éditos de Pedro,
começando, contra si próprio, pelos que determinavam a concentração do
poder na pessoa do rei. A única coisa que Afonso parece não aceitar é a
separação da rainha Isabel, por muito a estimar. No ano seguinte, sob
acusações que haveria mais tarde de descobrir falsas, Afonso V declara o
infante Pedro um rebelde. A situação torna-se insustentável, e começa
uma breve guerra civil, pois a
20 de maio de
1449 ocorreu a
batalha de Alfarrobeira, no
Forte da Casa, perto de
Alverca,
durante a qual o infante morreu. As condições exatas da sua morte
continuam a causar debate: aparentemente Pedro morreu em combate, mas a
hipótese de um assassínio disfarçado na batalha nunca foi descartada.
Com a morte de Pedro, Portugal caiu nas mãos de Afonso, 1º Duque de
Bragança, com cada vez mais poder sobre o rei. No entanto, o período da
sua regência nunca foi esquecido e D. Pedro foi citado muitas vezes
pelo rei D.
João II de Portugal
(seu neto) como sendo a sua maior influência. A perseguição implacável
que D. João II moveu aos Braganças foi talvez em resposta às
conspirações que causaram a queda de um dos maiores príncipes da
Ínclita Geração.
Do seu casamento com D.
Isabel de Aragão, condessa de Urgel, filha de
Jaime II de Urgel e da infanta
Isabel de Aragão e Fortiá, teve os seguintes filhos:
- Pedro de Coimbra (1429-1466), 5º Condestável, de 1463 a 1466 foi aclamado Conde de Barcelona (Pedro IV, rei Pedro V de Aragão, Pedro III de Valência).
- João de Coimbra, Príncipe de Antioquia (1431-1457), casou com Carlota de Lusignan, princesa herdeira do Chipre.
- Isabel de Portugal, rainha de Portugal (1432-1455), rainha de Portugal pelo seu casamento com D. Afonso V.
- Jaime de Portugal (1434-1459), cardeal e arcebispo de Lisboa.
- Beatriz de Coimbra (1435-1462), casou com Adolfo de Clèves, senhor de Ravenstein.
- Filipa, infanta de Portugal (1437-1493), solteira, tia de D. João II, a quem criou e a quem serviu de segunda mãe.
Bandeira pessoal do Infante D. Pedro com a divisa: «Désir»
D. Pedro no Painel dos Cavaleiros, no
políptico de S. Vicente
D. Pedro, Regente de Portugal
Claro em pensar, e claro no sentir,
É claro no querer;
Indiferente ao que há em conseguir
Que seja só obter;
Dúplice dono, sem me dividir,
De dever e de ser —
Não me podia a Sorte dar guarida
Por eu não ser dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
Calmo sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo mais é com Deus!
in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa