Nascido no número 13 da Rua da Saudade, no bairro típico de
Alfama,
passou a sua infância e juventude em Lisboa, recordações que marcarão a
sua futura obra. Ainda em Lisboa viria a formar-se em Direito em 1924.
Todavia, nunca exerceria de forma sistemática profissão nesta área,
tendo consagrado a sua vida à Literatura e à Pedagogia. Neste último
campo viria a licenciar-se em
1933 em Ciências Pedagógicas na
Universidade de Bruxelas, tendo posteriormente dirigido, com
Raul Brandão, um conjunto inacabado de
Leituras Primárias, obra que nunca viria a ser aprovada pelo governo.
Herdando do pai, um imigrante galego, as ideias republicanas e progressistas, cedo entrou em conflito com o
Estado Novo, o que acabaria por o levar ao exílio para os
Estados Unidos da América
a partir de 1935. Desde essa altura até à sua morte apenas voltaria
pontualmente a Portugal, não passando no seu país natal períodos
superiores a dois anos. Em 1942 viria a adquirir a nacionalidade
americana. Um ano antes do seu falecimento foi agraciado com a
Ordem Militar de Santiago da Espada, no Grau de Grande Oficial.
Mário Neves publicou uma biografia sua em 1990.
José Rodrigues Miguéis pertenceu ao chamado grupo
Seara Nova, ao lado de grandes autores como
Jaime Cortesão,
António Sérgio,
José Gomes Ferreira,
Irene Lisboa ou
Raul Proença. Colaborou em diversos jornais como O Diabo, Diário Popular, Diário de Lisboa e República. Foi, juntamente com
Bento de Jesus Caraça, diretor de
O Globo, semanário que viria a ser proibido pela censura em 1933. Nos Estados Unidos viria a trabalhar como tradutor e redator das
Seleções do Reader's Digest. Segundo os linguistas
Óscar Lopes e
António José Saraiva, a sua obra pode ser considerada como realismo ético, sendo claras as influências de autores como
Dostoiévsky ou o seu amigo Raul Brandão. De resto, parecem claras nas suas primeiras obras as influências estéticas da
Presença,
podendo ler-se nas entrelinhas das suas obras simpatias com as
temáticas neo-realistas portuguesas (há mesmo quem afirme que José
Rodrigues Migueis tenha aderido ao partido comunista). Tem obras
traduzidas em inglês, italiano, alemão, russo, checo, francês e polaco.
Em 1961 foi eleito membro da Hispanic Society of América e, em 1976, tornou-se membro da Academia das Ciências de Lisboa. Em 1979 foi agraciado com a Ordem Militar de Santiago da Espada, com o grau de Grande Oficial.
Obras- Páscoa feliz (Novela), 1932;
- Onde a noite se acaba (Contos e Novelas), 1946;
- Saudades para Dona Genciana (Conto), 1956;
- O Natal do clandestino (Conto), 1957;
- Uma aventura inquietante (Romance), 1958;
- Léah e outras histórias (Contos e Novelas), 1958;
- Um homem sorri à morte com meia cara (Narrativa), 1959;
- A escola do paraíso (Romance), 1960;
- O passageiro do Expresso (Teatro), 1960;
- Gente da terceira classe (Contos e Novelas), 1962;
- É proibido apontar. Reflexões de um burguês - I (Crónicas), 1964;
- A Múmia, 1971;
- Nikalai! Nikalai! (Romance), 1971;
- O espelho poliédrico (Crónicas), 1972;
- Comércio com o inimigo (Contos), 1973;
- As harmonias do "Canelão". Reflexões de um burguês - II (Crónicas), 1974;
- O milagre segundo Salomé, 2 vols. (Romance), 1975;
- O pão não cai do céu (Romance), 1981;
- Passos confusos (Contos), 1982;
- Arroz do céu (Conto), 1983;
- O Anel de Contrabando, 1984;
- Uma flor na campa de Raul Proença, 1985;
- Idealista no mundo real, 1991;
- Aforismos & desaforismos de Aparício, 1996.