Início
Gilberto Gil nasceu no bairro do
Tororó, em Salvador, na Bahia. O seu pai, o médico José Gil Moreira e a sua mãe Claudina, em busca de uma vida melhor, mudam do bairro pobre da capital baiana para o interior do Estado, para Vitória da Conquista, à época um grande cidade do interior com cerca de algumas dezenas de milhares de habitantes, onde hoje há uma edifício enorme batizado com o nome do pai do Gilberto Gil. Ali, Gil passou ali os primeiros oito anos de vida. Deste período o artista regista a influência das músicas ouvidas, sobretudo no rádio:
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…os meus primeiros momentos de ouvir música, tudo se passou numa época em que Luiz Gonzaga, principalmente lá no Nordeste, onde eu vivia, lá na caatinga, era praticamente o canto mesmo da região…
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Com oito anos volta para Salvador, onde estuda no Colégio Maristas, e frequenta uma academia de
acordeão. Quando estava no secundário, recebeu da mãe uma viola e conhece o trabalho de
João Gilberto, que o influencia de imediato.
Formou-se em
1965 e muda-se, com a esposa Belina, para
São Paulo.
Carreira
Anos 60 e 70
Em fins de
1968, Gil e Caetano Veloso, cuja importância no
Brasil era, e é, de certa forma comparável à de
John Lennon e
Paul McCartney no mundo
anglófono, foram presos pelo
regime militar brasileiro instaurado após
1964 devido a supostas
atividades subversivas, de que foram taxados. Ambos exilaram-se por ocasião do AI-5 (Ato Institucional 5) do governo militar em vigência no Brasil a partir de
1969 em
Londres.
Nos
anos 1970 iniciou uma turnê pelos
Estados Unidos e gravou um álbum em inglês. De volta ao Brasil, em
1975 Gil grava
Refazenda, um dos mais importantes trabalhos que, ao lado de
Refavela, gravado após uma viagem ao continente africano, e
Realce, formariam uma trilogia
RE.
Refavela traria a canção "Sandra", onde, de forma metafórica, Gil falaria sobre a experiência de ter sido preso por porte de drogas durante um excursão ao sul do país e ter sido condenado à permanência em manicómio judiciário, ou conforme denominação eufemística, casa de custódia e tratamento, entretanto designada por Gil como
hospício.
Fecho da trilogia,
Realce, apesar de trazer em uma de suas faixas um dos mais belos e marcantes sucessos de Gil,
Superhomem (influenciado pelo lançamento, um ano antes, do filme
Superman), causaria certa polémica quando alguns considerariam a canção título, inspirada na
disco music, como uma ode ao uso de cocaína, isto talvez explicitado pelos versos:
realce, quanto mais purpurina melhor.
Ao lado dos colegas Caetano Veloso e Gal Costa, lançou o disco
Doces Bárbaros, do grupo batizado com o mesmo nome e idealizado por
Maria Bethânia, que era um dos vocalistas da banda. O disco é considerado uma obra-prima; apesar disto, na época do lançamento (
1976) foi duramente criticado.
Doces Bárbaros foi tema de filme,
DVD e enredo da
escola de samba GRES Estação Primeira de Mangueira em
1994, com o enredo
Atrás da verde-e-rosa só não vai quem já morreu, puxadores de
trio elétrico no carnaval de Salvador, apresentaram-se na praia de
Copacabana e para a Rainha da
Inglaterra. O quarteto
Doces Bárbaros era uma típica banda
hippie dos
anos 70.
Inicialmente o disco seria gravado em
estúdio, mas, por sugestão de Gal e Bethânia, foi o espetáculo que ficou registado em
disco, sendo quatro daquelas
canções gravadas pouco tempo antes no
compacto duplo de estúdio, com as canções "Esotérico", "Chuckberry Fields Forever", "São João Xangô Menino" e "O seu amor", todas gravações raras.
Festivais
A primeira apresentação de Gilberto Gil em São Paulo ocorreu em
1965 quando cantou a música "Iemanjá", no V Festival da Balança, festival universitário de música promovido pelo Diretório Acad
émico João Mendes Jr., da Faculdade de Direito da
Universidade Mackenzie. O Festival, organizado pelo estudante de Direito Manoel Poladian, que mais tarde viria tornar-se produtor musical, foi gravado pela gravadora
RCA, e trata-se da primeira gravação em disco de Gilberto Gil e também de Maria Bethânia, que participou do Festival com a música
Carcará, o primeiro grande sucesso
radiofónico, que a tornou nacionalmente conhecida.
Tropicalismo
Quando se realizou o III
Festival de Música Popular Brasileira, produzido pela
Rede Record, apareceram várias composições que tiveram enorme êxito junto do público brasileiro e entre elas estavam
Domingo no Parque, de Gilberto Gil e
Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, que seriam o carro-chefe do tropicalismo, surgido "mais de uma preocupação entusiasmada pela discussão do novo do que propriamente como movimento organizado".
Segundo Celso F. Favaretto, em seu livro "Tropicália - Alegria, Alegria":
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O procedimento inicial do tropicalismo inseria-se na linha de modernidade: incorporava o caráter explosivo do momento às experiências culturais que vinham se processando; retrabalhava, além disso, as informações então vividas como necessidade, que passavam pelo filtro da importação. Este trabalho consistia em redescobrir e criticar a tradição, segundo a vivência do cosmopolitismo dos processos artísticos, e a sensibilidade pelas coisas do Brasil.
O que chegava, seja por exigência de transformar as linguagens das diversas áreas artísticas, seja pela indústria cultural, foi acolhido e misturado à tradição musical brasileira. Assim, o tropicalismo definiu um projeto que elidia as dicotomias estéticas do momento, sem negar, no entanto, a posição privilegiada que a música popular ocupava na discussão das questões políticas e culturais. Com isto, o tropicalismo levou à área da música popular uma discussão que se colocava no mesmo nível da que já vinha ocorrendo em outras, principalmente o teatro, o cinema e a literatura. Entretanto, em função da mistura que realizou, com os elementos da indústria cultural e os materiais da tradição brasileira, deslocou tal discussão dos limites em que fora situada, nos termos da oposição entre arte participante e arte alienada. O tropicalismo elaborou uma nova linguagem da canção, exigindo que se reformulassem os critérios de sua apreciação, até então determinados pelo enfoque da crítica literária. Pode-se dizer que o tropicalismo realizou no Brasil a autonomia da canção, estabelecendo-a como um objeto enfim reconhecível como verdadeiramente artístico.
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- Celso F. Favaretto
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Tropicália,
canção de Caetano Veloso, é um autêntico exemplo da verdadeira revolução operada na estrutura letrista da canção popular e da necessidade de se reestudar então os critérios de avaliação e compreensão da nova linguagem utilizada.
Em confronto com a Bossa Nova, o tropicalismo teve como preocupação principal os problemas sociais do país, aliada a uma ideologia libertadora, a um inconformismo diante da maneira de viver do povo brasileiro, o que gerou uma crescente onda de participação popular, em face dos agravantes problemas por que sofria a nação. Já a Bossa Nova quis mostrar uma nova concepção musical, calcada na versatilidade que a música brasileira oferece.
Os responsáveis diretos pelo tropicalismo,
Caetano Veloso, Gilberto Gil,
Torquato Neto,
Tom Zé,
Rogério Duprat e outros, sem dúvida alguma, deram um salto a mais na modernização da música popular, buscando formas alternativas de composição e explorando uma concepção artística de mudança radical, dentro de um clima favorável. Foi impressionante sua importância nesse sentido, pois, sendo o último grande movimento realizado no país, deixou marcas que seriam cultivadas com o amadurecimento de seus próprios criadores e daqueles que seguiram sua linha de pensamento.
Caetano Veloso e Gilberto Gil, líderes do tropicalismo, também estavam entre aqueles que tiveram cerceadas suas carreiras no Brasil, em seu período mais repressivo. Através de músicas de protesto e do próprio tropicalismo, lançaram a semente da consciencialização e agitaram a opinião pública, sendo então enquadrados na lei de segurança nacional e expulsos do país. Seguiram para Londres, onde, segundo alguns fãs, viveram uma de suas melhores fases, no setor artístico. Compondo em inglês, conquistaram facilmente o público europeu; livres da influência da repressão, puderam deixar fluir em suas composições toda liberdade de expressão a que tinham direito. Somente retornariam ao solo pátrio, em 1972. Apresentando-se no programa Som Livre Exportação, declararam publicamente que continuariam trabalhando em prol da música popular brasileira.
Anos 80
Trabalhou com
Jimmy Cliff com quem fez, em
1980, uma excursão, pouco depois de ter feito uma versão em português de "No Woman, No Cry" (em português, "Não chores mais") sucesso de
Bob Marley & The Wailers, que foi um grande sucesso, trazendo a influência musical do
reggae para o
Brasil.
Originalmente idealizado para a montagem do
ballet teatro do
Balé Teatro Guaíra (
Curitiba,
1982), o espetáculo
O Grande Circo Místico foi lançado em
1983. Gil integrou o grupo seleto de intérpretes que viajou o país durante dois anos com o projeto, um dos maiores e mais completos espetáculos teatrais já apresentados, para uma plateia de mais de duzentas mil pessoas. Gil interpretou a canção "Sobre todas as coisas" composta pela dupla Chico Buarque e
Edu Lobo. O espetáculo conta a história de amor entre um
aristocrata e uma
acrobata e da saga da grande família austríaca proprietária do
Grande Circo Knie, que vagava pelo mundo nas primeiras décadas do século.
Valendo-se ainda do filão engajado da pós-ditadura, cantou no coro da versão brasileira de "
We Are the World", o
hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a
África ou
USA for Africa. O projeto
Nordeste Já (
1985), abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num
compacto simples, de criação coletiva, com as canções "Chega de Mágoa" e "Seca d'Água"; é de Gil a autoria da composição de "Chega de Mágoa". Elogiado pela competência das interpretações individuais, foi no entanto criticado pela incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada uma delas no coro.
Dentre as inúmeras composições consagradas pelo próprio Gil e na voz de outros intérpretes, estão: "Procissão", "Estrela", "Vamos Fugir", "Aquele Abraço", "
A Paz", "Sítio do Pica-Pau Amarelo", "Esperando na Janela", "Domingo no Parque", "Drão", "Só Chamei Porque Te Amo", "Não Chores Mais [Woman No Cry]", "
Andar com Fé", "Se Eu Quiser Falar com Deus", "Divino Maravilhoso", "A Linha e o Linho", "Com Medo com Pedro", "Objeto Sim Objeto Não", "Ela", "Pela Internet", "A Novidade", "Morena", "A Raça Humana", "Palco", "Realce", e outras.
Política
Entretanto, permaneceu no cargo de ministro por cinco anos e meio. Deixou o ministério em
30 de julho de
2008, para voltar a dedicar-se com mais exclusividade à sua vida artística. Em
28 de agosto, participou da tomada de posse oficial do seu sucessor no ministério,
Juca Ferreira.
| Ele teve uma recaída e quer voltar a ser um grande artista. Gil não é imprescindível apenas para a política. |
— Presidente Lula ao comentar a saída de Gil do Ministério
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Liberdade digital
Gilberto Gil é um dos principais defensores do
Software Livre e da
Liberdade Digital. Em 29 de janeiro de 2005, durante um debate sobre
Software Livre no
Fórum Social Mundial 2005, foi muito aplaudido após defender o
Software Livre e a Liberdade Digital. Algumas de suas palavras neste debate:
| A batalha do software livre, da Internet livre e das conexões livres vão muito além delas, de seus interesses. É a mais importante, e também a mais interessante, e a mais atual das batalhas políticas. Claro que há uma revolução francesa, ou várias revoluções francesas, a fazer no planeta, seja dentro dos países, seja no comércio internacional. Ainda nos defrontamos não apenas com discursos do século XIX, mas também com realidades do Século XIX. Mas não podemos secundarizar o presente. E o futuro. |
— Gilberto Gil
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| Não se trata de um movimento "anti", mas de um movimento "pro", ou seja, a favor da valorização e da disseminação de uma nova cidadania global, da capacidade de autodeterminação das pessoas, de novas formas de interação e articulação, da liberdade real de produção e difusão da subjetividade, da busca do saber, da informação, do exercício da sensibilidade e da coletividade. E como estou valorizando o lado "pro" do Fórum, quero propor a vocês a constituição imediata, a partir deste encontro, de uma convocação global pela liberdade digital da humanidade, complementar à convocação global pela erradicação da pobreza lançada por diversas ONGs neste Fórum e abraçada pelo presidente Lula. Sejamos corajosos e substantivos em relação a isso. |
— Gilberto Gil
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Todo esse movimento visa uma mudança de comportamento social muito maior que repensa a forma como são tratados os
direitos de autor hoje.
Lembrando que Gilberto Gil participou recentemente num disco livre, promovido mundialmente pela
Creative Commons com a música
Oslodum.
Em
11 de março de
2007, o jornal
americano The New York Times dedicou uma notícia aos esforços de Gilberto Gil em relação a "flexibilizar os direitos de autor". A matéria, intitulada
Gilberto Gil Hears the Future, Some Rights Reserved (
Gil ouve o futuro, com alguns direitos reservados) elogia o trabalho do
Ministro da Cultura quanto à aliança formada com a
Creative Commons em 2003, uma de suas primeiras ações como Ministro. "Minha visão pessoal é que a cultura digital traz consigo uma nova ideia de
propriedade intelectual, e que esta nova cultura de compartilhamento pode e deve informar políticas governamentais.", disse Gil.
Vida pessoal
Em 2009, o cantor obteve a cidadania
italiana, por se ter casado com
Flora Giordano, neta de italianos. O cantor é pai de 7 filhos: da cantora
Preta Gil, de Pedro Gil (falecido em 1990, devido a um acidente de carro), Nara, Marília, Maria, Bem, Isabela e José.