Batizada Maria Izildinha, em homenagem à Santa
Menina Izildinha, descende de italianos de
Nápoles, é paulistana do
bairro do
Brás, típico reduto de
imigrantes italianos. De formação musical erudita, dos 5 aos 17 anos de idade, estudou
piano e
canto; em 1973 mudou-se para a Salvador (
Bahia) com o irmão,
José Possi Neto, prestou
vestibular para a
Faculdade de
composição e
regência (
UFBA). Após dois anos de curso, abandonou a faculdade e iniciou-se num curso de
teatro, na mesma época em que participou da montagem do
musical Marilyn Miranda. Em um projeto para a prefeitura soteropolitana, trabalhou como professora de música para crianças - filhos de
prostitutas no
Pelourinho - gravou
jingles comerciais e participou de especiais da televisão local. O irmão deixou o Brasil quando ganhou uma bolsa de trabalho para
Nova York, e Zizi agora sozinha na Bahia, rumava para o
Rio de Janeiro: "Quando vi o avião sumindo no ar, entendi que minha vida estava por minha conta. Me deu uma solidão… E percebi que a Bahia já não fazia mais esse sentido todo para mim. Meu irmão já não estava mais lá e, profissionalmente, eu já tinha feito tudo que podia”.
Em 1978, já morando no
Rio de Janeiro, sobrevivia fazendo tradução do
italiano para o português; até que
Roberto Menescal (então produtor da gravadora
Philips) deixou um recado debaixo da porta, onde morava com mais sete meninas: “Olhei o bilhete e pensei: ‘Esse cara não é da
bossa nova? Será que ele quer que eu também faça
coros para ele? Quando atenderam o telefone era "da Phillips"....e eu pensei: ué, será que o R. Menescal trabalha numa loja de Departamentos?". Zizi assinou contrato com a
gravadora Philips, mais tarde
Polygram (atualmente
Universal Music), que lançaria quase todos os discos. Aos 22 anos, gravou o primeiro
LP,
Flor do Mal (1978), e o primeiro grande sucesso foi a canção
Pedaço de Mim, faixa de um disco de
Chico Buarque, autor da canção interpretada num dueto, que também daria título ao segundo álbum da carreira, datado de
1979, no qual outras duas canções se destacariam: "Nunca" e "Luz e mistério".
Paralelamente ao lançamento do disco e espetáculo
Um Minuto Além (
1981), ganhou o primeiro prémio, de
cantora-revelação pela
Associação Paulista de Críticos de Arte (
APCA),
Dê um Rolê (1984) e
Amor e Música (1987). Os discos nesta época tinham uma linha comercial e as canções para
bandas sonoras de telenovelas atendiam a tendências de mercado, o que caracterizava de uma maneira geral a produção musical dos
anos 80.
Em
1982 gravou a canção que seria um dos maiores sucessos da carreira,
Asa Morena, do disco homónimo. O grande sucesso de
Asa Morena trouxe-lhe o primeiro disco de ouro. Do disco homónimo lançado em
1982, foi um sucesso radiofónico e comercial e considerada uma das 100 canções mais populares do século XX. O cantor e compositor
Gonzaguinha compôs especialmente para a sua voz a canção "Viver, amar, valeu", gravada no mesmo disco.
Originalmente idealizado para a montagem do
ballet teatro do
Balé Teatro Guaíra (
Curitiba,
1982), o espetáculo
O Grande Circo Místico foi lançado em 1983. Zizi integrou o grupo seleto de intérpretes que viajaram o país apresentando a peça, um dos maiores e mais completos espetáculos teatrais já apresentados, para uma plateia de mais de duzentas mil pessoas. Zizi interpretou a canção-tema
O Grande Circo Místico, composta pela dupla Chico Buarque e
Edu Lobo. O espetáculo conta a história de amor entre um
aristocrata e uma
acrobata e a saga da família austríaca proprietária do
Grande Circo Knie, que vagava pelo mundo nas primeiras décadas do século. Edu Lobo é um dos compositores com quem Zizi tem grande afinidade, com uma presença frequente nas obras, a exemplo das trilhas dos musicais
Ópera do Malandro e
Cambaio e dos balés
A dança da meia lua e
O grande circo Místico: "Ela faz disparar o coração das pessoas. Qualquer ideia que a Zizi tiver na vida eu vou sempre querer fazer com ela" (
Edu Lobo).
Valendo-se ainda do filão engajado da pós-ditadura e
feminismo, cantou no coro da versão brasileira de
We Are the World, o
hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a
África com o projeto
USA for Africa. O projeto
Nordeste Já (1985), abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num
compacto, de criação coletiva, com as canções
Chega de mágoa e
Seca d´água. Elogiado pela competência das interpretações individuais, foi no entanto criticado pela incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada uma delas no
coro.
A época foi marcada também por larga exposição da vida pessoal ao lado da cantora e compositora
Ângela Ro Ro; os
media sensacionalistas exploraram o seu relacionamento até à exaustão e a canção "Escândalo" (
Caetano Veloso) foi gravada por Ro Ro sobre o episódio e lançada como faixa-título do disco (
1981).
Em
1986 lançou aquele que foi um dos grandes sucessos,
Perigo, que integrou a banda sonora da novela
Selva de Pedra (
Rede Globo), que a torna extremamente popular em todo o país. Em
1989 lançou aquele que é considerado por muitos, inclusive pela própria cantora
, um dos melhores discos:
Estrebucha Baby - trabalho que marcou o afastamento do padrão comercial radiofónico da época, recebido com frieza e que foi um fracasso comercial
. A época também definiu a saída da gravadora, o fim do casamento de 6 anos com o
produtor musical Líber Gadelha (fundador, em
1997, da gravadora independente
Indie Records) e pai da filha,
Luíza Possi, e o retorno à cidade natal, São Paulo.
O espetáculo temático
Sobre Todas as Coisas permaneceu em cartaz por dois anos e o reportório deste reunia canções consagradas entre outras do repertório do disco anterior. O grande sucesso deste acabou por originar o álbum homónimo, lançado em 1991 pela pequena gravadora
Eldorado, em formato
acústico; os músicos que a acompanham são Marcos Suzano (
percussão), o multi-instrumentista Lui Coimbra (
violoncelo, alternando-se com
violão e
charango), Jether Garotti Júnior e as participações especiais de Alex Meireles e Pier Francesco Maestrini (
piano). Esta ideia soou como inusitada, surpreendente e inovadora à época
.
O CD, relançado em 2006, com uma tiragem limitada de mil cópias, foi um sucesso instantâneo - apesar de não veiculado pela imprensa, pois representou, esteticamente, uma mudança radical e vendeu mais que os discos até então. Concorrendo com
Marisa Monte e
Leny Andrade, por esse álbum ganhou dois prémios: o extinto
Prémio Sharp (atual
Prémio Tim de Música) e pela
APCA, de melhor cantora e melhor CD de
MPB em
1991.
Sobre Todas as Coisas foi reconhecido posteriormente como um
divisor de águas na carreira. Devido ao afastamento da linha comercial e a transferência para essa gravadora independente onde conquistou maior liberdade na escolha do repertório, os trabalhos estavam desacreditados e com baixa expectativa de venda, mas a vendagem surpreendeu e o disco foi muito elogiado pela crítica especializada, onde explorou influências mais densas e teatrais, enquanto o subsequente era mais leve e
jazzístico.
O segundo trabalho nesse caminho foi
Valsa Brasileira (1993), lançado desta vez pela independente
Velas, fundada por
Ivan Lins e o parceiro
Vítor Martins. O reportório trouxe regravações de canções pouco conhecidas de compositores consagrados, com destaque para a faixa-título, de autoria da dupla Chico Buarque e Edu Lobo, tal como fizera com a faixa-título do trabalho anterior, também da dupla de compositores. A partir de então, ambas as canções seriam regravadas em voga por toda a
MPB. Com este álbum, que simulou uma incursão pelos arranjos eletrónicos, conquistou novamente o
Prémio Sharp de melhor disco de
MPB, entrando no
rol das grandes cantoras deste género.
Valsa Brasileira também foi muito elogiado pela crítica especializada, devido ao repertório seletivo, cuidados técnicos e
arranjos apurados. O espetáculo originado deste disco também obteve relevante sucesso, com uma marca personalista e desviando-se do padrão do mercado vigente.
A última obra da
trilogia acústica intitula-se
Mais Simples (
1996), que marca o retorno à mesma gravadora multinacional da qual havia saído sete anos antes e o reportório apresentava canções consagradas e pouco conhecidas da
MPB e do
samba entre outras canções inéditas de compositores novatos e pouco conhecidos. O sucesso de vendagem voltaria quando do lançamento da primeira produção feita totalmente numa língua estrangeira,
Per Amore (1997), no qual interpretou clássicos da música italiana e garantiu à cantora um disco de ouro, um de platina e um duplo de platina. O maior sucesso do disco foi a faixa-título, originalmente gravada pelo
tenor italiano
Andrea Bocelli, que fez parte da trilha sonora da
novela Por Amor, de
Manoel Carlos (
Rede Globo), impulsionando o repertório e as vendas, composto basicamente de canções
napolitanas pouco comerciais. A ideia da gravação surgiu da comemoração das bodas de ouro dos pais, naquele mesmo ano - e também por ser neta de italianos.
Nessa época, apostou numa maior diversificação de presenças nos espetáculos, percorrendo gerações variadas - e conquistou o
Troféu Imprensa de melhor cantora do ano. Devido ao sucesso do primeiro álbum, lançou o segundo álbum em italiano,
Passione (1998), considerado a continuação do anterior, cuja vendagem garantiu novamente um disco de ouro e de platina. A retomada do reportório brasileiro ocorre no álbum seguinte:
Puro Prazer (1999), no qual concretizou um antigo projeto de gravar
voz e
piano. Tendo como destaque a gravação de
Disparada e concorrendo pelo prémio
Grammy Latino com a cantora argentina
Mercedes Sosa, uma das cantoras que maior influência exerceu na carreira
; no entanto, a
colombiana Shakira venceu nas três categorias. O repertório apresentou regravações dos antigos sucessos entre outras canções consagradas e outras inéditas na voz, comemorando os dez anos de parceria entre a cantora e o pianista e maestro Jetther Garotti Júnior.
A pedido de Marcelo Castelo Branco, presidente da
Universal Music, lançou
Bossa, no qual regravou canções nacionais e internacionais, de outros géneros neste estilo. O disco, na
contramão do que a gravadora havia proposto, não teve nenhum lançamento oficial nem qualquer trabalho por parte da empresa para divulgação ou distribuição. As apresentações de lançamento, em São Paulo e Rio de Janeiro, foram financiadas pela própria cantora. Isso causou uma crise com a gravadora
Universal e a cantora solicitou veementemente a saída da empresa, o que ocorreu ao final da temporada na casa de espetáculos
Canecão (RJ, 2002). Esta crise de credibilidade da palavra entre a empresa e a cantora a levou a desistir definitivamente de longos contratos com gravadoras. Por causa de problemas familiares e de um processo de
depressão, afasta-se dos palcos, durante aproximadamente três anos.
Em 2000 a
Universal Music lançou a caixa tripla
Três vezes Zizi, dos discos em italiano e ainda
Puro Prazer, devido ao total de um milhão de cópias que os três venderam em conjunto. Nesse mesmo ano, a gravadora relançou os discos gravados na primeira fase, pela
série Tudo e foi premiada na Itália em 2003 no
Prêmio Carosone Internazionale. O retorno aos palcos ocorreu com o lançamento:
Para Inglês ver e Ouvir (2005) com clássicos da música internacional,
norte-americana e
inglesa. O projeto, surgido com o repertório selecionado pela cantora para atender ao convite da casa paulistana de espetáculos noturnos
Bourbon Street, foi gravado no
Teatro Frei Caneca (São Paulo). Entre os méritos este conta ser o
primeiro disco ao vivo lançado em 27 anos de carreira, o primeiro em inglês e o segundo
DVD lançado, após
Per Amore (originalmente lançado em
VHS em 1998).
Em
2008 lançou
Cantos e Contos na casa paulista
Tom Jazz, comemorando os 30 anos de carreira. As apresentações foram realizadas ao lado de colegas com quem mantém afinidade musical:
Alcione,
Alceu Valença,
João Bosco,
Eduardo Dusek, entre outros; da nova geração a cantora Luíza Possi e
Ana Carolina. Dois anos depois, em
2010 foram lançados pela gravadora
Biscoito Fino, dois DVDs de forma avulsa, que apresentam os 39 números captados em 12 apresentações entre março e maio de 2008.
Em 2011 a
Parada Gay do Rio de Janeiro teve como canção-tema um dos sucessos da carreira, "A Paz".
Carreira - sucessos e influências
Ao longo da carreira consagrou-se como
cantora popular com sucessos como:
Pedação de mim (Chico Buarque), Nunca, Luz e mistério, Meu amigo meu herói (Gilberto Gil), Caminhos do sol (Herman Torres/Salgado Maranhão), Engraçadinha, Eu velejava em você, O amor vem pra cada um (George Harrison/versão Beto Fae), Dê um rolê, Per amor, Perigo (Nico Rezende/Paulinho Lima), Esquece e vem, Noite, A paz, Toda uma história (Zizi Possi/Luiz Avelar) e principalmente
Asa morena (
Zé Caradípia).