O massacre não foi um acidente isolado. Cerca de 5.300 pequenas
localidades bielorrussas foram destruídas pelos nazis e vários dos seus
habitantes executados pelos invasores. Na região de
Vitebsk,
243 vilas foram queimadas por duas vezes, 83 três vezes e
22 vilas foram destruídas mais de três vezes. Na região de
Minsk, 92 vilas foram queimadas duas vezes, 40 delas três vezes, nove quatro vezes e seis vilas cinco ou mais vezes.
No total, cerca de dois milhões de civis foram executados na
Bielorrússia durante os três anos de ocupação nazi, cerca de um quarto
da população total do país.
O Massacre
Em 22 de março de 1943, um comboio militar alemão foi atacado por
membros da resistência, perto da vila de Kozin, a cerca de 6 km de
Khatyn. O ataque resultou na morte de quatro oficiais de polícia do 118º
batalhão
Schutzmannschaft, composto na sua maioria de desertores russos, ex-prisioneiros de guerra e colaboradores ucranianos, comandados pelo
capitão Hans Woellke, morto no atentado. Woellke tinha sido campeão olímpico do
lançamento do martelo nos
Jogos Olímpicos de Berlim, em
1936.
Naquela tarde, reforçado por homens da 36ª Divisão
Waffen Grenadier
da SS, uma unidade composta na sua maioria de ex-criminosos recrutados
para combate anti-guerrilha, o batalhão entrou em Khatyn e retirou
todos os habitantes das suas casas, acordando-as com a ponta de rifles e
colocando-os num grande barracão, que teve as suas portas trancadas,
foi coberto com palha e incendiado. As pessoas aprisionadas do lado de
dentro que tentavam escapar, forçando as portas, eram mortas a tiros de
metralhadora. 140 pessoas, incluindo 75 crianças, foram assassinadas. A
vila foi então saqueada e queimada até o chão.
Apenas três crianças conseguiram escapar do cerco, escondendo-se nas
redondezas. A mais jovem morta tinha apenas sete semanas de vida.
De entre os que foram aprisionados, Viktor Zhelobkovich, um menino de
sete anos, conseguiu sobreviver ferido debaixo do corpo de sua mãe.
Outro, Anton Baranovsky, de 12 anos, foi dado como morto por ter uma
perna ferida e também escapou. O único adulto sobrevivente, Yuzif
Kaminsky, queimado e ferido à bala, recobrou a consciência após os
assassinos terem se retirado. Ele teria encontrado o seu filho no meio
dos corpos, totalmente queimado e ferido, mas ainda vivo, e a criança
morreu nos seus braços. Esse incidente foi depois reproduzido com uma
estátua de ambos, no Memorial de Khatyn.
Julgamentos
No pós-guerra, os perpetradores do massacre foram identificados. O
comandante do batalhão ucraniano, Vasyl Meleshko, foi julgado pelas
autoridades soviéticas, condenado à morte e executado em 1975. O seu
chefe-de-staff, outro ucraniano, Grigory Vassiura, foi julgado em
Minsk, em 1986, e também condenado à morte. O caso e o julgamento do massacre de Khatin não teve um grande noticiário nos
media local, devido ao receio dos soviéticos de provocar uma divisão na unidade entre os povos da
Ucrânia e da Bielorrússia, então duas repúblicas da URSS.
Estátua de Yuzif Kaminsky carregando o seu filho
Memorial
Durante o governo de
Leonid Brejnev na
União Soviética,
uma enorme atenção foi dada a este episódio por parte das autoridades e
da imprensa oficial, possivelmente com a intenção de desviar a atenção
de outro massacre cujas evidências surgiam em outra região de nome
similar, o
Massacre de Katyn, na
Polónia, quando milhares de soldados polacos prisioneiros foram executados pela
NKVD soviética e que começava a tomar o noticiário internacional com as suas descobertas.
Khatyn tornou-se um símbolo do
genocídio
da população civil durante as lutas entre guerrilheiros, tropas
invasores e colaboradores. Em 1969 ele foi nomeado como memorial de
guerra nacional da então
República Socialista Soviética da Bielorrússia. Entre os símbolos mais conhecidos dentro do complexo do memorial, há um monumento com três
bétulas
e uma chama eterna no lugar de uma quarta, que representa um tributo a
um em cada quatro bielorrussos que morreram durante a II Guerra. Há
também uma estátua de Yuzif Kaminsky carregando o seu filho morto e uma
grande parede com
nichos que representam as vítimas dos
campos de concentração,
os maiores deles representando os com mais de 20 mil vítimas. Sinos
tocam a cada 30 segundos, para lembrar a taxa de tempo em que cada vida
de um bielorrusso foi perdida no período de tempo da guerra.
Entre os líderes mundiais que já visitaram o Memorial, encontram-se
Richard Nixon, ex-presidente dos
Estados Unidos,
Fidel Castro de
Cuba,
Rajiv Gandhi ex-primeiro-ministro da
Índia,
Yasser Arafat e
Jiang Zemin, ex-presidente da
China.