segunda-feira, janeiro 17, 2011

Para recordar Torga

Punição de Tântalo - Gioacchino Assereto


TÂNTALO

A que Deus implorar qualquer ajuda,
Se sou eu que fabrico as divindades!
Imagino,
Imagino,
E, de tanto subir, chego ao divino.

Mas nenhum sequioso mata a sede
A beber na miragem de uma fonte.
Grito,
Grito,
E, quanto mais acima, mais aflito.


in DIÁRIO VII - Miguel Torga

Vão vender a vossa mãe...


(imagem daqui)


A roleta sino-árabe de Sócrates

(imagem daqui)

Há negócios que devem ser conhecidos

José Sócrates está nos países árabes com o objectivo reafirmado de promover as exportações nacionais (com ele viajaram 50 empresários) e também para angariar investidores para as empresas portuguesas, sobretudo as públicas que vão ser privatizadas.

O Qatar, ontem, e os Emirados Árabes, hoje e amanhã, são pois, publicamente, mais uma etapa da já tão famosa "diplomacia de negócios", que teve passagens e visitas semelhantes do Brasil à Venezuela, da Líbia à China. Mas, no quadro da actual situação do País, por mais que o primeiro-ministro não queira confirmá-lo, estas suas viagens têm servido igualmente para que o Governo consiga compradores directos para a dívida portuguesa.

Para já, o único caso conhecido oficialmente foi o da China. Depois de o ministro das Finanças se ter recusado sucessivamente a admitir que os chineses nos tinham emprestado dinheiro, foi o próprio vice-presidente do Banco Chinês a confirmá-lo. Ajuda semelhante poderá vir do Brasil. E existirá igual disponibilidade pelo menos da Líbia e, no final da semana, talvez dos países árabes. Estes são os parceiros mais desejáveis para o País fazer frente à grave crise financeira que atravessamos? Seguramente que nem todos eles. Mas são os que temos e é importante que eles existam.

O que está mal neste processo é os contribuintes não só não saberem com quem se está a negociar, mas, sobretudo, a troco de que contrapartidas. Já se sabe que o segredo é a alma do negócio. Mas neste processo de colocação de dívida há sempre um preço a pagar. Os quase 7% que os mercados estão a cobrar-nos são incomportáveis por muito mais tempo. E é preciso perceber se o que estamos a dar em troca aos "países amigos" não terá a médio prazo um custo ainda mais alto.

Os portugueses têm por isso todo o direito de serem informados. A tradição de esconder todas as grandes questões da governação é um mau serviço ao País.


NOTA: acompanhar a leitura do texto com as seguintes músicas:

Aloe Blacc - I Need A Dollar


Gnarls Barkley - Run (I'm A Natural Disaster)

A ética republicana e socialista - versão ex-deputado e boy do PS dono dos colégios GPS


Federação acusa grupo GPS de "ilegalidades diversas”
FENPROF apresenta queixa contra grupo empresarial que detém colégios privados

A Federação Nacional de Professores (FENPROF) vai apresentar uma queixa contra o grupo GPS, que detém vários colégios privados, junto da Autoridade para as Condições de Trabalho, indica um comunicado divulgado hoje.

Na origem da queixa, segundo o comunicado da FENPROF, está o “clima insuportável que se abate sobre os docentes, através da ameaça e da prática de ilegalidades diversas”, como despedimentos, alteração de horários, transferências e utilização ilegal do período experimental para despedir.

A FENPROF adianta que estas situações ocorrem nos colégios Miramar, São Mamede, Santo André, São Cristóvão, Infante Santo, D João V, Monte Redondo ou Quiaios, que pertencem ao grupo GPS, liderado pelo ex-deputado socialista, António Jorge Calvete.

A FENPROF acrescenta que “muitos docentes de estabelecimentos de ensino particular estão a assinar ‘voluntariamente’ declarações em que aceitam que os seus salários sejam reduzidos”, situação que considera “inaceitável” face à “pressão e chantagem latentes que levam os docentes a assinar as declarações, sob ameaça implícita de desemprego”.

Poema de Torga muito actual

A pedido de diversos amigos, o poema de Torga que está na música publicada num post anterior:

(imagem daqui)

Tormenta

Noite medonha, aquela!
O mar, tanto engolia a caravela,
Como a exibia à tona, desmaiada!
No abismo do céu, nem uma estrela!
E a Cruz de Cristo, a agonizar na vela,
Suava sangue sem poder mais nada!

A fúria cega dum tufão raivoso
Vinha das trevas desse Tenebroso
E varria a quimera do convés...
O mastro grande que Leiria deu
Era um homem de pinho, mas caiu
Quando um raio o abriu de lés a lés...

Novo guarda dos rumos da Nação,
O piloto guiava à perdição
Como um pai os destinos do seu lar...
Até que o lar inteiro se desfez.
Até que ao pai chegou também a vez
De fazer uma prece e descansar...

O gajeiro sem gávea, dessa altura
Que a alma atinge ao rés da sepultura,
Olhou ainda a bruma em desafio...
Mas a Sereia Negra que cantava
No coração do mar, tanto chamava,
Que ele deu-lhe aquele olhar cansado e frio.

O naufrágio alargou-se ao mundo inteiro.
E o corpo morto de um herói, primeiro
Cruzado da unidade deste mundo,
No dorso frio duma onda irada,
Mandou aos mortos, com a mão na espada,
Boiar o sonho, que não fosse ao fundo.

in Poema Ibéricos - Miguel Torga

for sale...

Não estava previsto


Eu, se tivesse votado no PS, tenho dúvidas de que tivesse dado o mandato de venda do País a alguns países com que agora nós procuramos ter relações de financiamento. Não estava previsto em nenhum programa de acção eleitoral ou, mais tarde, no programa do Governo a possibilidade de empenhar a palavra política de Portugal perante a China ou qualquer outro país! (...) Não sei se faz sentido quando há, ou pode haver, uma alternativa, que é o recurso ao apoio do Fundo Europeu, ao mecanismo de estabilização financeira. Para mim, há [alternativa]!

João Duque, aqui (via O Cachimbo de Magritte)

A rábula do palhaço pobre e do palhaço rico - versão Sócrates

(imagem daqui)


Público: Sócrates diz que não falou de dívida com as autoridades do Qatar

SIC Online: Luís Amado confirma à SIC que Portugal tenta vender dívida no Qatar

A ética republicana e socialista - versão Central de Compras explicada

(imagem daqui)



No auditório da escola Eça de Queiroz, em Lisboa, surgiram várias críticas ao funcionamento da central. Os professores disseram que há produtos que surgem a preços mais elevados do que os praticados pelas empresas a nível local. Outra das queixas foi a obrigatoriedade de aquisição de elevadas quantidades: por exemplo, as escolas têm de comprar pelo menos 250 folhas de cartolina, de cada cor, por encomenda.
Ver tudo aqui
Algo não está a bater certo. Como é possível que os serviços oferecidos por uma Central de Compras do Estado fiquem mais caros que serviços idênticos contratados directamente pelas escolas?
Será que a resposta está aqui?

in Educação S. A. - post de Reitor

NOTA: vale a pena ler a notícia citada pelo Reitor:





Torga cantado

Torga morreu há 16 anos

(imagem daqui)


Miguel Torga – Adolfo Correia Rocha

S. Martinho de Anta (12.08.1907) – Coimbra (17.01.1995)

Faz hoje 16 anos que este poeta, simultaneamente transmontano, conimbricense e português, nos deixou. 

Mas as suas palavras são eternas.

Já estudante em Coimbra, decidiu adoptar o pseudónimo de Torga. Não escolheu o nome por acaso. A torga, ou urze, é uma planta silvestre, humilde e espontânea, que vive no chão agreste por todo o país, mas particularmente nas serranias dos seus Trás-os-Montes e Alto Douro. Nunca deixará de demonstrar o seu amor pela Natureza, seja ela animal, vegetal ou mineral.

Aqui fica uma amostra do seu lirismo...


Frustração

Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.

in Diário XV - Miguel Torga

domingo, janeiro 16, 2011

E não voltem...!


“Estamos no Qatar para ficar”

O primeiro-ministro José Sócrates prometeu hoje em Doha, na abertura do Fórum Empresarial entre Portugal e Qatar que está no país “para ficar”.
(…)
Esta é uma visita em que o primeiro-ministro está acompanhado por vários ministros, entre os quais Teixeira dos Santos (Finanças), Vieira da Silva (Economia), Luís Amado (Negócios Estrangeiros) e António Mendonça (Obras Públicas e Transportes), em que está previsto encontros bilaterais com os respectivos homólogos nos dois países. Fonte governamental afirmou que esta visita pretende reforçar a presença de empresas portuguesas naquela área do globo de forma a posicionarem-se para o “enorme investimento” que ambos países estão a programar para a próxima década e que culminará com a realização do campeonato do mundo de futebol no Qatar em 2022.
in A Educação do meu Umbigo - post de Paulo Guinote

O nosso (des)governo - quando poupar sai caro...

 (imagem daqui)

Educação: Directores recusam obrigatoriedade de Central de Compras
Escolas chumbam compras a granel

Mais de cem directores de escola chumbaram ontem o modelo de funcionamento da Central de Compras. Os professores classificam a agência centralizada do Ministério da Educação como "um pedregulho" no caminho do ensino.

No auditório da escola Eça de Queiroz, em Lisboa, surgiram várias críticas ao funcionamento da central. Os professores disseram que há produtos que surgem a preços mais elevados do que os praticados pelas empresas a nível local. Outra das queixas foi a obrigatoriedade de aquisição de elevadas quantidades: por exemplo, as escolas têm de comprar pelo menos 250 folhas de cartolina, de cada cor, por encomenda.

O contrato estabelecido pela Direcção Regional de Educação do Alentejo com uma empresa de limpeza, com um preço por hora de 5,6 euros, quando o anterior contrato, a nível local, era de 4 euros/hora foi também criticado. Com a agravante, segundo disse o director de uma escola que quis manter o anonimato, de as funcionárias estarem a ser pagas a dois euros à hora.

No final do encontro, o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Adalmiro Fonseca, referiu que foi aprovada um moção, para que o Ministério da Educação retire a obrigatoriedade do uso da central de compras. Outra das preocupações discutidas no encontro respeita ao projecto de organização do novo ano lectivo, que inclui a redução de créditos horários, o que poderá comprometer a "escola a tempo inteiro", avisou o responsável.

SAÍDAS PARA VENCER AGÊNCIAS

O especialista em administração escolar José Matias Alves apresentou em Lisboa, no encontro da ANDAEP, um estudo no qual são descritas doze saídas possíveis para os professores combaterem as agências centrais do Ministério da Educação, consideradas "em alguns casos como a fonte dos problemas do ensino".

Defende José Matias Alves que a unidade de acção entre as escolas, a busca de aliados entre os municípios, pais e alunos, e o reforço de mecanismo de escuta de diferentes opiniões podem ser algumas das opções para combater o recurso à central de compras. O reforço dos laços de solidariedade a nível local é outra das saídas. Afirmar a legitimidade eleitoral dos directores é outras das ‘armas’ recomendadas pelo especialista em administração escolar.

in CM

Sobre a trapalhada dos graus académicos bolonheses

(imagem daqui)

50 mil licenciados pedem "fim das injustiças criadas por Bolonha"

Se todas as universidades aceitarem a recomendação do Conselho de Reitores, a oferta passará a ser igual: a quem tiver uma licenciatura feita antes da reforma de Bolonha e contar com cinco anos de experiência profissional bastará um semestre de aulas e a defesa pública de um relatório sobre a profissão para conseguir o grau de mestre.

Isto, contudo, é considerado insuficiente pelo Conselho Nacional das Ordens Profissionais (CNOP), que esta semana fez entrar na Assembleia da República uma petição com 49.300 assinaturas. Objectivo: "Acabar de vez com as confusões e com as injustiças criadas com a reforma de Bolonha."

"Explicar a situação não é fácil, porque ela é absurda", afirma Fernando Santo, presidente do CNOP. Segundo diz, tem origem na escolha da designação dos títulos académicos por ocasião da reforma de Bolonha, que visou harmonizar o ensino superior nos países europeus e implicou alterações na duração dos cursos a partir de 2006.

Naquela altura, diz, foram cometidos dois "erros propositados que afectaram centenas de milhares de pessoas já licenciadas". Começou, diz, com a atribuição das mesmas designações – licenciatura e mestrado – aos graus obtidos antes e depois de Bolonha, apesar de os ciclos terem durações diferentes. "E agravou-se", na sua perspectiva, "quando o Governo continuou a ignorar os apelos à distinção, na Portaria n.º 782/2009, que estabelece a correspondência entre os níveis de educação e formação e os níveis de qualificação para efeitos profissionais".

A consequência, sublinha, foi a "desvalorização" profissional do termo "licenciatura". "Uma pessoa com uma formação académica de cinco ou seis anos antes de Bolonha tem o mesmo título académico que outra com três anos de estudos. Mas, se isto é já incompreensível, torna-se gravíssimo quando se reflecte, por exemplo, num concurso para uma vaga na administração pública, em que ambas as "licenciaturas" equivalem a um nível 6 de qualificação. Isto, ao mesmo tempo que um mestre pós-Bolonha, com cinco anos de formação académica (os mesmos de um antigo licenciado), concorre com o nível 7", aponta.

Fernando Santo assegura que "não se tratou de um lapso. "Houve uma clara intenção política de, reduzindo a factura, aumentar, para efeitos estatísticos, o número de "licenciados", que passam a sê-lo com menos dois anos de formação", denuncia.

Na petição lançada pela CNOP, que reuniu 49.300 assinaturas - quando só eram necessárias 4000 para obrigar à discussão na AR -, são exigidas duas medidas: a alteração da regulamentação do Quadro Nacional de Qualificações, com a atribuição do nível de qualificação 7 aos licenciados pré-Bolonha e a atribuição do grau de mestre aos titulares das licenciaturas pré-reforma.

Neste contexto, Fernando Santo considera "insuficiente" a recomendação do CRUP. "É positiva, porque é um sinal de abertura e vem dar visibilidade a uma situação que prejudica centenas de milhares de profissionais, mas ainda há muito caminho a percorrer para acabar com as injustiças", diz.

Mais um objectivo dos (des)governos brilhantemente atingido



A ler - post na portadaloja


(imagem daqui)

Música (praticamente) actual para geopedrados


Better - Regina Spektor

If I kiss you where it's sore
If I kiss you where it's sore
Will you feel better, better, better
Will you feel anything at all
Will you feel better, better, better
Will you feel anything at all

Born like sisters to this world
In a town where blood ties are only blood
If you never say your name out loud to anyone
They can never ever call you by it

If I kiss you where it's sore
If I kiss you where it's sore
Will you feel better, better, better
Will you feel anything at all
Will you feel better, better, better
Will you feel anything at all

You're getting sadder, getting sadder, getting sadder, getting sadder
And I don't understand, and I don't understand
But if I kiss you where it's sore
If I kiss you where it's sore
Will you feel better, better, better
Will you feel anything at all
Will you feel better, better, better
Will you feel anything at all
Anything at all
Will you feel anything at all
Anything at all
Will you feel anything at all
Anything at all...

sábado, janeiro 15, 2011

Música portuguesa dos anos oitenta para geopedrados...

A corrupção, os boys e as moscas

Promiscuidade

Por João Paulo Guerra

TENHO na minha sobrelotada estante, nas prateleiras ocupadas com obras sobre o Portugal que passou à história, um pequeno opúsculo da autoria do dr. Raul Rego, “Os políticos e o poder económico”, com data de 1969, no qual o velho republicano, socialista e ‘maçon’ recenseia e desanca a promiscuidade no trânsito entre as cadeiras do poder e os cadeirões dos conselhos de administração.

O impresso do dr. Rego diz respeito aos últimos anos do auto-denominado Estado Novo, também chamado fascismo.

Ontem, ao ler no Diário de Notícias que 40 ministros e secretários de Estado saíram directamente da política para cargos em grandes empresas fui levado a comparar a situação arrolada pelo dr. Raul Rego com a actual, em democracia. E de facto a única diferença é a democracia: o opúsculo de Raul Rego saiu em edição de autor para uma "campanha eleitoral" e recolheu logo após aos subterrâneos da liberdade de expressão, enquanto a denúncia do Diário de Notícias vem escarrapachada num jornal de referência que quem quiser pode consultar, analisar e tirar conclusões. De resto, a maxarufada é a mesma, independentemente dos tempos e dos regimes. Um considerável número de políticos metem a mão na massa da coisa pública a pensar no futuro da respectiva vidinha. E a assegurar, sabe-se lá a que preço e sob que condições, um lugar ao sol de um conselho de administração deste grupo ou daquela empresa.

O dr. Raul Rego ainda viveu quase três décadas em democracia e não se sabe se a saúde e a idade lhe permitiram entender que caminhos tortuosos e perversos seguia a democracia pela qual lutou tantos anos. Certo é que o seu opúsculo de 1969 nos revela hoje que em matéria de promiscuidade, através dos tempos, só as moscas é que variam.
.
«Diário Económico» de 14 Jan 11 (in Sorumbático)

No princípio era o magma...



APÓS A ACREÇÃO do protoplaneta que antecedeu a formação deste maravilhoso corpo planetário que nos deu berço, e na sequência dos processos que determinaram a sua diferenciação como planeta (nomeadamente e em especial, a contracção gravítica e a formação núcleo), a Terra acumulou uma quantidade de calor tal que a converteu numa imensa bola incandescente.

Durante as primeiras centenas de milhões de anos, este nosso hoje “Planeta Azul” esteve envolvido num “oceano” de magma, em resultado da fusão da sua parte mais externa, “oceano” cuja profundidade teria sido da ordem de algumas centenas de quilómetros. Foi a partir da capa mais superficial deste invólucro ígneo que, por arrefecimento posterior, se formou a primitiva crosta terrestre (com mais de 4000 milhões de anos, desaparecida na sequência da contínua renovação da crosta determinada pela chamada tectónica de placas), separada de uma outra entidade, que se lhe segue em profundidade, também ela já parcialmente arrefecida, a que foi dado o nome de manto.

Entendendo por magmatismo o processo natural através do qual um material fundido, a que se convencionou chamar magma, conduz à formação das rochas (ditas magmáticas), temos de concluir que este processo geológico é uma constante na história do nosso planeta (e do Sistema Solar) e que está na origem de todos os tipos de rochas (petrogénese). Com efeito, não haveria rochas sedimentares sem as magmáticas preexistentes, nem rochas metamórficas sem que, pelo menos, tivesse existido um destes dois tipos de rochas. É, assim, lícito pensar que o mesmo acontece nos planetas telúricos, nossos vizinhos, e noutros de outros sistemas planetários da nossa e de outras galáxias. O magmatismo é, pois, uma das fases da evolução da matéria no quadro universal da sua história, como são, entre outras:

a nucleossíntese que dá nascimento aos elementos químicos, em grande parte no interior das estrelas e na sequência das explosões (supernovas) que lhes ditam o fim; e a quimiossíntese que, por junção dos elementos químicos, dá origem aos compostos, entre os quais os minerais, fase esta que inclui o magmatismo e os restantes processos petrogenéticos, para além de outros, como são os biogénicos.

Foi através do magmatismo que a Terra, em formação, libertou uma atmosfera primitiva, rica (entre outros componentes) em vapor de água e dióxido de carbono. Foi a partir deste vapor de água que se formou, por condensação, grande parte da hidrosfera. E, na medida em que a vida foi gerada nas águas, torna-se evidente a sua dependência do processo magmático. Assim, é lícito pensar que, sem magmatismo, a biodiversidade, tal como a conhecemos, não teria existido. Também os seres das profundidades oceânicas associadas a fontes hidrotermais e a chaminés negras (um ecossistema muito particular que só há pouco mais de três décadas foi conhecido) dependem absolutamente da actividade magmática, neste caso, submarina. Do mesmo modo, a atmosfera actual (a que hoje respiramos e que diariamente poluímos em nome do chamado desenvolvimento), na qual o oxigénio resulta da actividade biológica das plantas com clorofila, é uma consequência, embora indirecta, do magmatismo.

Os magmas que, desde a existência de uma litosfera (conjunto da crosta e da capa rochosa do manto nascidas da diferenciação do planeta) geraram e continuam a gerar as rochas que, por isso, apelidamos de magmáticas, nasceram e continuam a nascer da fusão de rochas da crosta ou do manto superior, a temperaturas que variam entre cerca de 850°C, num xisto argiloso da crosta continental e em presença de água, e cerca de 1300°C num peridotito do manto, na ausência de água. No que se refere às pressões, o fenómeno pode verificar-se entre cerca de 3 a 4 atmosferas, a 10 km de profundidade, e várias dezenas de atmosferas, 100 km mais abaixo. Ao nível da crosta a fusão dos materiais rochosos, isto é, a geração de um magma acontece associada ao metamorfismo de grau mais elevado, no decurso da formação de uma cadeia montanhosa (orogénese). No manto, a fusão é praticamente anorogénica, isto é, não envolve compressões tangenciais. Está, sim, relacionada com movimentos verticais e diminuição de pressão ou com penetração de fluidos aquosos.

A comparação frequente do magma com a lava incandescente ou ígnea saída dos vulcões, embora sugestiva, não é correcta. Deve acentuar-se que a lava já não é, exactamente, um magma, dado que, ao descomprimir-se na saída para o exterior, perde parte dos seus componentes gasosos (vapor de água, dióxido de carbono, entre outros) e, ao arrefecer, permite a cristalização (solidificação) prematura de alguns minerais (como é o caso dos cristais de olivina ou de augite em alguns basaltos) que, por acção gravítica, decantam, saindo também desse fundido, empobrecendo-o. Um material assim, como o que se vê transbordar do vulcão e fluir à superfície, em que coexistem grãos cristalinos (sólidos), material ainda fundido e apenas parte dos gases que inicialmente o formavam, já não deve ser considerado um verdadeiro magma embora tenha mobilidade. É curioso assinalar que, na origem, a palavra magma significa “massa empedernida”. Não obstante este significado, a petrologia adoptou essa mesma palavra para designar o material ainda em fusão (na totalidade ou em parte) que, por arrefecimento, consolida e, só então, se torna pedra.
Do ponto de vista composicional, o magma pode ser então definido como um fundido de substâncias químicas, na grande maioria silicatos, existente em zonas mais ou menos profundas do planeta que, em virtude da temperatura e da pressão a que está sujeito, se mantém, pelo menos em parte, no estado líquido e, como tal, flui, ou seja, tem mobilidade. Neste banho e com uma representação muitíssimo inferior à dos silicatos, podem existir óxidos, em particular os de ferro, de titânio e de crómio, sulfuretos, fosfatos e carbonatos. Como numa sopa quente, além do caldo, que nesta imagem exemplifica a parte fundida, podem coexistir no magma fases sólidas, representadas pelos minerais, e gasosas (vapor de água, dióxido de carbono, gás sulfídrico e outros) que lhe são próprios, de que podemos ter uma ideia através das manifestações secundárias do vulcanismo, como são as mofetas e as sulfataras. As fases sólidas, quando presentes no magma, estão expressas pelos minerais que, por serem mais refractários (isto é, com um ponto de fusão mais elevado), cristalizaram prematuramente no seio do líquido magmático, o que não impede a mobilidade do conjunto, que poderá fluir enquanto houver uma fase fluida, ainda que residual, a assegurar-lhe essa característica implícita na própria definição de magma. É o que acontece, como se disse atrás, com os cristais de olivina e ou de augite em certas lavas de natureza basáltica.

Como ingredientes fundamentais do magma figuram quase sempre pouco mais de uma dezena de elementos químicos, os mais abundantes na crosta terrestre, e, por isso, ditos principais ou maiores (do inglês major elements), cujas percentagens, respectivamente, em peso e em volume são:

...........Oxigénio (O): 46,6% peso; 93,8 % volume
...........Silício (Si): 27,7% peso; 0,8 % volume
...........Alumínio (Al): 8,1% peso; 0,5 % volume
...........Ferro (Fe): 5,0% peso%; 0,4% volume
...........Cálcio (Ca): 3,6% peso%; 1,0% volume
...........Sódio (Na): 2,8% peso; 1,3% volume
...........Potássio (K): 2,7% peso; 1,8 % volume
...........Magnésio (Mg): 2,1% peso; 0,3 % volume

São estes, pois, os principais constituintes dos minerais das rochas magmáticas, entre os quais, como se disse, os silicatos que, por si só, representam cerca de 99% da crosta terrestre. A análise química destas rochas revela, ainda, manganês, fósforo, titânio, carbono e enxofre e hidrogénio praticamente sempre presentes, embora em menores percentagens.

Parte da água inicialmente contida no magma entra na composição de certos minerais, outra perde-se, quer em profundidade, no interior da crosta, indo alimentar outros processos petrogenéticos, quer à superfície, no vulcanismo. É esta água no estado de vapor que, com o dióxido de carbono e outros gases de menor representatividade igualmente libertados do magma, se evola nas erupções vulcânicas, originando os espessos “fumos” brancos que se dispersam no ar, acompanhando quer as projecções sólidas de piroclastos, quer a saída e progressão da lava.

Para além dos já referidos elementos principais ou maiores (por definição, aqueles cujas percentagens, em peso, nas rochas é superior a 1%), há ainda a considerar os elementos menores (do inglês, minor elements), entre os quais bário, chumbo, cobre cobalto, níquel, ouro, prata e muitos mais, cuja presença nas rochas se situa, em termos percentuais, abaixo de 1%. Nestes há que distinguir elementos secundários (entre 1% e 0,1%) e elementos vestigiais ou elementos-traço (do inglês, trace-elements) que, como o nome indica, estão representados em quantidades ínfimas. A presença de elementos-traço na composição dos minerais e das rochas é hoje fácil e rotineiramente pesquisada nos estudos petrológicos e geoquímicos. Consoante o rigor exigido pelas análises ou possibilitado pelos equipamentos disponíveis, a sua quantificação é expressa em ppm (partes por milhão) ou em cifras ainda menores, em ppb (partes por milhar de milhões). O termo oligoelemento (do grego, oligós, ínfimo), usado por alguns autores, é ambíguo, pois tem sido usado quer como sinónimo de elemento menor quer como de elemento-traço.

No que se refere ao nosso planeta, o magmatismo foi e é uma constante na respectiva dinâmica global, quer sob a forma de vulcanismo e subvulcanismo (ascensão de magma que acaba por arrefecer e solidificar a pequena profundidade, antes de atingir a superfície, como aconteceu com os maciços de Sintra, Sines e Monchique), quer de plutonismo (arrefecimento e solidificação em profundidade). Pelo que conhecemos da história da Terra, temos de admitir que o magmatismo sempre antecedeu e antecede os outros dois processos petrogenéticos (a sedimentogénese e o metamorfismo). Com efeito, só depois das primeiras rochas (magmáticas) formadas à superfície da Terra estarem expostas aos agentes externos é que pôde ocorrer a sua erosão seguida de sedimentação e/ou a sua transformação em rochas metamórficas.

in Sopas de Pedra - post de Galopim de Carvalho

Um jornalista apresenta contas

Um artigo nada suave de Mário Crespo, que recebi por mail:

José Sócrates em 2001 prometeu que não ia aumentar os impostos. E aumentou. Deve-me dinheiro.
António Mexia da EDP comprou uma sinecura para Manuel Pinho em Nova Iorque. Deve-me o dinheiro da sinecura de Pinho. E dos três milhões de bónus que recebeu. E da taxa da RTP na conta da luz. Deve-me a mim e a Francisco C. que perdeu este mês um dos quatro empregos de uma loja de ferragens na Ajuda onde eu ia e que fechou. E perderam-se quatro empregos. Por causa dos bónus de Mexia. E da sinecura de Pinho. E das taxas da RTP.
Aníbal Cavaco Silva e a família devem-me dinheiro. Pelas acções da SLN que tiveram um lucro pago pelo BPN de 147,5 %. Num ano.
Manuel Dias Loureiro deve-me dinheiro. Porque comprou por milhões coisas que desapareceram na SLN e o BPN pagou depois. E eu pago pelo BPN agora. Logo, eu pago as compras de Dias Loureiro. E pago pelos 147,5 das acções dos Silva.

Cavaco Silva deve-me muito dinheiro. Por ter acabado com a minha frota pesqueira em Peniche e Sesimbra e Lagos e Tavira e Viana do Castelo. Antes, à noite, viam-se milhares de luzes de traineiras. Agora, no escuro, eu como a Pescanova que chega de Vigo. Por isso Cavaco deve-me mais robalos do que Godinho alguma vez deu a Vara. Deve-me por ter vendido a ponte que Salazar me deixou e que eu agora pago à Mota Engil.

António Guterres deve-me dinheiro porque vendeu a EDP. E agora a EDP compra cursos em Nova Iorque para Manuel Pinho. E cobra a electricidade mais cara da Europa. Porque inclui a taxa da RTP para os ordenados e bónus da RTP. E para o bónus de Mexia. A PT deve-me dinheiro. Porque não paga impostos sobre tudo o que ganha. E eu pago. Eu e a D. Isabel que vive na Cova da Moura e limpa três escritórios pelo mínimo dos ordenados. E paga Impostos sobre tudo o que ganha. E ficou sem abonos de família. E a PT não paga os impostos que deve e tenta comprar a estação de TV que diz mal do Primeiro-ministro.

Rui Pedro Soares da PT deve-me o dinheiro que usou para pagar a Figo o ménage com Sócrates nas eleições. E o que gastou a comprar a TVI.
Mário Lino deve-me pelos lixos e robalos de Godinho. E pelo que pagou pelos estudos de aeroportos onde não se vai voar. E de comboios em que não se vai andar. E pelas pontes que projectou e que nunca ligarão nada.
Teixeira dos Santos deve-me dinheiro porque em 2008 me disse que as contas do Estado estavam sãs. E estavam doentes. Muito. E não há cura para as contas deste Estado. Os jornalistas que têm casas da Câmara devem-me o dinheiro das rendas. E os arquitectos também. E os médicos e todos aqueles que deviam pagar rendas e prestações e vivem em casas da Câmara, devem-me dinheiro.
Os que construíram dez estádios de futebol devem-me o custo de dez estádios de futebol. Os que não trabalham porque não querem e recebem subsídios porque querem, devem-me dinheiro. Devem-me tanto como os que não pagam renda de casa e deviam pagar.
Jornalistas, médicos, economistas, advogados e arquitectos deviam ter vergonha na cara e pagar rendas de casa. Porque o resto do país paga. E eles não pagam. E não têm vergonha de me dever dinheiro. Nem eles nem Pedro Silva Pereira que deve dinheiro à natureza pela alteração da Zona de Protecção Especial de Alcochete. Porque o Freeport foi feito à custa de robalos e matou flamingos. E agora para pagar o que devem aos flamingos e ao país vão vendendo Portugal aos chineses. Mas eles não nos dão robalos suficientes apesar de nos termos esquecido de Tien Amen e da Birmânia e do Prémio Nobel e do Google censurado. Apesar de censurarmos, também, a manifestação da Amnistia, não nos dão robalos. Ensinam-nos a pescar dando-nos dinheiro a conta gotas para ir a uma loja chinesa comprar canas de pesca e isco de plástico e tentar a sorte com tainhas. À borda do Tejo. Mas pesca-se pouca tainha porque o Tejo vem sujo. De Alcochete. Por isso devem-me dinheiro. A mim e aos 600 mil que ficaram desempregados e aos 600 mil que ainda vão ficar sem trabalho. E à D. Isabel que vai a esta hora da noite ou do dia na limpeza de mais um escritório. Normalmente limpa três. E duas vezes por semana vai ao Banco Alimentar. E se está perto vai a um refeitório das Misericórdias. À Sexta come muito. Porque Sábado e Domingo estão fechados. E quando está doente vai para o centro de saúde às 4 da manhã. E limpa menos um escritório. E nessa altura ganha menos que o ordenado mínimo. Por isso devem-nos muito dinheiro. E não adianta contratar o Cobrador do Fraque. Eles não têm vergonha nenhuma. Vai ser preciso mais para pagarem.. Muito mais. Já.

Penthouse, Novembro de 2010 Mário Crespo (in portadaloja)