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sábado, novembro 18, 2023

Manuel António Pina nasceu há oitenta anos...

     
Manuel António Pina (Sabugal, 18 de novembro de 1943 - Porto, 19 de outubro de 2012) foi um jornalista e escritor português, vencedor em 2011 do Prémio Camões.
O escritor licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e foi jornalista do Jornal de Notícias durante três décadas, tendo sido depois cronista do Jornal de Notícias e da revista Notícias Magazine.
A sua obra incidiu principalmente na poesia e na literatura infanto-juvenil, embora tenha escrito também diversas peças de teatro e de obras de ficção e crónica. Algumas dessas obras foram adaptadas ao cinema e TV e editadas em disco.
A sua obra foi difundida em países como a França (francês e corso), Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.
A 9 de junho de 2005 foi feito Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Faleceu no dia 19 de outubro de 2012, no Hospital de Santo António, no Porto.
   

 

Palavras não

    

Palavras não me faltam (quem diria o quê?),
faltas-me tu poesia cheia de truques.
De modo que te amo em prosa, eis o
lugar onde guardarei a vida e a morte.

  
De que outra maneira poderei
assim te percorrer até à perdição?
Porque te perderei para sempre como
o viajante perde o caminho de casa.

   
E, tendo-te perdido, te perderei para sempre.
Nunca estive tão longe e tão perto de tudo.
Só me faltavas tu para me faltar tudo,
as palavras e o silêncio, sobretudo este.

  

 

in Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde (1974) - Manuel António Pina

domingo, outubro 29, 2023

O Pulitzer que criou os prémios homónimos faleceu há 112 anos

  

Joseph Pulitzer, born Pulitzer József (Makó, Kingdom of Hungary, April 10, 1847 – Charleston, South Carolina, October 29, 1911) was a Hungarian-American politician and newspaper publisher of the St. Louis Post-Dispatch and the New York World. He became a leading national figure in the Democratic Party and was elected congressman from New York. He crusaded against big business and corruption and helped keep the Statue of Liberty in New York.

In the 1890s the fierce competition between his World and William Randolph Hearst's New York Journal caused both to develop the techniques of yellow journalism, which won over readers with sensationalism, sex, crime and graphic horrors. The wide appeal reached a million copies a day and opened the way to mass-circulation newspapers that depended on advertising revenue (rather than cover price or political party subsidies) and appealed to readers with multiple forms of news, gossip, entertainment and advertising.

Today, his name is best known for the Pulitzer Prizes, which were established in 1917 as a result of his endowment to Columbia University. The prizes are given annually to recognize and reward excellence in American journalism, photography, literature, history, poetry, music, and drama. Pulitzer founded the Columbia School of Journalism by his philanthropic bequest; it opened in 1912.

 

quinta-feira, outubro 19, 2023

Saudades de Manuel António Pina...

 (imagem daqui)

 

O regresso
  
  
Como quem, vindo de países distantes fora de
si, chega finalmente aonde sempre esteve
e encontra tudo no seu lugar,
o passado no passado, o presente no presente,
assim chega o viajante à tardia idade
em que se confundem ele e o caminho.

Entra então pela primeira vez na sua casa
e deita-se pela primeira vez na sua cama.
Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças,
cidades, estações do ano.
E come agora por fim um pão primeiro
sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.


   
   
in
Como se desenha uma casa (2011) - Manuel António Pina 

Porque os Poetas permanecem vivos, enquanto são lembrados...

(imagem daqui)

 

It's allright, ma...

 

Está tudo bem, mãe,
estou só a esvair-me em sangue,
o sangue vai e vem,
tenho muito sangue.

Não tenho é paciência,
nem tempo que baste
(nem espaço, deixaste-me
pouco espaço para tanto existência).

Lembranças a menos
faziam-me bem,
e esquecimento também
e sangue e água a menos.

Teria cicatrizado
a ferida do lado,
e eu ressuscitado
pelo lado de dentro.

Que é o lado
por onde estou pregado,
sem mandamento
e sem sofrimento.

Nas tuas mãos
entrego o meu espírito,
seja feita a tua vontade,
e por aí adiante.

Que não se perturbe
nem intimide
o teu coração,
estou só a morrer em vão




in
Cuidados Intensivos (1994) - Manuel António Pina

Manuel António Pina morreu há onze anos...

     
Manuel António Pina (Sabugal, 18 de novembro de 1943 - Porto, 19 de outubro de 2012) foi um jornalista e escritor português, premiado em 2011 com o Prémio Camões.
O escritor licenciou-se em direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e foi jornalista do Jornal de Notícias durante três décadas, tendo sido depois cronista do Jornal de Notícias e da revista Notícias Magazine.
A sua obra incidiu principalmente na poesia e na literatura infanto-juvenil, embora tenha escrito também diversas peças de teatro e de obras de ficção e crónica. Algumas dessas obras foram adaptadas ao cinema e TV e editadas em disco.
A sua obra foi difundida em países como França (francês e corso), Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.
A 9 de junho de 2005 foi feito Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Faleceu no dia 19 de outubro de 2012, no Hospital de Santo António, no Porto.
  

 

D’aprés D. Francisco de Quevedo

Também eu ceei com os doze naquela ceia
em que eles comeram e beberam o décimo terceiro.
A ceia fui eu; e o servo; e o que saiu a meio;
e o que inclinou a cabeça no Meu peito.

E traí e fui traído,
e duvidei, e impacientei-me, e descartei-me;
e pus com Ele a mão no prato e posei para o retrato
(embora nada daquilo fizesse sentido).

Não subi aos céus (nem era caso para isso),
mas desci aos infernos (e pela porta de serviço):
comprei e não paguei, faltei a encontros,
cobicei os carros dos outros e as mulheres dos outros.

Agora, como num filme descolorido,
chegou o terceiro dia e nada aconteceu,
e tenho medo de não ter sido comigo,
de não ter sido comido nem ter sido Eu.

  

 

in Cuidados Intensivos (1994) - Manuel António Pina

domingo, outubro 08, 2023

Hoje é dia de celebrar o Nobel de Saramago...

 

   

No Coração, Talvez
 
No coração, talvez, ou diga antes:
Uma ferida rasgada de navalha,
Por onde vai a vida, tão mal gasta.
Na total consciência nos retalha.
O desejar, o querer, o não bastar,
Enganada procura da razão
Que o acaso de sermos justifique,
Eis o que dói, talvez no coração.


 
in
Os Poemas Possíveis (1966) - José Saramago

 

José Saramago ganhou o Nobel da Literatura há vinte e cinco anos...!

(imagem daqui)
  
Foi galardoado com o Nobel de Literatura em 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. A 24 de agosto de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 3 de dezembro de 1998 foi elevado a Grande-Colar da mesma Ordem.
O seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.
Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi diretor-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
   
(...)
   
Em setembro de 1997, a agência publicitária sueca, Jerry Bergström AB, de Estocolmo, contratada pelo ICEP (órgão estatal português para a promoção do comércio e turismo nacional), organizou uma visita de José Saramago a Estocolmo, incluindo um seminário na Hedengrens, a principal cadeia de livrarias sueca, um discurso na Universidade de Estocolmo e várias entrevistas a jornais, revistas e rádios suecas. Nesses mesmos dias, a televisão estatal sueca produziu um programa especial dedicado ao escritor.
Em outubro do mesmo ano, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt tem neste ano Portugal como país em destaque, estando José Saramago neste local, em 8 de outubro de 1998, quando recebe a informação de ter ganho o prémio, que, em 7 de dezembro de 1998, Saramago recebe em Estocolmo.
Segundo o Diário de Notícias, o diretor da empresa sueca Jerry Bergström AB afirmou: "Portugal nunca tinha tido um Prémio Nobel da literatura e uma parte da nossa missão consistia em mudar essa situação".
Comentando esta atribuição, Sture Allén, então secretário da Academia Sueca, negou que a decisão tenha sido afetada por "campanhas publicitárias, comentários de académicos ou escritores, ou qualquer outro tipo de pressão".
Contradizendo Allén, Knut Ahnlund e Lars Gyllensten, membros da academia afirmaram que seria ridículo afirmar que os membros da academia sejam "imunes a agências publicitárias". Ahnlund foi crítico da atribuição do prémio Nobel a Saramago, que segundo ele foi o culminar de uma campanha profissional de relações públicas.

 

Alegria

Já ouço gritos ao longe
Já diz a voz do amor
A alegria do corpo
O esquecimento da dor

Já os ventos recolheram
Já o verão se nos oferece
Quantos frutos quantas fontes
Mais o sol que nos aquece

Já colho jasmins e nardos
Já tenho colares de rosas
E danço no meio da estrada
As danças prodigiosas

Já os sorrisos se dão
Já se dão as voltas todas
Ó certeza das certezas
Ó alegria das bodas


in Provavelmente Alegria (1970) - José Saramago

domingo, setembro 03, 2023

Eduardo Galeano nasceu há 83 anos


Eduardo Germán María Hughes Galeano (Montevideo, 3 de septiembre de 1940 - Montevideo, 13 de abril de 2015) fue un periodista y escritor uruguayo, considerado uno de los escritores más influyentes de la izquierda latinoamericana.

Sus libros más conocidos, Las venas abiertas de América Latina (1971) y Memoria del fuego (1986), han sido traducidos a veinte idiomas. Sus trabajos trascienden géneros ortodoxos y combinan documental, ficción, periodismo, análisis político e historia.

 

in Wikipédia


Na parede de uma taberna de Madrid, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.

Eduardo Galeano

segunda-feira, agosto 21, 2023

Hoje é dia de surrealismo...!


Caixadòclos


– Patriazinha iletrada, que sabes tu de mim?
– Que és o esticalarica que se vê.
 
– Público em geral, acaso o meu nome...
– Vai mas é vender banha de cobra!
 
– Lisboa, meu berço, tu que me conheces...
Este é dos que fala sozinho na rua...
 
– Campdòrique, então, não dizes nada?
– Ai tão silvatávares que ele vem hoje!
 
– Rua do Jasmim, anda, diz que sim!
É o do terceiro, nunca tem dinheiro...
 
– Ó Gaspar Simões, conte-lhes Você...
Dos dois ou três nomes que o surrealismo...
 
– Ah, agora sim, fazem-me justiça!
 
Olha o caixadòclos todo satisfeito
a ler as notícias...

 

 

Alexandre O’Neill

quinta-feira, agosto 10, 2023

O Reporter X nasceu há 126 anos

   
Reinaldo Ferreira, mais conhecido pelo pseudónimo de Repórter X, (Lisboa, 10 de agosto de 1897 - Lisboa, 4 de outubro de 1935), foi um repórter, jornalista, dramaturgo e realizador de cinema português. Era pai do poeta Reinaldo Ferreira (filho), que viveu em Moçambique.
Iniciou a sua carreira jornalística aos doze anos de idade e foi, desde os vinte até à sua morte, considerado o maior repórter português. Em 1926, instalou residência permanente no Porto.
Imaginou entrevistas com Mata Hari e Conan Doyle, enviou reportagens da "Rússia dos Sovietes" sem nunca lá ter posto os pés, criou um dos primeiros detetives de gabinete da literatura policial, deu forma a uma galeria interminável de heróis de folhetim, fundou jornais, realizou filmes, previu, ao jeito de Júlio Verne, como seriam Lisboa e o Porto no ano 2000. Reinaldo Ferreira. R de realidade e F de ficção. Nasceu há um século. Os 38 anos da sua breve passagem pelo mundo foram vividos à beira do delírio, com a morfina a ajudar. Um tipógrafo distraído inventou a alcunha que o iria consagrar: Repórter X. 
Luís Miguel Queirós - Jornal PÚBLICO, 10 de agosto de 1997
   

quarta-feira, agosto 09, 2023

quinta-feira, julho 20, 2023

José Liberato Freire de Carvalho nasceu há 251 anos


José Liberato Freire de Carvalho
(Quinta de Monte São, São Martinho do Bispo, 20 de julho de 1772 - Lisboa, 31 de março de 1855) foi um frade da Ordem dos Cónegos Regrantes da Santa Cruz que depois de egresso foi jornalista e intelectual de relevo e um dos políticos portugueses mais marcantes do século XIX. Exerceu as funções de deputado às Cortes e de redator do jornal oficial, a Gazeta de Lisboa. Foi um dos editores dos jornais da emigração liberal portuguesa em Londres e é autor de uma extensa obra sobre a história política de Portugal e da Europa. Foi eleito sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa em 14 de dezembro de 1836. Com o nome simbólico de Spartacus, foi membro da Maçonaria, sendo em 1804 eleito Grande Orador do Grande Oriente Lusitano e posteriormente dirigente interino da Maçonaria do Sul (1834-1835).

 

in Wikipédia

segunda-feira, junho 26, 2023

A jornalista Veronica Guerin foi assassinada há 27 anos...

  
Veronica Guerin (Artane, 5 de julho de 1958 - Dublin, 26 de junho de 1996) foi uma jornalista irlandesa.
Começou tardiamente na profissão, depois dos 30 anos, e gostava do jornalismo de investigação. Exemplo de determinação e coragem, a sua vontade incessante por justiça fez com que pagasse com a vida a investigação a fundo sobre a máfia e o tráfico de drogas em Dublin, capital da Irlanda, durante a década de 90. Denunciou também a ligação que alguns dos mais importantes gângsteres tinham com o IRA. Sofreu um atentado e chegou a ser espancada por um dos maiores mafiosos da cidade.
Depois do seu assassinato, a população da Irlanda revoltou-se e foi para as ruas protestar, e os barões do tráfico tiveram os seus bens confiscados e foram presos. Um ano depois do acontecido, os crimes caíram em mais de 50% na Irlanda.
Veronica Guerin é considerada uma heroína na Irlanda.
Dois filmes, baseados na história de Veronica Guerin, foram realizados:
A banda de metal progressivo Savatage incluiu uma canção baseada na história da jornalista no álbum The Wake of Magellan, de 1998.
O músico irlandês Christy Moore também escreveu uma canção em sua homenagem, chamada Veronica.
       

domingo, junho 25, 2023

Miguel Sousa Tavares - 73 anos


Miguel Andresen de Sousa Tavares (Porto, 25 de junho de 1950) é um jornalista e escritor português.

Miguel Sousa Tavares, natural do Porto, é filho do advogado e jornalista Francisco Sousa Tavares e da escritora Sophia de Mello Breyner Andresen, bisneto de Tomás de Melo Breyner, trineto de Henrique Burnay e primo em terceiro grau de José Avillez.
Licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa e foi na capital que passou a maior parte da sua infância e juventude.
Durante 12 anos foi advogado em Lisboa, até optar em exclusivo pelo jornalismo, em finais da década de 80.
  

domingo, maio 28, 2023

José Craveirinha nasceu há 101 anos...


  
José João Craveirinha (Lourenço Marques, 28 de maio de 1922 - Maputo, 6 de fevereiro de 2003) é considerado o poeta maior de Moçambique. Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.
Utilizou os seguintes pseudónimos: Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo e Abílio Cossa. Foi presidente da Associação Africana na década de 50.
Esteve preso, entre 1965 e 1969, por fazer parte de uma célula da 4.ª Região Político-Militar da Frelimo.
Foi o primeiro presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, entre 1982 e 1987. Em sua homenagem, a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), em parceria com a HCB (Hidroeléctrica de Cahora Bassa), instituiu em 2003, o Prémio José Craveirinha de Literatura.
  


Quero Ser Tambor
 
Tambor está velho de gritar

Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.
  
Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.
 
Nem nada!
 
Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.
 
Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
  
Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!

 

José Craveirinha

sábado, maio 20, 2023

Maria Teresa Horta celebra hoje 86 anos

 

Maria Teresa Mascarenhas Horta (Lisboa, 20 de maio de 1937) é uma escritora e poetisa portuguesa. Filha de Jorge Augusto da Silva Horta, 5.º Bastonário da Ordem dos Médicos, de 1956 a 1961, e da sua primeira mulher, D. Carlota Maria Mascarenhas - a qual era neta paterna, por bastardia, do 9.º Marquês de Fronteira, 10.º Conde da Torre, representante do Título de Conde de Coculim, 7.º Marquês de Alorna e 11.º Conde de Assumar, ele próprio também filho natural - é oriunda, pelo lado materno, de uma família da alta aristocracia portuguesa, contando entre os seus antepassados a célebre poetisa Marquesa de Alorna.
Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Dedicou-se ao cine-clubismo, como dirigente do ABC Cine-Clube, ao jornalismo e à questão do feminismo tendo feito parte do Movimento Feminista de Portugal juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, as Três Marias. Em conjunto lançaram o livro "Novas Cartas Portuguesas", que, na época, gerou forte impacto e contestação.
Mª Teresa Horta também fez parte do grupo Poesia 61.
Publicou diversos textos em jornais como Diário de Lisboa, A Capital, República, O Século, Diário de Notícias e Jornal de Letras e Artes, tendo sido também chefe de redação da revista Mulheres.
É casada com o jornalista Luis de Barros, de quem tem um único filho, Luís Jorge Horta de Barros (4 de abril de 1965), casado com Maria Antónia Martins Peças Pereira, com geração.
A 8 de março de 2004 foi feita Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio.
Foi galardoada com o Prémio D. Dinis 2011 da Fundação Casa de Mateus pela sua obra "As Luzes de Leonor".
  

 
Morrer de Amor

Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso


 

in Destino (1998) - Maria Teresa Horta

quinta-feira, maio 04, 2023

Carl von Ossietzky morreu há 85 anos...

 

 
Foi agraciado com o Nobel da Paz em 1935. Morreu de tuberculose, num campo de concentração nazi, por ser pacifista e ser contra os interesses do regime.

Em 1912, Ossietzky juntou-se à sociedade alemã de paz, mas foi conscrito no exército e serviu durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1920 tornou-se secretário da sociedade, em Berlim. Ossietzky ajudou a fundar a organização Nie Wieder Krieg (Chega de Guerra), em 1922 e tornou-se editor do Weltbühne, um semanário político liberal, em 1927, onde numa série de artigos desmascarou preparativos secretos dos líderes do Reichswehr (exército alemão) para o rearmamento. Acusado de traição, Ossietzky foi condenado em novembro de 1931 a prisão por 18 meses , mas foi-lhe concedida amnistia em dezembro de 1932.

Ossietzky era contra o militarismo alemão e o extremismo político de esquerda ou de direita. Quando Adolf Hitler chegou a Chanceler da Alemanha, em janeiro de 1933, Ossietzky tinha retomado  a sua direção, em que atacou intransigentemente os nazis. Firmemente, recusando-se a fugir da Alemanha, ele foi preso em 28 de fevereiro de 1933 e enviado para um campo de concentração em Esterwegen-Papenburg. Depois de três anos de prisão e tortura, Ossietzky foi transferido em maio de 1936 para um hospital da prisão em Berlim pelo governo alemão.

Em 24 de novembro de 1936, Ossietzky recebeu o Prémio Nobel da Paz de 1935, enquanto estava detido. O prémio foi interpretado como uma expressão de censura aos nazis em todo o mundo. Hitler considerou a atribuição do prémio a Ossietzky como um ato ofensivo e a sua resposta foi um decreto proibindo os alemães de aceitar qualquer Prémio Nobel. Morreu de tuberculose em 4 de maio de 1938, ainda preso, num Hospital de Berlim, sem ter recebido o valor do prémio, que desapareceu nas mãos de um advogado de Berlim.

 
  



  
  
À morte de um lutador pela paz
(in memoriam de Carl von Ossietzky)
   
  

O que não se rendeu
Foi abatido
O que foi abatido
Não se rendeu.
 
A boca que admoestava
Foi tapada por terra.
A aventura sangrenta
Começa.
Sobre a cova do amigo da paz
Calcam os batalhões.
 
Foi então vã a luta?
 
Se aquele que não lutou sozinho, foi abatido,
O inimigo
Inda não venceu. 

 
 
 
Bertold Brecht

sábado, abril 29, 2023

Fernando Pessa morreu há vinte e um anos...

(imagem daqui)

Fernando Luís de Oliveira Pessa (Vera Cruz, Aveiro, 15 de abril de 1902 - Lisboa, 29 de abril de 2002) foi o mais idoso jornalista português.
  
(...)
  
Depois da notoriedade enquanto repórter de guerra na BBC, realizou a primeira emissão em direto da RTP, em 7 de março de 1957, na Feira Popular de Lisboa. Entrou para os quadros da RTP apenas a 1 de janeiro de 1976, já com 74 anos.
A célebre expressão “E esta, hein?” marcou a sua carreira como repórter televisivo. A expressão surgiu como substituto dos palavrões que tinha vontade de dizer quando denunciava situações menos agradáveis do quotidiano do país nos seus "bilhetes postais". Neste contexto, era por vezes criticado por privilegiar nas suas sátiras os políticos cuja ideologia não partilhava, poupando em geral os que pudessem ser conotados com a esquerda.
Pelo seu trabalho como correspondente da Segunda Guerra Mundial, Fernando Pessa foi distinguido com a Ordem do Império Britânico. E, em Portugal, a 10 de junho de 1981, o Presidente da República, Ramalho Eanes, atribui-lhe o título de Comendador.

Reformou-se em 1995, com 93 anos de idade. Fernando Pessa faleceu a 29 de abril de 2002, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, poucos dias depois de completar cem anos.

sábado, abril 15, 2023

Fernando Pessa nasceu há 121 anos...

(imagem daqui)
  
Fernando Luís de Oliveira Pessa (Vera Cruz, Aveiro, 15 de abril de 1902 - Lisboa, 29 de abril de 2002) foi o mais velho jornalista português no ativo.
A mãe era natural de São Tomé. O pai era médico militar mas, devido à falta de dinheiro, pediu licença do exército e partiu para a colónia de São Tomé e Príncipe, deixando a mulher e os três filhos em Portugal.
Fernando Pessa viveu em Aveiro até aos dois anos. Foi em Penela, vila do distrito de Coimbra, que o jornalista recebeu a instrução primária. Fez o exame da 4ª classe em 1911, em Coimbra, onde viveu até 1921.
Concluídos os estudos secundários, em que se preparara para os exames de admissão à "Escola de Guerra", tentou o ingresso na carreira militar como oficial de Cavalaria. Porém, como resultado da Primeira Guerra Mundial, havia oficiais em excesso e só era admitido quem frequentasse o Colégio Militar de Lisboa.
Antes de embarcar na carreira jornalística, trabalhou numa companhia de seguros e num banco, ainda em Coimbra, onde esteve pouco tempo. Em 1926 foi trabalhar para outra companhia de seguros, no Brasil, de onde regressou em 1934.
Em 1934 candidatou-se aos quadros da recém criada Emissora Nacional, tendo ficado classificado em segundo lugar e, como gostava de sublinhar, “sem cunhas”. Iniciou, assim, uma carreira que nunca tinha pensado seguir. E assim transformou-se no primeiro locutor da Emissora Nacional.
Com uma semana de rádio, Pessa fez a sua primeira reportagem: a cobertura de um festival de acrobacia área na antiga Porcalhota, atual Amadora.
Após quatro anos na Emissora Nacional, foi convidado para trabalhar na BBC, em Londres. Começou por trabalhar com sotaque na secção brasileira e só quando um colega português adoeceu foi chamado para ler o noticiário. Neste ambiente sofreu os bombardeamentos alemães sobre Londres e se profissionalizou e notabilizou como correspondente durante a Segunda Guerra Mundial.
A censura e a restrição das liberdades civis da ditadura de António de Oliveira Salazar acabaram por contribuir para o crescendo de popularidade das transmissões em português da BBC.
Conheceu a sua esposa, Simone Alice Roufier, uma brasileira de ascendência inglesa e norte-americana, em Londres. Casou-se em 1947, no novo regresso a Portugal.
No regresso a Lisboa, em 1947, a sua reentrada na rádio Emissora Nacional foi vedada por influência do regime, sendo forçado a voltar ao ramo dos seguros. Nesta época também fez dobragens de filmes e documentários, nomeadamente O Último Temporal - Cheias do Tejo e Portugal já faz automóveis, do cineasta Manoel de Oliveira. Acabou por participar do Plano Marshall de ajuda económica à Europa, quando Portugal se envolveu.
Depois da notoriedade enquanto repórter de guerra na BBC, realizou a primeira emissão em direto da RTP, em 7 de março de 1957, na Feira Popular de Lisboa.
Entrou para os quadros da RTP apenas a 1 de janeiro de 1976, já com 74 anos.
A célebre expressão “E esta, hein?” marcou a sua carreira como repórter televisivo. A expressão surgiu como substituto dos palavrões que tinha vontade de dizer quando denunciava situações menos agradáveis do quotidiano do país nos seus "bilhetes postais". Neste contexto, era por vezes criticado por privilegiar nas suas sátiras os políticos cuja ideologia não partilhava, poupando em geral os que pudessem ser conotados com a esquerda.
Pelo seu trabalho como correspondente da Segunda Guerra Mundial, Fernando Pessa foi distinguido com a Ordem do Império Britânico. E, em Portugal, a 10 de junho de 1981, o Presidente da República, Ramalho Eanes, atribui-lhe o título de da Ordem do Infante D. Henrique.
Reformou-se em 1995, com 93 anos de idade.
Fernando Pessa faleceu a 29 de abril de 2002, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, poucos dias depois de completar 100 anos.
      

quarta-feira, março 08, 2023

O poeta e pedagogo João de Deus nasceu há 193 anos

  
João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de Messines, 8 de março de 1830 - Lisboa, 11 de janeiro de 1896), mais conhecido por João de Deus, foi um eminente poeta lírico e pedagogo, considerado à época o primeiro do seu tempo, e o proponente de um método de ensino da leitura, assente numa Cartilha Maternal por ele escrita, que teve grande aceitação popular, sendo ainda utilizado. Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto, sendo ainda em vida objeto das mais variadas homenagens. Foi considerado o poeta do amor e encontra-se sepultado no Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa.
    
      

 
A VIDA

Foi-se-me pouco a pouco amortecendo
a luz que nesta vida me guiava,
olhos fitos na qual até contava
ir os degraus do túmulo descendo.

Em se ela anuviando, em a não vendo,
já se me a luz de tudo anuviava;
despontava ela apenas, despontava
logo em minha alma a luz que ia perdendo.

Alma gémea da minha, e ingénua e pura
como os anjos do céu (se o não sonharam...)
quis mostrar-me que o bem bem pouco dura!

Não sei se me voou, se ma levaram;
nem saiba eu nunca a minha desventura
contar aos que inda em vida não choraram ...

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A vida é o dia de hoje,
a vida é ai que mal soa,
a vida é sombra que foge,
a vida é nuvem que voa;
a vida é sonho tão leve
que se desfaz como a neve
e como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
mais leve que o pensamento,
a vida leva-a o vento,
a vida é folha que cai!

A vida é flor na corrente,
a vida é sopro suave,
a vida é estrela cadente,
voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
onda que o vento nos mares
uma após outra lançou,
a vida – pena caída
da asa de ave ferida -
de vale em vale impelida,
a vida o vento a levou!

 
 
in
Campo de Flores (1893) - João de Deus