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sábado, março 02, 2024

Gorbatchov nasceu há 93 anos...


Mikhail Sergeevitch Gorbatchov ou Gorbachev (Stavropol, 2 de março de 1931Moscovo, 30 de agosto de 2022) foi um estadista e político russo. Oitavo e último líder da União Soviética, foi Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) de 1985 a 1991. Foi chefe de Estado do país de 1988 a 1991, na posição de Presidente do Presidium do Soviete Supremo de 1988 a 1989, Presidente do Soviete Supremo de 1989 a 1990 e Presidente da União Soviética de 1990 a 1991. Ideologicamente, a sua identificação inicial era com os ideais marxistas-leninistas, tendo, entretanto, no início da década de 90, se inclinado para a social democracia

De origens russas e ucranianas, Gorbatchov nasceu em Privolnoye, Krai de Stavropol numa família pobre, de camponeses. Nascido e criado durante o governo de Estaline, operava ceifeiras debulhadoras numa fazenda coletiva durante a sua juventude, antes de filiar-se no Partido Comunista, que, à época, governava a União Soviética sob um regime unipartidário de orientação marxista-leninista. Durante seus estudos na Universidade Estatal de Moscovo, casou-se com sua colega de faculdade Raíssa Titarenko em 1953, dois anos antes de graduar-se em direito. Ao mudar-se para Stavropol, trabalhou para a Komsomol, organização juvenil do PCUS e, após a morte de Estaline, tornou-se um forte apoiante das reformas desestalinizadoras do líder soviético Nikita Khrushchov. Foi nomeado Primeiro Secretário do Comité Regional de Stavropol do PCUS em 1970, posição na qual supervisionou a construção do Grande Canal de Stavropol. Em 1978, retornou a Moscovo para tornar-se Secretário do Comité Central do PCUS e, em 1979, entrou para o Politburo. Após os três anos que se seguiram desde a morte do líder soviético Leonid Brezhnev, após os breves governos de Yuri Andropov e Konstantin Chernenko, o Politburo elegeu Gorbatchov Secretário-Geral, tornando-o chefe de governo de facto, em 1985.

Apesar de seu compromisso de preservar o estado soviético e seus ideais socialistas, Gorbatchov acreditava que reformas políticas significativas eram necessárias, especialmente após o acidente nuclear de Chernobyl de 1986. Ordenou a retirada soviética da Guerra do Afeganistão e participou de diversos encontros com o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan para limitar a proliferação de armas nucleares e acabar com a Guerra Fria. No que diz respeito à política interna, implementou a glasnost ("transparência"), política que aumentava as liberdades de expressão e imprensa, e a perestroika ("reestruturação"), política que objetivava descentralizar a tomada de decisões no âmbito econômico, com o propósito de aumentar a eficiência económica. As suas medidas democratizantes e a formação do Congresso dos Deputados do Povo enfraqueceram o sistema estatal unipartidário. Gorbatchov recusou-se a intervir militarmente nos vários países do Bloco do Leste que abandonaram as suas orientações marxistas-leninistas nos anos de 1989 e 1990. Um sentimento nacionalista crescente ameaçava o colapso da União Soviética, levando partidários marxistas-leninistas a tentarem um golpe de Estado contra o governo de Gorbatchov em agosto de 1991. Subsequentemente, houve a dissolução da União Soviética contra os desejos de Gorbatchov, levando-o a renunciar em dezembro. Após deixar o cargo, criou a Fundação Gorbatchov, tornou-se crítico dos governos dos presidentes russos Boris Yeltsin e Vladimir Putin, e fez campanha pelo movimento social-democrata russo.

Considerado uma das figuras mais importantes da segunda metade do século XX, Gorbatchov continua uma figura controversa. Galardoado com um grande número de prémios, incluindo o Prémio Nobel da Paz, foi amplamente elogiado por seu papel pelo fim da Guerra Fria, pela redução dos abusos de direitos humanos na União Soviética e por sua tolerância tanto à queda dos governos socialistas do leste europeu quanto à reunificação da Alemanha. Por outro lado, na Rússia, é constantemente escarnecido por não ter impedido o colapso soviético, evento que resultou em um declínio da influência russa no mundo e precedeu uma crise económica.

 

sexta-feira, março 01, 2024

Estaline teve (finalmente...) um AVC há 71 anos

    
Josef Vissarionovitch Stalin, Estaline em português, (Gori, 18 de dezembro de 1879 - Moscovo, 5 de março de 1953), nascido Iossif Vissarionovitch Djugashvili, foi secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e do Comité Central desde 1922 até à sua morte, em 1953, sendo assim o líder da União Soviética neste período.
Sob a liderança de Estaline, a União Soviética desempenhou um papel decisivo na derrota da Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) e atingiu o estatuto de superpotência, após rápida industrialização e melhoras nas condições sociais do povo soviético, durante esse período, o país também expandiu seu território para um tamanho quase igual ao do antigo Império Russo.
Durante o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 1956, o sucessor de Estaline, Nikita Khrushchov, apresentou o seu Discurso Secreto, oficialmente chamado "Do culto à personalidade e suas consequências", a partir do qual iniciou-se um processo de "desestalinização" da União Soviética. Ainda hoje existem diversas perspetivas ao redor de Estaline e seu governo, alguns o vendo como ditador tirano e outros como líder habilidoso.
  
(...)
  
Na manhã de 1 de março de 1953, depois de um jantar que durou a noite toda e ter visto um filme, Estaline chegou à sua casa em Kuntsevo, a 15 km a oeste do centro de Moscovo com o Ministro do Interior, Lavrentiy Beria, e os futuros líderes Georgy Malenkov, Nikolai Bulganin e Nikita Khrushchev, retirando-se para o quarto, para dormir. À tarde, Estaline não saiu do quarto.
Embora os seus guardas estranhassem que ele não se levantasse à hora usual, eles tinhas ordens estritas para não o perturbar e deixaram-no sozinho o dia inteiro. Cerca das 22.00 horas, Peter Lozgachev, o Comandante de Kuntsevo, entrou no quarto e viu Estaline caído de costas no chão, perto da cama, com o pijama e ensopado em urina. Um assustado Lozgachev perguntou a Estaline o que aconteceu, mas só obteve respostas ininteligíveis. Lozgachev usou o telefone do quarto enquanto chamava oficiais, dizendo-lhes que Estaline tinha tido um ataque e pedia que mandassem doutores para a residência de Kuntsevo imediatamente. Lavrentiy Beria foi informado e chegou algumas horas depois, mas os doutores só chegaram no início da manhã de 2 de março, mudando as roupas da cama e deitando-o. O acamado líder morreu quatro dias depois, em 5 de março de 1953, de hemorragia cerebral (derrame), em circunstâncias ainda hoje pouco esclarecidas, com 74 anos de idade, sendo embalsamado a 9 de março. Avtorkhanov desenvolveu uma detalhada teoria, publicada inicialmente em 1976, apontando Beria como o principal suspeito de tê-lo envenenado. Todavia, outros historiadores ainda consideram que Estaline morreu de causas naturais.
Nikita Khrushchov escreveu nas suas memórias que, imediatamente após a morte de Estaline, Lavrenty Beria teria começado a "vomitar o seu ódio (contra Estaline) e a zombar dele", e que quando Estaline demonstrou sinais de consciência, Beria teria se colocado de joelhos e beijado as mãos de Estaline. No entanto, assim que Estaline ficou novamente inconsciente, Beria imediatamente teria se levantado e cuspido com nojo.
Em 2003, um grupo de historiadores russos e americanos anunciaram a sua conclusão de que Estaline ingeriu varfarina, um poderoso veneno de rato que inibe a coagulação sanguínea e predispõe a vítima à hemorragia cerebral (derrame). Como a varfarina é insípida ela provavelmente teria sido o veneno utilizado. No entanto, os factos exatos envolvendo a morte de Estaline provavelmente nunca serão conhecidos.
O período imediatamente anterior ao seu falecimento, nos meses de fevereiro-março de 1953, foi marcado por uma atividade febril de Estaline nos preparativos de uma nova onda de perseguições e campanhas repressivas, exceção até para os padrões da era estalinista. Tratava-se do conhecido complô dos médicos: em 3 de janeiro de 1953, foi anunciado que nove catedráticos de medicina, quase todos judeus e que tratavam dos membros da liderança soviética, tinham sido "desmascarados" como agentes da espionagem americana e britânica, membros de uma organização judaica internacional, e assassinos de importantes líderes soviéticos.
Tratava-se da preparação de um novo julgamento-espetáculo, desta vez com claros traços de anti-semitismo, que certamente levaria a um pogrom nacional, e que implicaria, segundo Isaac Deutscher, na auto-destruição das próprias raízes ideológicas do regime, razão pela qual a morte de Estaline pareceu a muitos ter sido provocada pelos seus seguidores imediatos, claramente alarmados diante da iminente fascistização promovida por Estaline. O facto de que Beria estivesse alheio à preparação deste novo expurgo fez com que ele fosse apresentado como possível autor intelectual do suposto assassinato de Estaline; o facto é, no entanto, que Estaline era idoso e que sua saúde, desde o final da Segunda Guerra Mundial, era precária; aqueles que tiveram contacto pessoal com ele nos seus últimos anos lembram-se do contraste entre a sua imagem pública de ente semi-divino e sua aparência real, devastada pela idade. Simon Sebag Montefiore considera que, apesar de Estaline haver recebido assistência atrasada para o derrame que o vitimaria, a tecnologia médica da época nada poderia fazer por ele, em termos terapêuticos.
  

quarta-feira, fevereiro 21, 2024

O Manifesto Comunista foi publicado há 176 anos

    
O Manifesto Comunista (Das Kommunistische Manifest), originalmente denominado Manifesto do Partido Comunista (em alemão: Manifest der Kommunistischen Partei), publicado pela primeira vez em 21 de fevereiro de 1848, é historicamente um dos tratados políticos de maior influência mundial. Comissionado pela Liga dos Comunistas e escrito pelos teóricos fundadores do socialismo científico, Karl Marx e Friedrich Engels, expressa o programa e propósitos da Liga.
O Manifesto Comunista foi escrito no meio do grande processo de lutas urbanas das Revoluções de 1848, chamadas também de Primavera dos Povos, um processo revolucionário de quase um ano que atingiu os principais países Europeus e é uma análise da Revolução Industrial contemporânea a ela. Duas das suas maiores reivindicações foram reformas sociais, onde se conquista a diminuição da jornada diária de trabalho de doze para dez horas e o voto universal, embora apenas para os homens.
      

O golpe de estado comunista que acabou com a Democracia na Checoslováquia foi há 76 anos...

    
O Golpe de Estado da Checoslováquia de 1948, muitas vezes, simplesmente Golpe Checo ou Golpe de Praga (em checo: Únor 1948, em eslovaco: Február 1948, ambas significando "Fevereiro de 1948"; na historiografia comunista conhecido como "Fevereiro Vitorioso", em checo: Vítězný únor, em eslovaco: Víťazný február), foi um evento em que o Partido Comunista da Checoslováquia (KSČ), com o apoio soviético, assumiu o controle incontestável do governo da Checoslováquia, inaugurando mais de quatro décadas de ditadura sob seu comando.

 

(...)  

    

A crise começou a 21 de fevereiro de 1948, quando o Ministro do Interior escolheu oito novos Comissários em Praga, todos comunistas, o que demonstrava o controle do partido comunista sobre o governo da Checoslováquia e, em especial, sobre as forças de segurança do Estado. Isso provocou protestos, seguidos pela renúncia dos ministros democratas. Os renunciantes pensavam que assim provocariam uma crise política, levando a eleições gerais antecipadas, quando então derrotariam o Partido Comunista.
No entanto, havia uma atmosfera de tensão crescente e enormes manifestações lideradas pelos comunistas ocorrendo em todo o país, enquanto o presidente Edvard Benes procurava manter-se neutro, temendo que o fomento do KSČ causasse uma insurreição que, por fim, desse ao Exército Vermelho um pretexto para invadir o país e restaurar a ordem.
No entanto, os membros que se demitiram foram substituídos por membros do Partido Comunista, e, com o apoio de Estaline, o líder comunista da Checoslováquia, Klement Gottwald, marcou uma greve geral para 24 de fevereiro, criando assim uma série de comités de ação, apoiadas pelas milícias dos trabalhadores, que impediram qualquer resistência por parte das forças democráticas.
Enquanto isso, os ministros comunistas se mobilizavam. Para ajudá-los, o embaixador soviético, Valerian Zorin, chegou a Praga para organizar um golpe. Milícias armadas tomaram Praga; manifestações comunistas foram montadas, um manifestação estudantil anticomunista foi interrompida. Os ministérios comandados por não comunistas foram ocupados; funcionários eram demitidos, e os ministros impedidos de entrar em seus próprios gabinetes. O exército ficou confinado aos quartéis e não interferiu.
Num discurso perante 100.000 simpatizantes, o líder Gottwald ameaçou com uma greve geral, a não ser que o presidente Benes concordasse em formar um novo governo dominado pelos comunistas. O embaixador soviético ofereceu os serviços do Exército Vermelho, cujas tropas estavam preparadas  nas fronteiras do país. Mas Gottwald recusou a oferta, acreditando que a ameaça de violência, combinada com uma forte pressão política, seria o suficiente para forçar Benes a ceder. Após o golpe, Gottwald diria: "[Benes] sabe o que é a força, e isso o levará a avaliar essa [situação] de forma realista".
Em 25 de fevereiro de 1948, após duas semanas de intensa pressão da União Soviética o Presidente da República da Checoslováquia, Edvard Benes, cedeu todo o poder a Klement Gottwald e a Rudolf Slánský, aceitando a renúncia dos ministros não comunistas e nomeando um novo governo, sob a liderança de Gottwald e dominado por comunistas e social-democratas pró-Moscovo. O único ministério controlado por um não comunista era o das Relações Exteriores, que foi entregue a Jan Masaryk - encontrado morto duas semanas depois. Após o golpe, os comunistas moveram-se rapidamente para consolidar o seu poder: milhares de não simpatizantes foram demitidos, centenas foram presos e milhares de pessoas fugiram do país.
Nas eleições de 30 de maio, os eleitores foram presenteados com uma única lista - a da Frente Nacional - e que oficialmente obteve 89,2% dos votos. Na lista da Frente Nacional, os comunistas e os social-democratas (que logo se fundiram) tinham maioria absoluta. Mas praticamente todos os partidos não comunistas que haviam participado da eleição de 1946 também ficaram representados na lista da Frente Nacional e, assim, receberam alguns assentos parlamentares. No entanto, àquela altura, todos se haviam convertido em fiéis parceiros dos comunistas. A Frente Nacional foi transformada numa ampla organização patriótica dominada pelos comunistas, e a nenhum outro grupo político foi permitido existir. Consumido por estes eventos, Benes renunciou em 2 de junho e foi sucedido por Gottwald, 12 dias depois, falecendo em setembro do mesmo ano.
  

Impacto 
A Checoslováquia permaneceu como uma ditadura comunista até à Revolução de Veludo de 1989. O golpe tornou-se sinónimo da Guerra Fria. A perda da última democracia remanescente na Europa do Leste causou um choque profundo no Ocidente. Pela segunda vez em uma década, via-se a independência e a democracia da Checoslováquia serem apagadas por uma ditadura totalitária. A URSS parecia ter concluído a formação de um bloco monolítico soviético e concluído a divisão da Europa.
O impacto foi igualmente profundo, tanto na Europa Ocidental como nos Estados Unidos, e ajudou a unificar os países ocidentais contra o bloco comunista. Deu também um ar de presciência aos governos francês e italiano, que, no ano anterior, haviam forçado a saída dos partidos comunistas dos seus governos.
O golpe checo constituiu uma rutura definitiva nas relações entre as duas superpotências, com o Ocidente agora sinalizando a sua determinação de se comprometer numa de auto-defesa coletiva.
No Ocidente, o golpe de Praga teve um grande impacto porque a Checoslováquia era, geográfica, histórica e politicamente o país mais ocidental da Europa Central e Oriental.
 

quinta-feira, fevereiro 15, 2024

O jornal Avante! faz hoje 93 anos


 

O Avante! é o jornal oficial do Partido Comunista Português, e iniciou, clandestinamente, a sua publicação a 15 de fevereiro de 1931. O seu lema é «Proletários de todos os países, UNI-VOS!» .

Só o primeiro número foi impresso numa tipografia legal, próxima do Largo de São Paulo, em Lisboa, graças a um estudante do liceu Gil Vicente que convenceu o tipógrafo a imprimir, além de um boletim estudantil, mais umas quantas folhas - o «Avante!». A partir daí e até ao 25 de abril, o jornal foi sempre impresso em tipografias clandestinas. Por altura da apanha da azeitona chegaram a cair jornais «Avante!» das oliveiras em terras alentejanas, uma das muitas formas encontradas para distribuir clandestinamente o órgão central do PCP. O trabalho era todo feito manualmente, por funcionários que pareciam ter uma vida normal. Algumas vezes a perseguição da PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) resultou na morte dos tipógrafos. No dia 24 de janeiro de 1950, o corpo do funcionário José Moreira deu entrada na morgue com a indicação de que caíra de uma janela, no entanto, o operário vidreiro e responsável pelas tipografias do Jornal «Avante!», foi capturado durante assalto a uma casa clandestina do PCP em Vila do Paço e torturado pela PIDE, que o interrogou e espancou até à morte, acabando por o atirar da janela. Joaquim Barradas de Carvalho afirma que o operário "foi torturado pela PIDE e foi morto na tortura sem ter dito uma palavra acerca daquilo que era conveniente guardar acerca do trabalho do Partido Comunista Português na clandestinidade". Maria Machado, professora primária e militante do PCP do qual foi funcionária clandestina entre 1942 e 1945, trabalhava numa tipografia na povoação de Barqueiro, em Alvaiázere, quando a PIDE a assaltou. Tendo ficado para trás para permitir a fuga aos restantes tipógrafos, foi presa e torturada, e não prestou nenhuma declaração. Enquanto era arrastada pelos agentes da PIDE, gritou: «Se a liberdade de imprensa não fosse uma farsa, esta tipografia não precisava de ser clandestina. Isto aqui é a tipografia do jornal clandestino «Avante!». O «Avante!» defende os interesses do povo trabalhador de Portugal.». Joaquim Rafael teve uma vida de inteira abnegação dedicada à imprensa clandestina do Partido. Entre 1943 e 1945, Joaquim Rafael esteve ligado à distribuição do «Avante!», passando depois para as tipografias. Nos vinte e cinco anos que se seguiram, tornou-se num dos melhores tipógrafos clandestino e um mestre para novos camaradas que entravam para as tipografias. Referência maior na história da imprensa clandestina, morreu em 1974. José Dias Coelho, escultor e funcionário do PCP, foi assassinado a tiro pela PIDE em 1961, quando se dirigia para um encontro clandestino. Pondo os seus dotes de artista plástico ao serviço da sua causa e do seu Partido, deu um contributo decisivo para a melhoria do aspeto gráfico de vários órgãos de imprensa clandestina, nomeadamente do «Avante!». Das suas mãos saíram muitas das famosas gravuras – de linóleo ou de madeira – que se podem encontrar em numerosos exemplares do «Avante!» clandestino. Em 1972, o cantor Zeca Afonso homenageia-o com a música A Morte Saiu à Rua.

Segundo o jornal Público, as regras para quem trabalhava na clandestinidade eram rigorosas ao ponto de ter que se fazer as malas à mínima suspeita de se ter dado nas vistas.

Em 17 de maio de 1974 foi publicado o primeiro número fora da clandestinidade, tendo passado a semanário desde essa data.

 

terça-feira, fevereiro 13, 2024

Carlos Aboim Inglez morreu há vinte e dois anos...

    
Carlos Aboim Inglez
(Lisboa, 5 de janeiro de 1930 - Lisboa, 13 de fevereiro de 2002) foi um intelectual comunista português, militante e dirigente do PCP
     
Biografia

Entrou no partido apenas com 16 anos, em 1946. Preocupou-se, nos últimos anos de vida, sobre o tema da globalização, sob uma perspetiva marxista, articulando-a com a noção de fases na mundialização do capitalismo e a noção de imperialismo.

 

Vida na clandestinidade

Em 1953, com 23 anos, torna-se funcionário do PCP, o que significava, nessa altura, e durante mais de duas décadas ainda, passar à clandestinidade, algo que viveu com a sua mulher Maria Adelaide Aboim Inglez. Esteve preso durante o regime do Estado Novo, altura em que tentou traduzir a "Fenomenologia do Espírito" de Hegel, tendo ficado pela "Introdução".

  

Escrita

Poeta, mostrou grande interesse pela poesia portuguesa, como se nota no facto de incluir várias notas sobre poesia no jornal comunista "Avante!", como a respeito de Sá de Miranda, Camões ou Gil Vicente. Interessava-o as relações entre o pensamento materialista e a controvérsia medieval entre o realismo e nominalismo.

 

Falecimento

Quando morreu, pediu para ser cremado ao som do Coro dos Escravos da ópera Nabucco, de Verdi.

 

Homenagem 

A Câmara Municipal de Lisboa prestou-lhe a sua homenagem ao atribuir o seu nome a uma rua, na freguesia da Charneca, no Alto do Lumiar.

  
 
 
AO RETRATO DE CATARINA
 
 
Esses teus olhos enxutos
Num fundo cavo de olheiras
Esses lábios resolutos
Boca de falas inteiras
Essa fronte aonde os brutos
Vararam balas certeiras
Contam certa a tua vida
Vida de lida e de luta
De fome tão sem medida
Que os campos todos enluta
 
Ceifou-te ceifeira a morte
Antes da própria sazão
Quando o teu altivo porte
Fazia sombra ao patrão
Sua lei ditou-te a sorte
Negra bala foi teu pão
E o pão por nós semeado
Com nosso suor colhido
Pelo pobre é amassado
Pelo rico só repartido
 
Tanta seara continhas
Visível já nas entranhas
Em teu ventre a vida tinhas
Na morte certeza tenhas
Malditas ervas daninhas
Hão-de ter mondas tamanhas
Searas de grã estatura
De raiva surda e vingança
Crescerão da tua esperança
Ceifada sem ser madura
  
Teus destinos Catarina
Não findaram sem renovo
Tiveram morte assassina
Hão-de ter vida de novo
Na semente que germina
Dos destinos do teu povo
E na noite negra negra
Do teu cabelo revolto
nasce a Manhã do teu rosto
No futuro de olhos posto

 
  
Carlos Aboim Inglez

sábado, fevereiro 10, 2024

Hoje é dia recordar um Poeta...

 

 

A emigração dos poetas

Homero não tinha morada
E Dante teve que deixar a sua.
Li-Po e Tu-Fu andaram por guerras civis
Que tragaram 30 milhões de pessoas
Eurípedes foi ameaçado com processos
E Shakespeare, moribundo, foi impedido de falar.
Não apenas a Musa, também a polícia
Visitou François Villon.
Conhecido como “o Amado”
Lucrécio foi para o exílio
Também Heine, e assim também
Brecht, que buscou refúgio
Sob o teto de palha dinamarquês.

 

 

Bertolt Brecht

Bertholt Brecht nasceu há 126 anos

   
Eugen Bertholt Friedrich Brecht (Augsburg, 10 de fevereiro de 1898 - Berlim Leste, 15 de agosto de 1956) foi um destacado dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX.Os seus trabalhos artísticos e teóricos influenciaram profundamente o teatro contemporâneo, tornando-o mundialmente conhecido a partir das apresentações de sua companhia, Berliner Ensemble, realizadas em Paris durante os anos de 1954 e 1955.
Ao final dos anos 1920 Brecht torna-se marxista, vivendo o intenso período das mobilizações da República de Weimar, desenvolvendo o seu teatro épico. A sua praxis é uma síntese do experimentalismo teatral de Erwin Piscator e Vsevolod Emilevitch Meyerhold, do conceito de estranhamento do formalista russo Viktor Chklovski, do teatro chinês e do teatro experimental da Rússia soviética, entre os anos de 1917-1926. O seu trabalho como artista concentrou-se na crítica artística ao desenvolvimento das relações humanas no sistema capitalista.

 

Perguntas de um Operário Letrado



Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

 

Bertolt Brecht

quarta-feira, janeiro 24, 2024

A matança de Atocha foi há 47 anos...

Monumento aos advogados assassinados, situado na Rua de Atocha em Madrid

   

A matança de Atocha de 1977 foi um atentado terrorista tardofranquista de extrema direita cometido na Rua Atocha, no centro de Madrid, a noite de 24 de janeiro de 1977. Foi um dos factos que marcaram a transição espanhola.

O autodenominado comando Roberto Hugo Sosa da Aliança Apostólica Anticomunista (AAA) penetrou num escritório de advogados em direito laboral de Comisiones Obreras (CC.OO.) e militantes do Partido Comunista de Espanha (PCE), ainda ilegal no país, situado no número 55 da Rua de Atocha, abrindo fogo contra os ali presentes, matando cinco pessoas e deixando quatro feridos.

O jornal italiano Il Messaggero indicou, em março de 1984, que neofascistas italianos participaram na matança, algo que foi provado em 1990, quando um relatório oficial italiano relatou que Carlo Cicuttini, um neofascista italiano próximo da organização Gládio (uma rede clandestina anti-comunista dirigida pela CIA), participara na matança. Cicuttini fugira para a Espanha, onde adquiriu a nacionalidade espanhola, depois do atentado de Peteano de 1972, feito com Vincenzo Vinciguerra.

Atualmente 24 povoações de Madrid, nas suas ruas e praças, lembram as vítimas do número 55 da Rua Atocha.

  

O atentado

Os terroristas, aparentemente, iam à procura do dirigente comunista Joaquín Navarro, dirigente do Sindicato de Transportes de CC.OO. em Madrid, que convocara de umas greves que, em boa medida, desarticularam a que chamavam máfia franquista do transporte. Ao não o encontrarem, já que saíra um pouco antes, decidiram matar os presentes, concretamente dois jovens com armas de fogo, após tocar a campainha do apartamento entre 22.30 e 22.45 horas. Com eles ia uma terceira pessoa, encarregue de cortar os cabos do telefone e registar os escritórios. Na mesma noite, pessoas desconhecidas assaltaram também um escritório do sindicato da UGT, que estava vazio.

Como consequência dos tiros foram mortos os advogados Enrique Valdevira Ibáñez, Luis Javier Benavides Orgaz e Francisco Javier Sauquillo Pérez del Arco; o estudante de direito Serafín Holgado de Antonio; e o administrativo Ángel Rodríguez Leal. Ficaram ainda gravemente feridos Miguel Sarabia Gil, Alejandro Ruiz Huertas, Luis Ramos Pardo e Dolores González Ruiz, casada com Sauquillo, grávida, que perdeu o seu bebé.

 

segunda-feira, janeiro 22, 2024

Gramsci nasceu há 133 anos

 
Antonio Francesco Gramsci (Ales, 22 de janeiro de 1891 - Roma, 27 de abril de 1937) foi um filósofo marxista, jornalista, crítico literário, linguista, historiador e político italiano. Escreveu sobre teoria política, sociologia, antropologia, história e linguística. Foi membro-fundador e secretário-geral do Partido Comunista da Itália, e deputado pelo distrito do Veneto, sendo preso pelo regime fascista de Benito Mussolini. Gramsci é reconhecido, principalmente, pela sua teoria da hegemonia cultural que descreve como o Estado usa, nas sociedades ocidentais, as instituições culturais para conservar o poder. 

 

quinta-feira, janeiro 18, 2024

Ary dos Santos morreu há quarenta anos...

(imagem daqui)
      
José Carlos Pereira Ary dos Santos (Lisboa, 7 de dezembro de 1937 - Lisboa, 18 de janeiro de 1984) foi um poeta e declamador português.
Ficou na história da música portuguesa por ter escrito poemas de quatro canções vencedoras participantes no Festival Eurovisão da Canção: Desfolhada Portuguesa (1969), com interpretação de Simone de Oliveira, Menina do Alto da Serra (1971), interpretada por Tonicha, Tourada (1973), interpretada por Fernando Tordo e Portugal no Coração (1977), interpretada pelo grupo Os Amigos.
  
 
 
Desenho de José Dias Coelho - daqui

 

RETRATO DE CATARINA EUFÉMIA
 
Da medonha saudade da medusa
que medeia entre nós e o passado
dessa palavra polvo da recusa
de um povo desgraçado.
 
Da palavra saudade a mais bonita
a mais prenha de pranto a mais novelo
da língua portuguesa fiz a fita encarnada
que ponho no cabelo.
 
Trança de trigo roxo
Catarina morrendo alpendurada
do alto de uma foice.
Soror Saudade Viva assassinada
pelas balas do sol
na culatra da noite.
 
Meu amor. Minha espiga. Meu herói
Meu homem. Meu rapaz. Minha mulher
de corpo inteiro como ninguém foi
de pedra e alma como ninguém quer.
 
 
José Carlos Ary dos Santos 

segunda-feira, janeiro 15, 2024

Hoje é dia de recordar Rosa Luxemburgo...

(imagem daqui)
     
 
Epitáfio para Rosa Luxemburgo

Aqui jaz
Rosa Luxemburgo
Judia da Polónia
Vanguarda dos operários alemães
Morta por ordem
Dos opressores. Oprimidos
Enterrai as vossas desavenças!
   

  
Bertold Brecht

Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo foram barbaramente assassinados há 105 anos...

    
Karl Liebknecht (Leipzig, 13 de agosto de 1871 - Berlim, 15 de janeiro de 1919) foi um político e dirigente socialista alemão.
Filho de Wilhelm Liebknecht e colaborador de Karl Marx e Friedrich Engels, Karl Liebknecht ficou conhecido por ter, com Rosa Luxemburgo, fundado a Liga Spartacus, em 1916. Este movimento de esquerda surgiu na Alemanha em oposição ao regime social-democrata vigente na República de Weimar, acusado pelos espartaquistas de ser cooptado pela burguesia.
Karl Liebknecht estudou direito nas Universidades de Leipzig e Berlim, concluindo o seu doutoramento na Universidade de Würzburg, em 1897. Abriu um escritório de advocacia e passou a defender causas sindicais e da juventude. Em 1900 aderiu ao Partido Social-Democrata da Alemanha. Passa a intensa militância política e funda em 1915, juntamente com Rosa Luxemburgo e outros, a Liga Spartacus, sendo expulso do SPD em 1916, aglutinando-se no Partido Social-Democrata Independente da Alemanha (USPD) e, depois da rutura com este, no Partido Comunista da Alemanha (KPD).
Em 15 de janeiro de 1919, após o governo moderado alemão ter colocado as cabeças dos líderes da esquerda a prémio, Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo foram assassinados em Berlim. Entretanto, o movimento a que eles deram origem não morreu com os seus idealizadores, já que sua conceção acabou, principalmente através de sua principal teórica, Rosa Luxemburgo, influenciando diversos grupos e indivíduos, dando prosseguimento ao espartaquismo ou luxemburguismo.
Karl Liebknecht, juntamente com a Liga Spartacus, acabou por fundar o Partido Comunista da Alemanha, aliando-se a outros grupos comunistas da época, os Delegados Revolucionários e os Comunistas Internacionalistas. Com a morte de Liebknecht e Luxemburgo, o KPD acaba caindo na direção de Paul Levi, espartaquista que se aproximou da social-democracia anteriormente combatida e, posteriormente, passou ao comando de líderes pró-bolcheviques, sendo que a ala mais radical (principalmente os Comunistas Internacionalistas) juntou-se com a Esquerda de Breme e fundou o Partido Comunista Operário da Alemanha.
   

 

   
Rosa Luxemburgo, em polaco Róża Luksemburg (Zamość, 5 de março de 1871 - Berlim, 15 de janeiro de 1919), foi uma filósofa e economista marxista polaca e alemã, que se tornou mundialmente conhecida pela sua militância revolucionária ligada à Social-Democracia do Reino da Polónia e Lituânia (SDKP), ao Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) e ao Partido Social-Democrata Independente da Alemanha (USPD). Participou da fundação do grupo de tendência marxista do SPD, que viria a se tornar mais tarde o Partido Comunista da Alemanha (KPD).
Em 1915, após o SPD apoiar a participação alemã na Primeira Guerra Mundial, Luxemburgo fundou, ao lado de Karl Liebknecht, a Liga Espartaquista. Em 1 de janeiro de 1919, a Liga transformou-se no KPD. Em novembro de 1918, durante a Revolução Espartaquista, ela fundou o jornal Die Rote Fahne (A Bandeira Vermelha), para dar suporte aos ideais da Liga.
Luxemburgo considerou o levantamento espartaquista de janeiro de 1919, em Berlim, como um grande erro. Entretanto, ela acabaria por apoiar a insurreição que Liebknecht iniciou, sem seu conhecimento. Quando a revolta foi esmagada pelas Freikorps, milícias de direita composta por veteranos da Primeira Guerra que defendiam a República de Weimar, Luxemburgo, Liebknecht e alguns de seus seguidores foram capturados e assassinados. Luxemburgo foi fuzilada e o seu corpo deitado à água no Landwehr Canal, em Berlim.
  
(...)
  
Em 15 de janeiro de 1919, Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e Wilhelm Pieck, líderes do Partido Comunista da Alemanha, foram presos e levados para interrogatório no Hotel Eden em Berlim. Enquanto que os detalhes das mortes de Luxemburgo e Liebknecht são desconhecidos, a versão mais aceite é de que foram retirados do hotel por paramilitares do grupo de direita Freikorps, que mais tarde iriam apoiar os nazis. Enquanto Luxemburgo e Liebknecht eram escoltados para fora do prédio, foram espancados até ficarem inconscientes. Pieck conseguiu fugir, enquanto Luxemburgo e Liebknecht foram levados, cada um, num jipe militar. O primeiro jipe, com Rosa Luxemburgo, virou antes da ponte Corneliusbrücke, numa pequena rua paralela ao curso de água conhecido como Canal do Exército (Landwehrkanal). Ela foi baleada e atirada, semi-morta, nas águas geladas de janeiro do Landwerkanal. O seu companheiro de luta, Karl, seguia no outro jipe, que cruzou a Corneliusbrücke e entrou numa das ruas desertas do parque Tiergarten. Ele foi baleado pelas costas, enquanto era induzido a caminhar. Morto, foi entregue como indigente num posto policial. Dois meses mais tarde, Jogiches foi morto, pelo mesmo grupo. O corpo de Rosa Luxemburgo só foi encontrado no final de junho. Os seus assassinos jamais foram condenados. Somente em 1999, uma investigação do governo alemão concluiu que as tropas de assalto haviam recebido ordens e dinheiro dos governantes social-democratas para matar Luxemburgo e Liebknecht.
Os corpos de Luxemburgo e Liebknecht estão enterrados no Cemitério Central de Freidrichsfelde, em Berlim. Todos os anos, socialistas e comunistas se reúnem no local na segunda segunda-feira de janeiro para homenageá-los.
  

sexta-feira, janeiro 05, 2024

Carlos Aboim Inglez nasceu há 94 anos

(imagem daqui)
     
Carlos Aboim Inglez (Lisboa, 5 de janeiro de 1930 - Lisboa, 13 de fevereiro de 2002) foi um intelectual comunista português, militante e dirigente do PCP
  

 
 
Um homem só no segredo

 

Um homem só no segredo
sabe um segredo profundo:
nunca está só nem tem medo
quem ama os homens e o mundo.

  
   
  
Carlos Aboim Inglez

 

Nota: poema escrito com um prego na parede de um segredo das casamatas de Caxias, em dezembro de 1959.

quarta-feira, janeiro 03, 2024

A Fuga de Peniche foi há sessenta e quatro anos...

  
A chamada Fuga de Peniche foi um episódio da história de Portugal - no contexto da oposição ao regime salazarista - ocorrido na prisão de alta-segurança de Peniche, a 3 de janeiro de 1960.
Teve como atores os chamados Dez de Peniche, a saber:
A operação foi organizada internamente por uma comissão integrada por Álvaro Cunhal, Jaime Serra e Joaquim Gomes e, no exterior, por Pires Jorge e Dias Lourenço, com a ajuda de Octávio Pato, Rui Perdigão e Rogério Paulo.

No exterior, Pires Jorge e António Dias Lourenço, com o auxílio de Octávio Pato e Rui Perdigão, planearam a fuga. A execução do plano teve início às quatro da tarde, no dia 3 de janeiro de 1960. O carro dirigido por Rogério Paulo, com o porta-bagagens destrancado, parou no largo à frente do Forte, dando assim sinal aos que estavam dentro para iniciarem a fuga.

O carcereiro foi então neutralizado com o emprego de uma anestesia e, com a ajuda de um sentinela – o guarda José Alves – que fazia parte do plano de fuga, os prisioneiros atravessaram, sem serem percebidos pelos demais sentinelas, o trecho mais exposto do percurso. Encontrando-se no piso superior, desceram para o piso inferior por uma árvore. Daí correram para o pano exterior da muralha, para logo descerem o mesmo com o auxílio de uma corda feita com lençóis até alcançarem o fosso exterior. Dele, tiveram ainda que saltar um muro para chegar à vila, onde já se encontravam à espera os automóveis que os haviam de transportar para as casas clandestinas onde deveriam passar a noite.
Álvaro Cunhal passou a noite na casa de Pires Jorge em São João do Estoril, onde ficou a viver clandestinamente durante algum tempo.
O guarda José Alves que participou na conspiração exilou-se logo em Bucareste, Roménia. Aí juntou-se-lhe mais tarde a família. José Alves, a quem fora garantido pelos demais conspiradores que no exílio iria ter uma boa vida, não viu as suas expectativas realizadas e acabou por suicidar-se (ao que não haveria sido alheio encontrar-se longe da pátria e sem perspetiva de poder regressar, assim como possíveis dificuldades materiais, por haver sido esbulhado da recompensa). Após o 25 de abril, a sua esposa veio a Portugal e haveria de tentar falar com Álvaro Cunhal (na altura ministro do governo provisório). Em 1960 José Alves recebeu dos conspiradores 120 contos de réis de recompensa mas, no seguimento da operação, a sua esposa foi detida e, havendo confessado a existência do dinheiro, foi-lhe confiscado pelo Estado.
       
  
in Wikipédia

Luís Carlos Prestes nasceu há 126 anos

  
Luís Carlos Prestes (Porto Alegre, 3 de janeiro de 1898Rio de Janeiro, 7 de março de 1990) foi um militar e político comunista brasileiro, uma das personalidades políticas mais influentes no país durante o século XX.
Foi secretário-geral do Partido Comunista do Brasil e foi companheiro de Olga Benário, morta pela Alemanha nazi numa câmara de gás, após ser entregue àquele regime pelo governo do presidente Getúlio Vargas. Em 1940 foi condenado pela justiça a 30 anos de prisão, pelo assassinato de Elza Fernandes.
Foi eleito um dos 100 maiores brasileiros de todos os tempos, no concurso realizado pelo SBT e pela BBC em 2012.

Fado adequada à data...

 

Fado de Peniche (Abandono) - Amália Rodrigues
Poema de David Mourão-Ferreira e música de Alain Oulman
    
    
Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar

     
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.
      

Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.

 

sexta-feira, dezembro 29, 2023

Portinari nasceu há cento e vinte anos

    
Candido Torquato Portinari
(Brodowski, 29 de dezembro de 1903 - Rio de Janeiro, 6 de fevereiro de 1962) foi um artista plástico brasileiro. Portinari pintou quase cinco mil obras de pequenos esboços e pinturas de proporções padrão, como O Lavrador de Café, até gigantescos murais, como os painéis Guerra e Paz, presenteados à sede da ONU em Nova Iorque em 1956, e que, em dezembro de 2010, graças aos esforços de seu filho, retornaram para exibição no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Portinari é considerado um dos artistas mais prestigiados do Brasil e foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.
    
Biografia
Filho de imigrantes italianos, Cândido Portinari nasceu no dia 29 de dezembro de 1903, numa fazenda nas proximidades de Brodowski, no interior do estado de São Paulo. Com a vocação artística florescendo logo na infância, Portinari teve uma educação deficiente, não completando sequer o ensino primário. Aos 14 anos de idade, uma trupe de pintores e escultores italianos que atuavam na restauração de igrejas, passa pela região de Brodowski e recruta Portinari como ajudante. Seria o primeiro grande indício do talento do pintor brasileiro.
Aos 15 anos, já decidido a aprimorar os seus dons, Portinari deixa São Paulo e parte para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Durante os seus estudos na ENBA, Portinari começa a destacar-se e chamar a atenção tanto de professores quanto da própria imprensa. Tanto que aos 20 anos já participa de diversas exposições, ganhando elogios em artigos de vários jornais. Mesmo com toda essa exposição pública, começa a despertar no artista o interesse por um movimento artístico até então considerado marginal: o modernismo.
Um dos principais prémios almejados por Portinari era a medalha de ouro do Salão da ENBA. Nos anos de 1926 e 1927, o pintor conseguiu destaque, mas não venceu. Anos depois, Portinari chegou a afirmar que as suas telas com elementos modernistas escandalizaram os juízes do concurso. Em 1928 Portinari deliberadamente prepara uma tela com elementos académicos tradicionais e finalmente ganha a medalha de ouro e uma viagem para a Europa.
Os dois anos que passou vivendo em Paris foram decisivos no estilo que consagraria Portinari. Lá ele teve contacto com outros artistas como Van Dongen e Othon Friesz, além de conhecer Maria Martinelli, uma uruguaia de 19 anos com quem o artista passaria o resto de sua vida. A distância de Portinari das suas raízes acabou aproximando o artista do Brasil, e despertou nele um interesse social muito mais profundo.
Em 1931 Portinari volta ao Brasil renovado. Muda completamente a estética de sua obra, valorizando mais cores e a ideia das pinturas. Ele quebra o compromisso volumétrico e abandona a tridimensionalidade de suas obras. Aos poucos o artista deixa de lado as telas pintadas a óleo e começa a se dedicar a murais e afrescos. Ganhando nova notoriedade entre a imprensa, Portinari expõe três telas no Pavilhão do Brasil da Feira Mundial em Nova Iorque de 1939. Os quadros chamam a atenção de Alfred Barr, diretor geral do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA).
A década de quarenta começa muito bem para Portinari. Alfred Barr compra a tela "Morro do Rio" e imediatamente a expõe no MoMA, ao lado de artistas consagrados mundialmente. O interesse geral pelo trabalho do artista brasileiro faz Barr preparar uma exposição individual para Portinari em plena Nova Iorque. Nessa época, Portinari faz dois murais para a Biblioteca do Congresso em Washington. Ao visitar o MoMA, Portinari se impressiona com uma obra que mudaria o seu estilo novamente: "Guernica" de Pablo Picasso.
Em 1952 uma amnistia geral faz com que Portinari volte ao Brasil. No mesmo ano, a 1° Bienal de São Paulo expõe obras de Portinari com destaque numa sala particular. Mas a década de 50 seria marcada por diversos problemas de saúde. Em 1954 Portinari apresentou uma grave intoxicação, por causa do chumbo presente nas tintas que usava.
  
Política
Portinari foi ativo no movimento político-partidário, inclusive, candidatando-se a deputado federal, em 1945, pelo PCB, e a senador, em 1947, pleito em que aparecia em todas as sondagens como vencedor, mas perdendo com uma pequena margem de votos, facto que fez  levantar suspeitas de fraude para derrotá-lo, devido ao cerco aos membros do Partido Comunista Brasileiro.
  
Morte
Desobedecendo as ordens médicas, Portinari continuava pintando e viajando com frequência para exposições nos Estados Unidos, Europa e Israel. No começo de 1962 o Ayuntamiento de Barcelona convida Portinari para uma grande exposição com 200 telas. Trabalhando freneticamente, a intoxicação de Portinari começa a tomar proporções fatais. No dia 6 de fevereiro do mesmo ano, Cândido Portinari morre, envenenado pelas telas que fizeram o seu sucesso, já que tinha claustrofobia e desmaiava no "corredor" de telas. Encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.
 O seu filho João Candido Portinari hoje cuida dos direitos de autor das obras de Portinari.
   
Obras
Entre suas obras mais prestigiadas e famosas, destacam-se os painéis Guerra e Paz (1953-1956), que foram dados de presente, em 1956, à sede da ONU de Nova Iorque. Na época, as autoridades dos Estados Unidos não permitiram a ida de Portinari para a inauguração dos murais, devido às ligações do artista com o Partido Comunista Brasileiro. Antes de seguirem aos EUA, o empresário e mecenas ítalo-brasileiro Ciccillo Matarazzo tentou trazer os painéis para São Paulo, terra natal de Portinari, para apresentá-las ao público, porém, isto não foi possível. Só em novembro de 2010, 53 anos depois, os painéis voltaram ao Brasil e, finalmente, foram exibidos, em 2010, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e, em 2012, no Memorial da América Latina, em São Paulo.
As telas Meninos e piões e Favela são parte do acervo permanente da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano. O seu maior acervo sacro, entre pinturas e afrescos, está exposto na Igreja Bom Jesus da Cana Verde, centro da cidade de Batatais, no interior de São Paulo, situada a 16 quilómetros da sua cidade natal, Brodowski
       
A descoberta da terra (1941) - pintura mural de Portinari na Biblioteca do Congresso, Washington, DC