(...)
A crise começou a 21 de fevereiro de 1948, quando o Ministro do Interior escolheu oito novos Comissários em Praga,
todos comunistas, o que demonstrava o controle do partido comunista
sobre o governo da Checoslováquia e, em especial, sobre as forças de
segurança do Estado. Isso provocou protestos, seguidos pela renúncia dos
ministros democratas. Os renunciantes pensavam que assim provocariam uma
crise política, levando a eleições gerais antecipadas, quando então
derrotariam o Partido Comunista.
No entanto, havia uma atmosfera de tensão crescente e enormes
manifestações lideradas pelos comunistas ocorrendo em todo o país,
enquanto o presidente Edvard Benes procurava manter-se neutro, temendo
que o fomento do KSČ causasse uma insurreição que, por fim, desse ao Exército Vermelho um pretexto para invadir o país e restaurar a ordem.
No entanto, os membros que se demitiram foram substituídos por membros do Partido Comunista, e, com o apoio de Estaline, o líder comunista da Checoslováquia, Klement Gottwald, marcou uma greve geral para 24 de fevereiro, criando assim uma série de comités de ação,
apoiadas pelas milícias dos trabalhadores, que impediram qualquer
resistência por parte das forças democráticas.
Enquanto isso, os ministros comunistas se mobilizavam. Para ajudá-los, o embaixador soviético, Valerian Zorin, chegou a Praga para organizar um golpe. Milícias armadas tomaram Praga; manifestações comunistas foram montadas, um manifestação estudantil anticomunista
foi interrompida. Os ministérios comandados por não comunistas foram
ocupados; funcionários eram demitidos, e os ministros impedidos de
entrar em seus próprios gabinetes. O exército ficou confinado aos
quartéis e não interferiu.
Num discurso perante 100.000 simpatizantes, o líder Gottwald
ameaçou com uma greve geral, a não ser que o presidente Benes
concordasse em formar um novo governo dominado pelos comunistas. O
embaixador soviético ofereceu os serviços do Exército Vermelho, cujas
tropas estavam preparadas nas fronteiras do país. Mas Gottwald recusou a
oferta, acreditando que a ameaça de violência, combinada com uma forte
pressão política, seria o suficiente para forçar Benes a ceder. Após o
golpe, Gottwald diria: "[Benes] sabe o que é a força, e isso o levará a
avaliar essa [situação] de forma realista".
Em 25 de fevereiro de 1948, após duas semanas de intensa pressão da União Soviética o Presidente da República da Checoslováquia, Edvard Benes,
cedeu todo o poder a Klement Gottwald e a Rudolf Slánský, aceitando a
renúncia dos ministros não comunistas e nomeando um novo governo, sob a
liderança de Gottwald e dominado por comunistas e social-democratas pró-Moscovo. O único ministério controlado por um não comunista era o das Relações Exteriores, que foi entregue a Jan Masaryk - encontrado morto duas semanas depois.
Após o golpe, os comunistas moveram-se rapidamente para consolidar o seu
poder: milhares de não simpatizantes foram demitidos, centenas foram
presos e milhares de pessoas fugiram do país.
Nas eleições de 30 de maio, os eleitores foram presenteados com uma
única lista - a da Frente Nacional - e que oficialmente obteve 89,2% dos
votos. Na lista da Frente Nacional, os comunistas e os
social-democratas (que logo se fundiram) tinham maioria absoluta. Mas
praticamente todos os partidos não comunistas que haviam participado da
eleição de 1946 também ficaram representados na lista da Frente Nacional
e, assim, receberam alguns assentos parlamentares. No entanto, àquela
altura, todos se haviam convertido em fiéis parceiros dos comunistas. A
Frente Nacional foi transformada numa ampla organização patriótica
dominada pelos comunistas, e a nenhum outro grupo político foi permitido
existir.
Consumido por estes eventos, Benes renunciou em 2 de junho e foi
sucedido por Gottwald, 12 dias depois, falecendo em setembro do mesmo
ano.
A Checoslováquia permaneceu como uma ditadura comunista até à Revolução de Veludo de 1989. O golpe tornou-se sinónimo da Guerra Fria. A perda da última democracia remanescente na Europa do Leste causou um choque profundo no Ocidente. Pela segunda vez em uma década, via-se a independência e a democracia da Checoslováquia serem apagadas por uma ditadura totalitária. A URSS parecia ter concluído a formação de um bloco monolítico soviético e concluído a divisão da Europa.
O impacto foi igualmente profundo, tanto na Europa Ocidental como nos Estados Unidos, e ajudou a unificar os países ocidentais contra o bloco comunista. Deu também um ar de presciência aos governos francês e italiano, que, no ano anterior, haviam forçado a saída dos partidos comunistas dos seus governos.
O golpe checo constituiu uma rutura definitiva nas relações entre as duas superpotências, com o Ocidente agora sinalizando a sua determinação de se comprometer numa de auto-defesa coletiva.
No Ocidente, o golpe de Praga teve um grande impacto porque a Checoslováquia era, geográfica, histórica e politicamente o país mais ocidental da Europa Central e Oriental.
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