Biografia
Entrou no partido apenas com 16 anos, em 1946. Preocupou-se, nos últimos anos de vida, sobre o tema da globalização, sob uma perspetiva marxista, articulando-a com a noção de fases na mundialização do capitalismo e a noção de imperialismo.
Vida na clandestinidade
Em 1953,
com 23 anos, torna-se funcionário do PCP, o que significava, nessa
altura, e durante mais de duas décadas ainda, passar à clandestinidade,
algo que viveu com a sua mulher Maria Adelaide Aboim Inglez. Esteve preso durante o regime do Estado Novo, altura em que tentou traduzir a "Fenomenologia do Espírito" de Hegel, tendo ficado pela "Introdução".
Escrita
Poeta,
mostrou grande interesse pela poesia portuguesa, como se nota no facto
de incluir várias notas sobre poesia no jornal comunista "Avante!",
como a respeito de Sá de Miranda, Camões ou Gil Vicente. Interessava-o
as relações entre o pensamento materialista e a controvérsia medieval
entre o realismo e nominalismo.
Falecimento
Quando morreu, pediu para ser cremado ao som do Coro dos Escravos da ópera Nabucco, de Verdi.
Homenagem
A Câmara Municipal de Lisboa prestou-lhe a sua homenagem ao atribuir o seu nome a uma rua, na freguesia da Charneca, no Alto do Lumiar.
AO RETRATO DE CATARINA
Esses teus olhos enxutos
Num fundo cavo de olheiras
Esses lábios resolutos
Boca de falas inteiras
Essa fronte aonde os brutos
Vararam balas certeiras
Contam certa a tua vida
Vida de lida e de luta
De fome tão sem medida
Que os campos todos enluta
Ceifou-te ceifeira a morte
Antes da própria sazão
Quando o teu altivo porte
Fazia sombra ao patrão
Sua lei ditou-te a sorte
Negra bala foi teu pão
E o pão por nós semeado
Com nosso suor colhido
Pelo pobre é amassado
Pelo rico só repartido
Tanta seara continhas
Visível já nas entranhas
Em teu ventre a vida tinhas
Na morte certeza tenhas
Malditas ervas daninhas
Hão-de ter mondas tamanhas
Searas de grã estatura
De raiva surda e vingança
Crescerão da tua esperança
Ceifada sem ser madura
Teus destinos Catarina
Não findaram sem renovo
Tiveram morte assassina
Hão-de ter vida de novo
Na semente que germina
Dos destinos do teu povo
E na noite negra negra
Do teu cabelo revolto
nasce a Manhã do teu rosto
No futuro de olhos posto
Carlos Aboim Inglez