segunda-feira, maio 10, 2010

Queima das Fitas 2010 - carro da Geologia do Cortejo (III)

Aproximam-se tempos difíceis


Bisneto de Darwin dá entrevista ao Público

Entrevista
A vida privada do homem que reescreveu o Génesis
   


A caixa com a colecção de recordações de Annie


Charles Darwin era o seu tetravô, mas nunca se interessou muito por ele até há uma dúzia de anos, quando foi à procura da vida pessoal do seu antepassado e descobriu histórias extraordinárias ainda por contar. Com a ajuda de uma caixa que guardava os tesouros de uma menina chamada Annie e as cartas e os diários que sobre ela escreveram os seus pais.


Numa vida anterior, Randal Keynes trabalhava para o governo britânico. O seu tio-avô era o economista John Maynard Keynes, que revolucionou o pensamento económico moderno, e o seu avô, Edgar Adrian, tinha ganho o Prémio Nobel da Medicina em 1932. A ciência não o interessava: já havia muitos cientistas na família (o pai e o outro avô também) e não queria passar a vida a ser comparado com eles. Mas o mais famoso de todos era Charles Darwin, o seu tetravô - e, quando Randal Keynes tinha uns 50 anos, o seu encontro com Darwin mudou-lhe a vida. Fez-se escritor e começou a dedicar-se activamente às campanhas de conservação das Galápagos e de classificação da casa de Darwin como património mundial.

Hoje, aos 61 anos, Keynes talvez seja quem conhece Darwin mais de perto, como pessoa e como homem de família, porque teve acesso à sua intimidade através de objectos e documentos únicos, conservados pela sua família ao longo de gerações. A sua procura já deu origem a um livro em 2001 sobre a relação de Darwin com Annie, a sua filha mais velha, morta aos dez anos - que por sua vez inspirou, em 2009, o filme Creation, realizado por Jon Amiel.

Na semana passada, Randal Keynes esteve em Lisboa para a inauguração, no Museu Nacional de História Natural, da exposição Darwin Now,organizada pelo British Council. Pouco antes, falou com o P2 do seu ilustre antepassado. Ficámos com a sensação de que, para além de um cientista excepcional, Darwin era um ser humano excepcional, que teríamos gostado muito de conhecer.

A figura de Charles Darwin foi uma referência constante na sua família, uma figura mítica sempre a pairar por cima das vossas cabeças?

Ele esteve sempre presente na nossa família. Mas eu não me interessei muito por ele - aliás, ninguém me obrigou a fazê-lo. Todos nós imaginávamos, suponho, que tinha sido uma pessoa maravilhosa, mas durante a minha infância nunca se comentou muito em casa os aspectos controversos do seu pensamento.

Percebi pela primeira vez que tinha um antepassado famoso quando uns rapazes fizeram troça de mim na escola - disseram-me que eu descendia de um macaco. Perguntei ao meu irmão por que é que se riam de mim e ele explicou-me.

Qual foi a primeira coisa que soube acerca dele?

As primeiras coisas que soube dele soube-as através da minha avó, neta de Darwin. Fui passar umas férias com ela e ela falou-me das férias que passara em pequena numa certa casa no campo, um sítio maravilhoso onde faziam jogos no jardim. Também me falou da avó, a senhora Darwin.

A minha avó não chegou a conhecer Darwin porque ele já tinha morrido nessa altura, mas foi graças a ela que aprendi a amar a casa onde ele viveu. Só mais tarde é que percebi que essa casa era muito especial, porque o avô dela tinha sido uma pessoa muito famosa e que era o trabalho que tinha lá desenvolvido que fazia dessa casa um sítio tão importante.

Por que é que começou a estudar a vida de Darwin? Pensa que os biógrafos ignoraram algum aspecto importante?

Não, de maneira nenhuma. Até aos meus 50 anos sempre pensei que a história já tinha sido toda contada. Nessa altura, eu estava muito interessado nos edifícios históricos e foi então que a Historical Building Organization, no Reino Unido, tomou conta de Down House [a casa de Darwin, nos arredores de Londres], que tinha permanecido aberta ao público durante muitos anos, mas que estava bastante degradada, com o telhado a precisar de obras, etc.

Uma das coisas que eles queriam era encontrar alguém que pudesse contar aos visitantes como Darwin tinha lá vivido com a sua família. Alguém da família de Darwin que gostasse de casas antigas e também de contar essa história.

A ideia pareceu-me interessante e comecei a reunir informação sobre a casa e a vida de Darwin na casa e sobre o que ele tinha feito. E, à medida que ia vendo como Darwin tinha vivido naquela casa, no seio da sua família, junto da mulher e rodeado dos filhos, descobri que havia lá uma história extraordinária que ainda estava quase toda por contar.

No fundo, toda a gente pensava que Darwin acordava de manhã, saía de casa, trabalhava noutro sítio e ao fim do dia regressava a casa, mantendo assim a sua ciência separada da sua vida quotidiana - como acontece com a maioria das pessoas. Mas o que eu descobri foi que ele tinha feito tudo em casa. E que, ao olhar para a sua vida em família, em sua casa, estava a olhar ao mesmo tempo para a maneira como ele fazia ciência. E descobri que havia certos aspectos da sua ciência que não tinham sido reconhecidos como tais, porque ninguém tinha percebido esta situação muito especial. Achei isto interessante e procurei saber mais.

Darwin era um génio - provavelmente um dos maiores pensadores de todos os tempos. Mas como era ele como ser humano? Era afectuoso ou distante, sociável ou solitário, preocupado com os outros ou egoísta?

Na nossa família a ideia que foi transmitida ao longo das gerações - e que bate certo com tudo o que li nas suas cartas à mulher, aos filhos, a outras pessoas, nas cartas que ele recebeu e também com as reminiscências de todos sobre a vida familiar - era que Darwin estava profundamente ligado à mulher e aos filhos. Amava a sua família e a sua vida em família e não ligava muito às pessoas de fora e ao que elas podiam pensar dele.

A sua primeira lealdade era para com a mulher e os filhos. A segunda, quase em pé de igualdade com a primeira mas não completamente, era para com a ciência. Queria que as suas ideias fossem avaliadas, queria falar delas, mas não estava necessariamente empenhado em que fossem verdade. Queria apenas que valesse a pena discuti-las e que esse diálogo as fizesse progredir.

Para além da sua lealdade à ciência e da sua ligação à família, era tímido e modesto em relação a si próprio e ficava incomodado quando alguém insinuava que era fantástico. Ele não achava. E era tímido com as pessoas: evitava a sociedade londrina, não gostava de ir a jantares nem de ter de fazer discursos. Estava disposto a pôr por escrito as ideias mais chocantes do século - ninguém o pode acusar de cobardia no que respeita às coisas importantes -, mas ser obrigado a pôr-se de pé e falar em público, isso não.

Em todas as fotografias, Darwin tem sempre um ar bastante desagradável e distante. Mas isso é exactamente o oposto de como ele era quando se sentia à vontade com as pessoas. Adorava conversar, adorava ouvir anedotas, ficava sempre satisfeito com uma conversa divertida e era muito amigável e simpático em privado.

Anne (a quem todos chamavam Annie), a filha mais velha de Darwin, morreu quando tinha dez anos. Morreu de quê?

Muito provavelmente de um certo tipo de tuberculose infantil. Não sabemos ao certo, mas todos os sinais que se conhecem da sua doença apontam para isso. Esteve doente durante seis meses. A tuberculose era a sida daquela altura na Grã-Bretanha e em muitos outros países. Atingia os jovens, as crianças, e era uma doença tão aterrorizadora e tão letal que as pessoas se recusavam a falar dela. Se ninguém quis dizer que Annie tinha sem dúvida tuberculose, foi porque isso teria equivalido a uma sentença de morte.

Na introdução do seu livro Annie"s Box: Darwin, His Daughter and Human Evolution (publicado em 2001 e já traduzido para oito línguas, não incluindo o português), escreve que foi por acaso que deu com a caixa onde Annie guardava as coisas que escrevia.

Sim, queria saber mais coisas sobre a vida de Darwin em família e sabia que em casa dos meus pais havia uma cómoda que o meu pai tinha herdado da mãe dele (a neta de Darwin), que por sua vez tinha recebido o conteúdo das gavetas da sua tia Henrietta, a segunda filha de Darwin. Eu sabia que ia encontrar lá fotografias, cartas, livros, recordações de todo o tipo. Portanto, a primeira coisa que fiz foi ir a casa dos meus pais ver o que lá estava. E no fundo de uma das gavetas, encontrei uma pequena caixa, uma escrivaninha. Abri-a e deparei-me com a carga afectiva extraordinária de uma colecção de recordações de Annie. A caixa tinha sido extremamente importante para ela. Tinha sido conservada, a seguir à sua morte, pela sua mãe, Emma, e encontrada pela irmã de Annie só após a morte de Emma. Quando Henrietta a viu, reconheceu a caixa que Annie tinha aos dez anos (ela própria tinha 8) e que nunca mais tinha tornado a ver. A caixa também continha notas de Darwin sobre a doença da filha, uma madeixa do seu cabelo, um mapa do cemitério onde Annie estava sepultada com uma única anotação: "A campa de Annie Darwin."

O facto de encontrar a caixa, de a abrir e de perceber o que era... [visivelmente emocionado]. Devo dizer que o meu coração deu um pulo. E então, comecei a ler coisas sobre ela e, tal como tinha acontecido com Down House, descobri que essa história era muito mais do que a história da perda de uma filha para um pai que a amava profundamente.

Demorei algum tempo em percebê-lo, andei a ler coisas sobre Annie durante vários meses antes de vislumbrar o interesse real da história.

O que leu nessa altura era material que já estava publicado?

Algumas coisas estavam publicadas, mas a maior parte era inédita. Tive a sorte de ter acesso a cartas, a diversos diários. Tinha os caderninhos onde Emma Darwin descrevia o seu dia-a-dia. Também estavam inicialmente na cómoda dos meus pais, mas tinham entretanto sido emprestados para um projecto de investigação, para ajudar a datar as cartas de Darwin.

Nos cadernos de Emma há uma entrada datada do dia em que Annie nasceu: procurei a data e lá estava. E do dia em que Annie morreu. Mas há também pequenas listas de compras - todo o tipo de pequenos pormenores da vida quotidiana. Tive esses cadernos ao pé de mim durante toda a escrita do meu livro. E consegui escrevê-lo com uma sensação de grande proximidade em relação aos pais dessa criança. Foi um incrível privilégio sentir isso.

Documentou a vida de Darwin sobretudo a partir de inéditos, de material que existia na sua família?

Uma grande parte do material já estava publicado. A vida privada de Darwin é provavelmente uma das mais bem documentadas de sempre de uma figura famosa. A maior parte da sua correspondência encontra-se hoje disponível on-line e completamente anotada. Baseei-me muito nesse material. Mas tinha ao mesmo tempo ao meu alcance uma série de coisas, como os diários de Emma Darwin, ou um livrinho feito por Annie, onde ela costumava colar coisas e que era muito especial para ela. E, claro, tinha os escritos de Darwin.

Como era a vida de Darwin em Down House?

Ele era um doente crónico. Sofria de indigestão, tosse, etc. A sua mulher, Emma, cuidava muito dele. E tinha de gerir muito bem as coisas quando tinham visitas com quem ele gostava muito de conversar, porque nessas alturas ficava muito entusiasmado. Emma tinha de lhe lembrar que ficaria doente o resto do dia se não parasse. Ele era como um inválido.

Começou a ter este tipo de problemas pouco depois de casar. Teve alturas boas e alturas más ao longo da vida. Esteve várias vezes para morrer.

Ninguém sabe de que sofria?

Não. Escreveram-se livros inteiros sobre o assunto, mas ninguém sabe ao certo.

Mas parece paradoxal, posto que Darwin tinha feito coisas que muitos seriam incapazes de fazer, como a viagem no Beagle, que durou vários anos.

Pois, na sua juventude tinha sido extremamente enérgico; mas depois qualquer coisa lhe aconteceu - poderá ter sido mental ou talvez tenha apanhado alguma doença. E, a partir daí, ficou incapacitado para o resto da vida.

Seja como for, Darwin fazia muitas coisas ao longo do dia. Não dedicava mais do que três ou quatro horas à ciência. O resto do tempo descansava, passeava no jardim ou nos arredores, fazia experiências no jardim. Tinha de facto uma vida muito agradável.

Quando era novo, Darwin acreditava na interpretação literal da Bíblia - era um criacionista. Quando é que isso mudou?

Foi um processo gradual. Os geólogos já tinham percebido, dez a 20 anos antes de ele se tornar um cientista, que a história da Terra era muitíssimo mais longa do que o que o Livro do Génesis sugeria - e que, portanto, esse livro não podia ser aceite como facto. Muitas pessoas muito respeitáveis já tinham desistido por isso dessa parte do Antigo Testamento. E Darwin concordava com eles.

Mas também começou a questionar a Revelação de Cristo no Novo Testamento - os milagres, etc. Emma, por seu lado, era uma cristã devota - não no sentido de ter certezas sobre a fé, mas simplesmente porque para ela a fé era fundamental. Ela também tinha dúvidas em relação à fé, tal como Darwin, mas acreditava que a fé era a coisa mais importante. Para Darwin, o mais importante era a ciência, os valores da ciência, as verdades científicas, que eram as melhores e as mais claras formas da verdade.

Isso distanciava-os. Isso era doloroso para eles, o facto de saberem que não podiam estar juntos nesse plano. Emma tentou ajudar Darwin a ter fé e ele sabia quão importante isso teria sido para ela, mas não foi capaz.

Estreou-se recentemente um filme fantástico, baseado no meu livro [Creation, de 2009], com Paul Bettany e Jennifer Connelly - e acho que o que é excelente nele é que uma grande parte da história gira em torno da dor gerada por esse problema entre essas duas pessoas, que se amavam profundamente.

A morte de Annie também alterou o pensamento de Darwin em relação à religião?

É uma questão muito difícil. Há quem afirme que a morte de Annie foi o factor que o levou a deixar finalmente de acreditar. Mas não é possível afirmarmos tal coisa. Não sabemos ao certo e os documentos não apontam claramente para isso. O que é claro, pelo contrário, é que Darwin tinha começado a ter sérias dúvidas e preocupações em relação à fé alguns tempos antes da morte de Annie - e que, pouco depois da morte da filha, deixou de ir à igreja com a família. Acompanhava a mulher e os filhos até lá todos os domingos, eles entravam e ele ficava à porta.

Penso que Darwin terá perdido a fé por razões de ordem mais geral e não como reacção de raiva perante a morte da filha, que é uma visão simplista. Há muitas pessoas que perderam os filhos e que consideraram isso um castigo divino. São necessárias mais razões para decidir que Deus não pode existir.

Dito isto, percebi, ao escrever o livro, que o amor de Darwin por Annie, a morte de Annie, a perda de Annie, o luto de Darwin por ela, a aceitação dessa perda, tudo isso lhe permitiu perceber coisas sobre as emoções e os afectos humanos, sobre o desenvolvimento natural do sentido moral humano, que o ajudaram a escrever o seu segundo grande livro, A Origem do Homem e a Selecção Sexual [editado em Portugal pela Relógio d"Água]. A morte de Annie fê-lo perceber a força dos afectos e até que ponto eles vão para além da razão. E também como são essenciais para a natureza humana as ligações afectivas entre cônjuges, entre pais e filhos.

Foi por isso que dei ao meu livro o título Annie"s Box: Darwin, his Daughter and Human Evolution. Se Darwin conseguiu perceber essa parte da evolução natural da natureza humana, foi em parte com base na sua experiência directa com a sua filha.

Seja como for, deixou de acreditar em Deus.

Sim, mas ele diria mais tarde que não era ateu, que só podia dizer que era agnóstico. Não tinha a certeza e não conseguia decidir. Teria gostado de acreditar em Deus, mas não conseguia convencer-se da sua existência.

Darwin acreditava no eugenismo, como o seu primo Francis Galton, pioneiro dessas ideias?

As ideias de Darwin forneceram a Galton as bases para a sua teoria do eugenismo. Mas se lhe tivessem pedido a sua opinião, Darwin teria dito imediatamente, tal como escreveu aliás, que os seres humanos nunca serão capazes de decidir o que fazer para realmente melhorar a espécie humana. Claro que é possível melhorar uma espécie. Mas para Darwin os humanos não têm a visão de conjunto que a natureza tem para o fazer. O critério de sucesso adoptado pela natureza é o de sobreviver para se reproduzir e, se adoptarmos esse critério, obtemos a selecção das espécies que existem hoje. Os humanos, por seu lado, apenas conseguem fazer coisas absurdas, tal como alterar um elemento do aspecto de uma espécie ou uma característica de um animal, como o peso, por exemplo. Darwin, que abordou brevemente esta questão, pensava que a selecção artificial feita pelos humanos é bastante ridícula.

Porquê? Porque produz aberrações?

Porque as criaturas assim geradas não conseguem viver. No âmbito das suas pesquisas, ele tinha feito criação de pombos ornamentais. E constatou que o pombo que os criadores de pombos mais admiravam não conseguia alimentar as suas crias, porque tinha o bico demasiado curto. Durante as primeiras semanas de vida, as crias tinham de ser alimentadas... por um ser humano, o que teria sido impraticável em condições naturais.

Por outro lado, Darwin achava inaceitável excluir as pessoas que não eram vigorosas nem bem sucedidas - uma questão que aborda no seu segundo livro.

Nós olhamos pelas pessoas de constituição frágil, pelos fracos, pelos doentes, os deficientes, etc. Mas se a sobrevivência dos mais aptos fosse necessária, não deveríamos pelo contrário deixar essas pessoas morrer, impedi-las de se reproduzirem? Darwin responde que isso violaria um princípio da moral humana que deve prevalecer acima de tudo, porque é extremamente importante para nós. Essa era a sua resposta ao eugenismo.

O que acha que Darwin diria, se voltasse hoje e visse os avanços que têm sido feitos nas áreas da genética e da biologia molecular?

Tenho a certeza que ficaria extremamente entusiasmado! Se ele tivesse sabido o que Gregor Mendel [seu contemporâneo, considerado o pai das leis da genética] tinha demonstrado sobre a hereditariedade genética, teria dito imediatamente que aí estava a resposta ao principal problema que as pessoas colocavam à sua teoria da evolução. E com o que a biologia molecular nos revelou a seguir sobre o ADN e a ancestralidade profunda... [ri-se] Tudo isso teria sido realmente fantástico para ele.

Se Darwin não tivesse existido, teríamos descoberto a sua teoria através da leitura do genoma. O que Darwin tem de extraordinário é que ele descobriu e percebeu o que se passava antes da descoberta do livro da vida do ADN. Descobriu-o sem sequer perceber como funcionavam as leis da hereditariedade. Acho que, no seu íntimo, sabia distinguir uma boa explicação científica de uma má e usou essa intuição para decidir que certas coisas faziam parte da explicação.

Está a escrever outro livro?

Estou a trabalhar num livro sobre o jardim de Darwin. É sobre a ciência que ele fazia no seu jardim e no campo à volta da sua casa.Retrato de Charles Darwin em Down House, nos arredores de Londres (em baixo, a sala de estar). Foi nesta casa que o naturalista viveu e trabalhou durante 40 anos.

in Público - ler notícia

Filme Sea Rex 3D

Mais um "trailer" de um filme a não perder: Sea Rex 3D. Com plesiossauros, mosassauros e outros aspectos dos mares mesozóicos.


Via Blog Lusodinos

Os Rios do Desespero na nossa Escola Pública

Entre os rios, Tejo e Tua

A propósito de carta publicada no blogue de Paulo Guinote sobre as causas do suicídio do professor Luís.

Dois rios, ambos de inicial “T”. Dois nomes, ambos de inicial “L”. Luís e Leandro. Duas pessoas em momentos diferentes do rio da vida, ambos decididos a interromper o curso desta. A lembrar-nos dos outros rios , os de Entre os Rios, entre os quais outro “T”, o Tâmega.

Desaguam todos no mesmo estuário: o da irresponsabilidade, da ausência de valores, da prostituição das consciências dos culpados, que o serão sempre, apesar do sistema proteger não as vítimas mas os intermediários e aqueles que em última instância têm maior culpa. Culpa na consciência que não têm, pode desaparecer das cabeças dessas pessoas responsáveis, que já nem sei se lhes posso chamar “pessoas”. Não desaparecerá nunca nos pensamentos angustiantes de familiares que se sentem impotentes ao verificarem que o sistema existe para proteger detentores de cargos políticos , sejam eles a direcção de uma escola, ou a pasta ministerial. Jorge Coelho demitiu-se e agora está bem melhor na Mota Engil e no mais que se verá e saberá no futuro. Indemnizações calam famílias em Entre-os Rios. Calam os extorquidos da sua visão num hospital público: calam-nas não porque lhes sirva o dinheiro para fazer desaparecer a revolta, mas porque sabem que nada mais podem fazer, o sistema existe para inocentar e indemnizar pedófilos, como os irá proteger a eles? As famílias desistem por impotência económica e desgaste psicológico. É este país que temos, com muitos rios, mesmo muitos, dos quais grande parte nasce em Espanha e é infelizmente que aqui têm a foz, num país prostituído, sem justiça, sem dignidade.

Escola Correia Mateus - Feira dos Minerais 2010

Do Blog Ciências Correia Mateus publicamos o seguinte post:

Aqui fica o nosso Cartaz Oficial:

E agora algumas fotos:







Queima das Fitas 2010 - carro da Geologia do Cortejo (II)

E agora as fotos:




Queima das Fitas 2010 - carro da Geologia do Cortejo

Uns sortudos, estes Rolling Stones - eram o 3º Carro do Cortejo Académico...!

Como os moços e moças eram muito simpáticos, aqui ficam duas imagens da sua plaquete:



NOTA: excelente plaquete, com textos da Doutores Ana Neiva e Manuela Vinha e do Doutor Gama Pereira, uma brincadeira (com fotos dos participantes ainda bebés), belas caricaturas e imagens (capa, contracapa e central) a cores, um autêntico luxo...!

Porque os Professores têm memória

Relembrando (post de Paulo Guinote n'A Educação do meu Umbigo):

Paulo
Reencaminho um texto que enviei a uma jornalista, com a esperança de que ela não se esqueça do que aconteceu ao nosso colega Luís. Se o quiser publicar (…).

Um abraço,
Bom dia, (…)!
 
É com alguma mágoa que lhe recordo que o meu colega Luís faz hoje três meses que não aguentou o desespero e se atirou ao Tejo. Deixou de ter notícias nos jornais, nas televisões e nos blogues de professores… só as suas cinzas pairam, algures, no nosso mundo.
 
Lamento que um idealista, um inconformado, um artista, não tenha encontrado uma mão amiga que o tenha ajudado a perceber a escola onde foi parar e tivesse ganho resiliência para enfrentar um ambiente adverso.
Pela minha parte só percebi que algo de estranho estava a acontecer, quando ele deixou de aparecer na sala de professores. Foi-me dito, em surdina, que se pensava que se tinha suicidado, pois parecia que a directora “lhe queria fazer a folha” e ele não aguentara a pressão, o mau comportamento dos alunos, a não aplicação das medidas disciplinares sancionatórias previstas na lei. Afinal, era preciso demonstrar à comunidade que tudo corria sobre rodas e que a senhora que dirigia a escola tudo resolvia!
 
Após contacto com a família, veio a confirmação das suspeitas: ele não aguentara a humilhação a que diariamente era sujeito…
 
A família pediu que não se divulgasse pois iria colocar o problema ao Conselho Pedagógico e ao Conselho Geral, para que aquela morte obrigasse a uma profunda reflexão na escola.
 
Nada aconteceu. A carta foi guardada como se se tratasse de correspondência pessoal.
 
Então, o caminho a seguir seria a queixa perante as instituições que supervisionam a escola pública: DRELVT e a IGE. Mais uma vez nada aconteceu. Restou o contacto com o seu jornal, através da sua pessoa. Rapidamente os sinos tocaram a rebate: os órgãos de comunicação social mobilizaram-se (afinal o Luís também já fora jornalista) e a DRELVT saíu da Praça de Alvalade, mandou instaurar um inquérito e atribuir apoio psicológico aos alunos que pudessem estar envolvidos.
 
Sobre a nomeação do inquiridor, muito se tem escrito, mas também muito se tem ocultado, pois as pessoas ouvidas no âmbito do inquérito têm que manter silêncio sobre o que tem acontecido, apesar de muitas não estarem a aguentar a pressão, e os métodos pouco ortodoxos utilizados. Quem viveu antes do 25 de Abril, sabe, como de repente, lhe aparecia alguém em casa ou no emprego, para obter informações… Mas não deve ser difícil chegar à verdadeira razão que terá levado a IGE  a nomear um inspector/advogado para este caso. Afinal, a senhora directora precisa de alguém que a defenda!
 
Passaram dois meses sobre a nomeação do referido inquiridor. O tempo de instrução de um processo é de 45 dias.
 
Diz-se que o problema é complicado, que existe luta pelo poder dentro da escola. Mas quem é que, estando de bem com a vida, pretende ocupar aquele lugar? Basta de atirar areia para os olhos das pessoas e juntar as pontas: o colega Luís era humilhado, maltratado, fazia participações disciplinares, colocava alunos fora da sala de aula, a directora repreendia-o e obrigava o professor a receber os alunos de volta. A figura daquela senhora intimidava-o, como ele próprio deixou escrito. A legislação não foi cumprida, o Regulamento Interno também não, o próprio Projecto Educativo contém medidas a tomar para prevenir a indisciplina que não foram seguidas… Onde está a dificuldade em fazer o diagnóstico da situação?
 
É mais conveniente ir por outros caminhos, para camuflar o que aconteceu. Mas afinal,a quem interessa saber o que aconteceu em 2008/2009, em termos disciplinares? A morte não ocorreu este ano? Ainda vão, certamente apurar, que foi a anterior direcção a responsável!
 
E já agora, a quem é atribuída a perseguição à cozinheira de uma das escolas, e o não funcionamento das diferentes Associações de Pais? Repare-se que o Conselho Geral deixou de reunir e o próprio Conselho Pedagógico não está constituído nos termos da lei.
 
Muita matéria haveria para verificar, afinal a Educação interessa a todos e os caminhos tortuosos que se têm seguido só têm gasto dinheiro aos bolsos dos contribuintes.
 
Espero que este tema não seja encerrado, e continue a ser objecto de reflexão. O tempo para apurar os factos já terminou. No caso do Leandro bastaram dez dias.
 
A vida já não a podemos devolver ao colega, mas podemos preservar, com dignidade, a sua memória. É isso que procurarei fazer, hoje, que completam três meses após a sua morte e sempre que me recorde do que aconteceu  no local de trabalho onde me sentava à sua frente e via os seus olhos tristes e angustiados.
 
M.L.

Joaquim Agostinho morreu há 26 anos

Joaquim Agostinho foi um notável ciclista português, nascido no dia 7 de Abril de 1943 em Brejenjas, freguesia da Silveira, concelho de Torres Vedras. Morreu no dia 10 de Maio de 1984, depois de 10 dias em coma, em consequência de uma queda sofrida numa etapa da Volta ao Algarve.

Joaquim Agostinho começou a praticar ciclismo no Sporting Clube de Portugal, equipa que o descobriu ao treinar perto de Casalinhos de Alfaiata em Torres Vedras, começando a praticar já com 25 anos de idade, mas ainda conseguiu evoluir de tal forma que é usualmente referido como o melhor ciclista português de todos os tempos.

A sua carreira internacional começou em 1968, depois de ter sido observado pelo director desportivo francês Jean de Gribaldy, obtendo resultados de destaque na Volta a Espanha, vários dias de amarelo e um segundo lugar final, distando apenas 11 segundos da vitória, e na Volta a França onde terminou duas vezes no pódio e venceu a mítica etapa do Alpe d'Huez.

Em 1984, quando liderava a Volta ao Algarve, atropelou um cão, caindo de cabeça sem que esta se encontrasse protegida por um capacete. Apesar de ter terminado a etapa, acabou por falecer devido aos danos provocados pela queda.






NOTA: recordemos só que morreu após um acidente em que tinha as duas camisolas que amava, a amarela de líder e a verde do seu e meu Clube...

João Villaret nasceu há 97 anos

João Henrique Pereira Villaret (Lisboa, 10 de Maio de 1913Lisboa, 21 de Janeiro de 1961) foi um actor, encenador e declamador português.

in wikipédia



domingo, maio 09, 2010

Saída de Campo em Leiria - 08.05.2010

Embora não podendo participar, por doença de um familiar, aqui ficam as fotos do início, antes da chegada de todos - e estou à espera de novas tiradas por participantes:









Dia da Europa

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Dia 9 de Maio de 1950, pelas 16.00 horas, Robert Schuman, o então ministro francês dos Negócios Estrangeiros, apresentou, no Salon de l'Horloge do Quai d'Orsay, em Paris, uma proposta com as bases fundadoras do que é hoje a União Europeia.

Esta proposta, conhecida como "Declaração Schuman", baseada numa ideia originalmente lançada por Jean Monnet, trazia consigo valores de paz, solidariedade, desenvolvimento económico e social e equilíbrio ambiental e regional e incluía a criação de uma instituição europeia supranacional incumbida de gerir as matérias-primas que nessa altura constituíam a base do poderio militar: o carvão e o aço.

Por se considerar que esse dia foi o marco inicial da União Europeia, os Chefes de Estado e de Governo, na Cimeira de Milão de 1985, decidiram consagrar o dia 9 de Maio como "Dia da Europa".

Informação roubada daqui


Comemoremos, com uma belíssima canção de Fausto, o dia do nosso amado continente:


sábado, maio 08, 2010

HUMOR: Exames nacionais não são fáceis, críticos é que optam por resoluções simplistas

Recupero um texto antigo do Inimigo Público, que continua actual.



Facilitismo, tem sido a palavra usada sempre que o tema são os exames nacionais deste ano. Mas o problema não são os enunciados demasiados fáceis, mas sim uma mentalidade retrógrada e simplista que falha em chegar ao âmago das questões e desenvolvimentos implícitos. Alguns exemplos.

"O João tem cinco laranjas e comeu duas. Com quantas laranjas ficou o João?"

Resposta simplista: 3

Resposta dentro das expectativas contemporâneas: "Ocorre actualmente uma procura crescente por alimentos, principalmente oriunda dos países asiáticos emergentes, que inflacionam os mercados internacionais. Este factor real, associado a uma componente psicológica colada à galopada do petróleo e à incerteza quanto à evolução da crise hipotecária americana, coloca pressão nos géneros alimentares. Se o João tinha cinco laranjas, uma quantidade irrazoável para consumo pessoal, e anunciou ter ingerido duas, possivelmente não o fez. Apenas criou no mercado a percepção da escassez de laranjas, para inflacionar artificialmente o seu preço. Sendo o João um especulador, no final ficou sem nenhuma laranja, já que terá vendido a totalidade pelo preço de 20 laranjas na semana passada."

"Estás sentado numa..."

Resposta simplista: Cadeira

Resposta dentro das expectativas contemporâneas: A vida na Terra tal como a conhecemos é possível graças ao efeito de estufa, que permite reter na atmosfera parte da radiação solar e sem o qual a temperatura média da superfície seriam 19 graus negativos. As principais moléculas responsáveis pelo efeitos de estufa são a água, ozono e dióxido de carbono. Com o advento industrial, causas antropocêntricas têm causado o aumento da concentração deste último na atmosfera, incrementando a retenção dos raios infravermelhos e temperatura terrestre. Como a massa vegetal, nomeadamente as arvores de onde é extraída a madeira para fazer cadeiras, é responsável pelo sequestro do dióxido de carbono atenuando o efeito de estufa, eu não estou sentado numa cadeira mas sim num puff azul em pele de cabra enchido com a roupa suja da semana passada.

in De Rerum Natura - post (humorístico) de David Marçal

Há 65 anos terminou a Guerra na Europa...!

Victory in Europe Day

Victory in Europe Day (V-E Day or VE Day) was on May 8, 1945, the date when the World War II Allies formally accepted the unconditional surrender of the armed forces of Nazi Germany and the end of Adolf Hitler's Third Reich. On 30 April Hitler committed suicide during the Battle of Berlin, and so the surrender of Germany was authorized by his replacement, President of Germany Karl Dönitz. The administration headed up by Dönitz was known as the Flensburg government. The act of military surrender was signed on 7 May in Reims, France, and ratified on 8 May in Berlin, Germany.

Finalmente dá para perceber alguns comportamentos de certos deputados

Artigo da revista "Science"
Há um bocadinho de Neandertal dentro de nós
 

Svante Pääbo, investigador do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva de Leipzig, na Alemanha

O debate durou anos: o homem moderno (nós) e o Homem de Neandertal, hoje extinto, ter-se-iam cruzado e procriado juntos – ou não? Hoje a questão foi definitivamente arrumada pela genética, com a publicação na "Science" do primeiro rascunho do genoma dos Neandertais. A resposta? Sim! A criança do Lapedo teve de facto Neandertais entre os seus antepassados.


Há meses que nos diziam que a primeira sequenciação do genoma do Homem de Neandertal estava quase pronta. Já está. E proporcionou uma primeira grande surpresa aos próprios autores do trabalho (que, como muitos outros especialistas, não acreditavam nesta possibilidade), ao confirmar que os humanos modernos acasalaram e procriaram com Neandertais. Simplesmente, porque descobriram bocadinhos de sequências genéticas de Neandertal no nosso ADN.

A equipa internacional liderada por Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva de Leipzig, na Alemanha, demorou quatro anos a ler os genes desse ser humano, extinto há cerca de 30 mil anos – uma proeza técnica que, segundo os autores, vai ao mesmo tempo permitir perceber o que é que nos distingue deles do ponto de vista evolutivo.

“Há seis ou sete anos, eu pensava que a sequenciação da totalidade de um genoma antigo era algo que não iria acontecer durante a minha vida”, disse ontem Pääbo no início de uma conferência de imprensa telefónica convocada pela revista Science. O grande problema, explicou, é que “mais de 90 por cento do ADN encontrado nos fósseis provinha de bactérias ou de fungos” – ou seja, pertencia aos microrganismos que tinham contaminado os ossos após a morte dos indivíduos em questão. Para mais, os fragmentos de ADN obtidos eram extremamente curtos e tinham sofrido alterações químicas. Isto sem esquecer que a sua mera manipulação corria o risco de introduzir uma contaminação adicional, com o próprio ADN dos cientistas – o que é absolutamente indesejável quando se trata justamente de determinar se há genes de Neandertal em nós ou genes nossos neles... Uma grande parte do trabalho e das técnicas desenvolvidas tinha portanto como objectivo garantir a autenticidade da proveniência do ADN em estudo.

Os cientistas extraíram o ADN principalmente de três fragmentos de osso fossilizado de três mulheres Neandertais, que tinham sido encontrados numa gruta na Croácia entre o fim da década de 1970 e o início da de 1980. Dois desses ossos foram datados com precisão e têm respectivamente 38 mil e 44 mil anos. A partir daí, conseguiu-se reconstituir, nesta primeira fase, cerca de 60 por cento da totalidade dos três mil milhões de pares de bases (ou “letras”) do ADN dos Neandertais.

Aconteceu no Médio Oriente
Os cientistas também sequenciaram cinco genomas de humanos actuais, de origem europeia, asiática e africana, para fins de comparação com o genoma fóssil – e compararam ainda esse genoma com o do chimpanzé. E descobriram que os Neandertais são, do ponto de vista genético, ligeiramente mais próximos dos humanos modernos fora de África do que dos africanos actuais. A explicação que dão para isto é que, pouco depois de terem saído de África à conquista do mundo, há uns 80 mil anos, provavelmente algures no Médio Oriente (antes de chegarem à Europa), os primeiros homens modernos cruzaram-se com os Neandertais e produziram descendência.

Isso não significa que não tenha havido, mais tarde, novos encontros e novos cruzamentos, nomeadamente na Europa. Mas o “fluxo genético” agora detectado – sempre dos Neandertais para os humanos actuais e não em sentido oposto – aponta para um contacto mais precoce, logo à saída de África. A ausência de provas não significa que não tenha havido contactos ulteriores, mas simplesmente que não foi possível detectar sinais genéticos desses contactos, argumentam os cientistas.

Seja como for, os seres humanos actuais, da Austrália à Europa, passando pela Ásia (mas não por África), herdaram, naquela altura, bocadinhos de sequências genéticas de Neandertal que continuam, ainda hoje, espalhadas pelo nosso ADN. Os cientistas estimam que entre um e quatro por cento do genoma dos humanos actuais provenha dos Neandertais. Num comunicado, referem mesmo que o genoma do célebre “caça-genes” norte-americano Craig Venter, recentemente publicado, contém segmentos que são mais próximos do genoma de Neandertal do que do genoma “de referência” humano, que inclui uma mistura de ADN de origem europeia e africana! “Um a quatro por cento do meu genoma é Neandertal”, salientou Pääbo na conferência de ontem. “Eles não se extinguiram totalmente, continuam a viver em nós.” Contudo, as sequências genéticas identificadas como provenientes dos Neandertais estão distribuídas ao acaso pela molécula de ADN e não correspondem a nenhum traço identificável que alguns de nós poderíamos ter em comum com eles.

Para Pääbo, “o mais fascinante” disto tudo é, porém, a possibilidade de utilizar este genoma fóssil para procurar provas da selecção “positiva” de traços genéticos, ou seja, de características genéticas que se fixaram ulteriormente nos humanos modernos porque apresentavam vantagens do ponto de vista evolutivo em termos de sobrevivência da espécie – e que nos tornam únicos e diferentes dos Neandertais. A equipa já identificou várias regiões do genoma onde isto poderá ter acontecido, que têm a ver com o desenvolvimento mental e cognitivo (há três genes que, quando mutados, estão implicados na trissomia 21, na esquizofrenia e no autismo), bem como regiões relacionadas com o metabolismo energético, com o desenvolvimento do crânio, da clavícula e da caixa torácica.

Pertencemos à mesma espécie?
Para Pääbo, esta pergunta não faz sentido. “É um debate estéril”, frisou. “Nunca me pronunciei sobre isto e prefiro deixar essas lutas a outros. O que interessa é que mostrámos que o cruzamento reprodutivo era biologicamente possível entre os Neandertais e nós. Eu diria que eram diferente dos humanos – mas não assim tão diferentes como isso.”

“Há mais de dez anos que as provas arqueológicas e paleontológicas de hibridação cultural e biológica entre Neandertais e homens modernos se vêm acumulando”, disse João Zilhão, arqueólogo português da Universidade de Bristol, em conversa telefónica com o PÚBLICO. Juntamente com o seu colega Erik Trinkaus, da Universidade de Washington, Zilhão descobriu em 1998, no Vale do Lapedo, perto de Leiria, o esqueleto mais completo até à data de uma criança da nossa espécie que viveu no Paleolítico Superior (há cerca de 25 mil anos). O fóssil, afirmam desde então estes cientistas, apresenta uma mistura de traços modernos e de Neandertal.

Só que muitos especialistas discordavam desta interpretação – o que, para Zilhão, deixa de ser possível a partir de hoje. “Andámos a dizer isso há dez anos e têm-nos atirado à cara com os dados genéticos”, disse-nos hoje o investigador. E mostrou-se satisfeito com os novos resultados: “Era a última objecção contra o nosso modelo e isso é óptimo. Há que virar a página, o problema está resolvido.”

Mas então somos ou não da mesma espécie? “A dicotomia homem moderno/Neandertal é falsa”, responde-nos Zilhão. “É uma classificação vitoriana, do século XIX.” O Neandertal foi o primeiro homem fóssil a ser descoberto, um ser a meio caminho entre os macacos e o homem, “e isso encaixava no paradigma da evolução [das espécies]”. Para Zilhão, esta concepção tem criado uma resistência cultural subconsciente. “Como é que um fulano tão feio pode ser igual a nós?”, ironiza. “Do ponto de vista biológico, o que é importante é que, em termos reprodutivos, o homem moderno e o homem de Neandertal funcionam como uma única comunidade. Podiam acasalar. Isso é que conta.”

É provável, entretanto, que o crescente número de pessoas que recorrem a empresas que analisam o seu genoma venham a saber em breve se são portadoras de sequências genéticas vindas dos Neandertais. Até porque o genoma fóssil já foi colocado pelos autores na Internet, numa base de dados genética de acesso livre. Interrogado pelo PÚBLICO a este propósito durante a conferência de imprensa de ontem, Pääbo riu-se: “Tenho a certeza de que algumas dessas empresas vão oferecer isso aos seus clientes.”

Colóquio sobre Alterações Climáticas na Marinha Grande



A OikosAssociação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria, vai realizar, no dia 27 de Maio de 2010 (quinta-feira), às 21.00 horas, na Biblioteca Municipal da Marinha Grande, um colóquio subordinado ao tema "Alterações Climáticas".

Divulga o evento e comparece...

O Affair Ricardo Rodrigues explicado pelo Antero





Limpar Leiria - celebrar o Dia Mundial do Ambiente com trabalho


Porque a participação e empenho de todos se revelam como cruciais ao sucesso da iniciativa, o Município de Leiria convida todos os cidadãos interessados a participarem na Campanha “Limpar Leiria”, a desenvolver no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Ambiente, no próximo dia 5 de Junho.

A Câmara Municipal de Leiria, apela à participação de todos os cidadãos para a possibilidade de dar continuidade ao trabalho já desenvolvido, através de uma nova campanha - “Limpar Leiria”, a desenvolver em estreita colaboração com as freguesias do Concelho.

Poderá inscrever-se:
  • Site da Câmara Municipal de Leiria;
  • Sedes das Juntas de Freguesia aderentes;
  • Feira de Maio;
  • Centro de Interpretação Ambiental de Leiria

Visite-nos no Facebook.

Informações adicionais em www.cm-leiria.pt

Algo vai bem no Reino da Dinamarca - já na República Portuguesa...

Entrevista
"Sinto mesmo muitas saudades”

Mikkel Solnado, filho de Raul Solnado, vive na Dinamarca e está a conhecer o êxito com a canção ‘We Can do Anything’, tema que começou por ser um anúncio para a TV.


Correio da Manhã – Como é que o filho de Raul Solnado acaba a fazer música na Dinamarca?

Mikkel Solnado – Nasci na Dinamarca e fui para Portugal aos seis meses. Vivi aí com o meu pai e a minha mãe (Anne Louise, dinamarquesa), mas quando tinha 19 anos ela quis regressar às raízes e eu tinha vontade de viver uma vida mais solta. Em Portugal era muito difícil trabalhar com música, não havia uma ‘cena’ cultural como na Dinamarca.

– Já fazia música em Portugal?

– Tocava bateria, compunha e tinha uma banda, os Husk, que em dinamarquês quer dizer ‘lembra-te’.

– Com ‘We Can do Anything’ saltou para as bocas do Mundo. Como reagiu?

– Não estava nada à espera, foi mesmo muito surreal. Estava de férias em Portugal, o meu pai doente, depois morreu, o funeral, tudo isso... Andava triste e, de repente, a canção passou na rádio. A partir daí...

– O tema começou por ser um anúncio para uma marca de automóveis, certo?

– Eram só 20 segundos para a Volkswagen, mas depois pediram--nos que acabássemos a canção. Tinha havido pedidos para isso, mas nunca tive planos para formar uma banda. Na altura apaixonei-me por uma rapariga, tive um encontro espectacular, fui para o estúdio e acabei o tema em menos de meia hora. A letra tem a ver com o viver agora.

– Não tinha intenções de formar uma banda, mas agora é uma estrela. Como está a lidar com isso?

– Aqui não sinto muito, as pessoas gostam do tema mas não tem o mesmo êxito que em Portugal. Não temos experiência de palco, portanto vai ser a estreia absoluta em Lisboa. Estamos muito ansiosos.

– Há planos para um disco?

– A ideia é essa, tenho tido reuniões com editoras portuguesas e o disco deverá sair em Março de 2010.

– Serão canções em português, inglês... ou dinamarquês?

– Na maioria serão em inglês, tenho uma em português, feita com o Nanu Figueiredo, dos Mola Dudle, mas em principio serão mais em inglês porque a ideia é divulgar o disco no resto do Mundo.

– Sente saudades de Portugal?

– Sinto muitas saudades. Sempre que posso vou a Portugal, vou todos os Verões e fico para aí umas três semanas, mas quando tenho de voltar fico triste. Gosto dos dois países e o meu plano é, um dia, viver um pouco aqui, um pouco em Portugal.

PERFIL

Mikkel Solnado nasceu em Copenhaga em 1979, filho de Raul Solnado e da dinamarquesa Anne Louise. Viveu em Portugal até aos 19 anos, quando partiu para a Dinamarca. Hoje trabalha numa agência que produz música para anúncios, TV e outros. Com a canção ‘We Can Do Anything’ saltou do anonimato e fará a sua estreia em palco a 4 de Dezembro, no Festival Super Bock em Stock, em Lisboa.

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