Mostrar mensagens com a etiqueta Homo sapiens. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Homo sapiens. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, setembro 24, 2024

As coisas que os humanos fazem - somos mais neandertais do que pensávamos...

Neandertais e Homo sapiens cruzaram-se numa montanha (em vários sentidos)

 

Reconstituição de um homo sapiens (esquerda) e neandertal (direita)

 

Uma equipa de arqueólogos identificou uma provável região de cruzamento entre Neandertais e o Homo sapiens durante o Plistocénico tardio. 

Diversos estudos mostraram já anteriormente que houve cruzamentos entre as populações de Neandertal e Homo sapiens — tendo mesmo sido encontrado ADN Neandertal no genoma de humanos modernos.

Um novo estudo usou agora modelação de nichos ecológicos e um sistema de informação geográfica para identificar as localizações dos Neandertais e dos Homo Sapiens que viviam em partes do sudeste da Europa e do sudoeste da Ásia.

No estudo, publicado na semana passada no Scientific Reports, os investigadores conseguiram identificar as regiões com maior probabilidade de interação e, consequentemente, de cruzamento entre as duas espécies de humanos durante o Plistocénico tardio.

Depois de estudar a distribuição geográfica do Neandertal e do Homo sapiens durante esse período, os investigadores concluíram que tinha havido cruzamento entre as duas espécies, e reduziram a lista de possíveis locais a apenas uma região - as Montanhas Zagros, no Planalto Persa, cadeia montanhosa que se estende do Irão ao norte do Iraque e ao sudeste da Turquia.

 

  

A biodiversidade, topologia variada e clima quente do local teriam permitido um bom nível de vida para os sues habitantes.

Além disso, a região deve ter estado no caminho do Homo sapiens quando este migrou para fora de África, por volta da altura em que os Neandertais ainda lá viviam, o que tornaria possível encontro entre as duas populações.

O local é considerado um tesouro de esqueletos de Neandertais e Homo sapiens, sendo a região onde foi encontrado o “enterro de flores” Neandertal e onde se descobriu um dos principais caminhos que o Homo sapiens percorreu quando começou a sair de África.

 

 

A equipa de investigação sugere que seria muito surpreendente se os dois grupos não se tivessem encontrado - pelo que parece assim altamente provável que se tenham cruzado, conta o Phys.org.

É de recordar que a relação entre neandertais e humanos modernos foi profundamente íntima, com trocas genéticas significativas. Tal intimidade influenciou a evolução de ambos os grupos, mas pode ter resultado na extinção dos neandertais.

 

in ZAP

quarta-feira, agosto 07, 2024

Há um novo/velho culpado para o desaparecimento da recente megafauna...

Novo estudo revela a verdadeira história do desaparecimento dos maiores animais da Terra

 

 

 

Após uma meta-análise de mais de 300 artigos científicos, uma equipa de investigadores da Universidade de Aarhus concluiu que foi a caça humana, e não as alterações climáticas, o principal fator de extinção dos grandes mamíferos nos últimos 50.000 anos.

Nos últimos 50.000 anos, muitas espécies de grande porte, ou megafauna, pesando pelo menos 45 quilos, foram extintas.

Um novo estudo conduzido por investigadores da Universidade de Aarhus sugere agora que estas extinções foram predominantemente causadas pela caça humana e não pelas alterações climáticas, apesar das flutuações climáticas significativas registadas durante este período.

Esta conclusão é apoiada por análises exaustivas que incorporam provas da caça humana, dados arqueológicos e estudos em vários domínios científicos, demonstrando que a atividade humana foi um fator mais decisivo nestas extinções do que as alterações climáticas anteriormente dramáticas.

O debate tem-se prolongado durante décadas: foram os seres humanos ou as alterações climáticas que levaram à extinção de muitas espécies de grandes mamíferos, aves e répteis que desapareceram da Terra nos últimos 50 000 anos?

Por “espécies grandes”, explica o Sci Tech Daily, entendemos os animais que pesavam pelo menos 45 kg, conhecidos como megafauna. Com base nos restos mortais encontrados até agora, pelo menos 161 espécies de mamíferos foram levadas à extinção durante este período.

As espécies mais afetadas por estes eventos de extinção foram as de maior porte: os herbívoros terrestres que pesavam mais de uma tonelada, os megaherbívoros.

Há cerca de 50 mil anos, existiam 57 espécies de megaherbívoros. Atualmente, restam apenas 11, que também registaram declínios drásticos nas suas populações, mas não ao ponto de se extinguirem completamente.

De acordo com os resultados do novo estudo, apresentadas num artigo recentemente publicado na revista Cambridge Prisms: Extinction, muitas destas espécies desaparecidas foram caçadas até à extinção pelo homem.

 

Diferentes domínios de investigação

Os autores do estudo incorporaram vários campos de investigação, incluindo estudos diretamente relacionados com a extinção de grandes animais, tais como

  • O momento das extinções de espécies
  • As preferências alimentares dos animais
  • As exigências climáticas e de habitat
  • Estimativas genéticas do tamanho de populações passadas
  • Evidências de caça humana

Além disso, incluíram uma vasta gama de estudos de outros domínios necessários para compreender o fenómeno, tais como

  • História do clima nos últimos 1-3 milhões de anos
  • História da vegetação ao longo dos últimos 1-3 milhões de anos
  • Evolução e dinâmica da fauna nos últimos 66 milhões de anos
  • Dados arqueológicos sobre a expansão humana e o estilo de vida, incluindo as preferências alimentares

De acordo com os investigadores, as dramáticas alterações climáticas ocorridas durante os últimos períodos interglaciais e glaciais, conhecidos como o Plistocénico tardio, de 130.000 a 11.000 anos atrás, afetaram as populações e a distribuição de animais e plantas de grande e pequeno porte em todo o mundo.

No entanto, apenas foram observadas extinções significativas apenas entre os animais de grande porte, especialmente os maiores.

Uma observação importante é que os períodos glaciares e interglaciares anteriores, igualmente dramáticos, ocorridos nos últimos dois milhões de anos, não causaram uma perda seletiva de megafauna.

Especialmente no início dos períodos glaciares, as condições de frio e seca causaram extinções em massa em algumas regiões, como as árvores na Europa. No entanto, não se verificaram extinções seletivas de animais de grande porte.

“A grande e muito seletiva perda de megafauna ocorrida nos últimos 50.000 anos é única nos últimos 66 milhões de anos” explica Jens-Christian Svenning, investigador da Universidade de Aarhus e primeiro autor do artigo.

“Períodos anteriores de alterações climáticas não conduziram a grandes extinções seletivas, o que contraria o papel importante atribuído ao clima nas extinções da megafauna”, acrescenta Svenning.

“Outro padrão significativo que argumenta contra um papel do clima é o facto de as recentes extinções da megafauna terem sido tão graves em áreas climaticamente estáveis como em áreas instáveis”, realça o investigador.

Os arqueólogos encontraram armadilhas concebidas para animais de grande porte e as análises de isótopos de ossos humanos antigos e de resíduos proteicos de pontas de lança mostram que caçavam e comiam os maiores mamíferos.

“Os primeiros humanos modernos eram caçadores eficazes mesmo das maiores espécies animais e tinham claramente a capacidade de reduzir as populações de animais de grande porte”, diz Svenning.

“Estes animais de grande porte eram e são particularmente vulneráveis à sobre-exploração porque têm longos períodos de gestação, produzem muito poucas crias de cada vez e demoram muitos anos a atingir a maturidade sexual“, detalha o cientista dinamarquês.

A análise mostra que a caça humana de animais de grande porte, como mamutes, mastodontes e preguiças gigantes, foi generalizada e consistente em todo o mundo.

Também mostra que as espécies se extinguiram em alturas muito diferentes e a ritmos diferentes em todo o mundo. Em algumas áreas locais, a extinção ocorreu muito rapidamente, enquanto noutros locais demorou mais de 10.000 anos.

Mas, em todo o lado, ocorreu após a chegada dos humanos modernos ou, no caso de África, após os avanços culturais entre os humanos.

  

in ZAP

quinta-feira, julho 11, 2024

A arte rupestre é mais antiga do que se pensava...

Arte rupestre mais antiga do mundo descoberta em caverna na Indonésia

 

A pintura mostra um porco parado com a boca parcialmente aberta e pelo menos três figuras humanas

 

A mais antiga arte rupestre figurativa foi descoberta na ilha indonésia de Sulawesi por cientistas australianos e indonésios. A fascinante descoberta reescreve a linha do tempo da expressão artística humana.

Uma equipa de arqueólogos australianos e indonésios anunciou a descoberta da mais antiga arte rupestre narrativa conhecida, datada de há pelo menos 51.200 anos.

A descoberta, que foi apresentada num artigo publicado esta semana na revista Nature, não só reescreve a linha do tempo da expressão artística humana, como também mostra as capacidades avançadas de contar histórias dos nossos antepassados.

pinturas agora encontradas, um porco parado com a boca parcialmente aberta e pelo menos três figuras humanas, são mais de 5.000 anos mais antigas do que a anterior arte rupestre mais antiga.

“A descoberta faz recuar no tempo o ponto em que os humanos modernos mostraram pela primeira vez capacidade de pensamento criativo e muda as nossas ideias sobre a evolução humana”, explicou à BBC News a arqueóloga Maxime Aubert, investigadora da Universidade de Griffith, na Austrália, e autora principal do artigo.

“A pintura conta uma história complexa. É a prova mais antiga que temos de humanos a contar histórias. Mostra que os humanos da época tinham a capacidade de pensar em termos abstratos”, afirmou.

As pinturas foram encontradas na caverna de Karampuang, na península do sul da ilha indonésia de Sulawesi, ou ilha das Celebes.

A maior figura humana tem os dois braços estendidos e parece estar a segurar uma vara. A segunda está imediatamente à frente do porco, com a cabeça junto ao focinho. Parece também estar a segurar um pau, uma das extremidades do qual pode estar em contacto com a garganta do porco.

A última figura humana parece estar de cabeça para baixo, com as pernas viradas para cima e estendidas para fora. Tem uma mão que parece estar a tocar na cabeça do porco.

A equipa de cientistas foi liderada por Adhi Agus Oktaviana, especialista indonésio em arte rupestre da Agência Nacional de Investigação e Inovação da Indonésia, em Jacarta.

“A narração de histórias foi uma parte crucial da cultura humana primitiva na Indonésia desde muito cedo”, diz Oktaviana.

“Os seres humanos provavelmente contam histórias há muito mais de 51.200 anos, mas como as palavras não fossilizam, só nos podemos basear em indicadores indiretos, como representações de cenas na arte — e a arte de Sulawesi é agora, de longe, a prova mais antiga que a arqueologia conhece”, acrescentou.

Os primeiros vestígios de desenhos feitos por humanos, que foram encontrados na caverna de Blombos, na África do Sul, datam de há 75.000 a 100.000 anos, e consistem em padrões geométricos.

As pinturas agora encontradas são a mais antiga representação de arte figurativa, a expressão abstrata do mundo à volta da pessoa ou pessoas que a pintaram, representando uma evolução nos processos de pensamento da nossa espécie - que deram origem à arte e à ciência.

A questão é saber o que desencadeou este despertar da mente humana, diz o editor sénior da Nature, Henry Gee. “Algo parece ter acontecido há cerca de 50.000 anos, pouco depois do que todas as outras espécies humanas, como os Neandertais e o chamado Hobbit das Flores, que se extinguiram.

“É muito romântico pensar que, a dada altura, algo aconteceu no cérebro humano, mas penso que é provável que existam exemplos ainda mais antigos de arte representacional”, acrescenta Gee.

Chris Stringer, antropólogo do Museu de História Natural de Londres, acredita que podem existir exemplos mais antigos de arte representacional em África, onde os humanos modernos evoluíram pela primeira vez - mas ainda não encontrámos nenhum.

“Esta descoberta reforça a ideia de que a arte representacional foi produzida pela primeira vez em África, há mais de 50.000 anos, e que o conceito se espalhou à medida que a nossa espécie se expandiu”, considera o antropólogo.

 

in ZAP

quarta-feira, maio 29, 2024

Mais novidades sobre hominídeos...

Misterioso crânio com 1 milhão de anos na China pode ser da linhagem do “Homem Dragão”

 

 

Uma reconstrução de um dos crânios descobertos em Yunyang sugere que pertencerá ao último antepassado comum entre o Homo sapiens e o Homem-Dragão.

Em 1989 e 1990, dois crânios com cerca de 1 milhão de anos, pertencentes a uma espécie humana desconhecida, foram descobertos no distrito de Yunyang, na província de Hubei, na China Central.

Um terceiro crânio semelhante foi encontrado nas proximidades em 2022, mas a identidade desses fósseis continuou a ser um mistério: seriam Homo erectus ou primeiros Homo sapiens? Ou talvez estivessem relacionados à enigmática linhagem asiática do “Homem-Dragão”?

um novo estudo – que está ainda a ser revisto por pares – cientistas reconstruiram um dos crânios e fizeram a intrigante afirmação de que o indivíduo pode estar próximo do último ancestral comum entre Homo sapiens e a linhagem do Homem-Dragão.

O Homem-Dragão, cientificamente conhecido como Homo longi, é uma espécie extinta de humano arcaico, conhecida por um crânio com 146.000 anos encontrado na província chinesa de Heilongjiang. Alguns sugerem que o Homem-Dragão é a mesma espécie dos Denisovanos – a misteriosa “espécie irmã” extinta dos humanos que viveu ao lado do H. sapiens na Eurásia – embora o seu lugar exato na árvore genealógica da humanidade seja incerto.

Curiosamente, parece que o Homem-Dragão pode ter uma relação intrigante com os três crânios encontrados em Yunyang, conhecidos como o “Homem de Yunxian”.

Para chegar a essa conclusão, os investigadores reconstruíram o crânio do Homem de Yunxian, utilizando principalmente o espécime melhor preservado (Yunxian 2). Eles então estudaram a forma do crânio reconstruido para ver como ele se comparava com outros membros da família Homo.

Embora o crânio de Yunxian apresentasse uma mistura de características, muitos aspetos do seu crânio pareciam pertencer a um membro inicial da linhagem do Homem-Dragão, relata o IFLScience.

“Yunxian 2 reconstruido sugere que ele é um membro inicial da linhagem asiática do ‘Homem-Dragão’, que provavelmente inclui os Denisovanos, e é o grupo irmão da linhagem Homo sapiens. Ambas as linhagens, H. sapiens e Homem-Dragão, têm raízes profundas que se estendem além do Pleistoceno Médio, e a posição basal do crânio fóssil de Yunxian sugere que ele representa uma população próxima ao último ancestral comum das duas linhagens,” escrevem os autores do estudo.

Com cerca de 940.000 a 1,1 milhão de anos, o Homem de Yunxian é significativamente mais antigo que a linhagem do Homem-Dragão e H. sapiens. No entanto, a sua datação coincide com o tempo teórico de origem dessas duas linhagens, por volta de 1,13 milhões e 930.000 anos atrás, respetivamente.

Portanto, os investigadores ponderam que o Homem de Yunxian pode ser algo como um último ancestral comum entre a nossa espécie e o chamado Homem-Dragão da Ásia Oriental.

 

in ZAP

quinta-feira, maio 16, 2024

Somos mesmo um espécie bizarra...

Os humanos ancestrais evoluíram de forma bizarra (e diferente das outras espécies)

 

Crânios de Homo erectus, Homo floresiensis e Homo heidelbergensis

 

De acordo com um novo estudo, a competição inter-espécies nos humanos antigos registou uma tendência evolutiva completamente oposta à de quase todos os outros vertebrados.

Durante anos, os cientistas assumiram que o principal motor da ascensão e queda das espécies de hominídeos, que inclui os humanos e os nossos antepassados diretos, eram as alterações climáticas.

Sabe-se, no entanto, que a competição inter-espécies também esteve em jogo, tal como acontece na maioria dos vertebrados.

Um novo estudo, publicado na revista Nature Ecology & Evolution examinou agora o ritmo a que surgiram novas espécies de hominídeos ao longo de 5 milhões de anos.

Esta especiação na nossa linhagem, segundo os investigadores, é diferente de quase tudo o resto.

“Temos estado a ignorar a forma como a competição entre espécies moldou a nossa própria árvore evolutiva”, afirma Laura van Holstein, investigadora da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e autora principal do estudo.

“O efeito do clima nas espécies de hominídeos é apenas uma parte da história“, salienta a paleoantropóloga, que em 2020 descobriu que as subespécies de mamíferos desempenham um papel mais importante na evolução do que aquilo que se pensava, provando uma das teorias de Charles Darwin.

Na maioria dos vertebrados, as espécies evoluem para preencher “nichos” ecológicos. “O padrão que observamos em muitos dos primeiros hominídeos é semelhante ao de todos os outros mamíferos”, explica van Holstein, citada pela Cosmos.

“As taxas de especiação aumentam e depois estabilizam, altura em que as taxas de extinção começam a aumentar. Isto sugere que a competição entre espécies foi um fator evolutivo importante“, acrescenta a investigadora.

Mas van Holstein descreve como “bizarra” a evolução do grupo Homo, que inclui os humanos modernos e que surgiu há cerca de 2 milhões de anos com o Homo habilis. A tendência de especiação foi completamente invertida.

“Quanto mais espécies de Homo existiam, maior era a taxa de especiação. Assim, quando esses nichos foram preenchidos, algo levou ao aparecimento de ainda mais espécies. Isto é quase sem paralelo na ciência evolutiva”.

A comparação mais próxima é com as espécies de escaravelhos que vivem em ilhas, onde os ecossistemas contidos podem produzir tendências evolutivas invulgares.

“Os padrões de evolução que observamos nas espécies de Homo que conduziram diretamente aos humanos modernos estão mais próximos dos dos escaravelhos que vivem em ilhas do que dos outros primatas, ou mesmo de qualquer outro mamífero”, explica van Holstein.

 

A autora principal do estudo, Laura Van Holstein, provou em 2020 uma das teorias da evolução de Darwin

 

A investigadora criou uma base de dados de todas as espécies de hominídeos encontradas e datadas até à data: 385 registos no total, colmatando as lacunas no registo fóssil através da modelização. Isto deu-lhe novas linhas de tempo para o aparecimento e desaparecimento das espécies.

Entre as descobertas de van Holstein está o facto de várias espécies que se pensava terem evoluído através da anagénese, quando uma espécie se transforma lentamente noutra, poderem, na verdade, ter “brotado”, ou seja, a nova espécie ramificou-se da já existente.

Por exemplo, acreditava-se que a espécie de hominídeo Australopithecus afarensis tinha evoluído a partir do Australopithecus anamensis por anagénese. Mas o modelo sugere que se sobrepuseram em cerca de meio milhão de anos.

Os primeiros hominídeos podem assim ter evoluído para expandir o seu nicho. Por exemplo, o Paranthropus pode ter adaptado os seus dentes para consumir diferentes alimentos. Mas o padrão das espécies Homo sugere que a tecnologia desempenhou um papel muito mais importante na especiação.

“A adoção de ferramentas de pedra ou de fogo, ou de técnicas de caça intensiva, são comportamentos extremamente flexíveis. Uma espécie que os consiga utilizar pode rapidamente criar novos nichos e não tem de sobreviver durante vastos períodos de tempo enquanto desenvolve novos planos corporais”, conclui van Holstein.

 

in ZAP

segunda-feira, maio 13, 2024

Mais dados sobre a colonização da Terra pelos humanos modernos...

Para onde foram os primeiros humanos depois de África? Novo estudo dá a resposta

 

 

 

O novo estudo aponta que os humanos ancestrais foram para o Planalto Persa antes de iniciarem a colonização generalizada da Eurásia.

Um estudo revolucionário recentemente publicado na Nature Communications lança luz sobre um dos mistérios mais duradouros da pré-história humana: para onde foram primeiros humanos após deixarem África e antes de se dispersarem pela Eurásia?

A pesquisa, uma colaboração entre a Universidade de Pádua, a Universidade de Bolonha (Departamento de Património Cultural), a Universidade Griffith de Brisbane, o Instituto Max Planck de Jena e a Universidade de Turim, aponta o Planalto Persa como uma região chave durante as fases iniciais da colonização eurasiática.

As evidências genéticas combinadas com modelos paleoecológicos sugerem que, após saírem da África há entre 70 a 60 mil anos, os ancestrais das atuais populações eurasianas, americanas e oceânicas permaneceram como uma população homogénea no Planalto Persa por vários milénios antes de se expandirem por todo o continente e além.

Este período de estagnação, antes da divergência genética que deu origem às populações europeias e asiáticas orientais de hoje, é datado de há cerca de 45 mil anos, relata o Ancient Origins.

“A parte mais difícil foi desemaranhar os vários fatores de confusão constituídos por 45 mil anos de movimentos e misturas populacionais que ocorreram após a colonização do Centro”, afirma Leonardo Vallini, o primeiro autor do estudo.

A pesquisa também confirmou que as características paleoecológicas da área naquela época a tornavam adequada para ocupação humana, potencialmente capaz de sustentar uma população maior do que outras partes da Ásia Ocidental.

Este achado abre novas portas para a pesquisa arqueológica e paleoantropológica. O Planalto Persa será até o foco do projeto ERC Synergy, ‘Last Neanderthals‘, recentemente atribuído ao co-autor Stefano Benazzi, professor da Universidade de Bolonha.

O projeto busca explorar os eventos bioculturais complexos que ocorreram há entre 60.000 e 40.000 anos, com um foco especial no Planalto Persa.

Esta fase da jornada humana fora da África é particularmente fascinante, pois também incluiu o encontro e a mistura genética com os Neandertais.

A descoberta não apenas enriquece nosso entendimento sobre as migrações primitivas mas também enfatiza a importância do Planalto Persa como um ponto de convergência na pré-história global.

Entretanto, ficámos também a saber que a primeira coisa que os humanos que saíram de África fizeram ao chegar à Europa foi… “invadir” a Ucrânia.


in ZAP

domingo, janeiro 21, 2024

Estudo interessante sobre o cromossoma Y humano...

Décadas depois, o puzzle do cromossoma Y foi finalmente desvendado

 

 

Cromossomas XY

 

Um dos cromossomas mais pequenos dos seres humanos, o cromossoma sexual masculino, é o último a ser totalmente sequenciado. A investigação permitirá descobrir, no futuro, que papel desempenha o cromossoma Y no desenvolvimento dos homens, na fertilidade e em doenças com causa genética.

Este mês, fez-se história: uma equipa composta por mais de uma centena de cientistas conseguiu preencher as lacunas existentes na sequenciação genómica do cromossoma Y, vinte anos depois de ter sido publicado o primeiro esboço do seu código de ADN.

A investigação, que deu origem a dois artigos científicos publicados na Nature, revela o catálogo completo dos genes do cromossoma sexual masculino – o último cromossoma humano a ser totalmente sequenciado – e a forma como estão organizados.

“É um trabalho espantoso e um estudo de referência em genética”, reagiu Dianne Newbury, professora de genética médica na Universidade de Oxford Brookes, que não esteve envolvida na investigação, ao Live Science. “A sequenciação do cromossoma Y fornece uma imagem completa de todo o genoma humano e vai dar início a muitos estudos sobre o cromossoma sexual que não tinham sido possíveis até então.”

 

O cromossoma Y é um dos dois cromossomas, juntamente com o cromossoma X, responsável por determinar o sexo biológico nos seres humanos. As mulheres têm normalmente dois cromossomas X, enquanto os homens têm um de cada tipo.

É importante para o desenvolvimento das características sexuais masculinas, uma vez que transporta o gene da região determinante do sexo Y (SRY), que codifica uma proteína que promove o desenvolvimento dos testículos e bloqueia o desenvolvimento dos órgãos femininos, como o útero e as trompas de falópio.

Foi parcialmente sequenciado em 2003 como parte do Projeto Genoma Humano, que produziu o primeiro esboço do genoma humano. No entanto, o cromossoma Y tem uma estrutura bastante complexa que contém muitas sequências longas e repetitivas de ADN e, até agora, menos de 50% da sua sequência era conhecida.

“Quando estamos a reconstruir um genoma, não podemos sequenciar um cromossoma inteiro de uma só vez”, explicou Adam Phillippy, autor principal de um dos novos estudos e investigador sénior do Instituto Nacional de Investigação do Genoma Humano. “Tal como na reconstrução de um puzzle, são as partes repetitivas que parecem iguais que são sempre as mais difíceis. Por isso, guardamo-las para o fim.”

Usando uma combinação de tecnologias de ponta de sequenciação de ADN e de aprendizagem automática, assim como conhecimentos adquiridos através da sequenciação dos outros 23 cromossomas humanos, a equipa de Phillippy conseguiu sequenciar completamente o cromossoma Y.

Os cientistas descobriram que contém 62.460.029 pares de bases de ADN, os pares de “letras” que constituem os degraus da escada do ADN. São mais 30 milhões do que no genoma de referência mais atual, o GRCh38, que tem sido continuamente melhorado nos últimos 20 anos.

Corrigindo alguns erros no GRCh38, a equipa descobriu as estruturas completas de várias famílias de genes, como o DAZ e o RBMY, que estão envolvidos na produção de esperma.

Também identificou 41 novos genes codificadores de proteínas e descobriu novas informações sobre regiões não codificadoras conhecidas como ADN satélite – que não transportam esquemas para proteínas –, bem como sequências que, no passado, foram frequentemente confundidas com ADN bacteriano.

Utilizando as lições que aprenderam na construção deste novo genoma, chamado T2T-Y, a equipa desenvolveu um software chamado Verkko que pode ser usado para montar eficientemente as sequências completas de cromossomas adicionais. Este passo foi muito importante na investigação, uma vez que o T2T-Y foi construído a partir do cromossoma Y de apenas um dador, pelo que não dá uma imagem completa da forma como este pode variar entre as pessoas.

Num segundo estudo, os cientistas utilizaram o Verkko para reunir os cromossomas Y de 43 homens, de 21 países diferentes, que doaram amostras de ADN ao Projeto 1000 Genomas. Estas sequências refletem a extensão da diversidade moderna do cromossoma Y, com os 43 cromossomas e o T2T-Y a partilharem um antepassado comum há cerca de 183 mil anos.

As sequências variavam entre 45,2 milhões e 84,9 milhões de pares de bases e, no seu conjunto, mostram que o cromossoma Y diversificou substancialmente o seu tamanho e estrutura ao longo do tempo.

As mais recentes descobertas poderão vir a facilitar a deteção de variantes genéticas no cromossoma Y, de forma a associá-las a características específicas, e o desenvolvimento de tratamentos personalizados para doenças genéticas ou cancro.

Ambos os artigos científicos podem ser consultados aqui e aqui.

 

in ZAP

quinta-feira, dezembro 28, 2023

Notícia interessante sobre a nossa família mais chegada...

Denisovanos: o que já se sabe sobre os nossos “primos” mais misteriosos

 

 

Reconstrução facial de um Denisovano

 

 Já ouviu falar do Hominídeo de Denisova? É ainda mais misterioso do que os Neandertais.

Os Denisovanos são uma espécie de humanos e quase se extinguiu há, pelo menos, 20 mil anos. São conhecidos como o grupo irmão dos Neandertais.

Esta espécie também conviveu com o Homo sapiens na Euroásia, durante partes do Paleolítico Inferior – que vai de 3,3 milhões de anos até 300 mil anos atrás – e do Paleolítico Médio – que vai de 300 mil anos até 50 mil anos atrás.

Tal como os Neandertais, os Denisovanos são os nossos parentes extintos mais próximos. Recentemente, ADN destes “primos” misteriosos foi encontrado numa caverna tibetana.

A investigação indicou que os hominídeos ocuparam o planalto tibetano por um longo período de tempo e, provavelmente, conseguiram adaptar-se ao ambiente de grande altitude.

Há quem vá ainda mais longe e considere que o Denisovanos foram os primeiros humanos a chegar àquela região.

Como explica o IFLScience, acredita-se que Neandertais, Denisovanos e humanos modernos sejam descendentes de um ancestral comum do Homo heidelbergensis, que viveu há cerca de 600 mil a 750 mil anos.

Há uma teoria que diz que um grupo ancestral dessa espécie deixou África e dividiu-se em dois grupos principais, pouco tempo depois: os Neandertais que migraram para a Ásia Ocidental e Europa; e os Denisovanos que foram para Leste.

Os ancestrais do Homo heidelbergensis que permaneceram em África, provavelmente, deram origem aos humanos modernos.

 

Os nossos “primos” ainda são misteriosos

Em 2008, uma falange encontrada na Caverna de Denisova, na Sibéria, revelou ao Mundo esta nova espécie humana, batizada apenas 2010 como “Hominídeo de Denisova”.

Desde então, segundo o IFLScience, já foram encontrados fósseis de cinco indivíduos Denisovanos, na Caverna de Denisova.

Uma descoberta, em 2018, de um fragmento de osso com 40 mil anos, de uma rapariga com uma mãe Neandertal e um pai Denisovano, veio confirmar que espécies híbridas humanas podem ter desempenhado um papel fundamental na evolução.

Não há ainda muita informação sobre a fisionomia dos Denisovanos, mas, em 2019, os cientistas reconstruiram, pela primeira vez, o rosto de uma mulher desta espécie.

Ao fazer um mapa metílico do genoma dos Denisovanos, ou seja, um mapa que mostra como as alterações químicas na expressão genética podem influenciar características físicas, os cientistas reconstruiram pela primeira vez o rosto de uma Denisovana.

No total, os investigadores encontraram 56 traços nos Denisovanos que previam ser diferentes dos Neandertais e dos humanos modernos, sendo que 32 deles resultaram em claras diferenças anatómicas.

A equipa descobriu, por exemplo, que estes hominídeos tinham arcadas dentárias significativamente mais longas, assim como o topo do crânio era também visivelmente mais largo, quando comparados com os Neandertais e com os humanos modernos.

De forma mais específica, também perceberam que a pélvis e a caixa torácica eram mais largas do que as dos humanos modernos e tinham também rostos mais finos e planos quando comparados com os dos Neandertais.

 

in ZAP (corrigido)

quarta-feira, agosto 30, 2023

Notícia interessante sobre paleoantropologia e icnofósseis de humanos modernos...

Descoberta a pegada de Homo sapiens mais antiga do mundo

 

  

Há pouco mais de duas décadas, quando o novo milénio começou, parecia que os rastros deixados pelos nossos antepassados humanos com mais de 50 000 anos eram excessivamente raros.

Naquela época, apenas quatro locais tinham sido relatados em toda a África. Dois eram da África Oriental: Laetoli na Tanzânia e Koobi Fora no Quénia; dois eram da África do Sul (Nahoon e Langebaan). Na verdade, o local de Nahoon, relatado em 1966, foi o primeiro local de pegada hominina a ser descrito.

Em 2023 a situação é bem diferente. Parece que as pessoas não estavam à procura com atenção suficiente ou não estavam à procura nos lugares certos. Hoje, a contagem africana de icnossítios hominídeos datados com mais de 50.000 anos é de 14. Podem ser convenientemente divididos num aglomerado da África Oriental (cinco locais) e um aglomerado sul-africano da costa do Cabo (nove lugares). Existem mais dez locais noutras partes do mundo, incluindo o Reino Unido e a Península Arábica.

Dado que relativamente poucos restos de esqueletos de hominídeos foram encontrados na costa do Cabo, os vestígios deixados pelos nossos antepassados humanos enquanto se moviam pelas paisagens antigas são uma maneira útil de complementar e aprimorar a nossa compreensão dos antigos hominídeos na África.

Num artigo publicado recentemente no Ichnos, os cientistas forneceram as idades de sete icnossítios hominídeos recém-datados que foram identificados nos últimos cinco anos na costa sul do Cabo da África do Sul. Esses locais agora fazem parte do “cluster sul-africano” de nove locais.

Os sítios variam em idade; o mais recente data de há cerca de 71 000 anos. A mais antiga, com 153 mil anos, é um dos achados mais notáveis ​​registados neste estudo: é a pegada mais antiga atribuída à nossa espécie, o Homo sapiens.

As novas datas corroboram o registo arqueológico. Juntamente com outras evidências da área e do período de tempo, incluindo o desenvolvimento de sofisticadas ferramentas de pedra, arte, joalharia e colheita de frutos do mar, confirma que a costa sul do Cabo foi uma área na qual os primeiros humanos anatomicamente modernos sobreviveram, evoluíram e prosperaram, antes de se espalhar da África para outros continentes.

 

Sítios muito diferentes

Existem diferenças significativas entre os grupos de pistas da África Oriental e da África do Sul. Os sítios da África Oriental são muito mais antigos: Laetoli, o mais antigo, tem 3,66 milhões de anos e o mais novo tem 0,7 milhão de anos. As pegadas não foram feitas pelo Homo sapiens, mas por espécies anteriores, como os australopitecíneos, o Homo heidelbergensis e o Homo erectus. Na maior parte, as superfícies em que ocorrem as pegadas da África Oriental tiveram que ser escavadas e expostas laboriosa e meticulosamente.

Os sítios sul-africanos na costa do Cabo, ao contrário, são substancialmente mais jovens. Todos foram atribuídos ao Homo sapiens. E os rastros tendem a ficar totalmente expostos quando descobertos, em rochas conhecidas como eolianitos, versões cimentadas de antigas dunas.

A escavação, portanto, geralmente não é considerada – e devido à exposição dos locais aos elementos e à natureza relativamente grosseira da areia das dunas, eles geralmente não são tão bem preservados quanto os locais da África Oriental. Também são vulneráveis ​​à erosão, por isso muitas vezes é preciso trabalhar rápido para registá-los e analisá-los antes que sejam destruídos pelo oceano e pelo vento.

Embora isso limite o potencial para uma interpretação detalhada, podemos ter os depósitos datados. É aí que entra a luminescência oticamente estimulada

 

Um método iluminador

Um dos principais desafios ao estudar o registo paleo – trilhos, fósseis ou qualquer outro tipo de sedimento antigo – é determinar a idade dos materiais.

Sem isso, é difícil avaliar o significado mais amplo de uma descoberta ou interpretar as alterações climáticas que criam o registo geológico. No caso dos eolianitos da costa sul do Cabo, o método de datação escolhido é muitas vezes a luminescência oticamente estimulada.

Este método de datação mostra há quanto tempo um grão de areia foi exposto à luz solar; por outras palavras, há quanto tempo essa secção de sedimento está enterrada. Dada a forma como as pegadas neste estudo foram formadas – impressões feitas em areia molhada, seguidas de enterro com nova areia soprada – é um bom método, pois podemos estar razoavelmente confiantes de que o “relógio” de datação começou mais ou menos ao mesmo tempo em que o trilho foi criado.

A costa sul do Cabo é um ótimo lugar para aplicar luminescência oticamente estimulada. Em primeiro lugar, os sedimentos são ricos em grãos de quartzo, que produzem muita luminescência. Em segundo lugar, o sol abundante, as praias amplas e o pronto transporte de areia pelo vento para formar as dunas costeiras significam que quaisquer sinais de luminescência pré-existentes são totalmente removidos antes do evento de enterro de interesse, tornando as estimativas de idade confiáveis. Este método sustentou grande parte da datação de achados anteriores na área.

O intervalo geral de datas das descobertas para os icnossítios hominídeos – cerca de 15.000 a 71.000 anos de idade – é consistente com as idades em estudos relatados anteriormente de depósitos geológicos semelhantes na região.

O trilho de 153.000 anos foi encontrada no Garden Route National Park, a oeste da cidade costeira de Knysna, na costa sul do Cabo. Os dois sítios sul-africanos previamente datados, Nahoon e Langebaan, revelaram idades de cerca de 124.000 anos e 117.000 anos, respetivamente.

 

Corrigido e adaptado de ZAP

quarta-feira, julho 26, 2023

Notícia sobre o menino do Lapedo e o neandertal que persiste dentro de nós...

Menino do Lapedo. O esqueleto português que sugere que neandertais e humanos se cruzaram

Reconstrução visual do menino do Lapedo

   

No Lagar Velho, no vale do Lapedo, a cerca de 150 km de Lisboa, foi descoberto em 1998 o esqueleto conhecido como menino do Lapedo. Com cerca de 4 anos, foi enterrado neste local em Portugal há cerca de 29 mil anos.

Algo diferente no seu corpo chamou a atenção dos arqueólogos que começaram a escavar o local.

“Havia algo estranho na anatomia da criança. Quando encontramos a mandíbula, sabíamos que seria um humano moderno, mas quando expusemos o esqueleto completo […] vimos que tinha as proporções corporais de um Neandertal”, explicou à BBC João Zilhão, arqueólogo e líder da equipa que trabalhou na descoberta.

“A única coisa que poderia explicar essa combinação de características é que a criança era, de facto, evidência de que os neandertais e os humanos modernos se cruzaram”.

Se voltarmos ao que se pensava sobre a evolução dos humanos no final dos anos 90 — quando se supunha que os neandertais e os humanos modernos eram espécies diferentes e, portanto, o cruzamento era impensável — não surpreende que a grande maioria dos especialistas tenha acreditado que a interpretação de Zilhão e sua equipa era um tanto exagerada.

Mas a sua teoria provocou uma revolução nos estudos evolutivos. A comunidade à qual o menino pertencia era de caçadores-coletores e de natureza nómada.

Conforme explicou à BBC Reel a arqueóloga Ana Cristina Araújo, quando o menino morreu, o grupo cavou um buraco no chão, queimou um galho de pinheiro e depositou o seu corpo envolto numa mortalha tingida de ocre sobre as cinzas.

“Não sabemos (com certeza) se era menino ou menina, mas há indícios de que era menino”.

Sobre a causa da morte, a arqueóloga diz que não há pistas que apontem para uma doença ou queda. Portanto, é possível imaginar uma diversidade de cenários. “O menino pode ter comido um cogumelo venenoso ou pode ter-se afogado”.

O seu corpo permaneceu enterrado por milénios até que, em 1998, foi descoberto por acaso e estava com o esqueleto quase intacto quando os donos do terreno começaram a escavar para construir uma série de estruturas em terraços.

Depois de transferido para o Museu Nacional de Lisboa, começaram a estudá-lo detalhadamente.

“Os ossos das pernas eram mais curtos do que o normal para uma criança da idade dele. Como é que as pernas poderiam parecer de um neandertal? Alguns dentes também pareciam de um neandertal, enquanto outros pareciam de um humano moderno. Como explicar isso?”, questionou Zilhão.

Os investigadores lidaram com duas hipóteses. Uma delas era que a criança era o resultado de um cruzamento entre um neandertal e um humano moderno.

Zilhão, porém, não se convenceu disso. Se esse foi um evento único, raro e esporádico, a possibilidade de encontrá-lo 30 mil anos depois era quase impossível.

A segunda hipótese sugeria que os neandertais e os sapiens mantinham relações sexuais regulares entre si.

“Sabíamos que na Península Ibérica o momento do contacto [entre os dois] foi […] há cerca de 37 mil anos. Se o esqueleto pertencesse a essa época, a primeira teoria poderia funcionar. Mas se o menino era de um período muito mais tardio, as implicações tinham que ser que estávamos a olhar para um processo em nível populacional, não um encontro casual entre dois indivíduos”, diz Zilhão.

A datação por radiocarbono resolveu a questão: a criança do Lapedo tinha 29 mil anos.

“Se tantos milénios após o tempo de contacto, as pessoas que vivem nesta parte do mundo ainda apresentam evidências anatómicas dessa população ancestral de neandertais, deve ser porque o cruzamento não aconteceu apenas uma vez, foi a norma”, apontou o arqueólogo.

A força das evidências encontradas pela equipa em Portugal fez com que outros especialistas tivessem que considerar seriamente essa hipótese.

Graças a esta descoberta, houve uma mudança na nossa compreensão dos neandertais como espécie.

A investigação dá a entender que os neandertais não são uma espécie diferente. “Nós sobreinterpretamos pequenas diferenças no esqueleto facial ou na robustez do esqueleto”, diz Zilhão.

Outras descobertas de fósseis feitas posteriormente com características semelhantes às do menino do Lapedo deram mais peso à teoria do cruzamento, que mais tarde foi reforçada quando os investigadores sequenciaram todo o genoma neandertal.

 

 

É assim que sabemos que é possível que europeus e asiáticos tenham até 4% de ADN neandertal.

“Isso não quer dizer que em cada um de nós 2% ou 4% seja [neandertal]. Na realidade, se juntar todas as partes do genoma neandertal que ainda persistem, isso é quase 50% ou 70% do que era especificamente neandertal. Portanto, o genoma neandertal persistiu quase na sua totalidade”, explica o investigador.

Esse conhecimento “enriquece a nossa compreensão da evolução humana”, diz Zilhão, em vez de “pensar que apenas descendemos de uma população muito pequena que viveu nalgum lugar de África há 250 mil anos e que todo o resto das pessoas que viveram nessa época simplesmente desapareceram”.

 

in ZAP

sexta-feira, julho 14, 2023

Há, literalmente, entre nós humanos modernos, ADN primievo de antepassados desconhecidos, pré neandertais e denisovanos..

Encontrada misteriosa “linhagem fantasma” no ADN de africanos

Uma linhagem humana extinta, que representava uma relação mais distante do que a dos Neandertais, pode ter-se misturado com os antepassados dos modernos africanos ocidentais, contribuindo significativamente para o seu património genético, revelou um novo estudo.

Embora os humanos modernos sejam a única linhagem sobrevivente da humanidade, outros viveram na Terra. Alguns conseguiram sair de África antes de nós, incluindo os Neandertais na Eurásia e as novas linhagens Denisovan na Ásia e Oceânia.

Segundo o Discover, não se sabe se estas linhagens seriam consideradas espécies ou subespécies, mas os grupos tinham diferenças genéticas identificáveis.

Trabalhos anteriores estimaram que os antepassados dos humanos modernos se separaram há cerca de 700.000 anos da linhagem que deu origem aos Neandertais e Denisovans, e os antepassados dos Neandertais e Denisovans divergiram uns dos outros há cerca de 400.000 anos.

A história é um pouco mais confusa do que a linha do tempo sugere, pois a análise genética dos fósseis dessas linhagens extintas revelou que outrora se cruzaram com humanos modernos, uniões que podem ter dotado a nossa linhagem de mutações úteis à medida que começámos a expandir-nos pelo mundo, há 194.000 anos.

O ADN Neandertal representa aproximadamente 1,8% a 2,6% dos genomas dos humanos modernos de fora de África, enquanto que o ADN Denisovan representa 4% a 6% dos melanésios modernos.

Linhagens humanas agora extintas que outrora existiam em África pode também ter-se misturado com os humanos modernos. No entanto, a natureza esparsa do antigo registo fóssil humano em África torna difícil a identificação do ADN de tais “linhagens fantasmas” nos humanos modernos.

Ao invés de procurarem fósseis humanos antigos em toda a África, os cientistas procuraram vestígios genéticos de linhagens de fantasmas nos africanos modernos. Compararam 405 genomas de pessoas da África Ocidental com os de fósseis de Neandertais e Denisovans.

No estudo, publicado recentemente Science Advances, os investigadores detetaram anomalias que sugerem o cruzamento entre os africanos ocidentais e uma linhagem humana antiga desconhecida, cujos antepassados divergiram dos humanos modernos antes da divisão entre estes e os Neandertais.

Em quatro grupos da África Ocidental – Yoruba no sudoeste da Nigéria, Esan no sul da Nigéria, Gambianos na Gâmbia ocidental, e Mende na Serra Leoa – 2% a 19% do seu ADN pode derivar de uma linhagem fantasma, disseram os investigadores.

“A reprodução cruzada entre populações altamente divergentes tem sido comum através da evolução humana”, disse Sriram Sankararaman, um dos autores do estudo e geneticista computacional da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).

Várias variantes genéticas da linhagem fantasma eram invulgarmente comuns nos genomas Yoruba e Mende, sugerindo que poderiam conferir algumas vantagens evolutivas. Estas incluíam genes envolvidos na supressão de tumores, reprodução masculina e regulação hormonal.

Pesquisas anteriores também sugeriram o cruzamento com linhagens fantasmas em África, como aconteceu com um estudo publicado em janeiro deste ano. A linhagem fantasma examinada nessa investigação “é provavelmente a linhagem fantasma que estamos a ver”, disse Sankararaman.

Para Omer Gokcumen, genómico evolucionista na Universidade de Buffalo, em Nova Iorque, estas descobertas sublinham como não se trata de “uma questão de saber se os nossos antepassados interagiram com outros hominídeos, mas sim uma questão de quando, onde, e com quem”.

Os cientistas estimaram que esta linhagem fantasma divergia dos antepassados dos Neandertais e dos humanos modernos até há 1,02 milhões de anos e que se encontrava cruzada com os antepassados dos africanos ocidentais modernos desde há 124.000 anos até aos dias de hoje.

“Uma das limitações do nosso estudo é que temos principalmente amostras das populações atuais da África Ocidental”, disse Sankararaman. A equipa ainda não sabe até que ponto a linhagem fantasma espalhou-se por toda a África.

Os cientistas pretendem analisar as pessoas em toda a África em busca de sinais de linhagem fantasma. “Estamos a começar a compreender algumas das complexidades da história humana, mas o verdadeiro quadro é quase de certeza ainda mais complicado”, acrescentou Sankararaman.

 

in ZAP

quinta-feira, julho 13, 2023

Somos todos africanos - e sudaneses...

Todos os humanos vivos hoje terão vindo do Sudão

 

   

Um estudo sugere que todos os humanos atualmente vivos são descendentes de um grupo que habitou o nordeste do atual Sudão.

Investigadores do Big Data Institute da Universidade de Oxford mapearam a maior árvore genealógica humana de todos os tempos, usando as relações genéticas entre os humanos. A conclusão é, no mínimo, arrojada: todos os humanos vivos atualmente vieram daquilo que é hoje o Sudão.

Mais especificamente, descendemos de antigos humanos que viveram no nordeste do Sudão, perto do rio Nilo. Os cientistas concluíram isto após combinarem dados modernos e de genomas de oito bancos de dados diferentes.

“Basicamente construímos uma enorme árvore genealógica, uma genealogia para toda a humanidade que modela como é que exatamente podemos entender a história que gerou toda a variação genética que encontramos hoje nos humanos”, disse o coautor do estudo Yan Wong, num comunicado citado pela IFLScience.

“Esta genealogia permite-nos ver como é que a sequência genética de cada pessoa se relaciona com as outras, ao longo de todos os pontos do genoma”, acrescentou.

Os investigadores realçam ainda que as regiões genómicas individuais são herdadas apenas de um dos pais, da mãe ou do pai.

“Essencialmente, estamos a reconstruir os genomas dos nossos antepassados e a usá-los para formar uma vasta rede de relacionamentos”, disse o autor principal do estudo, Anthony Wilder Wohns. “Podemos então estimar quando e onde esses antepassados viveram”.

Os antepassados mais antigos que os cientistas identificaram remontam a uma localização geográfica no atual Sudão.

“Esses antepassados viveram até e há mais de 1 milhão de anos — o que é muito mais antigo do que as estimativas atuais para a idade do Homo sapiens — 250.000 a 300.000 anos atrás”, disse Wohns em fevereiro à agência Reuters. “Portanto, partes do nosso genoma foram herdadas de indivíduos que não reconheceríamos como humanos modernos”.

 

in ZAP

terça-feira, novembro 10, 2020

Notícia interessante sobre a batalha entre humanos modernos e neandertais

Neandertais e humanos estiveram em guerra durante 100 mil anos (e isso pode ter levado à sua extinção)

 


A extinção dos Neandertais é um dos grandes mistérios da ciência. Agora, uma nova teoria de um paleontólogo diz que a extinção desta espécie foi o resultado da perda de uma guerra de 100 mil anos anos com humanos anatomicamente modernos.

Os Neandertais e os ancestrais dos humanos modernos separaram-se em África há mais de 500 mil anos. A primeira espécie migrou para o Médio Oriente e espalhou-se por grande parte da Europa e da Ásia. Já os humanos anatomicamente modernos deixaram África há cerca de 200 mil anos. Por isso acredita-se que as duas espécies se cruzaram.

Isto pode indicar que as duas espécies viviam em harmonia e até cooperavam. De acordo com a BBC Future, os Neandertais não eram primitivos, pois eram relativamente avançados e tinham uma cultura.

O paleontólogo Nicholas R Longrich refere que “é tentador imagina-los a viver em paz com a natureza e uns com os outros”, mas “os Neandertais eram predadores e territoriais, por isso defendiam o seu território com violência e trabalhavam de forma cooperativa para combater os invasores. Isso significa que a extinção dos Neandertais pode não ter sido fácil.

  

Comportamento Territorial

Defender o próprio território e usar a violência para fazê-lo foi uma característica que todas as espécies herdaram dos seus ancestrais.

Longrich disse à BBC Future que “a agressão cooperativa evoluiu no ancestral comum dos chimpanzés e de nós mesmos há 7 milhões de anos”. Esse impulso é a raiz da violência organizada e da guerra. O especialista refere que “a guerra não é uma invenção moderna, mas uma parte antiga e fundamental de nossa humanidade”.

Os Neandertais eram notavelmente semelhantes aos humanos modernos, pois comportavam-se de forma semelhante. “Se os Neandertais partilhavam tantos dos nossos instintos criativos, também deviam ter muitos dos nossos instintos destrutivos”, refere o especialista.

Neste sentido, quando os ancestrais dos humanos modernos deixaram África e encontraram outras espécies de humanos arcaicos, o conflito e a guerra foram inevitáveis.

Uma análise no registo paleontológico mostra que há evidências de traumas nos ossos do Homo Sapiens e dos Neandertais. De acordo com algumas pesquisas, os homens jovens Neandertais mostravam sinais de ferimentos por traumas. Esses eram provavelmente os guerreiros dos grupos e isso pode indicar que foram feridos ou mortos em confrontos violentos.

As armas primitivas encontradas por arqueólogos em sítios pré-históricos contam também uma história de violência.

Há a possibilidade de os Neandertais e os primeiros humanos se terem envolvido em conflitos, e assim, os Neandertais resistiram às incursões dos humanos modernos nos seus territórios. Longrich afirma que esta situação “levou a uma guerra de 100 mil anos”, por isso, para os investigadores, é fácil perceber que a extinção dos Neandertais não foi rápida.

Os Neandertais eram adversários formidáveis e, por isso, difíceis de combater. Eram caçadores hábeis e tinham armas para resistir aos recém-chegados. Além disso, eram mais atarracados, mais fortes do que os nossos ancestrais, e provavelmente tinham melhor visão noturna, o que poderia tê-los ajudado em conflitos noturnos.

  
Como é que o Homo sapiens venceu?

Segundo o Ancient Origins, a guerra entre as duas espécies fluiu por milhares de anos. A BBC Future relata que “em Israel e na Grécia, o arcaico Homo sapiens ganhou terreno para recuar contra as ofensivas Neandertais”, ainda assim a espécie demorou cerca de 75 mil anos para alcançar a extinção dos Neandertais nos locais que hoje são Israel e Grécia.

É possível que os nossos ancestrais tivessem usado melhores técnicas de caça e tivessem outras vantagens estratégicas. Também os primeiros grupos de caça desta espécie eram provavelmente maiores do que os dos Neandertais, e sobretudo com mais lutadores.

A teoria de que nossos ancestrais acabaram por vencer os Neandertais através de violência, parece apoiar a visão de que estes desapareceram porque foram exterminados pelo Homo sapiens.

No entanto, existem outras teorias para explicar a extinção dos Neandertais, incluindo doenças, falha na adaptação a ambientes em mudança e até mesmo falta de diversidade genética.

 
in ZAP

quarta-feira, novembro 04, 2020

Mais uma notícia sobre os humanos denisovanos

ADN dos misteriosos denisovanos encontrado em caverna tibetana

 


Uma equipa de paleontólogos encontrou ADN denisovano em sedimentos da caverna Baishiya Karst, no planalto tibetano, onde a mandíbula de Xihae, o primeiro fóssil denisovano fora da caverna denisova, foi encontrada.

Os resultados da análise genética mostram que este grupo denisovano está intimamente relacionado com os denisovanos tardios da caverna denisova, indicando que estes hominídeos ocuparam o planalto tibetano por um longo período de tempo e provavelmente adaptaram-se ao ambiente de grande altitude.

Como o primeiro fóssil denisovano encontrado fora da caverna denisova, a mandíbula de Xiahe confirmou que os denisovanos ocuparam o teto do mundo no final do Pleistoceno Médio e eram comuns. No entanto, sem o ADN, os cientistas ficaram a conhecer pouco sobre eles.

As datas precisas mostram que os denisovanos abrigaram-se na caverna entre 100.000 e 60.000 anos atrás, e possivelmente até 45.000 anos atrás, quando os humanos modernos estavam a fluir para o leste da Ásia, escreve a revista Science.

Para determinar quando é que as pessoas ocuparam a caverna, os investigadores usaram a datação por radiocarbono de fragmentos ósseos recuperados das camadas superiores e a datação ótica de sedimentos recolhidos de todas as camadas dos sedimentos escavados.

E para descobrir quem ocupou a caverna, os cientistas analisaram 35 amostras dos sedimentos, recolhendo 242 amostras de ADN mitocondrial (mtADN) de mamíferos e humanos. Curiosamente, os investigadores detetaram fragmentos humanos que correspondiam ao mtADN associado a denisovanos em quatro camadas diferentes de sedimentos.

Usando ADN sedimentar da caverna, os investigadores encontraram a primeira evidência genética de que os denisovanos viviam fora da caverna denisova.

 

in ZAP

domingo, outubro 18, 2015

Notícia sobre paleoantropologia no Público

Dentes antigos podem remodelar história das primeiras migrações humanas

A colecção de dentes fósseis agora descoberta na China

Os fósseis, encontrados numa gruta chinesa, indicam que os humanos modernos terão chegado à Ásia muito antes de entrarem na Europa.

Esta quarta-feira, uma equipa internacional de cientistas anunciou a descoberta de 47 dentes humanos fósseis, provenientes de uma gruta do Sul da China, com idades compreendidas entre os 80.000 e os 120.000 anos. Os seus resultados foram publicados na revista Nature.

Estes achados, que constituem portanto a prova mais antiga da presença de humanos modernos fora de África, poderão obrigar os especialistas a rescrever a história das primeiras migrações da nossa espécie aquando da sua saída de África. Porquê? Porque sugerem que o Homo sapiens não só entrou na Ásia muito mais cedo do que se pensava, como lá entrou – também ao contrário do que se pensava – muito mais cedo do que na Europa.

Os dentes fósseis, vindos de pelo menos 13 indivíduos, foram encontrados na gruta de Fuyan, no condado de Dao da província chinesa de Hunan. E colocam a nossa espécie no Sul da China 30.000 a 70.000 anos antes do seu aparecimento no Leste do Mediterrâneo ou na Europa.

“Até agora, a maioria da comunidade científica pensava que o Homo sapiens só passara a estar presente na Ásia há 50.000 anos”, disse Wu Liu, autor principal do estudo, do Instituto de Paleontologia dos Vertebrados e de Paleoantropologia da Academia das Ciências chinesa. Mas os dentes agora descobertos, acrescentou, são cerca de duas vezes mais antigos do que os primeiros vestígios da presença de humanos modernos na Europa.

Segundo a teoria mais aceite, designada Out of Africa em inglês, a nossa espécie surgiu pela primeira vez, em África, há cerca de 200.000 anos, espalhando-se a seguir para outras regiões do mundo. Porém, a datação e os caminhos dessa migração para fora de África têm permanecido incertos.

“Estes resultados sugerem que o Homo sapiens esteve presente na Ásia desde muito antes do que os 50.000 anos apontados pela hipótese Out of Africa”, explicou por seu lado María Martinón-Torres, do University College de Londres (Reino Unido) e co-autora do trabalho.

Para esta cientista, aliás, “é lógico pensar que as dispersões migratórias para leste tenham sido mais fáceis, do ponto de vista ambiental, do que as deslocações para norte, dada a rudeza dos invernos na Europa”. Mas ela vai mais longe: também é possível que a nossa espécie tenha chegado ao Sul da China dezenas de milhares de anos antes de conquistar a Europa simplesmente por não ter conseguido entretanto entrar no continente europeu devido à presença, já enraizada, dos nossos robustos primos neandertais. “Poderá ter sido difícil conquistar territórios que os neandertais já ocupavam há centenas de milhares de anos”, disse María Martinón-Torres.

Aliás, frisou ainda, algumas das migrações para fora de África têm vindo a ser rotuladas de “falsas dispersões”. E por exemplo, certos fósseis provenientes de grutas em Israel indicam que, de facto, há cerca de 90.000 anos, os humanos modernos terão chegado “às portas da Europa sem conseguir lá entrar”, disse ainda a investigadora.

“Esperamos que, graças à nossa descoberta dos fósseis humanos de Dao, as pessoas percebam que o Leste da Ásia é uma das áreas-chave para o estudo das origens e da evolução dos humanos modernos”, declarou Wu Liu.

segunda-feira, dezembro 16, 2013

Notícia sobre Paleoantropologia no Público

Genoma de homens primitivos extintos revela sinais de uma outra espécie, mais antiga, de humanos

Réplica da falange que permitiu sequenciar o ADN dos denisovanos

Será a misteriosa espécie agora descoberta totalmente nova ou, pelo contrário, tratar-se-á de uma espécie de humanos da qual já se conhecem restos fósseis, mas cujo ADN ainda não foi sequenciado?

Cientistas norte-americanos encontraram, no ADN dos denisovanos – uma espécie primitiva de humanos recentemente descoberta e hoje extinta –, vestígios de outra espécie de humanos primitivos da qual ainda nada se sabe, noticiou a revista britânica New Scientist.

Os denisovanos são conhecidos com base em restos fósseis muito fragmentários: a ponta de um dedo e dois molares, descobertos em 2008 na gruta Denisova, nos montes Altai, na Sibéria. Viveram até há 30 mil anos e eram “primos” dos neandertais, com quem, aliás, misturaram os seus genes. A linhagem de ambas estas espécies divergiu da nossa há uns 400 mil anos.

O ADN de um ínfimo bocado da falange foi sequenciado na íntegra em 2012. E, agora, David Reich, da Universidade de Harvard (EUA), e colegas analisaram em pormenor esse ADN. Constataram então que o genoma dos denisovanos contém pequenas parcelas genéticas – que, conjuntamente, representam 1% do total – aparentemente muito mais antigas do que o resto. Os seus resultados foram apresentados numa reunião da Royal Society, em Londres.

“Os denisovanos parecem ser mais diferentes dos humanos modernos do que os neandertais”, explicou Reich naquele encontro. “A sua ancestralidade inclui uma população arcaica desconhecida, não relacionada com os neandertais.”

Para Johannes Krause, da Universidade de Tubinga (Alemanha) e um dos geneticistas que estudaram o genoma dos denisovanos, citado pela revista britânica, os resultados da equipa de Reich são convincentes. Mas este especialista pensa que a misteriosa espécie não é nova, mas antes uma espécie da qual já se conhecem restos fósseis, como Homo erectus. Só que como esta e outras espécies de humanos primitivos viviam em ambientes quentes e húmidos – ao contrário dos neandertais e dos denisovanos, que viviam em sítios frios e secos –, o ADN dos seus fósseis está muito degradado e torna-se muito difícil extraí-lo para o sequenciar.

in Público - ler notícia

sexta-feira, agosto 31, 2012

Humanos modernos - uma espécie com uma história cada vez mais complicada

Evolução humana
Nós, os neandertais, os denisovanos e como tudo se complicou

Réplica da falange que permitiu descobrir um novo grupo de humanos, os denisovanos (Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva) 

A ponta de um dedo veio evidenciar ainda mais que, se há coisa que não é simples, é a história da evolução humana. Descoberto em 2008 na gruta Denisova, nos montes Altai, Sibéria, o pequeno osso da falange era afinal de um grupo de humanos desconhecido - os denisovanos, que viveram até há 30 mil anos. E se as surpresas não chegassem, também eles, tal como os neandertais, se reproduziram com a nossa espécie. Uma equipa publica nesta sexta-feira, na revista Science, a análise do genoma completo dos denisovanos, a partir do fragmento de dedo: dentro de nós há um pouco de neandertal e de denisovano, é verdade, mas a genética revelou agora uma nova teia de migrações e relações complexas entre nós e estes dois humanos já extintos. 

A equipa de Svante Pääbo, do Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva, Alemanha, já tinha ficado surpreendida com o que representava a descoberta da falange e de dois dentes molares. Quando os cientistas sequenciaram o ADN das mitocôndrias (as baterias das células), herdado só da parte da mãe e que está fora do núcleo celular, perceberam que era um novo grupo de humanos. O osso é de uma menina de cinco a sete anos de idade, que viveu há 80 mil anos. Tinha a pele escura, cabelos e olhos castanhos.

Em Maio de 2010, a revelação da sua existência espantou o mundo e, em Dezembro desse ano, a equipa de Pääbo avançava com a publicação de um primeiro rascunho do ADN do núcleo. Dizia já que os denisovanos se tinham misturado connosco e que a herança desse passado "promíscuo" não era igual em toda a Terra. Os europeus têm ADN dos neandertais, mas não têm material genético dos denisovanos, que por sua vez deixaram a sua pegada genética para os lados das ilhas da Melanésia.

No meio desta viagem à história da evolução humana através do ADN, a equipa de Pääbo disponibilizou na Internet, no início deste ano, toda a sequenciação do genoma dos denisovanos, para quem a quisesse usar na investigação. A leitura deste ADN antigo já era bastante rigorosa, graças a um método desenvolvido por Matthias Meyer, também do Instituto Max Planck, que permite ler até 30 vezes as letras do genoma (pequenas moléculas que compõem a grande molécula de ADN). Agora, a equipa aprofunda na Science as reflexões sobre essa informação e faz mais revelações, comparando o genoma da nossa espécie (os humanos modernos), dos denisovanos e dos neandertais.

"Pudemos confirmar que parentes de um indivíduo da gruta Denisova contribuíram geneticamente para os antepassados das pessoas actuais na Nova Guiné, mas esse fluxo genético não afectou o resto das pessoas da Eurásia continental, incluindo o Sudeste da Ásia continental", disse um dos autores do artigo, o geneticista David Reich, da Faculdade de Medicina de Harvard, numa conferência organizada pela revista. "No entanto, é claro que os denisovanos contribuíram com 3% a 5% de material genético para os genomas das pessoas da Austrália, Nova Guiné, os nativos das Filipinas e de algumas ilhas das redondezas. A confirmação foi muito forte", acrescentou.

Como se explica que o material genético dos denisovanos não se encontre sequer na Ásia continental, onde viveram, como mostra a falange e os dentes? "Diria que a mistura entre os denisovanos e os antepassados dos habitantes da Melanésia, Papuásia-Nova Guiné e aborígenes australianos deu-se provavelmente no Sudeste da Ásia continental. Quando os antepassados dos humanos modernos chegaram a essa área, encontraram-se com os denisovanos, misturaram-se e depois partiram para colonizar a Melanésia", disse Pääbo.

E agora vem a última descoberta, aquela que complica tudo. Envolve os neandertais, extintos há cerca de 28 mil anos e que durante mais de 150 anos estiveram no centro da polémica sobre se eles e nós tínhamos feito sexo e deixado descendentes.

Sim, tínhamos, já tinham concluído outros estudos de Pääbo.

"As pessoas das regiões Leste da Eurásia [Ásia] e os nativos americanos têm mais material genético dos neandertais do que as da Europa, apesar de os neandertais terem vivido sobretudo na Europa, o que é mesmo muito interessante", considerou David Reich. "Vemos que há uma contribuição dos neandertais ligeiramente superior na Ásia do que na Europa - em cerca de 20% - o que é surpreendente, porque os neandertais viveram na Oeste da Ásia e na Europa", acrescentou Pääbo.

Como aconteceu isto? De início, pensava-se que tinha havido um único intercâmbio genético entre neandertais e humanos modernos, que saíram de África há cerca de 50 mil anos. Talvez quando os dois tipos de humanos se encontraram no Médio Oriente. Depois a nossa espécie espalhou-se pelo mundo inteiro e teria levado consigo essa herança. "Agora tudo se tornou mais complicado com os neandertais", disse Pääbo. "Vemos que toda a gente fora de África teve uma contribuição dos neandertais. A maneira mais simples de explicar isto é que algo ocorreu assim que os humanos modernos saíram de África, se encontraram com os neandertais no Médio Oriente e se misturaram com eles."

Como hipóteses, a equipa diz que pode ter havido uma segunda mistura entre humanos modernos e neandertais na Ásia Central, reforçando aí a carga genética destes. Ou a contribuição genética dos neandertais na Europa foi diluída com a chegada tardia de humanos modernos vindos de África e que não tinham um pouco de Neandertal no genoma.

in Público - ler notícia